O ano era 1989. Fazia pouco tempo que eu estava na Secretaria de Estado da Cultura e pediram que eu fizesse um material de divulgação sobre Miguel Bakun, artista plástico paranaense ,que iria ter uma sala com seu nome na sede. Na verdade a sala já existia, mas seria transferido o nome da existente na Biblioteca Pública. Uma história bonita e triste ao mesmo tempo. Pronta a matéria, depois de muita pesquisa, levei para aprovação.
Seria tudo muito fácil nesta vida se as pessoas não arrastassem os fantasmas de suas culpas, mesmo que inexistentes, pra lá e pra cá durante anos a fio. Cortaram minha matéria e fiquei de fato muito braba. Concordava com o Dr René Dotti que sempre falou que Museu não é corredor do silêncio. E além do mais fui criada por um pai que até hoje preserva a história do Paraná bem viva, sem omitir nada.
O fato, de forma muito resumida, é que Miguel Bakun tentou fazer algumas coisas na vida e não foi bem sucedido. Quando começou a pintar pareceu-lhe que as portas do céu se abriram sobre ele. Conta-se que sempre que precisava de ajuda, mesmo sem pedir, ela aparecia do nada, ou na sua concepção viria dos céus. A certa altura de sua vida artística começou a incluir imagens de santas em seus quadros sobre a natureza. Num destes salões de arte recebeu como prêmio por seu trabalho algo equivalente a uma aquarela , material para amadores. Foi o estopim para ele desencadear o próprio suicídio.
O que eu não sabia na época é que uma das pessoas que fez parte deste julgamento ainda carregava este estigma da morte de Bakun e fazia parte dos quadros da Secretaria, o que motivou o corte da minha matéria. Pura besteira, pois são diversas as variantes que levam uma pessoa a este caminho antinatural da aniquilação da própria vida. O importante é que, apesar das trevas que cobriram o seu final, sua obra ficou e não há como negar sua importância para a cultura paranaense.
Um artista tem a sensibilidade à flor da pele e tem que saber lidar com ela, assim como o próprio médium por natureza tem.Contei a minha história não para acusar alguém, mas antes , e principalmente, para alertar sobre os caminhos que a mente pode tomar.
Tenho uma baita sorte, pelo trabalho grande que algumas pessoas tiveram neste sentido. Estou num Terreiro em que a máxima é pés no chão sempre. O foco principal é passar a mensagem, de forma clara e consciente, de que a cada dia que nasce há uma possibilidade de uma vida melhor. E os resultados positivos são óbvios. Juntos podemos ter força suficiente para ajudar as pessoas que estão nas trevas de suas dúvidas e tristezas, auxiliando-as a ter coragem e sabedoria para prosseguir. Toda religião é enigmática, pois todas trabalham com algo não-palpável que é a fé. E aí observo o quanto é importante que um dirigente de uma religião saber transmitir o foco da missão. Apesar de simples alguns a tornam complicada: fé, caridade e amor ao próximo, com disciplina e organização.
Lembro-me do Grande Mestre da Ordem Rosa Cruz, meu amigo Charles Parucker, que me falava : as pessoas têm noções erradas sobre nossos estudos antes de entrar aqui. Volta e meia , vem um tentar vender sua alma aqui no balcão da instituição, ou o que é pior, pensam que eu fico levitando o dia inteiro, enquanto na verdade tenho muito trabalho administrativo para conduzir, para que realmente os estudos sejam cada vez mais acessíveis.O triste, me dizia ele, é que algumas pessoas na vida acostumam a comer mamão passado e quando provam desta fruta no ponto certo acham ruim.
O medo excessivo e a falta de objetivos concretos fazem com que as pessoas se percam na mata fechada de seus pensamentos. Líder religioso que só fala em desgraças e perseguições está fadado realmente a elas. Médium que não se une a uma corrente, a uma egrégora forte e com foco se perde em devaneios produzidos pela própria mente. Não se deixe levar por "achismos" e concentre suas forças em seu próprio caminho, buscando sempre o entendimento e o conhecimento. No final é a obra que você deixou nesta terra, seja ela concreta, no sentido material, ou espiritual, no sentido de repassar a sua sabedoria aos que são próximos.
Vou deixar aqui hoje um trecho do livro Mãe, um dos trabalhos mais importantes do escritor revolucionário russo Máximo Gorki, escrito em 1907. Creio que é quase uma prece e talvez aqui juntos possamos entender isto como um objetivo palpável para a vida:
"... Sei que tempo virá em que os homens amarão uns aos outros, em que cada qual será uma estrela para o outro! Existirão na terra homens independentes, grandes por sua liberdade, de corações abertos, isentos de inveja ou de ódio. A vida, então, será um culto ao Homem e sua imagem será elevada para muito alto; Aos libertos, todas as alturas são acessíveis! Os homens viverão na verdade e liberdade para a beleza, e, serão considerados melhores aqueles que conseguirem abarcar melhor o mundo, com seus corações. Aqueles que o amarem em maior profundidade; os melhores serão os mais libertos, pois têm mais beleza! Serão grandiosos os homens dessa vida...”
Dedico este post a todos que estão buscando a verdade sobre si mesmos, em especial ao Marcelo Soares. Confio em ti menino!