sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Libertador

Lá pelos idos do século XVIII, era bem comum os ciganos passarem nos sítios oferecendo-se para curar males através de rezas. Reza a lenda que estas orações se transformaram em cantilenas, e que as crianças as reproduzem até hoje, transformadas pelo tempo. Antes que pensem em absurdos, não acredito que houvesse alguma reza com  "atirei o pau no gato", mas é inegável que toda criança reproduz o que vê, desde que o mundo é mundo.
Syrus, meu caçula, tinha um boneco chamado Marcos Valério. Tentei que ele mudasse o nome, porque este cara não era , por assim dizer, do bem. Marcos Valério está em todos os canais de tv mamãe, como não pode ser? Bom, hoje Marcos Valério deve estar em alguma caixa que deixei lá nos fundos, sei lá. Mais recentemente, este mesmo elemento da minha prole, veio me expor uma brincadeira divertidíssima na escola: terapia. Consiste no seguinte: uma criança vai pro meio, conta o que não sai da cabeça dela, dá uma tremidinha (não sei porquê), e nunca mais pode falar no assunto. E perguntei quem tinha inventado esta brincadeira: existe faz muito tempo, não jogava na escola? Não, definitivamente no meu tempo ninguém jogava Syrus.
É a dita "despamonhabilização" da cultura, já falada pelo professor Mário Sérgio Cortella, ou seja, todo mundo compra pamonha pronta e ninguém sabe como se faz. 
Vendo as crianças em um ataque de fúria na Vila Mariana ,São Paulo, estes dias na tv, senti um misto de tristeza ,impotência e raiva. Menores de doze anos falando de seus direitos constitucionais e duvido, com toda a certeza deste mundo, que saibam o que é um verbo, um adjetivo e muito menos saibam escrever os próprios nomes. Uma psicóloga falou na Tv que se os levassem a locais interessantes como cinema ,teatro, talvez conseguissem voltar à vida normal. Sei. Em nenhum jornal vi que a solução seria serem integrados a uma família, mesmo que custeada pelo estado. Me fez lembrar da história dos elefantes jovens que formaram gangues e destruiram cidades na Índia e só se acalmaram, depois que,  uma professora de psicologia de animal dos EUA, Gay Bradshaw, descobriu que a causa de toda esta revolta é que os elefantes adolescentes não tinham um líder mais velho que os orientasse. Colocados em contato com os mais velhos, voltaram ao normal.
Poxa, é impossível que as pessoas não enxerguem o quanto é necessária a sabedoria dos mais experientes em vida ao nosso lado.Os ciganos respeitam e prezam seus membros mais velhos, os índios da mesma forma, os pretos velhos na Umbanda são nosso referencial, e estas crianças que referencial terão no Brasil? Quando eu era criança ir a um cinema era um evento, mas não mudou minha visão de vida. Por diversas vezes, em situações difíceis, cada palavra que meu pai me disse até hoje, que minha mãe falava, que meus avós falaram, me vem à mente vívidas e coloridas e me ajudam, mesmo sem eles saberem. 
Éramos , lá em casa, em quatro filhos, cuja diferença de um para o outro de pouco mais de um ano. Imagino o que minha mãe passava. Meu pai, em certa altura e como o terreno era grande mandou fazer vários canteiros, cada qual com o tamanho de uma cama de solteiro. Plantávamos, cuidávamos da terra e tínhamos que regar todos os dias, coisa que meu pai também fazia. Era muito bom e cansativo.O Dyogo mesmo me dizendo que não sabe que religião vai seguir, me falou que a vontade dele é que em volta da casa dos pretos, lá no terreiro fossem plantados pés de cana-de-açúcar.Ele inclusive deu para meu Pai de Santo algumas mudas. Porque ele imagina que na época da colheita da cana, os médiuns poderiam ir ali e se servir e enquanto comem a cana( que ele adora), poderiam falar com mais tranquilidade com os pretos-velhos, explicando melhor seus problemas. O Dyogo ainda não sabe, mas ele entende bem de Umbanda.
A minha pergunta é a seguinte: até quando as crianças serão escravas de um sistema que nós mesmos criamos? Que criança é protegida por lei e não pode ser castigada -e não estou falando de bater e sim deixar de castigo mesmo- e tolhida em seus quereres? Que dizer não é impensável.Que pai e mãe ,avós e tios devem ser tratados de igual para igual? Meu pai não deixa que nenhum neto o chame de avô, mas o respeito que todos têm com ele é inquestionável. Se você tirar a lagarta antes do tempo de dentro do casulo, certamente não voará. Filhos precisam de pais.
Tive a grata honra de ver esta foto acima do sr. Francisco Prestes publicada pelo seu tataraneto, o Pai de Santo Ricardo Barreira. Este senhor há décadas atrás, dava refúgio e ajudava negros que fugiam da escravidão nos rincões deste país. Explicando o que ele fazia, o Ricardo Barreira me fala o seguinte: " Em cada negro existe um branco que um negro libertou. A escravidão escravizou os brancos que escravizaram os negros." Francisco deixou um legado, embora muitos não saibam. Os verdadeiros libertadores não precisam de nome. Precisam existir. O Ricardo continua com o ofício da família, ou seja, libertando gente escrava, embora que de outras correntes.
Quando deixamos crianças ter ataques de fúria, por total abandono, tornamo-nos escravos de uma ditadura da educação irresponsável - embora seja pertinente ao Estado- também nos diz respeito. Somos escravos do amanhã , do que eles vão se tornar. É hora de uma atitude, de libertarmos uns aos outros.
Nos terreiros de Umbanda espalhados pelo Brasil , mesmo que pequenos, têm condições de auxiliar no processo de educação. Tomo mais uma vez o exemplo do Grupo Mocidade na Umbanda do Terreiro do Pai Maneco. Neste final de semana o Dr. Cláudio Paciornik que falará aos jovens, dentre outras coisas ,sobre o câncer. Educando se liberta a alma.

Se quiser mais detalhes sobre os projetos do Grupo Mocidade na Umbanda escreva para: mocidade.tpm@gmail.com

domingo, 21 de agosto de 2011

Com os Pés no Chão

Olhe para mim. Preste bem atenção.Pode não parecer por fora, mas não sou o mesmo homem mamãe. Estou mais calmo, sou só paz de agora em diante.Tomei consciência de tudo que você e o papai fazem por mim, não vou mais fazer bagunça. Eventualmente (palavra dita com bastante ênfase) pode ser que ao pegar meu boletim alguma das professoras, principalmente aquela de português, venha te falar que meu comportamento não mudou,mas é bem como você diz: o cara que apronta muito, quando não faz nada, é culpado também. E tem outra coisa, as notas nem sempre refletem o conhecimento da gente, as provas as vezes são feitas num momento que a gente não tá bem de saúde e assim não dá para prestar atenção. Mas saiba mamãe que eu confio no que você pensa a respeito de mim, porque como te amo muito ,você também me ama. Ok, Dyogo, mas já sabe né? Se não melhorou ,vamos conversar.... 
Homens. O Dyogo tem 12 ,mas já tem uma lábia bem fundamentada, e usa tudo o que digo contra mim. Esta história se desenrolou justamente numa semana que recebi um presente do blog Rede de Correções, do meu amigo Robson Santiago. Trata-se de um livro que não deve sair de nossas cabeceiras: As Mentiras que os Homens Contam do Luis Fernando Veríssimo. Há um verdadeiro tratado, em cada conto, do trato dos homens com a verdade, quando suas vidas conosco corre um certo risco. A vida cotidiana é engraçada quando contada com simplicidade e ,invariavelmente, a gente diz: é, eles são assim mesmo.
Um rapaz novo ainda, beirando os 25 talvez, chega na frente do seo Capa Preta, com uma cara de santo e surge a seguinte conversa: Gostaria de saber como vai minha vida espiritual. Que vida espiritual rapaz? Tua vida financeira é que está ruim.É verdade seo Capa....É né? E por quê? Você quer responder ou quer que eu te diga? - silêncio- Pois eu vou te dizer : você sai aí na noite fazendo bagunça, gastando todo dinheiro e deixa a família de lado.Então vou te dizer uma coisa: pare de aprontar, dê valor à sua família e depois, com tudo organizado volte a vir aqui e perguntar sobre vida espiritual. Sim, senhor, vou fazer isso.Você deu sorte hoje, estou de bom humor, mas não tente mais enganar nenhuma entidade. Sim senhor.
Talvez fosse neste ponto que este menino, que não era mal, começasse a passar de fase. Porque Umbanda trata de cotidiano também, e talvez esta seja uma das funções dela: aquela fagulha que falta para os pensamentos darem partida para novos caminhos. Em novos caminhos meninos e meninas se transformam em homens e mulheres.
"O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio(ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês." Isto tudo me lembrou o autor desta frase, cuja leitura dos seus escritos sempre me divertiu muito. Stanislaw Ponte Preta- o Sérgio Porto, falecido há 43 anos. Por mais que tudo hoje seja muito moderno, as situações do cotidiano não mudam muito. Façam a comparação entre o Veríssimo de hoje e o Porto de quase 50 anos atrás. Elas são óbvias depois que lemos estas crônicas, mas é preciso uma mente brilhante para escrever o óbvio e conseguir mostrar aos outros depois de forma clara.
Ultrapassar o próprio entendimento, rasgar fórmulas pré-estabelecidas e mudar a própria opinião com simplicidade e bem fundamentado é um estágio superior ao que homens e mulheres podem chegar, apesar de eu acreditar que isto não se consegue em uma só vida. Porque é preciso ser simples e transparente,para explanar suas idéias, sem dúvidas nem segundas interpretações. Como já diria meu companheiro das tardes de leitura em minha adolescência - sim ,porque fiquei íntima- o Stanislaw Ponte Preta: "Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante."  Tenho uma preguiça danada de ler gente prolixa, que diz uma coisa querendo te incitar a entender outra.
Umbanda é uma religião que se molda ao nosso cotidiano, é uma ferramenta do entendimento do dia-a-dia. É o toque de bom senso em nosso livre-arbítrio. Não é a toa que os espíritos que nela trabalham se apresentam  como figuras simples. Eu acredito que o mundo espiritual seja simples e porisso mesmo, mais difícil de enxergar se você coloca um monte de obstáculos na frente, como palavras difíceis.
Tive o imenso prazer de ler o último comentário do Pai Fernando Guimarães no site do Terreiro do Pai Maneco e vou ressaltar um parágrafo: "Os médiuns gostam e fazem questão de saber os nomes das entidades que incorporam, mesmo que essa pressa possa prejudicá-los no futuro. Apesar de toda minha experiência fico confuso com isso. Pais Joaquim, Pais João, Exus Caveira, Caboclos Pena Brancas, Tupinambás em uma gira existem aos montes. Isso sem falar nos Oguns Beira Mar e nos Caboclos do Mar. Então, como pode ser isso? Como eles podem se multiplicar dessa forma? Dizem os eruditos que os médiuns se confundem e a verdadeira entidade incorpora nele, no erudito. Os outros são falsos." E lá estava o cotidiano de uma religião completamente à mostra. Ele ali falou o óbvio, apontou o problema e expôs, durante o texto, uma saída que ele enxergou. É preciso coragem para ser assim, muito bom humor, e um espírito que ainda solte pandorgas pelos céus de Curitiba. Tenho uma baita sorte de conhecê-lo.

*Se você que lê se acha  bom em coisas óbvias, ache o gato que está na foto que postei neste texto.

Para ler o texto do Pai Fernando na íntegra:

Para conhecer a Rede de Correções

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lembranças

Ainda me lembro do velho Kaminski entregando pão lá em casa, numa carroça, e me dando bolacha de polvilho para experimentar. Lembro também da minha mãe grávida da minha irmã mais nova, e eu olhando para aquela barriga e pensando que o nenê devia estar lá sem ar nenhum. Lembro das árvores da minha casa, lembro de meus irmãos e eu juntando maçãs para o strudell, peras  e pêssegos para as sopas de frutas. Lembro do primeiro ônibus expresso que peguei em Curitiba, muito mais devido à uma abelha que me picou atrás da orelha do que o ônibus em questão. Lembro das pequenas e das grandes coisas e vejo, conforme o tempo caminha, que as lembranças vistas de um ponto diferente na história  , apesar de continuarem as mesmas ,têm novas cores.
Creio que as pessoas deveriam ser respeitadas em primeiro lugar porque são um depósito vivo de memórias, que de uma hora para outra vêm à tona para auxiliar os mais novos, ou resolver situações das mais diversas. Principalmente a maior de todas as ilusões: a de que o que você está passando no momento, nunca vai acabar - ou pior- de rotular esta situação como boa ou ruim, coisa que só o tempo pode nomear.
Sempre tive uma admiração muito grande por amigos do meu pai , que discutiam coisas que eu não entendia sobre o crescimento da cidade e do seu passado. Na verdade, eu não gostava de um, que insistia em chegar na minha casa ir direto para o porão e , com um cabo de vassoura, ficar batendo no chão e nos chamando de bruxinhos. Minhas memórias, assim como de cada ser , são os elementos fundamentais do que sou hoje. Até os detalhes, como a figura enorme na minha sala do barqueiro do inferno, feita por Doré e ampliada pelo meu pai, até o arco e flechas penduradas na parede da mesma sala, com negativos e fotos por todos os lados.
Foi a primeira vez que trabalhei junto com uma preta velha. A senhora sentou à sua frente e ela a reconheceu de imediato. Ficou comentando algumas passagens da infância daquela senhora. Como sempre fora arredia aos benzimentos daquela preta entre tantas outras coisas pessoais que falou. Alguns dias depois, soube que a avó daquela senhora teve um terreiro em Goiânia e recebia uma preta que a benzia e que tudo que foi falado condizia com o que havia ocorrido. Fiquei pensando muito sobre isto e acredito que só o fato de haver alguém, neste ou no outro plano, que saiba quem realmente somos e que compartilhe das mesmas lembranças já é um alento e elemento fundamental de cura. 
Criamos vínculos com as entidades, sejam elas parceiras no trabalho dentro das giras ou fiéis ouvintes das nossas angústias e alegrias. Embora não tenham um corpo físico visível, são da mesma matéria espiritual do que as nossas, guardam em seus corações espirituais lembranças do que eram e do que fomos. Possuem sentimentos, e têm um entendimento das situações  muito maior do que os nossos. Merecem nosso respeito - demonstrado quando nos entregamos junto com eles ao propósito umbandista, sem limitações como o orgulho e a intolerância.
Como a Umbanda é nova, temo que às vezes as pessoas queiram inovar demais, ou melhor, serem indicados como 'promotores' da inovação na Umbanda, para ficarem na memória. Ledo engano. Quem fica na história é quem consegue lidar melhor com a ligação entidade- médium e auxilia a uma comunicação e atendimento cada vez melhores. Já citei diversas vezes o Pai Fernando Guimarães aqui, hoje vou citar uma mãe de santo lá de Goiânia,Raquel Elcain, com também vários anos de religião, que postou uma experiência dela neste blog- na postagem Mocidade na Umbanda: " Isto me faz lembrar da minha filha Rafaela, também minha filha no santo, quando começou seu desenvolvimento, ao receber a preta velha para atendimento, no término dos trabalhos ela dizia assim: mãe a tia Anastácia passa umas ervas para as pessoas e eu não consigo falar, eu não entendo, não sei que ervas são, tenho medo pois são nomes que nunca ouvi falar. Sempre ensinei aos meus filhos no santo tudo que sei, jamais omiti qualquer ensinamento e, com ela, não pode ser diferente. Peguei um livro “o poder das ervas” e disse: estude. Quem sabe você entenda e ouça melhor a mãe preta.
Cada história de cada ser humano daria um livro, uns maiores, outros menores, mas repletos de conteúdo. Os melhores conteúdos são aqueles em que a coragem prevalece - elemento primordial para evolução- bem como o amor compartilhado e o aprimoramento do espírito na simplicidade. Espero sinceramente que eu possa ter trazido a você que me lê, boas lembranças de sua infância e que com elas sua semana seja bem melhor!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Xangô em Charles Darwin

Em minha cozinha há 23 vasos de plantas. De cebolas a pés de pimenta, tomates e salsinhas, e até de abóbora. Há uma planta carnívora também. Um somente é meu e trata-se de uma orquídea. Temos como novas inquilinas a Lorena e a Enya, duas cadelinhas muito simpáticas que estão proibidas de irem lá fora em virtude de sua baixa, vamos dizer, estatura. Tudo isto graças ao Dyogo. Apesar de termos quase 20 mil metros quadrados de área , é na minha cozinha que meu filho observa suas plantas e bichos. Já tivemos uma criação de joaninhas, mas rebelaram-se e fugiram todas. As joaninhas são rebeldes mesmo.
O Dyogo tem todas as características que eu achava pertinentes a Oxóssi. Ledo engano. Juntar material suficiente para se ter uma análise geral do que ocorre e aí emitir um julgamento é coisa de filho de Xangô. Sua infância está sendo muito parecida com a infância de Charles Darwin, pelo gosto da análise das plantas e dos animais, até as notas baixas na escola. Darwin não sabia aonde ia chegar, já o Dyogo sabe que quer cursar Biologia - vai ter que estudar mais.
Darwin começou cursando medicina, mas ao ver uma operação numa criança, desistiu. Contudo ,nesta primeira experiência acadêmica ele aprendeu taxidermia com John Edmonstone, um ex-escravo negro, que lhe contava muitas histórias interessantes sobre as florestas tropicais na América do Sul, conhecimento essencial para o desenvolvimento de suas teorias. Foi ,em virtude da decepção do seu pai com sua inaptidão para medicina,então enviado para o curso de Teologia. Naquela época, em 1827, era uma obrigação para quem estudasse a obra de Deus, estudar também a história natural. Acendeu-se uma luz na alma de Darwin e seu amor pela natureza voltou muito forte.
A história de Charles Darwin é muito importante para o entendimento de como se dá o processo de evolução não só dos seres vivos, como do próprio pensamento. Coletar informações e observar é algo extremamente necessário para que se chegue a qualquer conclusão própria sobre a vida e tudo que nos cerca. Inclusive a Umbanda.
Ao assistir um especial sobre a vida de Darwin uma frase  ficou martelando incessantemente  em meu cérebro: a Umbanda não é fisiológica ela é orgânica. Levou um tempo para que eu entendesse o que estava pensando, então vou aqui pedir licença para que acompanhem meu raciocínio e dividam comigo seus pensamentos.
A maioria das religiões trata do indivíduo e o indivíduo dentro da religião trata de si mesmo, então estas tem cunho fisiológico, ou seja, suas práticas são voltadas para um interesse pessoal, seja ele a salvação, o perdão, o amor Divino. Isto não é certo ,nem tão pouco errado. É um fato e não está em julgamento.
A Umbanda é orgânica porque reúne diferentes energias naturais, sob a luz de um único Deus, no intuito de proporcionar o crescimento de um conjunto de pessoas afins, dentro de um processo evolutivo conjunto. E aqui volto para Darwin. Ele coletou 13 espécies que julgou serem diferentes de pássaros - usou as técnicas aprendidas de taxidermia - uma em cada ilha que compõe as ilhas Galápagos. Ao ser informado por um ornitólogo que todas as aves se tratavam de tentilhões, uma enxurrada de pensamentos vieram à tona, o que impulsionou para falar sobre a evolução das espécies. Cada tentilhão se adaptou ao tipo de alimento que havia em sua ilha. E por uma questão de sobrevivência, ocorreram mudanças genéticas, mas não deixaram de ser tendilhões.
Todos os grupos de espíritos, sejam encarnados ou não, se unem pela similaridade . Apesar de haver um único regente numa gira, um culto umbandista não ocorre sem a participação de um grupo de pessoas, uma corrente. Não é como numa missa , onde por exemplo só o padre basta para que haja o culto.
Como na natureza, dentro da Umbanda há desafios e uma luta incessante para que as pessoas atendidas não virem presa fácil  de energias, que algumas vezes elas mesmo geram.  A Umbanda cria condições para que grupos familiares busquem o entendimento para sua evolução. Por este motivo, mesmo sendo em sua totalidade baseada no tripé erês-caboclos-pretos-velhos - que é a própria evolução do ser espiritual pureza-coragem-sabedoria -e trabalhando com as energias Orixás, ela é tão diferente no ritual nas mais diversas localidades onde a encontramos, mas não deixa de ser Umbanda.
Antes pensava que Umbanda é vida, agora penso que ela está viva. Possui uma vida  em evolução, conforme sua necessidade de se alimentar e proporcionando condições para que as próximas gerações tenham condições de sobreviverem.Quando começaram os estudos do projeto Genoma os cientistas acreditaram que nós, seres humanos, estávamos no topo evolutivo e deveríamos ter no mínimo 80 mil genes. No final descobriram que temos apenas 23 mil, o mesmo que uma galinha. Uma espiga de milho tem no mínimo 5 vezes mais genes do que nós. Quando falamos de vida e estamos a serviço dela temos que olhá-la como quem admira uma pedreira: quietos e com respeito com tudo aquilo que levou séculos para ter tal estatura.
A Umbanda está apenas nas primeiras horas de vida neste Universo. Então necessita de respeito e cuidado, atenção e observação. Pode ser que daqui há alguns anos eu pense de forma diferente sobre ela, mas hoje meu pensamento é este. Gostaria de saber o seu sobre a religião.


Um pouco da história de Charles Darwin:

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Amor sem Fronteiras

Ser mãe é padecer no Paraíso.Não conheço frase mais abominável do que esta. Sempre que alguém me diz , e desculpe quem já me disse isso alguma vez, dou um sorrisinho daqueles que querem dizer vou ali e não sei se volto. Você não tem noção do que é amar um filho até que ele saia de sua barriga. O que a gente ama quando está grávida , principalmente pela primeira vez, é a idéia de ser mãe de uma criaturinha linda e parecida com a gente.Mas mesmo nesta época uma série de coisas passam pela cabeça da gente, e nem sempre muito legais.
Bom, os filhos nascem e com o tempo, e só com o tempo, aprendemos a amá-los.E os amamos um pouco mais a cada dia.Porque amar também envolve aprendizado, compreensão e observação constante e diária. Os filhos também nos amam, embora cada um o faça de uma forma diferente, no final descobrem em si mesmos um lugar no coração em que só nós mães habitamos.
Muito se fala hoje em dia que a palavra amor está banalizada. Não creio nisto, porque amor nunca é um ato banal. A palavra tem sido muito usada sim, mas pela necessidade que as pessoas têm de usufruí-la, como , e principalmente, escudo protetor , que impede que todas as atrocidades do mundo afetem nossa alma, nossa essência.O amor é uma energia, a mais poderosa e a mais misteriosa, e deve ser invocada em todos os momentos desta nossa existência e isto só é feito com simplicidade. O amor por si só é mais, então não admite arrogância,nem prepotência, porque para se entregar a ele não podemos ter amarras.
A Umbanda é amor. Um amor livre na humildade de sua criação, e o que não for simples neste processo está fadado a não firmar seu real propósito. Elitizar a Umbanda é colocar vendas em seus médiuns e soltá-los em campo aberto, educar em amor e simplicidade é dar asas aos anjos que comunicarão, aos que buscam consolo, que a continuidade da vida, com fé e coragem, é possível.
Quando alguém vai a um terreiro espera uma mensagem clara e um resultado imediato, na maioria das vezes. As entidades, os caboclos, os pretos, os exus, os erês, boiadeiros, ciganos, todos sem exceção vão orientar os consulentes a traçarem um caminho pela luz do entendimento, e esta vai ser acessada primeiro em seu cérebro e depois em seu coração. O médium, antes de mais nada, precisa aprender a ser simples e aprender que é sendo simples que se é umbandista de fato. Ninguém dá o que não tem. Se adquirimos a força e a energia do amor pelas pessoas, transbordamos nele e ,sem dúvida nenhuma, fica muito mais fácil transmitir qualquer mensagem, porque as entidades sejam quais forem, encontrarão em nós os elementos necessários para o exercício de sua função dentro da religião.Amar é compartilhar o que temos dentro de nós mesmos.
Quem ama entende que todos unidos em um só propósito tem maior facilidade em auxiliar ao próximo. Só uma pessoa egoísta pode pensar que sozinha vai resolver os problemas de outro ser humano. Temos que ter a sensibilidade de entender que o amor atua na unidade, quando todos juntos numa gira formamos esta unidade. Cada um tem uma importância muito grande nesta energia do Amor: seja o pai de santo, as pessoas que compõe a hierarquia, os ogans, o médium novato e o que vai já para o toco, a firmeza do cambone e a vibração da pessoa que está na assistência e que está sintonizada, cantando todos os pontos. Tudo somado , na Umbanda, se traduz em amor.
Estamos todos crescendo, todo dia. Tenhamos oito ou oitenta anos. É difícil, mas a vida é um cenário de grandes aventuras.São as matas escuras de nossos pensamentos que temos que atravessar, são os rios que nos levam com força para direções desconhecidas, mas que nos ensinam a nadar. São as pedreiras que nos fazem sentir pequenos diante da grandiosidade de alguns momentos, são as trevas que nos ensinam a buscar a luz para dar passos mais firmes. São os grandes tsunamis que nos ensinam a reconstruir cada tijolo do que desmoronou. Viver esta aventura é necessário para que aprendamos o uso do amor em cada momento.
Ser mãe ou pai, ser filho, ser médium não é padecer num paraíso, é compartilhar o melhor amor que temos dentro de nós. É viver a grande aventura do amor nesta terra abençoada pelos Orixás. Saravá à sua aventura! Saravá a todo amor que você possa apreender neste caminho!

A Mandala acima é mais uma da série do Marcelo Dalla, e se refere ao amor incondicional


Esta postagem é dedicada às grandes mães guerreiras, que vivem esta aventura grandiosa de ter filhos:
Georgiana, Karin Elizabeth, Lucília, Dani Aymé, Renata Passos, Sonia Leão,Claudia Carneiro, Cinthia Schunig, Eni Lúcia, Carla Flores, Beatriz Silva, Paula Dantas.