quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Regente de 2013

Gente que não evolui está fadada a extinção. Eu avisei ao Dyogo, que só passou de ano em virtude do Conselho de Classe da Escola. Se agora tem uma nova chance - e chances não aparecem assim todo dia - se abrace a ela como se fosse uma namoradinha nova. Não dá pra ter quizila com o destino, ainda mais tão próximo do fim do mundo. Para quem não conhece o termo, quizila vem do termo quimbundo Kijila, que vem a ser uma proibição definitiva ou temporária, determinada pelo Orixá a seus filhos, em geral no Candomblé e em alguns terreiros de Umbanda.
Hoje me deparei com uma entrevista antiga que havia dado ao jornal Gazeta do Povo aqui em Curitiba. O que me chamou a atenção foi o título: Uma Revolução Lenta e Silenciosa - feita pelo meu querido amigo jornalista- e pela frase, quase guru José Carlos Fernandes. Pensei de imediato que estamos vivenciando isto na Umbanda e quem não se atentou ainda a este fato, conduzirá sua casa a extinção. Proibições e permissões sem esclarecimento , falta de atenção a médiuns, brigas entre seres que professam a mesma fé embora em terreiros diferentes , estão tão evidentemente ligados ao ego de cada dirigente e é inevitável que os adeptos mudem constantemente de casa- em busca da evolução.
O fato é um só: a Umbanda é uma religião. Uma religião de guerreiros em prol da caridade, em prol do amor ao próximo,não amor próprio - o que pronunciando parece ser igual, mas não é. Rituais podem divergir - e eu mesma não gosto de alguns- mas é inevitável que cada médium observe os sinais na escolha de sua casa, do local onde irá praticar o bem ao próximo.
Ficar alheio ao que acontece ao seu redor- o clássico "faço a minha parte e o resto não me interessa"- não se aplica definitivamente a um grupo que soma energia ao realizar a gira. Concordo que ninguém é perfeito- se assim fosse não haveriam médiuns- mas há que se ter cuidado. Se quer fazer algo de forma isolada faça sozinho, e se fizer sozinho não é Umbanda. É uma forma de ajudar ao próximo também e também é válida, mas não é Umbanda- porque Umbanda necessita de uma gira para promover a troca de energias.
O que me levou a pensar: o que é realmente necessário para uma gira acontecer a contento? Uma coisa é essencial e não é ritualística: o senso comum da prática do bem. Ok. Se você for como eu vai falar que o bem e o mal são relativos. E o são mesmo. Umbanda que é Umbanda é equilíbrio de energias da natureza. Nós pobres mortais- que adoramos ficar em filas em shoppings para comprar uma nova tecnologia- nos afastamos um bom tanto desta energia, e crescentemente nos afastamos de nós mesmos.
O Divino, em sua Infinita Sabedoria, sempre dá um jeito de fazer com que nos aproximemos de nossa essência e assim acontecem coisas que às vezes fogem dos padrões de nossa rotina. Às vezes nos pegamos pensando que é um mal o que nos sucede, que é isto ou aquilo. Mas se pararmos para pensar- depois que a tempestade passa- é só mais um momento de aprendizado, por vezes dolorido-mas aprendizado. Porisso devemos respeitar quem pisa num terreiro em busca de ajuda: ali está invariavelmente a última oportunidade de achar uma solução.
Caboclos, pretos velhos, erês, exus,pomba-giras incorporam e falam com consulentes por um só motivo: passar a mensagem e transmutar a energia de pensamento de quem precisar enxergar as coisas de uma outra forma- e este é um trabalho tremendo: transformar a água em vinho e fazer com que as pessoas despertem para vida. Médium inconsciente é o que não se atenta a isto e se prende a rituais - que servem na realidade para mantermos nosso foco na fé e não dispersarmos atenção.
Como mulher de fé, como médium umbandista, como defensora da religião gostaria de propor aqui que focássemos em Oxalá para o próximo ano de 2013. É ele quem trará o consolo pelas palavras das entidades aos que buscarem ajuda, os grandes aprendizados aos médiuns no próximo ano e grandes provas a todos os terreiros de boa fé. Que este mundo que estamos vivenciando dentro da religião realmente acabe dia 21, quando a maioria dos terreiros entra em férias. Que façamos a travessia dos justos, dos fiéis e principalmente dos que têm consciência que não são donos da verdade absoluta, pois a verdade está no amor do Criador e nos desígnios que Ele permite a cada filho e filha.
Termino com uma citação de Fernando Pessoa, para refletir a Luz Divina: " Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Saravá!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Justiça e Magia

Fé, caridade e amor ao próximo. Mistérios e descobertas. Deslumbramento. Felicidade na luta pelo bem, pela saúde, pela alegria, pela dedicação. É de fato tudo muito bonito dentro da Umbanda. A religião sem dogmas, a religião da liberdade, a religião dos guerreiros de Oxalá. Descobrir entidades, Orixás regentes, manipulação de energia é muito estimulante, mas você já chegou a pensar o que há além disto?
Afinal, quem somos nós? Na individualidade, sob o teto que nos abriga quando não exercemos nossa função religiosa. Aponte um médium de qualquer religião que não atravesse algumas vezes corredores escuros em sua vida pessoal  e eu lhe direi que este ainda não é um médium em pleno desenvolvimento. 
Desenvolvimento espiritual é longo e árduo, além de solitário. Não há ninguém, nem neste, nem de outro mundo que possa usar os seus pés para caminhar.
Não estou dizendo que não temos ajuda, mas é impossível saber o que é uma xícara de café, oferecendo-a somente para seu vizinho provar. Um dia Mestre Cipriano me falou que o caminho não é fácil, mas que ficar olhando os buracos em que tropeçamos não auxilia em nada nosso processo de desenvolvimento, e que ,com frequência, nesta caminhada, é comum nos confundirmos com coisas que parecem boas e com as que parecem más.
A vida de uma forma geral não é fácil e eu digo que a Umbanda não é o lugar mais correto para fugirmos da realidade.A Umbanda nos dá subsídios para transformarmos a realidade que enfrentamos em fontes de sabedoria para o engrandecimento de nosso espírito. Contudo ,em momento algum, as experiências que vivenciamos devem ser vistas com resignação. É a nossa reação aos revezes o elemento transformador essencial à nossa evolução.
Dia 21 de Dezembro é o fim do mundo. Lembro do meu filho mais velho falando há mais de dez anos atrás que achava injusto, pois cairia um dia antes de seu aniversário. Hoje eu entendo que o fim do mundo acontece várias e várias vezes nesta mesma vida. O que fomos há dez anos atrás será bem diferente se sobrevivermos a mais dez anos. Muitas e muitas vidas vivemos numa só.
Na Umbanda não há sacrifícios. É uma meia verdade. Há o nosso próprio sacrifício. Já me perguntei várias vezes sobre o porquê disto, de caminharmos às vezes como cordeiros assustados. Como o Divino deixaria coisas ruins ocorrerem a quem pratica o bem? Ah ,meus caros, uma pergunta bem "perguntada" jamais fica sem resposta pelo Universo. Em um dos meus textos falei que a representação dos grandes iluminados é sempre feita pela imagem do leão. E numa destas minhas distrações ouvi no um filme "Lutem e lutem novamente, até que cordeiros se tornem leões" (Robin Hood) 
Se as coisas não estiverem fáceis para você, tente lembrar que faz parte da sua transformação pessoal e nunca, em momento algum, desista de lutar. Há um leão dentro de cada um de nós, e aí reside a Justiça e a Grande Magia Divina. Saravá Xangô!