terça-feira, 28 de setembro de 2010

Entendimento

Mamãe nós vai i a lá.... Não, não vão. Começaram mal. É o que eu sempre falo. Podem perguntar para meus filhos o que digo numa situação destas, deprimente por sinal. Quem não sabe conjugar um verbo tendo oportunidade de estudar, não vai a lugar nenhum. E “a lá” não faz parte do meu rito religioso.

Meu filho mais velho chorava porque não conseguia aprender a ler. Às vezes se recusava a ir a escola, deitando na cama e segurando o colchão fortemente.Batia um certo desespero, pois mãe de primeira viagem não tem certas manhas, mas ia de qualquer forma para a escola. Aprendeu a ler rápido até e hoje , ele cursando engenharia e querendo partilhar o que sabe, eu tenho vontade de chorar por não entender nada do que fala.

Na verdade você não aprende a ler, apreende o mecanismo da leitura. Assim como na espiritualidade você apreende o conhecimento para poder se elevar. E , como aprender a ler, mas infelizmente não no mesmo tempo, acontece num “estalo” de seu espírito. Para ficar um pouco mais fácil: um aluno do curso de Direito a principio decora as leis e estuda a aplicabilidade. Isto já é algo bem difícil. Quando ele tem o “estalo” consegue analisar um caso jurídico de uma forma tão ampla, que a aplicabilidade das leis específicas surge como num “passe de mágica”. Ser um excelente advogado exige esforço grande mental, mas também um dom natural.

Apesar de meu filho ter aprendido a ler e escrever, isto não fez dele um escritor. Como acontece com a maioria das pessoas. Assim que comecei a entender o mecanismo da escrita, comecei a escrever minhas histórias. Minha avó guardava meus escritos e no dia do seu desencarne encontrei alguns em sua casa. No dia fiquei meio chocada comigo mesma, pois havia esquecido a quanto tempo eu já possuia esta vontade em mim.

O pensamento, a vontade e a ação são itens importantes no seu desenvolvimento espiritual. Eles despertarão o seu dom, contudo isto pode levar mais do que uma vida.

Veja, você depois que apreendeu a ler bem, durante alguns anos, pode ficar vários outros sem ler que não esquecerá. Vai ser meio sofrido no começo, mas resgata o que sabe rapidamente. Assim o que você apreendeu numa vida, por seu espírito, resgatará em outras e usará na continuidade de seu aprendizado.

Perguntaram ,um dia desses, se a Umbanda crê em vários deuses. E é sempre bom repetir: a Umbanda crê em um Deus único, porém acredita que para melhor entendimento Dele sejam necessárias as energias Orixás. Deus para se esconder dos homens, como rezam muitas religiões, fez morada no coração de cada um. Acredito nisto, pois não desenvolveríamos a fé se não sentíssemos dentro de nós o Divino. Portanto cada pessoa é regida por uma energia Orixá. Esta energia estimula e guarda o dom que se manifestará através da equação pensamento+vontade+ação.

É normal se falar que uma entidade pode não atender a um pedido seu, por você ainda não ter merecimento para isto. Não acredito nisto. Creio que tenha a ver com entendimento e não com mérito. A fé é o único dom pertinente a todos. E os milagres acontecem todos os dias ,mesmo não sendo divulgados. Cada um de nós tem um para contar, mesmoque seja um dos pequenos. Como ainda estamos todos este plano, a condição necessária de presenciar mais um ,ainda temos.

Quando você está pronto o mestre aparece. Nisto eu confio.Um mestre não é um milagreiro e sim um facilitador do seu "apreender”. Levei um tempo razoável em minha vida para chegar a uma pessoa que me estimulasse a fazer as perguntas corretas e absorvê-las. Por ele, entendo hoje que a nossa elevação espiritual está relacionada não só a religião. Religião é e sempre será um meio para você apreender princípios e ter finalidades em seus atos.Elevação espiritual se obtém vivendo e construindo sua vida. Isto envolve vários setores morais e cívicos. Porque afinal estamos casados com todas as coisas nesta vida e não caminhamos sozinhos no aprendizado.

Portanto, se algo não aconteceu do jeito que você imaginava e desejava, não foi por falta de merecimento, mas com certeza por falta de entendimento. Esteja sempre atento, com o coração e a mente abertos para isso. Saravá!

sábado, 25 de setembro de 2010

Aos Quatro Ventos

O vento é o ar em movimento. O vento é o ar em movimento.O vento é o ar em movimento. Minha professora de ciências do primário marcou minha vida mesmo. Fazia com que copiássemos as perguntas e respostas corretas pelo menos cinco vezes. Apesar de na época lermos mais do que os jovens de hoje, são eles que têm mais acesso à informação. Meus filhos foram à um museu com informações técnicas sobre sustentabilidade e ciência, e a professora me contou o quanto todos os alunos puderam discutir, mesmo estando na quarta série, baseados no que escutam na televisão.
A natureza é tão fantástica que dispõe de seus elementos também para nossa reflexão. Sempre gostei de estudos sobre símbolos. O ser humano tem um potencial natural para criação deles. Talvez seja algo instintivo, para perpetuar suas próprias idéias e experiências para fortalecimento de seus descendentes. Eu gosto de decifrá-los.
Comecei este mês falando que Yansã estava bem presente. E termino falando o mesmo. Lá no comecinho não sabia o porquê. Basicamente Yansã é a energia Orixá que leva os desencarnados. Para mim, é um pouco mais do que isto. Na ciência dos símbolos, o vento é o representante das manifestações sobrenaturais que revelam as intenções dos deuses, da mais diversas religiões. Instável, invisível e intocável, mas suas manifestações produzem mudanças bem palpáveis. Yansã ao levar os desencarnados está na verdade os encaminhando para uma nova vida.
Com um sopro sobre as águas Deus criou a vida.O sopro é um movimento do ar, elemento necessário para nossa vida. Assim como a água. Portanto estes dois elementos são a base da criação do mundo espiritual e simbólico. Os elementos da natureza ,como a  manifestação Divina, são imprevisíveis por nossa própria condição de limitação mental. Contudo quando nos associamos à estas manifestações, mesmo não sabendo dos resultados finais, só temos a crescer e nos fortalecer.
Quando o blog do Pai Maneco foi criado, ali surgia uma vertente de água para quem tinha sede de conhecimento em Umbanda. Há muitos anos venho escutando as pessoas falando dentro da religião que "ninguém explica nada". O problema era que se você não tem o mínimo de conhecimento, que pergunta quer fazer? Então este blog veio preencher esta lacuna. Aprendi muito lá, como muitos , pela experiência e perguntas dos outros. Tanto que este blog foi uma fagulha que o vento trouxe de lá. O blog do Pai Maneco foi fechado, mas os ventos da prosperidade o trouxe de novo, e como o vento a cada volta que dá no mundo traz consigo novidades, desta vez veio remodelado e com a certeza da sua importância para fundamentação do respeito pelo conhecimento.
Tenho o maior orgulho de meus leitores. Nem todos são umbandistas, mas todos ,sem exceção buscam conhecimento para então fazer um julgamento. Na verdade, como bem observado pelo Pai Fernando em sua opinião no  site que indico no final deste texto, a internet é uma grande aliada se bem usada. Há vários tipos de blogs sobre Umbanda que valem sua visita. O blog Luzes e Sonhos é um destes. Feito por uma filha de Yemanjá, a Angela, à princípio contra o preconceito, hoje está em franco desenvolvimento mostrando assuntos do dia-a-dia do umbandista.
Indico também dois blogs de pais de santo, coincidentemente filhos de Oxóssi, muito parecidos na rapidez de informação e na qualidade das mesmas. O primeiro é o Ricardo Barreira , amigo presente e ,podem anotar aí, será reconhecido no futuro por suas inovações no trato com a religião. Foi através do blog dele que muitos terreiros estão adotando uma gira especial para tratamento espiritual aos animais de estimação. Novinho ainda e dando os primeiros passos está o blog Umbandeando do Léo Guimarães. Vale a pena ficar de olho porque o que a energia orixá Oxóssi firma se colhe por anos a fio.
Outro blog que me surpreendeu foi o Histórias Brasileiras e Tambores de Encantaria do filho de Ogum Luis Antonio Simas. Um texto fantástico, não só sobre Orixás, mas trazendo muito conhecimento e questionamento. E citando o Luiz, que em seu bom humor pertinente às pessoas de muita inteligência, você pode perguntar ao babalorixá virtual, o Pai Google de Aruanda e lá encontrará muitos outros blogs sobre umbanda e candomblé.
Divulgando aos quatro ventos informações sobre o funcionamento da Umbanda, ninguém entra mais num terreiro sem ter informações concretas sobre religião.Aliás, hoje não podemos mais reclamar sobre falta de informação. O que temos que ter em mente nestes dias de ventos de conhecimento ,que aparentemente sopram a nosso favor,  é o que fazer com o conhecimento. Pois como falei no início, tanto o vento como a água estavam nos primórdios da humanidade. Conhecimento sem uso é água parada e água parada não tem utilidade além de criar larva da dengue.Vi na internet. Saravá!

Opinião do Pai Fernando Guimarães e Blog do Pai Maneco

Blogs citados no texto:

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Zaori



Todos aqueles que nascem em uma sexta-feira da Paixão são Zaoris. Têm o aspecto de homens comuns. Seus olhos, porém, são muito brilhantes, de um brilho mágico, misterioso. Possuem o poder de ver através de corpos opacos, terras ou montanhas, conseguindo assim localizar tesouros escondidos. Barras de ouro ou prata, jóias, pedras preciosas, armas raras, nada escapa ao olhar mágico do zaori, mesmo que esteja enterrado sob vinte metros de terra.
É mito de origem árabe, e no Brasil, ocorre principalmente no Rio Grande do Sul. Também estão presentes no fabulário da região do Rio da Prata, Chile e Paraguai, localizando as riquezas e tesouros enterrados pelos jesuítas ou por príncipes incas, na tentativa de salvaguardar seu ouro dos espanhóis. Uma vez que os proprietários originais de tais riquezas não podem mais usufruí-las, os zaoris as localizam para aquelas pessoas que ganham a sua simpatia. Contudo, não podem utilizar seu dom em uso próprio. Toda a riqueza que encontram sempre deverá reverter para benefício de outrem.
As lendas sempre trazem em si, a sabedoria da humanidade. Ao ler esta, a primeira pergunta que me veio foi: seriam os médiuns Zaoris? Não, médium não acha ouro , tesouro escondido nem nada material assim. Ele, através de comunicações entre planos, traz a tona o que há de melhor no consulente.Esse é um tesouro ainda melhor.
Os tipos de mediunidade são tantos e as formas que eles se expressam nas religiões tão diferentes, que como exemplo cito o seguinte: imagine a imensidão deste nosso país. Podemos ser todos brasileiros ,mas há diferenças enormes entre os que moram no Sul e os do Norte. De cultura a sotaque, mas não deixamos de ser brasileiros.
A Isia , uma grande amiga e curandeira/farmacêutica, me enviou um texto que disponibilizo abaixo sobre mediunidade, por J. Godinho. Concordo com ele em muitos pontos, mas uma coisa me chamou mais a atenção. Ele fala que todo médium por natureza é impressionável, sendo assim a impressionabilidade mais uma qualidade geral do que especial.
O médium por si só já é um tipo de TV a cabo. Pode sentir, se necessário for, vibrações de vários planos. Está irremediavelmente ligado 24 horas por dia. Porisso se enganar as vezes é bem comum. Porque ser médium não é ser infalível. Pai Fernando Guimarães cita em seu livro um episódio dele antes de entrar para Umbanda:Um dia, saindo de casa, olha no lado esquerdo do portão um símbolo pintado de vermelho: um circulo com uma cruz no meio.Todos os pensamentos maus passaram por sua cabeça. Pediu ajuda a um outro médium, que também lhe falou da problemática que aquilo poderia causar, devendo ser desfeito. Passaram-se os dias. Ele notou , numa manhã, que outras casas tinham aquele sinal também. Perguntou ao vizinho que regava o jardim se ele sabia do que se tratava aquele sinal: - Sei sim, foi a Companhia da Rede de Águas e Esgotos que marcou as casas onde serão mudadas as redes de águas pluviais.
A vida é assim mesmo. Como falava Paulo Mendes Campos, às vezes tomamos ratos por elefantes. O importante é a gente ter bom humor e nunca se apavorar. Meu filho do meio, como toda criança, tem a sensibilidade aflorada. Há uns anos atrás, acordava toda noite dizendo que tinha uma mãozinha que aparecia em sua cama. Só uma mãozinha mesmo e de criança. Estava em pânico. Pedi ajuda no terreiro, mas para meu filho eu falei que era impossível. Como uma pessoa desencarnaria e esqueceria de levar a mão consigo? Realmente não faz sentido né mamãe? Me dizia. Meu caçula já viu na mãozinha uma forma de ajuda: poderia organizar os brinquedos no quarto e falou de todas as coisas maravilhosas que uma mão a mais traria de benefício. Sei que a mãozinha nunca mais apareceu, com medo talvez o excesso de funções...
Meu filho do meio realmente tem muito medo de ver coisas. Certa vez acordou de madrugada com um choro e foi ver o que era.Deu de cara com uma menina chorando na cozinha. Não teve dúvidas e foi falar com o Pai Jussaro que o tranquilizou: não se preocupe vou pedir ao caboclo Tucuruvu que leve essa menina de lá. Meu filho parou um momento e pensou. Olhou bem para o pai de santo e disse: só que por favor peça pra ele que eu não quero ver índio nenhum correndo atrás de criança dentro da minha casa hein? E tudo voltou à normalidade.
Todos somos médiuns e isso é um fato. Outro fato é que não somos iguais em nossas mediunidades, nem tão pouco constantes em nossas visões. Somos falíveis, porque também somos alunos neste plano. A nossa mediunidade serve tão somente para a caridade. O médium se serve de sua mediunidade para aprendizado próprio. Por isto somos conscientes mesmo que incorporados. A experiência dos outros e as mensagens que as entidades passam nos servem de lição.
Então deixo aqui uma mensagem: estejam conectados à espiritualidade, mas vigiem seus pensamentos. Ninguém é perfeito e infalível, principalmente quando se trata de coisas que não podemos ver. E como errar sem maldade pode ser engraçado, nunca perca o bom humor. Você já viu alguma imagem de Chico Xavier em que ele apareça triste? Saravá!
Sobre o texto de mediunidade do J. Godinho
Sobre o livro Grifos do Passado, de Fernando Guimarães

sábado, 18 de setembro de 2010

Não Chuta Não!


Imagine uma mãe com um filho internado em estado grave. Ela se dirige a uma igreja, acende vela para seu santo de devoção e uma vela para o anjo da guarda. Ou uma mãe neo-pentecostal na mesma situação, após várias orações, consagra um óleo e o mantém perto de si e de seu filho na esperança da cura. Agora, com a imaginação vívida que sei que aqui todos têm, imaginem um ser totalmente desprovido de respeito, conhecimento e compaixão, apaga as velas da mãe católica e quebra o pote de óleo da mãe de fé evangélica. Este ato não fará com que o ato ritualístico da fé e da união entre a mãe e Deus percam seu efeito.
Meu filho mais velho, hoje um homem inteligente de 20 anos, quando pequeno me perguntou o que era “energia”. Primeiro fiz com que sentisse que do corpo sai um calor e esse calor vem da nossa energia. Depois fui ao jardim e mostrei que das plantas também saía um calor, proveniente da energia delas. Sempre me excedo em explicações. Falei da energia dos elementos naturais e minerais e dos alimentos (dei ênfase neste ultimo falando que batatas fritas, apesar de quentes, não se transformavam em energia tão boa quanto o das frutas e verduras). E falei por fim das energias que impregnamos nos objetos com nossos sentimentos.Há um senso comum entre meus filhos: a mamãe fala demais. Tenho uma teoria: palavras dirigidas aos filhos não se perdem e um dia eles as reencontram dentro deles.
Talvez uma mãe umbandista com problemas com filho doente fizesse um amalá para que Oxossi, energia de Deus que representa também a cura, enviasse suas entidades para auxiliar os médicos no processo de reestabelecimento da criança. Aí vem um engraçadinho e diz : chuta que é macumba. Um amalá é uma entrega feita a um Orixá e possui elementos característicos da energia que se quer para determinado fim. É um ato ritualístico. Os santos e os anjos da guarda não precisam de velas para se iluminar, nem Deus precisa de óleos ungidos, nem os Orixás precisam se alimentar, nós é que precisamos nos linkar a eles.
Gosto sempre de contar uma história ocorrida com um amigo. Por uma série de problemas nesta vida, acabou um dia sem moradia e sem nenhum tostão no bolso. Passava os dias perambulando. Um dia morrendo de fome ,andando perto dos trilhos de trem se deparou com um amalá. Havia vários elementos dentre eles cocadas pretas e brancas, bolo de fubá e um café ainda morno. Olhou para os lados e quem o deixou ali não estava mais presente. Sentou-se e comeu. Enquanto comia conversava com Deus. Pedia desculpas por estar fazendo aquilo e disse ter tido uma longa conversa com o Divino sobre suas necessidades e em que ponto havia chegado. Menos de 24 horas depois reencontrou um velho conhecido que precisava de um ajudante que pudesse morar no emprego. Assim que recebeu o salário foi lá no mesmo lugar, montou o amalá exatamente igual e mesmo sem saber para quem era pediu a Deus que aceitasse como agradecimento e como reposição pelo que tinha usufruído.
Quando descobriu que eu era umbandista me contou a história e perguntou para quem seria aquele tipo de entrega. No meu pequeno entender e conforme os elementos, tratava-se de um amalá para preto-velho. Não freqüenta terreiros, pois é meio tímido, mas as vezes aparece por aqui para perguntar, como quem não quer nada, se eu tivesse um tal problema para quem eu faria um amalá e como faria. Finjo que não sei de suas reais intenções e que também não vejo que ele saca imediatamente de um caderno e de sua caneta. Fé na Umbanda não se restringe ao terreiro, se bem aprendi.
Não estou dizendo para saírem por aí comendo entregas. Digo que cada um tem uma forma de materializar seu contato com Deus. Por exemplo, se um amalá super requintado surtisse mais efeito que um humilde, como diria meu painho, seria mais fácil contratar um Buffet. Um amalá tem que ter basicamente elementos pertinentes ao campo energético que se precisa formar e consciência ecológica. Yemanjá não precisa que você jogue a garrafa de champagne no mar nem a rolha da mesma. Todos anos tartarugas morrem engasgadas com as ditas rolhas. Você não precisa ir na mata fazer uma entrega com pratos de barro ou de porcelana. Seu amalá será bem aceito se for colocado sobre uma folha de bananeira. E cuidado, se acender velas na mata certifique-se que ela apagou bem antes de você sair, pois estamos em época de queimadas. Consciência de preservação do meio ambiente também é um ato de amor ao próximo e a você mesmo.
Use sempre de bom senso em seus atos religiosos. Orixá nenhum aceita pedidos baseados em egoísmo, como fazer com que alguém fique irremediavelmente apaixonado por você, ou que algum desafeto seu sofra males indescritíveis. O único membro da Umbanda que faz o bem e o mal é um só: o próprio médium e a ele mesmo, por sua própria ignorância.
Nossa religião sofre ainda o que o cristianismo sofreu no princípio. Perseguições e falta de unidade em rituais. Hoje é simples você ir a uma igreja acender uma vela, mas é muito constrangedor ver alguém fazendo um amalá sem que o leigo fantasie sobre as intenções e o praticante não se apavore com medo de represálias. Alguns terreiros já dispõem de espaço específico para as entregas, outros ainda menores, não.
Geralmente as entregas que você vê estão ligadas à necessidade de emprego, à necessidade de harmonia familiar, de saúde, de proteção e para que algum ente querido se afaste do mal do século:as drogas, em especial o crack. Como em qualquer outra religião, ali você está vendo um pedido a Deus para transmutação de uma situação em busca do equilíbrio.
Na Umbanda não se usa sacrifício animal, o único animal que pode ser encontrado nas entregas é peixe cozido, mas raramente você vê porque que tem sido substituído por frutas. Volto a falar de bom senso. Não há como substituir peixe, que é assado sem sal, por um peixe empanado, comprado pronto, como já vi fazerem. Nem substituir amendoim por amendoim japonês. Tem coisas que não tem lógica, portanto não invente. Na dúvida pergunte sempre. Também não faz sentido outra pessoa fazer por você.
Bom, se você acha tudo isso ainda esquisito, lembre-se sempre que você nasceu de uma explosão de energia, de maneira microscópica e que além disto é material reciclado das estrelas!
Para saber um pouco mais como se faz amalás:

sábado, 11 de setembro de 2010

Sagrado



Já escreveu sobre os índios mamãe? Nas últimas semanas é o que mais escuto do meu filho do meio. O questionamento dele é que se eu quero falar de religião brasileira teria que falar de índios sempre.Ele não é muito de falar, mas sei que ama os índios e os respeita. Quando pequeno, com uns dois meses, fiz o anagrama de seu nome (que significa rearranjar as letras do nome e formar um outro) e resultou em: Índio desenha fogo. De fato não só desenha, como também onde puder está lá ele lidando com tal elemento. Diz que vai ser biólogo e ,quando a lei permitir, vai caçar também pois gosta de cozinhar.Se você está pensando em encarnações passadas esqueça, porque de fato não importa: hoje meu filhotinho é um índio brasileiro, mais um conectado à tribo mundial de computadores.
Um dia fui numa tribo Guarany. Uma das maiores experiências de minha vida. Em conversa com o cacique ele nos conta a experiência de um dos integrantes da aldeia. Comunicou que havia se tornado evangélico e não mais participaria dos cultos deles. Todos eles são livres. Um dia veio uma grande tempestade e um raio caiu ao lado da casa deste índio, que imediatamente saiu no meio do terreiro para pedir desculpas a Tupã. Não se pode negar a essência. E eu devo confessar que depois que participei do ritual deles nada mais teve a mesma cor para mim.
Diga para mim: onde os índios aprenderam a dançar? Onde eles aprenderam música? De onde vem tanta religiosidade? Posso estar errada, mas fico pensando se dançar, cantar e crer em Deus não é uma necessidade básica da alma do homem. Eles aprenderam a caçar e plantar para se alimentar, para permanecerem vivos e saudáveis. Acredito que a religião surgiu entre eles pelo mesmo motivo.
Estes dias uma amiga me perguntou se nós umbandistas acreditávamos em um Deus único. Expliquei a ela sobre as energias Orixás como cada aspecto de um Deus único. Confesso que gostaria de ter dado a ela um pouco mais do que todos já sabem. Como nenhum desejo sincero cai no vácuo na Umbanda, fui agraciada ao ler uma mensagem muito esclarecedora postada pelo pai de santo Ricardo Barreira e pronunciada pelo seu pai de cabeça , a entidade Pai Tupiniquim : “Quando o homem conseguir sentir-se tão parte da natureza como uma pedra ou como um rio, aí então ele encontrou o sagrado.”
Será que seria este o grande segredo dos índios? Será que lá atrás no tempo onde não havia contato com o mundo ‘civilizado” eles não eram parte dos rios, das pedreiras e das matas? Não seriam eles as próprias cachoeiras e onças selvagens? As águias que voam nas planícies e os peixes que movimentam os rios?
Aqui virou uma rotina. Quando aparece uma águia, que tem costume de sentar numa árvore alta e ficar olhando aqui para casa, os meninos vem me avisar: mamãe o caboclo Akuan veio nos visitar. Talvez quando eles crescerem percebam que isto tudo é muito mágico, mas por enquanto tratam isto com uma naturalidade absoluta. E meus filhos sabem que a águia só aparece quando precisamos, é instintivo. Se sentem bem e protegidos.
Tudo isto me leva a um questionamento. Nós , cidadãos civilizados, fazemos parte do que? Que natureza é essa nossa? Uma pessoa andando num centro movimentado de uma grande cidade é algo tão solitário e triste, no meu ponto de vista. Depressão é palavra da moda e tomar remédios para baixar a ansiedade é algo tão comum, que sinceramente creio que a humanidade nos tempos atuais se assemelha a um grande campo de órfãos. Precisamos consumir e consumir, e assim passamos nossa existência nos consumindo. Não se enganem pois amo tecnologia. É extremamente necessária. O que perdemos foi nossa ligação com o sagrado.
Esses dias os meninos vieram correndo para dentro, mas antes mandaram os filhos do caseiro irem para casa também. Haviam escutado no mato uma ave diferente e tinham certeza absoluta que era o saci. Falei que ia lá fora ver e eles me pediram para não ir, pois conforme me explicaram o saci chama as pessoas curiosas pro meio da mata com este canto. O melhor que eles tinham a fazer era ficar na internet até o saci cansar e ir embora.
Se era o saci não sei mas vou dizer a vocês que se puderem, em vez de ir ao shopping levem seus filhos perto da mata. Não em parques onde tudo esteja à mão. Molhem seus pés num riacho, prestem atenção nos sons que vêm da mata. Experimente sentir o som de seu coração neste momento.E ali no meio do silêncio acolhedor da natureza, no seu reencontro com o sagrado espero que suas perguntas e sua solidão sejam dissipadas pelo abraço do Divino.








Na atualidade os indios brasileiros precisam de muito apoio. Uma grande defensora deles e uma pessoa que tenho a certeza ter encontrado o sagrado é a Professora Maria Rachel Coelho. Você pode ajudá-los e conhecer mais contactando-a. A foto ao lado é para que vocês vejam o quanto esta pessoa tem luz!



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Energia e Movimento


Amo comprar e saborear frutas. Ir ao Mercado Municipal compara-se, no meu caso, a ir a uma boutique. Certamente por influência do meu pai. Lembro-me dos momentos felizes quando meu pai trazia para casa caixas de frutas. Chego a sentir o cheiro da casa naqueles dias. Aqui em casa meus armários podem estar cheios, mas para mim e meus filhos pequenos, se não houver frutas, estamos passando fome. Exageros à parte, as frutas trazem esta sensação de fartura.
Quando o kiwi começou a aparecer por aqui, eu já trabalhava na Secretaria de Cultura e meu pai trouxe a novidade para casa. Levei alguns para o meu lanche da tarde e algumas pessoas disseram: como você pode comer esta coisa horrorosa? Imediatamente falei que era ruim mesmo e não deveriam provar. E fiquei ali, isolada naquela imensidão de sabor verde. O tempo passou e o kiwi passou a ser popular. Esses dias meu caçula foi ao sítio de um amiguinho aqui perto e , quando voltou para casa sem fome, me explicou o motivo: passou à tarde embaixo de um giral de kiwi e estava com overdose da fruta.
Fiquei hoje pensando: como é que se explica uma energia para quem não a conhece? Acredito que seja o mesmo que explicar o sabor de uma fruta. Dizer que ela é doce ou azeda, se é verde ou vermelha ,nunca passará um décimo do seu verdadeiro sabor. É preciso experimentar.
Na última gira no Terreiro do Pai Maneco, estávamos com visitas de estudantes de parapsicologia do Japão, Inglaterra, Estados Unidos e do Brasil. Observavam ,fotografavam e filmavam. A ciência é muito importante, até para que se desenvolvam técnicas de cura e de bem estar mais assertivas. Mas saber explicar o gosto que a Umbanda tem é difícil. Uma amiga me enviou estes dias um TCC sobre Exus, pois está fazendo faculdade de Umbanda. Acho louvável. O saber pelas coisas escritas com inteligência inquestionável dão um certo alívio ao pesquisador. Mas junto-me ao grande guerreiro de Ogum, Pai Fernando Guimarães ao seu questionamento na “minha opinião” de setembro: “... porque ninguém explicou até hoje, ao menos eu desconheço, o que é o Exu em sua essência. Se é um espírito ou um elemental.” Quem são as entidades? O que são? E as energias? Graças ao Divino podemos saber o que são as energias Orixás pelos elementos da natureza.
Volto ao kiwi. Não tem como explicar seu sabor. Não trabalho com Dona Maria Padilha das Almas. Meu primeiro encontro com ela incorporada em uma médium que não me conhecia, espantou a própria médium. Me abraçou como uma mãe que abraça uma filha que caiu da bicicleta. Não falou nada e eu entendi tudo. A médium depois ficou até esperando, como me disse uns dias depois do fato, que eu fosse pedir explicações sobre aquele atendimento sem palavras. Eu havia entendido. Ela me deu amor. Não tem como explicar. E ela continua a fazer isto até hoje.
Médiuns de todas as religiões: aproveitem seus contatos com exus e pombas giras, pois eles são mensageiros do amor. Médiuns de Umbanda, não mistifiquem as entidades de esquerda que trabalham com vocês. Entidade não arria nem pra beber, nem pra fumar. Arria para que você partilhe com eles a grande ceia: o Amor Divino. Este é o grande manjar.
Ontem tive grandes lições de vida. Não acredito que aprenderia e experimentaria isto em livros. O primeiro grande ensinamento que tive foi com o seo Zé Pretinho. Senta-se uma moça à sua frente. Desesperada conta de suas aflições e questionamentos pessoais. Ele olha para ela e depois de demonstrar que nenhuma energia negativa estava agindo na vida dela, fala: não é você que vive falando que quer ser uma mulher muito poderosa nesta vida? A consulente ,espantada, olha para ele e confirma que sim. Então ele pediu que ela acendesse uma mesma vela por alguns minutos à noite,durante sete dias, rezasse e se comprometesse com o Divino a não pensar nos problemas antes de dormir. O motivo era simples: estava tendo uma grande oportunidade de se tornar poderosa: aprendendo a se controlar, a controlar seu interior. Eu mesma fiquei pasma com aquele conselho.
Depois das consultas fui tomar um axé especial no meio. Sentada ali, vi e senti todas as energias mais antigas da Umbanda à minha volta. Olhei para o Pai Maneco e estava ali ele, junto com os anciões me protegendo e me acolhendo. A taça que minha alma carrega se encheu e transbordou. Foi uma honra muito grande e nem sei se sou merecedora de receber este amor tão puro e incondicional. Espero apenas que o que transbordou da minha taça chegue ao coração de cada um que me lê e que com isso, como uma grande corrente, você possa dar ao seu próximo um pouco desta sensação que alimenta a alma.

Para ler a brilhante "minha opinião' do Pai Fernando Guimarães do mês de setembro acesse:
http://www.paimaneco.org.br/pai_fernando_minha_opiniao_2010.asp


A foto que postei aqui é uma homenagem aos pretos e pretas da Umbanda, grandes feiticeiros do Amor Divino, e que foi captada pela alma da Fernanda Grigolin. Visitem o site dela e em breve postarei mais noticias do novo livro que ela vai lançar em Outubro.
http://www.flickr.com/photos/grigolin/4911808978/

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

De Oxum a Yansã


Quando eu ainda escrevia em máquina manual (sim eu tenho idade para ter feito isso) às vezes olhava para o papel e ele não me respondia. Hoje acordei sentindo, logicamente depois da segunda xícara de café, que setembro está assim como uma folha em branco, mas que eu olho e responde para mim. Por intuição, senti que este mês Yansã estará mais perto. Como esta energia me refaz, pode ser mais uma esperança que uma intuição.
Na verdade setembro é um mês que a maioria das pessoas gosta pelo simples fato de ter sobrevivido a agosto. Sofremos às vezes por convenções sem nexo no presente. No século XV e XVI as mulheres que se casavam em agosto tinham que esperar meses por seus maridos que logo saíam em navegações demoradas partindo da Europa. Por isto mês de agosto é de desgosto.
Minha mãe passou a vida dela inteira dizendo que gostava da noite na véspera de São João e dos domingos pela manhã. Eu e meus irmãos passamos então a gostar também. Por essas ironias do destino ela acabou falecendo num domingo pela manhã e nós passamos a noite da véspera de São João no velório dela. Não preciso falar que a partir de então não gosto de nenhum dos dois...
A nossa visão sobre a vida muda constantemente. E isso é bom. Sinal de que o que nos alimenta, nos faz crescer. Água é vida, mas se ela permanecer parada por muito tempo apodrece. Nós somos quase que totalmente água, então temos que nos permitir mudar de visão, de opinião. E isso não precisa ser feito com uma tsunami.
Minha mãe teve um infarto fulminante. Tão fulminante quanto a depressão que me abateu. Como disse um amigo meu na época ‘Graças a Deus que mãe é uma só, senão a gente morria junto na morte da segunda” Mas não fiquem tristes por mim. Posso lhes afirmar que a morte dela foi mais uma forma que ela me deu para crescer. Sinto sua falta, mas sei o quanto este sofrimento me tornou melhor.
Em Umbanda temos Sete Orixás e o Tempo é um Orixá do Candomblé. Sei pouco sobre ele, ou quase nada. Vou falar o que entendo sobre o tempo. É o tempo que nos dá a percepção correta do que nos ocorre nesta vida. Se uma coisa é boa ou má de fato, não é na hora que vamos saber. Somos imediatistas e não há como ser diferente em certas ocasiões muito tristes ou muito felizes.
Uma amiga minha, no alto dos seus setenta anos uma vez me falou: não tem como conhecer uma pessoa antes de ter comido com ela uma arroba de sal. Pura verdade. E agora que estão falando que só devemos comer 5 gramas de sal por dia, posso afirmar que só conhecemos a vida depois de ter comido a bendita arroba salina.
Na ultima gira foi feito um trabalho para Oxum. Painho juntou todas as filhas de Oxum do terreiro. Foi um dia em que adiantei a quantidade de sal para meu conhecimento. Primeiro porque ouvi uma frase e guardei bem dentro dos meus conhecimentos sobre Umbanda, pronunciada pela Mãe de Santo Jô : As vezes é melhor um médium bem intuído que um mal-incorporado. Isto é um fato que até então não sabia colocar numa frase. É bem comum a gente escutar principalmente dos mais novos que fulano ou sicrano não estão incorporados. Primeiro não tem como saber se estão ou não, segundo que se a pessoa ao atender cumpre com sua missão de mensageira está ótimo e terceiro ,e não menos importante, se cada um se importasse com seu próprio desenvolvimento tudo ficaria mais fácil. Como na vida também.
Na hora do trabalho e por não fazer parte dele, pude observar como tudo funcionou. Comentávamos em um grupo só de filhas de Yansã , como era linda a cascata de energia que percebíamos do teto em direção ao amalá. Este fato ao final foi confirmado e explicado por painho como uma cachoeira de pequenas luzes onde cada uma era uma entidade de ligada a Oxum. Indescritível a sensação da enormidade do Criador, numa parte só de sua energia, num só Orixá.Então aqui me permito ventar: somos muito pequenos para entender a mediunidade e a própria vida dos outros. Temos é que agir com fé, amor e caridade sempre. Nesse tripé está nosso equilíbrio.
Mesmo sem eu saber do que ocorreria nesta gira, muitos durante a semana me falaram de Oxum e eu também falei muito sobre esta energia. Oxum ,naquele exato momento estava lá para organizar uma situação, como disse o painho: Ela organiza as coisas todas. Organizou nossos corações na verdade, de todos que estavam lá.
Espero sinceramente que você não precise de ventos turbulentos para entender a dádiva das brisas. Se vai ser mês de Yansã na terra não sei e nem sei se ela precisa de um mês só pra ela. Sei que os Orixás, partes da energia Divina que nos rege, estarão sempre conosco e nossa sabedoria e nossa necessidade é que nos trazem a aproximação Deles.Que haja sempre luz para podermos enxergar nossas próprias necessidades!
A gravura de Yansã que postei aqui foi enviada pela Karina Andrade
Quer ler um texto bem lindo sobre Oxum?