Fui pendurar minhas roupas no varal. Não, não sou e nem quero o título de rainha do lar. Ninguém que não goste disto merece. Enfim, estava lá eu quando ouvi um piado "nervoso" e insistente. Era um pica-pau reclamando e isto não é normal, acreditem. De repente aparecem umas cinco aratacas gritando e brigando entre si. Duas entraram em "vias de fato" e caíram no chão, logo alçando vôo novamente. De fato nunca se sabe se as aratacas e as crianças estão brigando ou brincando, são muito parecidas. Assim que foram embora o pica-pau parou de reclamar e voltou à sua função. Então o que se presume desta história? Que não nasci para trabalho doméstico, porque tudo na natureza é passível de reflexão. Adoro observar a natureza, inclusive das pessoas.
Não há como escrever de Umbanda, ou qualquer outra coisa que toque a alma das coisas e das pessoas sem observação. Um belo dia, minha amiga a Rosany Azevedo Costa , começa a me chamar de Griot. Qualquer pessoa com mais de 40 anos já foi chamada de muitas coisas, e fui lá eu buscar informação sobre o assunto. Vi e achei: era muito pra mim. Mas o vento tanto leva as coisas para longe como traz de volta. Depois de passar uma parte da tarde sentindo uma vibração maravilhosa de Yansã no Terreiro, vem uma pessoa e me coloca nas mãos o livro: Mãe África: História da África Subsaariana- Dora Martins Dias e Silva.
E estava lá um capítulo inteiro dedicado aos Griots - Os Contadores de História. Na África é através destes artistas que se mantém a história e ela é divulgada de geração a geração. E foi por conta disto que se manteve geração após geração a história dos negros na Africa Ocidental. É muito comum no candomblé que se entenda como funcionam as energias através das lendas por exemplo, porque uma história é sempre mais fácil de guardar. Então fiquei pensando, talvez isto seja eu, talvez esta seja também minha função só que na Umbanda.
Os Griots também recebem o nome de Djélis , nome que provém da palavra sangue, pois é uma função passada de pai para filho, e as mulheres também fazem parte disto. Geralmente os Griots casam-se com outros Griots, embora possam se casar com não-contadores de história - mas estes nunca podem assumir a função.Um griot é formado por seu pai , que lhe conta várias histórias desde criança, e assim é formado. Ao crescer aprende a acrescentar novas informações observando o mundo de uma forma geral. Meu avô foi um grande contador de histórias, meu pai ainda é. E eu ouvindo tudo isto me acostumei, não vejo a vida de outra forma.Falo tantos "eus" que me sinto constrangida até, mas é para que você saiba que quando o ogan toca para Yansã, os ventos trazem o que você é de fato. Pode acontecer hoje, pode ser amanhã, mas um dia acontece. Até lá a paciência e a alegria, com uma pitada de esforço talvez sejam necessárias.Não desanime.
A diferença que tenho com os Griots é que você não gostaria de me ouvir cantando meus textos, ou transformando-os em trovas. Acho perigoso esta coisa de rimar. Gostaria mesmo de falar pessoalmente, de um por um o que acho da vida e da Umbanda. Os Griots acham que é na respiração de quem carrega a história que está a magia. A minha respiração está aqui e sei que muitos a sentem, pelos comentários que recebo, embora às vezes "trave a quentura da voz humana" a internet é um bom meio de publicar histórias.
Os Griots não enterravam seus mortos, eles os depositavam no interior dos Baobás. Como uma Griot moderna, sou doadora de todos os meus orgãos ,então de certa forma serei depositada no interior de um ser que andará por aí, espero que mais feliz.
Hoje agradeço a Rosany mais uma vez, que como diria uma cigana, lá da região Andaluza, veio e me deu uma buena dicha. Então distribua você também que me lê, uma boa palavra. Saravá!
Hoje agradeço a Rosany mais uma vez, que como diria uma cigana, lá da região Andaluza, veio e me deu uma buena dicha. Então distribua você também que me lê, uma boa palavra. Saravá!