sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Energia da Ética

Rabequista Árabe - Pedro Américo
Quem já não ouviu a máxima : "não se meta a rabequista..." ? Pois, começo a crer, que ela deveria ser mais difundida tanto em todos os meios, porque, pelo menos, se invocaria uma imagem de um dito materno e muita gente não faria bobeira assim à esmo. Por uma destas coincidências irônicas, o mesmo autor do quadro do grito do Ipiranga, simbolo máximo de nossa independência é o mesmo autor desta gravura que coloquei hoje aqui. Este quadro, pelo que já falei podia estar em todos os lugares também.
Já comentei aqui uma vez, mas sempre é bom lembrar: no livro Mago de Strovolos do pesquisador Kiryacos Marquides há uma passagem bem interessante em que um mago verdadeiro explica como funciona a energia e como funcionam as pessoas. Ele ensinava a alguns discípulos como fazer projeções de animais com a própria energia. Era um exercício simples para treinar a mente, mas um espertinho resolveu que seria  legal criar um cão para guardar sua casa. Legal porque não precisava alimentar e nem limpar a sujeira. Lógico que a criatura se voltou contra o criador. Então, Daskale que era seu mestre teve que ir na casa do neófito, desmanchar o mal feito e de quebra dar uma bronca no infeliz prepotente.
Para se fazer caridade e ter amor ao próximo verdadeiro nem precisa de religião. Sempre falei que conheço muitos ateus convictos que servem muito melhor a Deus que muito religioso por aí. Mas o que quero explicar aqui hoje é sobre a egrégora que pertenço, que é da Umbanda. A Umbanda é , aparentemente simples: é regida pela energia de 7 orixás: Oxalá, Yemanjá, Ogum, Oxum,Oxossi, Xangô e Yansã mais Omoluh e Nanã na ala esquerda. Não aparenta, mas entender como funciona cada energia e como empregá-la demanda leitura e tempo de convívio na religião - porque aprendemos muito na prática diária. Ninguém "vira" pai de santo da noite pro dia. Como não há regras rígidas na Umbanda, pode até acontecer que outro Orixá venha a ser cultuado, pois são muitos no Candomblé. Vai aí da experiência e do conhecimento de cada um. Nestes anos todos de experiência na Umbanda, foram pouquíssimas vezes nas quais a pessoa que veio se queixar de que a "haviam macumbado" tivesse de fato algum feitiço feito. Na maioria das vezes seus próprios pensamentos a estavam detonando. Isto é bem comum, pois uma pessoa que não está desenvolvendo sua mediunidade dificilmente reconhece a energia que a cerca com uma certeza absoluta. Porisso, existem pais e mães de santo dedicados, que além de atenderem o público ensinam corretamente os fundamentos.
Estes dias postei no facebook uma frase que adaptei:  “A Umbanda sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha". Ensinar a quebrar magia feita a quem não conhece nada, falando de orixás que desconhecemos, é como ensinar uma pessoa que nunca ligou um carro a dar cavalo de pau. Como entendo pouco de Candomblé e nunca fui visitar um barracão, nem tão pouco li sobre outros Orixás, resolvi fazer uma entrevista com quem de direito e trazer aqui para apreciação de vocês. Para que ,pelo menos meus leitores, não se metam a rabequista de tentar mexer com energias que não conhecem. Segue abaixo:


Samir Castro é iniciado no Candomblé de Kétu desde o ano 2000. É Secretário Geral da Federação de Umbanda e Candomblé Luz e Verdade do Estado de São Paulo e do Brasil. Apresentador do Canal EsuAkesan: www.youtube.com/EsuAkesan , escritor do Blog EsuAkesan http://www.esuakesan.blogspot.com/. Fundador da Egbè Èsù Akèsan e Sociedade Umbandistas Zé Pilintra e Professor do Centro de Estudos Espirituais Luz e Verdade. Contatos: (11)3895.9911 ou luzeverdade@luzeverdade.com.br


Quanto tempo leva no Candomblé para se tornar um Babalorixá ou Yalorixá?

R: O termo Ìyáwò (esposa),virou sinônimo no Brasil de Iniciado. A Iniciação é o renascimento, é a entrada para uma nova vida. Durante este período, o noviço é recolhido durante um período que poderá levar de 21 a 90 dias para mais. Durante este tempo o mesmo passa por diversas ritualísticas para o início do caminho sacerdotal. Com o passar dos anos o mesmo passará por outras obrigações, que nada mais são que ritualísticas relacionadas ao culto ao Orixá. As obrigações são divididas em: 1, 3 e 7 anos. A Obrigação de Sete anos é a mais importante, onde o mesmo é considerado um Egbomì, ou seja, um mais velho, é onde receberá o Oyé (cargo). A partir deste momento, após estes anos de aprendizado o mesmo terá o direito de ter seu Ilé Asè (Casa de Axé/Terreiro) aberto e poder iniciar outras pessoas dentro do culto. Existem outros cargos dentro do Candomblé que na verdade já nascem com seus sete anos, como por exemplo, o cargo de Ògán (Ogã). Ao contrário do culto de Umbanda, o Ogã no Candomblé nunca manifesta a energia do Orixá. O mesmo é exclusivamente relacionado aos atabaques. Entre outras funções dentro de uma casa de Orixá, o Ògán ainda se divide em outros cargos com função sacerdotal, importantíssima dentro do Ilé Asè. Existem outros cargos dentro do Candomblé que já se “nasce” com sete anos, ou seja, com cargo sacerdotal.

Um Zelador (a) no Candomblé trabalha com todos os orixás existentes? 
R: Além de trabalharmos com nossos Orixás Regentes, trabalhamos com a energia do Orixá como um todo, em nossas ritualísticas, em nossas oferendas, rezas e em nossos cânticos.

Quais são as conseqüências para alguém que realiza algum trabalho sem o devido preparo?
R: Todo preparo é necessário. Como se diz, “é preciso saber-se firmar até mesmo uma vela”. Infelizmente mesmo na inocência, um trabalho que alguém venha a fazer sem o devido preparo pode atrair diversas energias negativas que poderão atrapalhar na saúde espiritual, acarretando conseqüências seríssimas na vida material. Muitas vezes o que é feito com fé e na inocência poderá ser bem aceito. Infelizmente as pessoas fazem certas ritualísticas em um momento de desespero, que pode se tornar um trabalho negativo. Por isso é sempre importante que uma terceira pessoa, no caso um zelador (a) faça a oferenda, o ritual, e até mesmo dêem o banho de ervas naqueles que necessitam de auxílio. Eu não recomendo nenhum tipo de oferenda ou ritualística por conta própria.
Quais são os orixás que requerem mais conhecimento para trabalhar?
R: Na verdade todos os Orixás dentro do Candomblé requerem um grandioso aprendizado. É importante conhecermos a história do Orixá, suas cantigas, suas rezas, suas ofendas. Todos os Orixás, as grandes energias da natureza são de extrema importância e requerem um extremo conhecimento.

Como uma pessoa pode ter certeza que há algum mal direcionado a ela? Isso é comum?
R: Isso é uma questão complicada, porém existem sinais que podemos detectar se há uma energia ou algo que esteja nos influenciando negativamente. Por exemplo, quando tudo dá errado, tonturas, dores de cabeça, arrepios constantes, desanimo, entre outros. O ideal é que caso a pessoa após ter procurado um médico, por exemplo, nada seja constatado, que então procure ajuda espiritual. Realmente isso é muito comum.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensamento - A Criatura

Criação de Rafael Arrais
"No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.' A palavra verbo deriva do latim verbum que significa palavra.É lógico que na frase o verbo tem um sentido mais amplo. Nunca em momento algum, em nenhuma religião (brincando um pouco) disseram que Deus usaria do gerúndio. Eu realmente não gosto, mas alguém algum dia instituiu que os atendentes de telemarketing poderiam abusar dele.Não imagino Deus respondendo às minhas orações com um: Estaremos atendendo seu pedido em breve.
Estes dias me perguntaram o que nós Umbandistas fazemos num terreiro. Praticamos magia, é claro, mas daquelas mais difíceis. Usamos de todos os campos vibracionais da natureza para transformar os pensamentos das pessoas e com isso elevar seu campo vibracional. Infelizmente, quando isto acontece, não aparecem fogos de artifício ,nem nada materialmente que demonstre na hora tal milagre.
Creio que todo ser humano deveria ter algo na escola que ensinasse um pouco como é o pensamento e como lidar com ele. Como na Teoria da Evolução um pensamento nasce, cresce, se reproduz, sofre mutações e eventualmente morre.Esta idéia vem de William S. Burroughs que em 1959, em seu livro Naked Lunch, onde diz também que a “Linguagem é um Vírus”.Encontrei isto no brilhante texto do Rafael Arrais, em seu blog que disponibilizo logo abaixo o link para leitura. Lá ele versa sobre os vírus mentais que nos afetam hoje e é imprescindível para membros de qualquer religião, inclusive os ateus.
Os pensamentos nos dominam, se deixarmos que isto ocorra. Em meu livro Terapia do Pensar falo que é impossível, como queria Jean Piaget, que tenhamos um pensamento linear. Sempre haverá algo, no meu entender, dentro ou fora de nós que nos distraia, nos tire o foco. Estamos, internamente, em constante luta para manter a consciência.
Se nos entregarmos a pensamentos derrotistas uma simples gripe é capaz de dar cabo à nossa vida. O contrário também ocorre: podemos ser curados por nossos pensamentos. Uma pessoa triste, com pensamentos sombrios afeta toda sua composição química e hormonal, baixa sua imunidade. As idéias que coloco aqui são de conhecimento geral, mas a prática é muito difícil às vezes. Daí o trabalho dos Terreiros ser tão importante.
Quebrar uma linha de pensamento estabelecida há anos requer determinação e muita força. Neste sentido o apoio das entidades e dos campos vibracionais dos Orixás são essenciais dentro da Umbanda. Imagine que tudo que está à sua volta, de material e concreto, começou com um pensamento que evoluiu. Não há nada deste mundo ,criado pelos seres humanos, que não tenha sido um pensamento. Num plano menos sólido, da nossa relação com o mundo que vivemos, eles atuam da mesma forma. Criam situações nas quais nos aprofundamos sem nos dar conta.
Falar do pensamento como algo à parte do nosso corpo, como um ser vivo, às vezes soa como falar no gerúndio. Totalmente desagradável, mas deve ser dito. Todos os dependentes químicos sofrem mais dependência por causa dos pensamentos recorrentes. Assim como relacionamentos conturbados, vida financeira difícil. Quebrar estas correntes de pensamentos que nos prendem a situações complicadas requer reconhecer o pensamento, força de vontade, fé e magia.
Reconhecer que algo não nos faz bem, por incrível que possa parecer, é um passo difícil ,mas imprescindível. Tenho um amigo que falava: Andréa, a pessoa que passa a vida comendo mamão estragado passa a achar que aquele é o normal da fruta e quando come uma boa estranha. Este é um passo que só podemos dar sozinhos. Querer mudar a situação requer força de vontade e nisto há um grande aprendizado, talvez o motivo pelo qual nos metemos em situações ruins. O nosso espírito precisa aprender e ele só o faz, na maioria das vezes, na prática. 
Entender o que é bom ou ruim leva tempo , às vezes, pelo menos para as coisas realmente importantes. Correr para qualificá-las é um erro. Sempre cito o exemplo do falecimento de minha mãe. Passei dois anos chorando a morte dela e ainda tenho saudades. Contudo, se naquele momento, isto não tivesse acontecido, outros momentos que me fizeram crescer, que foram muito bons, também não ocorreriam. A humildade na prática da fé é um sustentáculo importante, pois é com ela que quebramos nosso ego e os pensamentos derrotistas.
A magia, como diria Pai Maneco, é só o nome que damos a algo que ainda não sabemos explicar. Vou citar uma frase que creio ser interessante no contexto e que foi muito veiculada hoje no facebook e creditada à tribo norte americana Seneca : “Quanto mais esperto o homem se julga, mais precisa de proteção divina para defender-se de si mesmo”. Vigiai seus pensamentos dia e noite, sempre com bom humor! Boa semana!

O texto que citei do Rafael Arrais

Peço mais uma vez o apoio de todos vocês. Adquiram meu ebook, veja na coluna à direita. Grata!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Encantamento!

Roberta Cavalcanti e Paula Moraes quebrando a 'barreira do som" interno 
Falar da vida é tão fácil quanto ensinar uma receita de bolo, não é? Faça assim ou assado, a pessoa copia a receita e pronto. Dependendo da fé, o bolo pode ficar melhor do que aquele feito por quem criou ou embatumar. Fazer comida é assim, como diria meu lindinho, um ato religioso.
Sempre quando eu falo de Umbanda, ou da vida mesmo, coloco uma pitadinha disto ou daquilo, para que você possa montar sua receita sozinho. Faço isso porque tenho em mente que a Umbanda é livre. Ninguém pode ser conceituado mais ou menos umbandista por este ou aquele ingrediente que coloca na concepção de sua fé. Os elementos básicos que não podem faltar são: os Caboclos, os Pretos e as Crianças, por consequência o amor , a fé e a caridade. 
Para exemplificar, não há nada melhor do que os índios: cada tribo tem uma forma diferente de fazer suas orações, suas curas, mas, em momento nenhum deixam de ser índios , ou serem melhores uns em detrimento de outros. Lembro até hoje o dia que tive a oportunidade de ir a uma tribo. há uns três anos atrás, e participar de seu ritual. Ali , em termos espirituais, é um mundo infinitamente mais rico que o nosso, pois eles vivenciam a fé.
Sempre falei que o principal dom de um médium de umbanda deve ser o da observação, e vai ser bem difícil eu mudar de opinião. A responsabilidade é tão grande, conosco mesmo, com os guias com os quais trabalhamos e com as pessoas que são atendidas por nós, que trilhar o caminho do aprendizado se estende por toda a vida. Muito embora possamos ler e estudar, a nossa experiência, dentro de nossa capacidade pessoal de discernimento pela prática é fundamental. Daí voltamos para a imagem da receita de bolo: a mesma fórmula fica diferente conforme quem a faz, por diversas variantes: dos ingredientes ao forno, da temperatura ambiente até nossa própria energia.
Por tantas variantes, não podemos nos condicionar à receita original. E não estou dizendo isto para que se rebelem contra qualquer tipo de rito, antes o enriqueçam com seu próprio entendimento. Esta semana conversando com minha amiga Roberta Cavalcanti, da gira que frequento, ela me contava sobre sua experiência em conjunto com a Paula Moraes na viagem que fizeram à Índia. Estar em uma terra em que vivenciam a espiritualidade a qualquer hora do dia, com naturalidade é surpreendente, me contava Roberta. O que eu senti é que nela algo mudara: ultrapassou a barreira do som interno e provavelmente está em outro plano de conhecimento.
 Todo mundo pode ultrapassar as próprias barreiras e ir além, e basta se permitir observar, sem pré-julgamentos. Cada vez que observo a natureza aqui em casa é como se ela me observasse também, me modificasse. A maioria tem uma vida dura e considera difícil este tipo de desenvolvimento. Você pode tentar observar as pessoas que o cercam, as pessoas que pegam o ônibus, que caminham nas ruas. Em tudo há aprendizado para quem quer de fato melhorar. E por mais estranho e rude que possa parecer, cada um de nós que possui mediunidade, que pratica a Umbanda, ou que não faça nenhum dos dois, está nesta terra para aprender e não salvar a humanidade. Talvez tenhamos é que salvar a humanidade dentro de nós mesmos.


Achei muito relevante colocar esta foto também , que o Dênis Petuco postou em seu Facebook com a seguinte mensagem: " O estranhamento diante da diferença não precisa ser vivido na forma do racismo; é possivel vivê-lo como ENCANTAMENTO! E que não nos esqueçamos: o preconceito - ou sua negação - são aprendidos na cultura."


Nota: Gostaria que vissem, na coluna ao lado, a nota que coloquei sobre a venda do meu ebook. Grata!