sábado, 31 de julho de 2010

Riscando Fósforos. Ou não...


Santinha é minha nova caseira aqui no sítio. Veio me falar o seguinte: “Seu filho foi levar a gatinha de vocês lá em casa e junto com o meu gato não enluitaram. Ficaram riscando fósforo um pro outro, você acredita?”. Falei que não acreditava, mas levei um tempo para decifrar. Esses dias também veio me falar que, num momento que teve que ficar sozinha com meus filhos, eles se “enluitaram” um pouco e depois cada um foi ‘prum’ lado.
“Enluitar” no vocabulário da Santinha é brincar de lutar e riscar fósforo é o barulho que o gato faz ao rosnar. Gente simples pode ser complicada de entender. E muito. Tolerância é uma grande aliada nestes momentos, porque sempre podemos aprender algo com eles.São pessoas simples que têm grande sabedoria. Não é necessário aceitar tudo, como um dia que ela veio me dar uma santa receita para tosse: chá de ervas com xixi de menino de menos de 7 anos. Falei: Santinha prefiro continuar com a tosse...
Falaram que eu escrevo de uma forma muito simples sobre a Umbanda. Que ela não é assim tão fácil. Na verdade estavam só “riscando fósforos”. Cito sempre Pai Fernando Guimarães, pois é meu professor e meu amigo. É importante citá-lo porque nele está a fonte do meu conhecimento sobre Umbanda. É a ponte entre eu e minha espiritualidade e não impõe seu conhecimento. Ele sempre me fala que não é para inventar nada, porque a Umbanda é uma religião simples. Cito aqui então o que, sabiamente, a Yialorisa Elaine escreveu em seu twitter: “O rio que esquece aonde nasce, acaba secando!”. Meu rio a cada dia fica mais caudaloso por causa dele.
A vida é simples. A Umbanda é simples. Viver não é simples. Ser médium não é fácil. Médium é um carteiro. E ele como os profissionais da entrega de correspondência estão sujeitos a todo tipo de intempéries e alguns ataques caninos. Entender cada fase deste processo de aprendizado necessita tolerância também.Há muita sabedoria que provém das etidades.
Na maioria das vezes nós “carteiros”nos deparamos com “cartas” dirigidas a nós mesmos.Num atendimento junto com seo Capa Preta, um consulente diz que não havia nenhum problema com ele pois já tinha de tudo: era um empresário bem sucedido. Ele também era médium e queria saber o porquê seu desenvolvimento estava tão lento e ele era muito ansioso com relação a tudo isto. Seo Capa chamou um capitão que passava perto e perguntou a ele: Quem é ansioso é humilde? O capitão parou por uns instantes e reflexivo disse: não! Então seo Capa fala ao consulente: Exercite sua humildade que o resto virá por si. Agora cada vez que eu fico ansiosa por uma resposta penso no que seo Capa falou ...
Uma entidade de Oxossi, que ainda não falou seu nome, me mandou um recado por uma amiga: Veja o símbolo da estrela e da lua e reflita sobre isto.Refleti. Estes símbolos tem tudo a ver com a mediunidade. A Lua não tem luz própria, mas reflete a luz maior do Sol. Assim como nós na Umbanda temos a honra de refletir a luz divina quando incorporados, para podermos ajudar as pessoas.Não importa o problema que as fez pedirem ajuda O que importa é saírem de lá melhores do que chegaram. No céu noturno, visto a olho nu, as estrelas são pequenas e a Lua prepondera majestosa. Nós não vemos as entidades, mas sim os médiuns. E quanto mais forem doutrinados por si mesmos na caridade, na fé e no amor ao próximo melhor será a entrega das mensagens.Simples assim. Quem precisa de ajuda não pode sair com um enigma maior para resolver. E não somos nós que definimos merecimentos.
Recebi da minha amiga , a Renata Coutinho, uma mensagem ditada pelo seo Sete Capas, entidade que ela recebe e que a surpreendeu também e que transcrevo aqui : “Merecimento é a experiência que você precisa viver para ascender. É aquele tropeço, a doença ou o excesso de dinheiro. É a facilidade de conseguir as coisas, também a dificuldade. É toda e qualquer situação, desde as mais miúdas e sutis até as mais grosseiras e significantes. È tudo aquilo que você, enquanto espírito, aceitou e muitas vezes implorou antes de encarnar para se testar e ver se você amaria a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo diante daquela situação... ou se sucumbiria ao que merece. Daí entra outro conceito: a conquista. Conquista é o que você escolhe fazer diante do seu merecimento, é ver o dinheiro farto e não coloca-lo acima das suas relações e das pessoas, das coisas que realmente importam na vida. É ser agredido e não reagir de volta, atentando para as relações do ego e da dificuldade da pessoa que o agrediu em lidar com seu próprio ego. E quando a gente conquista, a gente muda nosso merecimento. Não quer dizer que pra melhor nem pior, porque melhor e pior são conceitos materiais. Nós simplesmente merecemos. Mas faz-se importantíssimo que a gente não pare no pensamento dogmático e conveniente do merecimento. Vamos atentar para as conquistas.”
A minha maior conquista é ver as coisas todas desta vida de maneira simples, sem precisar ficar"riscando fósforo" à toa. E a sua?


A foto foi cedida gentilmente pela Nely Rosa

Pessoas do twitter citadas:
@IyalorisaElaine @Renata_psi (Renata Coutinho)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Oxalá


Já falei de mares, rios, matas, ventos e pedreiras, e dos caminhos que levam a todos tipos de energia. Faltou um. Não sabia como explicar.
Afinal de contas ,o que nos une? O que dá a liga nesta massa intrínseca que se movimenta, que nos uniu mesmo com nossas diferenças aqui mesmo, por exemplo, neste cantinho que criei, onde nem todos são da mesma religião? O movimento que nos une e nos afasta, que faz com que as energias sigam seu caminho?
No começo do século passado, em 1917, nasceu um menino que logo cedo começou a ajudar os pais, na lida nos campos. Na adolescência amansava burros e na sua maturidade, chegou a conclusão que amansaria homens. Sua fé despertou depois de literalmente ver o circo pegar fogo. O Profeta Gentileza pregou por mais de trinta anos que “Gentileza gera Gentileza”, no Rio de Janeiro. Foi tanto sofrimento que viu naquele incêndio em 1961 no Gran Circus Norte-Americano e tanta vontade que a humanidade enxergasse a real condição humana, que acredito mesmo que , em certos momentos, Gentileza beirava à loucura. Com 3000 pessoas na plateia, faltavam vinte minutos para o espetáculo acabar, quando uma trapezista percebeu o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. 372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a 500 o número de vítimas fatais, das quais 70% eram crianças.
Gentileza não foi um santo, mas fez o máximo para trazer alento aos parentes dos que sofreram. Era um andarilho, com uma causa para se manter vivo: espalhar as palavras de gentileza. Assim como ele este Brasil teve outros tantos andarilhos, chamados de profetas. Dos três monges da Guerra do Contestado no sul aos Borboletas Azuis da Paraíba, dentre outros tantos menos conhecidos, este Brasil foi e é pisado por pés religiosos que propagam a fé, não necessariamente em uma religião, mas na humildade e respeito à natureza. Na verdade eram mendingos de nossa atenção. Na Umbanda há a linha dos mendigos, pouco falada, pouco conhecida.Trazem o poder de limpeza espiritual, a harmonia e o amor no ambiente e apesar de linha neutra, como aprendi com Pai Fernando, são chamados com pontos cantados para Oxalá.
Na tentativa de expor aqui o que é a energia Orixá de Oxalá, me coloquei numa sinuca. Oxalá é associado no sincretismo com Jesus Cristo, assim como Yansã por exemplo com Santa Bárbara.Mas Yansã não é Santa Bárbara e Oxalá não é Jesus. Oxalá é a energia maior, por onde fluem a energia de todos os outros orixás. Oxalá é a energia da fé e esta energia é tão forte, que não há como não se desvincular dela. Não falo da fé ligada a alguma religião, mas da fé que liga tudo e todos no espaço.
Não incorporamos Oxalá. E não há uma resposta para isso bem clara. Eu tenho a minha. Não se incorpora a fé. Porque simplesmente a vivenciamos. E a linha dos mendigos talvez seja a mais próxima da nossa realidade na fé vivida no dia-a-dia.
Num outro post que fiz a Marcela Marcos falou o seguinte “Semana passada, indo trabalhar com a minha mãe, ouvimos no carro a notícia de que um mendigo havia morrido de frio. Eu chorei, instantaneamente. E fiquei pensando muito, confesso que um pouco desiludida do mundo, querendo que tudo de bom que há em minha vida pudesse ser dividido. Sabe, dá um aperto no peito vestir uma roupa quente e saber que há irmãozinhos morrendo, literalmente, de frio.” O sentimento que os mendigos nos despertam quando estamos integrados a tudo é realmente este, o da Marcela. É Oxalá em nós. É o despertar de nossa condição humana e nossa responsabilidade espiritual, que resultará em uma ação , por mínima que seja. Um dia meu caçula foi comigo ao centro da cidade e ficou muito triste ao ver um mendigo sem as pernas se arrastando pelo chão. Eu não tinha nenhuma moeda sobrando para dar a ele. Meu filho me perguntou se , já que não tínhamos nenhuma forma de ajudá-lo, se ele pedisse a Deus uma ajuda a esse homem, se daria certo. Falei que sim, porque era o que poderíamos fazer. Algum tempo depois voltamos para Curitiba e encontramos o mesmo mendigo. Estava em uma cadeira de rodas e meu filho olhou para ele e fez sinal de positivo com a mão. Olhou para mim e com um sorriso aberto falou: “Deu certo mamãe!”. Fiquei com vontade de olhar para Deus e fazer sinal de positivo com a mão.
Ao pedirmos aos Orixás sua energia em prol do próximo, movimentamos a energia Divina de Oxalá. Ao estendermos a mão a um mendigo por exemplo, da forma que pudermos, independente do que acreditemos, movimentamos a energia de Oxalá. Quando percebemos que nossa condição humana e espiritual não é diferente da de um mendigo, movimentamos a energia de Oxalá e assim sendo, mesmo não sendo Umbandista ou de qualquer outra religião, nosso espírito cresce na força maior da fé. Onde houver um coração que haja com fé, humildade e caridade, ali estará também Oxalá.

A foto , que mostra um dos Borboletas Azuis, foi cedida pela divina retratista da realidade Nely Rosa, que em breve terá um site. Aguardem!

Apesar do Pai Fernando Guimarães ter encerrado o Blog, ainda é possível ler sobre a Linha dos mendigos:

http://paimaneco.blogspot.com/2009/05/linha-dos-mendigos.html

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fames Magistra*


A vida é simples. Por associação e reflexão, descobri isso de tanto escutar painho falando que Umbanda é simples. Daí, estes dias li outra verdade brilhante, de outro pai de santo: “O que nos dá proteção são nossas atitudes. E nada além disso. Tudo bem, você pode ter seus protetores espirituais, como acredito que tenha, mas será sua conduta que lhe fará merecedor ou não da ação deles.”
Ele se chama Ricardo Barreira e é um inovador também. Não sei se foi pelo fato dele falar que “seus pensamentos estavam pulsando no ritmo dos tambores, mais precisamente o no ritmo do barravento**” que me chamou a atenção. Então me permitam ir desenhando minhas letras no mesmo tom...
Falo sempre do potencial da natureza e de nossa urgência em preservá-la pois fazemos parte dela. Os Orixás , energias que fazem parte do Divino que é Uno, estão em nós. Um outro pai de santo do candomblé, o Rafael, que há anos freqüenta o nosso terreiro para tomar passes, me explicava na última segunda: quando os adeptos da religião dele exteriorizam no terreiro o Orixá (ou seja a energia Divina) é o que está dentro deles, não como na Umbanda que recebemos influência nas giras de entidades externas. Nós umbandistas e os adeptos do candomblé temos um grande respeito por nossos Orixás.
A maioria das pessoas ao saberem seu Orixá, por empolgação e desconhecimento, se limitam aos aspectos negativos que os filhos daquela energia têm. E corroboram para que eles sejam intensificados e se auto-mistificam negativamente . Ser filho de algum Orixá não é para botar medo nos outros e justificar seus defeitos, é para o seu próprio crescimento espiritual, correção e auto conhecimento. Aprendi com painho e sua coerência me encanta mesmo. Nem todas as características são iguais às citadas em estudos, então também não temos que nos adaptar a elas. Temos que ser quem somos e nos aprofundar na fé, na humildade e na caridade.
Não acredito em inteligência sem evolução. A mediunidade existe em todas as religiões e até fora delas. Cansei de dizer que existem ateus com uma espiritualidade e um discernimento de caridade muito mais elevados do que muitos religiosos. Reflito incessantemente sobre meus atos, pois tenho sido agraciada com muito conhecimento. E conhecimento é como comida, aquela elaborada com simplicidade e bom tempero, mas que deve ser partilhada antes que se estrague com o tempo. Aqui cito novamente o Ricardo: “Quando eu tinha menos conhecimento sobre as coisas da matéria e do espírito, era muito bem definido o que era uma coisa e o que era outra em minha cabeça. E o fato de que era bem definido não quer dizer que a definição estava correta.”
Ser médium , ou seja um intermediário entre o lado de lá e o de cá, não te torna um super homem ,me desculpe a franqueza. Demorei a aprender isto. Não pensem que é fácil! De repente acontecem coisas maravilhosas na gira, através de sua humilde pessoa e a empolgação faz com que você se sinta o máximo. E vire um monstro. Não é por aí.
Gostaria aqui de citar uma conversa entre seo Capa Preta (entidade que recebo) a Dona Maria Molambo (na minha amiga Mariana) e um consulente. Seo Capa escuta dele que como médium não consegue incorporar porque não fica inconsciente. Seo Capa chama a Molambo e pergunta: quantas médiuns suas são inconscientes? Ela rapidamente responde: nenhuma! – para um pouco e volta-se para o consulente e fala: O grande problema são os seres humanos, estes estão cada vez mais inconscientes!- e eu, consciente que estava, mais uma vez fui agraciada com tão bela reflexão.
Vamos ser mais conscientes com relação à natureza, ao próximo e a nós mesmos. Vamos dirigir amor e respeito a cada ser vivo e a nós mesmos. Tudo fica mais fácil com o tempero da humildade. Nada está separado, porque se tratarmos as coisas em separado incorreremos em erro. Tenho um grande exemplo. Em 1933 surgiu a primeira lei exemplar de proteção aos animais. Perfeita. Quem fez a lei se colocou contra disponibilizar os animais para que lhe retirassem ainda vivos o coração, esmagassem o crânio ou cortassem as genitálias, somente “para observar como os órgãos trabalham e quais conseqüências acontecem após a perda dos mesmos.” Bonita iniciativa não? Foi criada por Hitler.Termino ao som do barravento....

* Fames Magistra- termo em latim que siginifica: A necessidade é mestra
** barravento é o toque dos atabaques para Yansã. Muito lindo por sinal...

A foto é da brilhante amiga e parceira Nely Rosa.

Leia o texto completo do Ricardo Barreira, que colocou um nome bem sugestivo:



Sobre o protetor de animais citado no texto:

domingo, 18 de julho de 2010

Invernada da Alma


Frio tenebroso. Dias escuros e lá vamos nós nos fecharmos em nossos pensamentos. Parece que a temperatura convida à reflexão. Fechada nas paredes de meus pensamentos, fiquei buscando de onde viria uma luz que fosse capaz de dizer que ainda temos esperança e o dia de amanhã pode sim ser melhor.
Olhando a madeira que queimava em nosso fogão aqui e vendo a seiva jorrar dela, escutava o noticiário. No interior do Mato Grosso o gado nelore morrendo por causa do frio. Então, vem o boiadeiro e diz que ele aceitava ,pois Deus quis assim. Em outra notícia, mostram uma menina que levou seis tiros do ex-namorado, se fingiu de morta e depois atravessou o rio à nado e pediu ajuda a um senhor que morava em uma casa extremamente humilde, no meio do mato. Este senhor , ao ser entrevistado, falou que só descansaria quando soubesse que a menina estava bem. Após ser mostrado em vídeo que ela havia resistido, falou que suas noites de sono seriam bem mais tranqüilas. Tranqüilas numa tapera no meio do mato, sob frio intenso...
Então, enquanto o fogo estalava no fogão a lenha, minhas idéias se formataram. Falarei da energia divina representada por Oxum, que é a Orixá dos rios, cachoeiras, do ouro, da fertilidade e da beleza. Poderia aqui me ater em falar da beleza de seus filhos, da vaidade e da sensualidade que têm, mas senti Oxum de uma beleza muito maior e com um tesouro infinitamente maior que o ouro.
Diferentemente dos índios e negros vindos da África, os boiadeiros foram homens que não nasceram na natureza, mas tiveram que aprender com ela a sobreviver. Tiveram que aprender a se orientar pelo céu e a ler todos os seus sinais. Tiveram que aprender a respeitar a vida nas matas, para preservar a própria vida. Atravessavam grandes rios, dos quais sobreviviam e mantinham o gado nas longas caminhadas, se banhavam em cachoeiras. Homens de uma fé inabalável e de um caráter genuinamente caridoso, obtiveram a graça divina do tesouro de Oxum: saber a real importância da vida onde quer que ela se manifeste.São corajosos sem desdenharem do perigo, enfrentam os problemas diários sem super valorizá-los e professam sua fé de maneira humilde e brilhante.
Quando entrei na Umbanda e nada sabia um dia sonhei com a imagem de Oxum e uma pessoa fazendo entrega a ela. Depositou aos seus pés a entrega e Oxum devolveu-lhe uma energia imensa. Então, de posse de tão maravilhosa energia, esta pessoa foi na escuridão tirar gente sofredora e trazer para a luz. A energia que saiu da imagem me falou: são assim que as coisas devem acontecer Andréa, seja bem vinda ao meu Terreiro.
O Terreiro de Oxum não é somente aquele que eu freqüento, e apenas hoje entendi o sentido mais amplo daquela mensagem. Terreiro de Oxum é onde houver o grande tesouro da fraternidade entre as pessoas. Aquele peão que ajudou a moça baleada, trouxe a luz da vida para ela e ali estava sua grande recompensa. A resignação do senhor que perdeu os bois pelos desígnios de Deus e da natureza, não impedirá que ele volte a lutar na manhã seguinte. São atos de fé e caridade verdadeira à vida que devemos pensar e repassar aos nossos.
No aspecto individual, como bem escreveu o Alan em seu blog Igreja Ateísta, o bem e o mal são relativos, pois para o indivíduo o que conta é o sua própria satisfação. Quem tem um comprometimento maior com a natureza e um respeito pela energia que ela proporciona, tem uma mente muito mais ampla e menos restrita. Simplesmente não consegue pensar em coisas separadas.
Em região de sítios e onde hajam peões, meus amigos, não se passa fome, porque se houver alguém em situação difícil, certamente os vizinhos hão de socorrer, porque viver e sobreviver é um ato coletivo no entendimento do caipira. O caipira que toca o boi e toca a vida, tem infinita sabedoria. Tenho várias histórias como médium na linha dos boiadeiros,mas prefiro falar das vezes que precisei deles e que fui atendida.A devoção que tenho pelo seo Pedro Mineiro por este motivo, que me aquece o coração com sua humildade e com o carinho, e que na última gira mantinha o olhar ao longe como o boiadeiro que pede ao Divino dias melhores.
Sabiamente, outra entidade desta linha, o seo João Boiadeiro proferiu a seguinte frase numa outra gira: “Às vezes é melhor sacrificar um boi, do que ver a manada estourar”. Precisamos mesmo neste momento leis severas e medidas rápidas das autoridades, para quem se julga superior e pratica atos bárbaros como estes que temos visto serem punidos e banidos do convívio coletivo, antes que “manadas de pessoas” copiem seus gestos por puro prazer e certeza de impunidade.
Termino pedindo a Oxum que volte seu espelho para a humanidade e consiga assim transformar sentimentos hipócritas e individualistas de gente da cidade grande em sentimentos que valem ouro como a humildade, respeito e amor à vida do próximo.
Deixo aqui como referência de leitura o link da página "Minha Opinião' do mês de julho , do pai Fernando Guimarães que acredito ser um brilhante 'texto-instrumento' para pais e mães de santo, bem como todos os dirigentes espirituais que se preocupem com suas "manadas' de fiéis!
Mais uma vez utilizo a foto da minha querida Nely Rosa, que majestosamente fala da fé em suas fotos!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Deusa Brasileira



Há dois anos atrás fui passar pela primeira vez o ano novo na praia. E pensei, olhando para todos em volta como é linda esta festa universal que ao mesmo tempo é a única que consegue agregar tantas religiões lado a lado, envoltas numa alegria genuína, alentada pela esperança de dias melhores, fato que se fosse possível de se prolongar pelo resto do ano, traria com certeza uma qualidade de vida muito melhor. Falar das belezas da energia de Yemanjá fica então redundante. Quem já não foi na beira da praia fazer seus pedidos ou pelo menos agradecer ao Divino? Quem não a conhece?
O mar é um mistério para o ser humano. Cantado em verso e prosa pelos homens de todas as nacionalidades. Sua imensidão é correlata à imensidão Divina. Nós, pequenos mortais, ao admirá-lo ficamos extasiados por sua energia que é sentida, processada e inexprimível em palavras. Como se o medo e o amor se misturassem e se tornassem um terceiro sentimento.
Tenho um amigo que graças a interpretações erradas da religião, é contra a Umbanda e religiões afins. Está no direito dele e não deixa de ser meu amigo. Descobri que secretamente, todo ano novo, manda fazer entregas para Yemanjá. Não poderia ser diferente. É uma pessoa do bem e a força de Yemanjá está relacionada justamente as pessoas humanitárias.
Lendo umas postagens no twitter da Fabi (@afffabi) , me dei conta de um grande exemplo de pessoa ligada à energia de Yemanjá, corroborada pela matéria que vi no Fantástico: o Dr, Dráuzio Varella. Enquanto o governo brasileiro se preocupa em acudir tragédias fora de nossos limites, ele sabiamente mostrava em quão deplorável estado se mantém as vítimas das enchentes no Nordeste e quais as formas de ajudá-los. A sua fala simples e seu trabalho em prol da humanidade brasileira, o amor ao que faz, são exemplos da energia materna de Yemanjá. É muito fácil relacionar este Orixá com mulheres, mas quando um homem se propõe a ser maternal o faz com uma categoria inigualável.
Precisamos tanto da energia de Yemanjá nestes tempos de desagregação e dissolução de valores. É esta energia que faz com que todos se unam embaixo do mesmo teto, que é o amor ao próximo e a caridade. Regidos por esta energia da Criação, seus filhos acabam por ter um defeito decorrente do excesso de amor: o ciúme, que pode ser administrado com consciência.
Ao pensar em escrever sobre nossa deusa brasileira, uma energia toda se movimentou e apareceram várias pessoas me escrevendo sobre ela. Uma delas foi o Nacir Sales de São Paulo que me falou sobre o ‘polvo vidente’.Diz ele “Entre a bandeira do 3 Reich do Partido Nacional Socialista e a Bandeira do Brasil, o polvo escolheria como polvo e não como humano. Fortalecer o mito fundado no falso, principalmente envolvendo um animal delicado com o polvo é dar continuidade à história da manipulação.A paixão partidária não está acima da bioética que é um compromisso maior meu e de Iemanjá, compromisso para o qual lhe convido.”
Ele corretamente nos lembra de algo essencial: a paixão partidária não está acima da bioética. Nada pode ser mais importante para nossa vivência do que o respeito à natureza. Em conversa com o lindinho, ele desabafava falando que nossas fontes de energia, os locais que o Divino nos provê para crescermos e nos encontrarmos com Ele estão sendo cada vez mais agredidos.
Aproveito a fala do Nacir e à lembrança do lindinho para pedir que nos comprometamos com as forças da natureza de Yemanjá, Oxum, Oxossi, Xangô e procuremos um caminho com o apoio de Ogum e a força de Yansã para preservar o bem maior da humanidade, com as bênçãos de Oxalá.
Gostaria de lembrar também que ao fazer entregas à Yemanjá sempre tenham em mente o uso de materiais que não poluam o meio ambiente.
Dedico esta postagem ao Pai Maneco, entidade que repassa a tantas pessoas necessitadas o amor incondicional de Yemanjá.
A foto que postei aqui foi gentilmente cedida por minha amiga Nely Rosa, uma retratista brilhante de Fortaleza. Seu contato é @nelyrosa.
Para entrar em contato com o Nacir Sales acesse: http://www.meadiciona.com/nacirsales
Site do Dr. Dráuzio Varella: http://www.drauziovarella.com.br/

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Eparrey Marguerite Yourcenar!


Definitivamente eu não sou perfeita. Por mais que tente, quando olho para o Robinho, Neymar , Ganso e Cia. não consigo esquecer das 34 crianças do Lar Espírita Mensageiros da Luz que foram privadas de sua visita, pois os mesmos , por sua crença , se acharam superiores a elas. Mas tenham a certeza absoluta que se fossem umbandistas que se negassem a visitar um lar de crianças deficientes evangélicas minha indignação seria a mesma. Muitos vieram defendê-los dizendo que são meninos e não sabem o que fazem. Isto é um fato, está aí o resultado da Copa que não os deixou mentir.
Estamos vivendo uma realidade absurda. Hoje me deparo com depoimentos na TV de pessoas escrevendo para um programa dizendo que gostam do goleiro Bruno e que acham uma pena o que lhe ocorreu. E muita gente ainda vai defendê-lo ou fazer piadinha da situação. Minha cabeça venta nestes momentos. Largo o futebol e leio sobre política: a Dilma diz que assinou sem ler o programa de governo. Nem vou comentar.
No meio de todas estas coisas assisto o brilhante filme nacional “Meu Nome Não É Johnny’ com a direção do Mauro Lima. Lá pelas tantas a juíza envia a seguinte frase para o acusado: “O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios.” Esta frase foi dita pela escritora belga Marguerite Yourcenar e exprime exatamente o que a energia da Orixá Yansã nos traz.
Yansã , como havia dito na postagem anterior, é o feminino de Xangô. É a execução da lei Divina. É o caos que antecede a criação. E mais uma frase de Yourcenar explica isso: “Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer.” Yansã é a energia que encaminha os mortos para uma nova vida, são os ventos da mudança para um novo recomeço, é o raio de clareza em nossa pequena visão. Nas lendas que existem diz-se que por sua imensa curiosidade Yansã aprendeu as artes de todos os outros Orixás e é detentora de um grande conhecimento.
As filhas de Yansã, e aí eu me incluo, têm um grande senso de humor, mas não devem ser expostas a injustiças e perseguições preconceituosas, pois como andam sempre com a energia de Xangô, julgarão e defenderão os oprimidos. Nem sempre isto é feito de uma maneira suave e portanto acabam magoando. Se a justiça pertence a Deus, a verdade também. Então cabe a Ele mostrá-la a quem quiser ver.Tenho me poupado de confrontos diretos e procurado partir para ações que dêem resultado mais concreto. Peço desculpas se falo tanto de mim mesma, mas sei que pode auxiliar quem busca crescimento.
Curiosidade e lealdade também são uma marca das filhas de Yansã. A busca pelo conhecimento é uma forma que têm de se armar contra o desconhecido, pois esta energia é guerreira. Alguns pais de santo quando não querem explicar algo dizem que é “mironga de congá” , ou seja, um segredo que não pode ser revelado, o que na grande maioria das vezes significa que ele próprio não sabe a resposta. Painho, com a maior paciência do mundo, sempre me responde. Faz anos que já faço perguntas a ele, já devo ter batido algum recorde.
Se você é uma pessoa pública e quer divulgar seus conhecimentos em prol da humanidade deve responder humildemente ao que lhe é perguntado, mesmo que seja dizendo não sei. Hoje, os meus amigos de twitter, @realjbj e o @NesterTweets tentavam em vão fazer com que o @PauloCoelho respondesse mais uma vez sobre textos que ele escreve. Em vão. O Caminho de Santiago amigos, para cada um tem um nome e só ele pode nos trazer sabedoria: É este Caminho de Maria, Caminho de Jorge, ou seja qual for seu nome é que vai fazer com que você olhe com inteligência para sua vida e então nasça verdadeiramente como disse Yourcenar.
Na longa entrevista ( que durou anos) a Matthieu Galey, Marguerite Yourcenar confessou pudicamente os "quatro votos budistas" que orientaram a sua existência. Para mim, são os quatro votos umbandistas das filhas de Yansã: lutar contra as más inclinações; entregar-se ao estudo até ao fim: aperfeiçoar-se na medida do possível; e trabalhar para salvar todas criaturas do Universo. Aproveito para lembrar que tudo deve ser feito com humildade ,amor ao próximo e com caridade e que fora disto a Verdade não tem como se expressar.



Pessoas no Twitter que respondem o que for perguntado em sua área de conhecimento:
@nelyrosa @quimbanda @marcelamarcos @EduardoCBraga @ricardobarreira @ClaudiaBoechat @realjbj @NesterTweets @IyalorisaElaine
Mais sobre Marguerite Yourcenar :


terça-feira, 6 de julho de 2010

Kaô Cabecille!


Inconformado com o que se passava em sua tribo, o robusto e taciturno índio decide afastar-se dela, de seus amigos, de sua família e viver isolado. Julgava ser impossível que o seu povo não lhe ouvisse e continuasse em profunda desorganização. Enquanto outras tribos da região que hoje é conhecida como Mato Grosso do Sul cresciam e se desenvolviam, a tribo dos Xererês estava em imensa confusão. Não dava mais para ele. Tinha mesmo que viver sozinho. Estava decidido.
Este é o início da história do Caboclo da Cachoeira, um espírito enorme da linha de Xangô, mas de coração brando e fala acolhedora. Quem em sã consciência já não pensou em abandonar a civilização diante das injustiças deste mundo e ir morar em um lugar afastado? Todos, mas quem geralmente faz isto de fato são os filhos de Xangô. Estou eu aqui de prova. Antes de mim ainda, o meu lindinho já morava no sítio sozinho. Ambos somos filhos deste Orixá.
Xangô é a energia suprema da Lei Divina. Sua machadinha que nos dicionários de símbolos leva o nome de bipene é o próprio símbolo da Justiça Divina ,pois possue dois gumes: se você clamar pela justiça será julgado também. Por este motivo quando acender uma vela para Xangô use de humildade e discernimento: será que seus atos são tão melhores do que os dos outros e não merecem ir a julgamento? Ao contrário da justiça terrena o tempo de “trâmite’ da Divina é correto e sem delongas: ocorre no momento exato e a sua promulgação é como o trovão a quem Xangô governa também : repentinamente vem após uma clarão em nossa consciência e ocupa todo nosso espaço auditivo do corpo e da alma.
Onde há vida, há o Divino se manifestando e ali estão suas leis imutáveis. Na natureza , entre os animais e vegetais sobrevive o mais forte, e ali conseguimos até entender um pouco da lógica legislativa Divina . Quando se trata da mesma lei em execução entre nós o entendimento fica restrito, por nossa própria condição de vítimas e réus da vida que levamos.
Julgamentos são sempre perigosos, fuja ao máximo deles. A partir do momento que se julga perdemos um pouco do discernimento da humildade e da caridade. Sabe, meu painho sempre fala que apesar de sermos filhos de Orixás e sabermos as suas características negativas de seus filhos sempre podemos mudar, nos controlar. Talvez este seja o ponto mais difícil da mediunidade. Painho também fala que a Umbanda é uma religião de combate. Pois digo a vocês que o primeiro combate é contra nossas concepções pré-estabelecidas , em prol de nosso próprio crescimento e o primeiro ato de caridade é para nós mesmos: edificar um espírito melhor, para então ser um bom canal de comunicação entre o Divino e àqueles que precisam Dele.
Se você estiver passando por problemas peça equilíbrio a Xangô, pois certamente não lhe faltará. Podemos ser injustos também no julgamento de nossas próprias dores e não sabemos se o que nos ocorre no momento é para um bem melhor que nos advirá. Senão puder fazer pessoalmente, imagine-se banhando em uma cachoeira, onde toda tristeza seja levada e transformada, para que seus passos sejam mais firmes e seu coração fique mais leve na caminhada.
Quando tiverem oportunidade, visitem uma pedreira. A energia que há ali chamamos também de Xangô. A primeira vez que visitei uma não conhecia a Umbanda ainda. Coincidentemente ou não, depois desta visita minha vida mudou completamente. E toda vez que precisava de força no processo em que estava passando me lembrava dela, pois foi lá, na pedreira, que senti a grandiosidade de Deus.
Onde há ação, há reação. Sem Yansã, não há Xangô. Ela é seu complementar. Não há lei sem execução. E por ser minha fonte de energia divina também, tratarei de sua energia na próxima postagem. Deixo aqui o link para lerem o término da história do caboclo da Cachoeira. Kaô Cabecille!