Estava lá a senhorinha, sentada no ônibus falando com todo mundo que quisesse ouvir- e os que não também eram abordados. Primeiro resolvera seus problemas com o tênis, tosou as pontas para que os dedos ficassem arejados e sem dor. Ok, aqui você já percebe que ela não era um padrão indiscutível de normalidade. E foi falando ,falando e as risadinhas apareciam por todos os lados. Então disse ao motorista que queria descer no ponto de ônibus que tinha dois coqueiros gigantes. Ninguém sabia onde ficavam os dois coqueiros, embora muita gente passasse por eles todos os dias. O silêncio que se fez foi bem grande a partir daí, acho que é assim mesmo quando se procura alguma coisa na memória.Enfim, chegamos aos dois coqueiros, que nasceram e cresceram lá e que ninguém havia dado conta, em sã consciência.
Quando se fala em Umbanda , pra quem não conhece, já vem a pergunta, mas o que fazem lá? Se você falar que manipulamos energias, é capaz da pessoa rezar pra aparecer uma madeira e ela isolar três vezes. E por quê? Porque simplesmente as pessoas vivenciam algo todos os dias e não são capazes de reconhecê-las. Descem todos os dias no ponto com os dois coqueiros e a menos que eles caiam sobre suas cabeças jamais irão vê-los.
Creio mesmo que o que nos diferencia dos animais, e não estou dizendo que somos melhores, é o poder do ser humano de manipular energia para seu bem estar ou dos que são próximos a si. Somos energia. Quantos não vão à beira mar e saem completamente refeitos? Quantos não abrem os braços numa ventania? Quantos não isolam na madeira para evitar energias ruins? É óbvio que na Umbanda não é tão simples assim, mas aprendemos rápido, seja pelo ensinamento dos dirigentes, pela observação e pelo contato com as entidades, ou, na maioria das vezes, o que é mais certo, bebemos destas três fontes.
Falo de coisas óbvias que não vemos para destacar uma inovação na Umbanda. A Camila Guimarães, mãe pequena do Terreiro do Pai Maneco, postou uma mensagem dizendo da criação do movimento Mocidade na Umbanda e o primeiro evento será uma palestra sobre Violência Sexual e Drogas no próximo dia 6 de agosto. Isto é de fato muito importante em qualquer terreiro.
Um jovem médium tem a capacidade muito grande de entender como se dá qualquer processo ritualístico na Umbanda, creio que o mais difícil seja, neste processo todo, entender a natureza humana. Somos médiuns conscientes, então quem não se choca ao ouvir um caso grave de dependência química? Quem não se chocaria em ouvir uma mãe falar de um filho doente, ou um pai chorando à sua frente por falta de oportunidade nesta vida? Temos sim a obrigação de nos inteirarmos sobre a vida e a cada dia buscarmos um pouco mais de sabedoria, se quisermos ser bons mensageiros.
Creio que o terreiro que disponibiliza um espaço para tais discussões, com palestrantes que falem a mesma língua dos jovens, se torna um berço de médiuns que conseguiram atingir com melhor qualidade suas proposições dentro da religião. Você até pode estar pensando que esta educação deveria vir de casa, ou da escola. Ela vem, sem dúvida ,mas o reforço vindo de dentro de uma instituição que eles amam é de extrema importância. Nem sempre se tem a oportunidade dentro de uma gira de falar com todos os jovens e eles não são muito de se consultar, ou perguntar sobre aspectos da vida, até porque não têm vivencia de muita coisa. Num meio que hajam só jovens e pessoas que , como disse anteriormente, falem a mesma língua, fica mais fácil a absorção do que é proposto.
Umbanda não é lugar de doutrina, é lugar de vida e de busca por um meio de torná-la mais leve. A educação é ponto fundamental dentro dela. Falar sobre todas estas coisas loucas que acontecem em nosso mundo e dos revezes desta vida acrescenta conhecimento, imprescindível para que a entidade possa exercer plenamente sua caridade com quem mais precisa. Imprescindível também para formação de cidadãos mais conscientes, em qualquer lugar que andem neste mundo.
Vou encerrando por aqui hoje,e já que falei em jovens, cidadãos e inovação, termino com uma saudação que é feita lá no Terreiro do Pai Maneco, no início de cada trabalho: Salve a Nação Brasileira!
Para mais detalhes sobre o projeto escreva para mocidade.tpm@gmail.com