quarta-feira, 27 de julho de 2011

Mocidade na Umbanda

Estava lá a senhorinha, sentada no ônibus falando com todo mundo que quisesse ouvir- e os que não também eram abordados. Primeiro resolvera seus problemas com o tênis, tosou as pontas para que os dedos ficassem arejados e sem dor. Ok, aqui você já percebe que ela não era um padrão indiscutível de normalidade. E foi falando ,falando e as risadinhas apareciam por todos os lados. Então disse ao motorista que queria descer no ponto de ônibus que tinha dois coqueiros gigantes. Ninguém sabia onde ficavam os dois coqueiros, embora muita gente passasse por eles todos os dias. O silêncio  que se fez foi bem grande a partir daí, acho que é assim mesmo quando se procura alguma coisa na memória.Enfim, chegamos aos dois coqueiros, que nasceram e cresceram lá e que ninguém havia dado conta, em sã consciência.
Quando se fala em Umbanda , pra quem não conhece, já vem a pergunta, mas o que fazem lá? Se você falar que manipulamos energias, é capaz da pessoa rezar pra aparecer uma madeira e ela isolar três vezes. E por quê? Porque simplesmente as pessoas vivenciam algo todos os dias e não são capazes de reconhecê-las. Descem todos os dias no ponto com os dois coqueiros e a menos que eles caiam sobre suas cabeças jamais irão vê-los.
Creio mesmo que o que nos diferencia dos animais, e não estou dizendo que somos melhores, é o poder do ser humano de manipular energia para seu bem estar ou dos que são próximos a si. Somos energia. Quantos não vão à beira mar e saem completamente refeitos? Quantos não abrem os braços numa ventania? Quantos não isolam na madeira para evitar energias ruins? É óbvio que na Umbanda não é tão simples assim, mas aprendemos rápido, seja pelo ensinamento dos dirigentes, pela observação e pelo contato com as entidades, ou, na maioria das vezes, o que é mais certo, bebemos destas três fontes.
Falo de coisas óbvias que não vemos para destacar uma inovação na Umbanda. A Camila Guimarães, mãe pequena do Terreiro do Pai Maneco, postou uma mensagem dizendo da criação do movimento Mocidade na Umbanda e o primeiro evento será uma palestra sobre Violência Sexual e Drogas no próximo dia 6 de agosto. Isto é de fato muito importante em qualquer terreiro.
Um jovem médium tem a capacidade muito grande de entender como se dá qualquer processo ritualístico na Umbanda, creio que o mais difícil seja, neste processo todo, entender a natureza humana. Somos médiuns conscientes, então quem não se choca ao ouvir um caso grave de dependência química? Quem não se chocaria em ouvir uma mãe falar de um filho doente, ou um pai chorando à sua frente por falta de oportunidade nesta vida? Temos sim a obrigação de nos inteirarmos sobre a vida e a cada dia buscarmos um pouco mais de sabedoria, se quisermos ser bons mensageiros.
Creio que o terreiro que disponibiliza um espaço para tais discussões, com palestrantes que falem a mesma língua dos jovens, se torna um berço de médiuns que conseguiram atingir com melhor qualidade suas proposições dentro da religião. Você até pode estar pensando que esta educação deveria vir de casa, ou da escola. Ela vem, sem dúvida ,mas o reforço vindo de dentro de uma instituição que eles amam é de extrema importância. Nem sempre se tem a oportunidade dentro de uma gira de falar com todos os jovens e eles não são muito de se consultar, ou perguntar sobre aspectos da vida, até porque não têm vivencia de muita coisa.  Num meio que hajam só jovens e pessoas que , como disse anteriormente, falem a mesma língua, fica mais fácil a absorção do que é proposto.
Umbanda não é lugar de doutrina, é lugar de vida e de busca por um meio de torná-la mais leve. A educação é ponto fundamental dentro dela. Falar sobre todas estas coisas loucas que acontecem em nosso mundo e dos revezes desta vida acrescenta conhecimento, imprescindível para que a entidade possa exercer plenamente sua caridade com quem  mais precisa. Imprescindível também para formação de cidadãos mais conscientes, em qualquer lugar que andem neste mundo.
Vou encerrando por aqui hoje,e já que falei em jovens, cidadãos e inovação, termino com uma saudação que é feita lá no Terreiro do Pai Maneco, no início de cada trabalho: Salve a Nação Brasileira!

Para mais detalhes sobre o projeto escreva para  mocidade.tpm@gmail.com 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Grande Gira

Numa destas outras vidas ,nesta  mesma existência, conheci o sr. Felipe, um homem de mais de setenta anos na época. Ele era judeu, mas sempre que conhecia as pessoas passava alguma mensagem sobre Jesus, a maioria que ele próprio inventava. Quando me conheceu, estava vivendo um período de dúvidas , então ele me disse: na Bíblia que não é contada, Andréa era o nome de uma das mulheres que acompanhava Jesus e a função dela no grupo , era entrar nas cavernas e trazer as pessoas para a luz. O Divino sabe o quanto eu própria sempre precisei da luz do entendimento e a busco incessantemente.
Hoje sei que não tiro ninguém das cavernas, elas é que saem sozinhas se assim o quiserem. Somos livres para acreditar no que quisermos, sempre falo isso, inclusive em nós mesmos. A Umbanda tem me ensinado muitas coisas . Sempre gostei de religião, mais pelo aspecto da atração que elas exercem sobre as pessoas do que as religiões em si, por este motivo posso afirmar seguramente que a única que trata do tempo presente, na atualidade, é a umbandista.
Lidamos com entidades todas as giras ,bem como com as energias Orixás. Não fazemos previsões e muito embora acreditemos em reencarnação, não nos atemos às nossas experiências passadas e como diria Pai Maneco, nem devemos buscar este tipo de informação, pois não nos acrescentaria nada.
Buda indagado por um discípulo sobre como seria após a morte e como seria a reencarnação respondeu que não falava sobre estas coisas porque não eram pertinentes. Dizia ele que o que era pertinente nesta existência era saber lidar com o sofrimento, coisa que o discípulo estava precisando aprender, pois se pensava na vida pós-morte era porque não estava sendo feliz.
A cada gira de umbanda aprendemos um pouco mais. O caboclo Tucuruvu, incorporado no Pai Jussaro, que rege a gira que frequento falou a todos um pouco de sua história. Ele havia se retirado para o alto da montanha para meditar e quando desceu para sua tribo estava toda dizimada, obra de inimigos. Ora, era ele o responsável por toda aquela tribo então isto tudo pesou sobre seus ombros. O caboclo da Cachoeira, que incorpora no Pai Fernando, também contou há um tempo atrás a história de como resolveu abandonar tudo para se refugiar no interior da mata e como teve que retornar. O caboclo Beira Mar que recebo também contou uma história de como teve que abandonar sua tribo para achar a cura com o Divino, o qual procurou por anos a fio e como depois descobriu que ele esteva sempre presente em cada um.
Juntei todas estas histórias porque percebi uma grande mensagem que Zambi, através de seus mensageiros dos mais diversos Orixás, busca nos passar. A verdadeira espiritualidade é vivida e vivenciada em nosso dia-a-dia , junto às pessoas e em nossos relacionamentos. Não podemos fugir deles. Às vezes me pedem que fale sobre demandas espirituais, sobre movimentos dos espíritos desencarnados, mas a visão de que tenho da Umbanda é vida, é a transmutação causada pelos pensamentos , é ,enfim, o fortalecimento causado pelo entendimento de cada processo que vivenciamos. Portanto não há nada mais útil do que focarmos na qualidade de nossas vidas junto aos que nos cercam.
Morando aqui no alto de Colombo, num sítio mais ou menos isolado, pelo menos neste período da vida, sou feliz e de fato não me sinto só.  A cada gira que frequento sei  que entre os que estão de branco não há diferenças além das cores das faixas, que designam a que Orixá pertencem. Apesar de sermos diferentes em pensamentos e culturas na hora do "aperto",  além dos dirigentes logicamente, sempre haverá alguém do nosso lado para estender a mão quando literalmente caímos ou para nos amparar num momento de emoção forte. Como também juntos rimos muito, porque se há um sinal de que há uma energia superior nos envolvendo é sem dúvida o bom humor.
Giramos, giramos e giramos em nossa existência pelas mais diversas situações e precisamos ter a certeza de que sós, no momento que ficarmos tontos, não conseguimos o equilíbrio perfeito. Eu busco repassar aqui o que compreendo porque sei que a partir disto, às vezes um pequeno insigth, quem realmente precisar vai encontrar a sua verdade, porque nada do que falo é absoluto, antes minhas experiências na Umbanda se adaptam a realidade de cada um. Porque a própria Umbanda é assim: uma religião que auxilia a enfrentar os sofrimentos e a entendê-los, porque cada passo que damos no presente tem uma enorme valia em nossa evolução e ele deve ser dado com a coragem de Ogum, a firmeza de Xangô, com o amor à vida de Oxóssi, sob a proteção sempre de Oxalá. Afinal, a vida é uma grande gira.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mágicos e Médiuns

Nos seus estudos de mágica, o Syrus aprendeu um grande ensinamento com seu mestre: mágica é algo para entretenimento, para fazer as pessoas felizes, para divertir. Nunca, em nenhuma apresentação, deve ser falado que é algo sobrenatural, pois mágica não é magia, e para ser mágico não é necessário ser mago. E por quê tudo isto? Porque se o mágico se desviar da função de entretenimento e dizer que tem poderes mediúnicos, em algum momento ele pode realmente acreditar nisto e aí todo seu profissionalismo estará comprometido. Um mágico pode ser um médium também, mas cada coisa a seu tempo e em seu lugar.
Achei isto interessante porque no início da nossa caminhada dentro da Umbanda  o médium também tem que se ater ao seguinte detalhe: ser médium não é ser mágico. Eu creio que até , em alguns atendimentos, possam acontecer alguns "efeitos especiais" não por vontade do médium, mas até pela necessidade da fé do consulente. Mas jamais, em tempo algum, o médium pode pensar que isto vá se repetir, ou que ele possa produzir isto sozinho. Até porque estes "efeitos  especiais"  são legais só no cinema. O que a Umbanda faz é muito maior do que isto.
Eu mesma tive um grande aprendizado esta semana. Seo Sete Cachoeiras chamou um jovem médium da corrente e pediu que segurasse a mão da consulente. Depois disse : passe para ela a mensagem meu filho. O menino, meio envergonhado, se enrolou, e seo Sete Cachoeiras falou que ele mesmo passaria: era para a senhora antes de responder qualquer coisa para o marido respirar e conversar, e no trabalho que exercia, ser mais direta em suas colocações , pois estava sendo infeliz deixando de falar o que precisava. O rapaz se espantou e disse que a mesma mensagem havia recebido só que de forma diferente: que a senhora acendesse uma vela antes de falar em casa e que no trabalho soubesse que em casa há uma vela acessa. Sabiamente, seo Sete Cachoeiras então explicou: meu filho se vem uma pessoa aqui nesta Casa e está aflita, ao ouvir seu conselho pode levar ao pé da letra. Já pensou se a pessoa realmente acender uma vela em cada momento destes? Veja: quanto mais claro e simples você for,mais resultado obterá.
A transmutação de pensamentos é algo muito ,mas muito mais espantoso que os "efeitos especiais" no meu entendimento. Ela conduz a estradas mais arejadas e luminosas. Fazer com que uma pessoa reflita e reveja seus pontos de vista por outro ângulo é também uma das grandes habilidades das entidades, e um processo que pode levar a uma cura de diversos males.Para isto o médium deve estar preparado. Eu nunca havia pensado neste ponto de vista exposto pelo seo Sete Cachoeiras e fiquei até pensando se o ensinamento não era também para mim. Como sempre escuto e presto atenção aos meus dirigentes no terreiro e leio bastante, a mensagem pode ser passada de uma forma adequada.
Como sempre falo , na Umbanda estamos todos interligados, e apesar de praticarmos rituais com diferenças ,somos muito mais unidos que pensamos. Hoje ,na postagem do blog do Ricardo Barreira ele fala como a Umbanda é ecosófica. Como o próprio nome diz , ecosofia, é ecologia aliada à filosofia. Vou deixar abaixo o link para que leiam o texto mencionado.Tem muito a ver com esta minha postagem de hoje.
Na Umbanda aprendemos a manipular campos de força com elementos da natureza, para processos de cura de uma forma geral. Mas também, aprendemos  a manipular nossos pensamentos para que possamos passar as mensagens de forma mais clara para cada indivíduo que nos procura, porque o pensamento é o elemento natural do ser humano. É através dos pensamentos, e das ações geradas por eles, que construímos nossas vidas e de nosso meio. O equilíbrio de nossas emoções e de nossas relações familiares, sociais e profissionais são conquistas inestimáveis, assim como nosso entendimento de que nossa relação com a natureza também é imprescindível. São os pequenos milagres que resultam na grande obra da Umbanda neste nosso solo brasileiro: a maravilha do bem viver.
Um médium ao acreditar que é um mágico, está correndo um sério perigo, então deixo a foto desta postagem para que não se esqueçam. E como meu lindinho diz, é preferível acreditar que vamos à gira, como médiuns,não para fazer caridade, mas sim para retribuir tudo que a Umbanda fez por nós, principalmente a nossa reconstrução como seres humanos melhores.

Este é o texto do Ricardo Barreira:
http://www.ricardobarreira.com.br/2011/07/umbanda-ecosofica.html?spref=tw

domingo, 10 de julho de 2011

Destino?

Estou ficando mais velha. Não tinha percebido isto, mas lembrei que logo terei idade nova. 44 anos. A idade da tração nas quatro rodas. Isso é muito bom, pois deve ser um sinal para que meus pensamentos não precisem mais pegar no tranco. E se isso acontecer mesmo , vou poupar muita gente da minha fiel companheira por todas estas décadas: a curiosidade.
Um outro companheiro fiel na minha caminhada sobre esta terra foi o livro. Apesar do advento da internet, livros são livros. Coisas mágicas mesmo. Não só as letras, mas seu cheiro, a textura do papel e evidentemente a mágica que os envolve. No meu entender você só consegue ler um livro se estiver preparado para seu conteúdo. Pode ser  até ignorância minha, mas não consigo pensar de outra forma. Alguns livros mudaram minha vida sem eu ter nunca lido seu conteúdo. É verdade!
Há alguns anos atrás eu fazia muitas coisas ao mesmo tempo: era assessora do Museu de Arte Contemporânea, tinha um jornal chamado Brainstorming e um programa de Tv chamado Time Out Tv. Mesmo assim, ficava buscando mais coisas para fazer. Um belo dia vi um anúncio de jornal pedindo uma pessoa para redigir um livro sobre os templários. Parecia um presente dos deuses. Falei com a pessoa e depois de algumas conversas descobri que além de não pagar pelo serviço prontamente, tinha arranjado um transtorno, pois não largavam do meu pé.
Paralelo a isto estava acontecendo um outro probleminha. Eu tinha uma coluna em meu jornal onde fazia resenhas  e ia fazer uma página dedicada a livros que falassem de anjos, moda na época. Mandaram-me um livro de nome O Anjo Guardião- Editora Madras.  Sendo sincera, não gostei da capa e não conseguia lê-lo. Invoquei que aquilo tudo tinha a ver com magia e não com anjos. O fato é que por dias ,para onde quer que eu olhasse ,lá estava aquele livro. Sou exagerada de nascença: estava quase fazendo um ritual de exorcismo na publicação em questão.Até que, sem querer, li sobre o autor: membro da Ordem dos Templários do Brasil. Fantástico, pois já resolvia um problema: mandava o rapaz que estava me incomodando para o autor e os dois que se virassem. Liguei para a editora em São Paulo e descobri que o mencionado autor era curitibano e morava num sítio em Colombo. De uma forma resumida agora vocês sabem o porquê eu tive dois filhos maravilhosos  e moro num sítio em virtude de um livro, que realmente, até hoje, não li.
Em virtude do blog e de minhas relações nas redes sociais, recebo muitos emails com pedidos, textos e um em particular me chamou a atenção. Foi o da minha amiga Melissa Georg. O texto tinha tudo a ver com o que eu havia publicado no mesmo dia aqui no blog, mas ela não havia lido ainda. Sei que ficamos rindo das "coincidências", o que chega a ser bem rotineiro dentro da Umbanda porque os pensamentos são todos interligados. O que me chamou a atenção foi uma atitude no final do texto que achei brilhante.
Quero deixar claro que se existe destino, ele existe fundamentado em nosso livre arbítrio. Se eu não quisesse ter estudado e não me interessasse tanto pela minha área, não teria conhecido meu lindinho. Se ainda, não soubesse ler ou escrever, como poderia ser uma médium que às vezes psicografa? Impossível , como diria painho, se meu computador interno não oferecesse condições para esta aptidão.O conhecimento é necessário sempre.
Neste texto que recebi da Melissa, identifiquei um elemento muito importante e evolutivo da Umbanda. O texto chamado Toques de um Preto Velho termina sendo assinado da seguinte forma: " Um Grande abraço Pai Antônio de Aruanda e Fernando Sepe (escrito por duas mentes em um só coração) " . Foi a primeira vez que vi o médium assinar junto com a entidade. Não há uma perfeita incorporação da Umbanda sem interferência do médium. A entidade não pode se expressar em sua plenitude se o médium não procurar sempre se tornar melhor. É o livre arbítrio do médium , em escolher caminhos que o edifiquem, que acaba por edificar a própria religião, além de melhorar e muito a qualidade da mensagem a ser passada. Como também é sua falta de preparo que faz com que aconteçam os erros. Por este motivo acho justo o médium assinar com a entidade. Quem sabe todos comecem a adotar esta postura definitivamente? Uma mediunidade consciente passa pela consciência da importância do aprendizado.Saravá ao Fernando Sepe e à Melissa!


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Aruanda

Sábado à noite chuvoso e não havia outra alternativa: assistir tv ao lado do fogão à lenha. Na tela passava o programa Sobrenatural, onde a dupla de irmãos combate espíritos malígnos. Os meninos adoram, mas depois ficam querendo por sal grosso na porta de entrada e perguntando se a gente tem ou não água benta e balas de prata. Só que desta vez foi diferente. Os dois irmãos, mocinhos do filme, morrem e vão para o céu. Encontram uns perigos pela frente e um amigo, já falecido , vai ajudá-los. Este amigo desenha nas portas com um"giz" pontos de proteção. Imediatamente meus filhos me olham: isso tá muito parecido com tua igreja mamãe. E estava mesmo.
Num determinado ponto, eles vão falar com o único anjo que ainda tem contato com Deus: Josué.
Josué, no filme, tinha todas as características do Pai Maneco, na minha visão de Umbanda: um preto, não tão velho, mas cheio de sabedoria. Os rapazes perguntam se ele fala com Deus, mas ele nega e diz que é Deus quem fala com ele, quando quer, talvez porque ele tenha paciência de escutar. Contar filmes e sonhos é uma coisa que não me apraz, cada um tem uma interpretação, mas achei pertinente falar. A Umbanda está cada vez mais se expandindo como energia.
Desde que li o livro do Alexandre Cumino, História da Umbanda-Editora Madras, fico pensando o porquê de sua criação nestes moldes. Ela é baseada na fé, no amor e na caridade ,mas há algo que me chama muito mais a atenção na sua evolução. Hoje você vê muito nos terreiros médicos, jornalistas, advogados, juízes. A simplicidade das entidades de Umbanda talvez seja o maior aprendizado para os intelectuais da contemporaneidade. Quanto mais tentarem complicar seu entendimento, menos surte o efeito principal. Umbanda é um "religare", já que as pessoas gostam tanto desta palavra quando falam em religião, com a natureza e com quem realmente somos, sem todas estas camadas que os tempos modernos nos infligiram. 
Não posso negar que fiquei atordoada com o que meu lindinho me perguntou ao término do filme: como seria seu paraíso Andréa? O dele é bem definido, quer passar seu tempo lá do outro lado fazendo shows de rock, mas e o meu?
Pensei em primeiro falar com seo Sete Cachoeiras e ver como me saí nesta experiência, afinal é meu pai de cabeça. Depois ver gente que há muito não vejo, matar as saudades de tudo que vivemos juntos. Certamente ficar conversando muito tempo com seo Beira Mar e aprendendo mais coisas. A visita ao pai Maneco é inevitável, farei as perguntas que ainda não estou pronta para fazer. Vou visitar os Erês e agradecê-los, mas em festa de criança não dá pra ficar muito tempo. Vou buscar um benzimento com dona Maria Redonda e ,falando em benzimento, pegar um axé com seo Zé. Vou visitar as matas do seo Junco Verde e alisar a águia do seo Akuan, em agradecimento pelas cobras espirituais mal intencionadas que não deixou que me alcançassem e curimbar um pouco com seo Tucuruvu.Vou a festa dos boiadeiros e à tenda dos ciganos, nessa em especial ver o cigano Woisler fazer as mágicas com as cartas (desta vez eu vou entender!). Vou até as sombras buscar o abraço de novo da Maria Padilha das Almas, do seo Tranca Rua das Almas, passear um pouco por lá sob a capa do seo Capa e perguntar para seo Sete Encruzilhadas quantas encruzas a pessoa precisa passar para se libertar de seus vícios . É bastante coisa a ser feita, mas não dura uma eternidade, então Aruanda o jeito vai ser eu voltar pra cá, com uma bagagem um pouco maior, ajudar um pouco mais a Umbanda e ficar pensando como seria meu paraíso perfeito.
Em terra , nós médiuns nesta experiência de vida, somos todos um pouco de Aruanda.Somos um pouco de cada entidade, um pouco de suas matas e rios, um pouco de suas encruzilhadas e caminhos. Então médium umbandista, quando numa destas manhãs de inverno você acordar sem saber quem é você no meio disto tudo pense: sou o grito do caboclo, a risada do erê, a paciência do preto velho, talvez você consiga escutar Deus e seguir em passos mais leves. Saravá!