quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fogo Sagrado

É só sentir o cheiro da fumaça dos galhos queimando, que o Índio já vem trotando de longe. Cavalos gostam de fogo, na verdade da fumaça, quando os mosquitos estão incomodando. É preciso juntar e queimar os galhos caídos, para podermos enxergar os pinhões que estão começando a cair, do contrário os preás se refestelam e não sobra nada. Adoro de ficar olhando o fogo e os desenhos que dançam o tempo todo.
Todo ser humano gosta de fogo, não tem como negar. Ele está no inconsciente de cada ser vivo. Do cotidiano, às festas e religiões é anfitrião e convidado. A sua ambivalência ,talvez ,é a que o torne tão eloquente à nossa psique: ao mesmo tempo que pode salvar de um frio intenso, pode matar.
Por ser um dos únicos "elementos" que podemos produzir, o fogo é uma das provas de que o ser humano se assemelha aos deuses, vindo daí talvez a idéia que se perpetuou por séculos desde que o homem aprendeu a lidar com ele. Para se ter uma idéia, alguns mitos antigos descreviam-no como uma propriedade original dos deuses, que apenas após ser roubado passou a pertencer à humanidade. Na religião católica é este elemento que queima todos os pecados desde o início, assim como nos exorcismos assírios, e é considerado sagrado a partir do parsismo- pregado por Zaratustra. Paracelso descreveu em seus livros os elementais, sendo que as salamandras são as guardiãs divinas do elemento fogo, para infundir-lhe vida e protegê-lo. 
O elemento fogo é estudado desde a antiguidade e nós da Umbanda o usamos em todos os rituais. Tudo tem um significado e uma utilidade. Ao acender uma vela, nossa energia emitida pela mente se entrelaça ao fogo e cria uma vibração que reverbera no espaço. É preciso concentração neste simples ato, porque dele pode provir grande força. As velas usadas devem ser sempre novas - a não ser que sejam para determinados pedidos que se repitam- e sempre acessas com fósforos, pelo simples fato de que ao acender ele causa uma "desestrutura" limpando rapidamente o ambiente para enviarmos a energia que precisamos. A princípio as pessoas pensam que é porque possuem pólvora em sua composição, como na fundanga usada nos rituais. A combustão de um palito de fósforo ocorre de uma reação gerada pelo atrito do clorato de potássio existente na cabeça do palito contra o elemento químico "fósforo" que está na lixa da caixinha.
As velas são acesas nos congás, nos pontos e oferendas, mas não são ,em verdade, as entidades ,nem nossos anjos de guarda que precisam delas, mas nós mesmos. Acendemos para que no meio da escuridão em que nos encontramos nesta vivencia eles nos vejam e nos abençoem. Temos que primeiro imantar as velas com nossa energia e então acendê-las, sempre com a consciência da lei do retorno de nossas intenções. Umbanda não é brincadeira, torno a dizer, assim como nossos pedimos tem que ser bem formulados, porque com certeza seremos atendidos.
Um terreiro é um lugar de cura, de crescimento espiritual decorrente da cura de nossos males e ensinar um filho a acender uma vela corretamente deveria ser a primeira função de cada mãe e pai de santo, de uma forma que ele entendesse que ali,naquele fogo sagrado está o princípio,o meio e o fim de todas as ações de um bom umbandista. No próximo dia 13 de maio é comemorado o dia dos pretos e pretas velhas e também o dia das mães. Talvez um bom pedido ao se acender uma vela para os pretos que nos acolhem e nos protegem seja que o fogo interno que nos rege seja sempre o da vigilância, da oração e da verdadeira caridade. Como falei no começo o fogo tem valor ambíguo e quando deixamos que se acenda no meio do terreiro a chama das vaidades, tudo o que os pretos-velhos ensinam se perde nesta chama incontrolável dos egos humanos. Adorei as Almas! Axé!