segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Médiuns de Umbanda

Dona Andréa a senhora já reparou como a gente gosta da gente mesmo? As pessoas me chocam às vezes com seus pensamentos.Esta flecha certeira veio pelo arco dos pensamentos de seo Dirceu, um taxista aqui da cidade. De fala mansa , me contou que havia levado uma senhora na casa de uma amiga. No meio do caminho , a mulher se confundiu com as ruas e falou: seo Dirceu "tamo" perdido! E ria sem parar. Conhecedor do jeito da freguesa e taxista há muito tempo por aqui, perguntou sobre algumas características desta amiga dela, que por sinal era muito parecida com a passageira,  pessoa de bom humor e de bem com a vida. E pronto: seo Dirceu sabia de quem se tratava e onde morava. Porisso este taxista com um GPS filosófico afirma que nos aproximamos de quem tem características iguais as nossas simplesmente porque gostamos muito de nós mesmos, e passeou pelas memórias  explicando sobre pessoas de temperamentos idênticos que conhecia.
Hoje, pelas contas da ONU, chegamos à conta de 7 bilhões de habitantes.Então , nesse momento há essa enormidade de gente pensando em como pode ser mais feliz. A menina que nasceu hoje sabe , instintivamente, que a felicidade dela está na mãe. Quem está doente , projeta  sua esperança de cura nos remédios, nos médicos e no Divino. Quem está sozinho, molda um par perfeito para caminharem de mãos dadas. E cada um destes sete bilhões de seres na busca de algo que os complete.
Nós médiuns de Umbanda temos a grata satisfação de interagirmos com inteligências diversas das nossas. As entidades que recebemos, logicamente, tem a ver com nosso nível vibracional, mas não as escolhemos. A natureza é tão perfeita que agrega energias para trabalhar com mais eficácia. Esta junção de inteligências escolhidas pela natureza do que realmente somos é uma manifestação Divina que nos leva a um ponto muito importante, se nos ativermos à entrega em prol da fé, do amor e da caridade.
A Umbanda não funcionaria como uma religião de consolo e cura se usássemos somente nossos dons individuais. Há um escritor chamado Clive Staples Lewis , conhecido pela maioria pelo livro Crônicas de Nárnia, que diz o seguinte: " Deus só pode mostrar-se como realmente é a homens reais. E isto significa não apenas a homens que sejam individualmente bons, mas a homens reunidos num só corpo, que se amem uns aos outros, que se ajudem uns aos outros e mostrem Deus uns aos outros." Portanto é na entrega à incorporação, no exercício da tentativa de sermos a cada gira um pouco mais humildes, que interagiremos com mais clareza com as entidades que atuam em nossa religião e permitiremos, tanto a nós, como a todas as energias que nos circundam e aos que buscam ajuda uma visão mais clara do Divino.
Quando alguém vem buscar ajuda e se senta em frente à qualquer entidade ali se misturam muitas energias. Sentimos o que a entidade sente, as nossas próprias idéias sobre o problema e as do consulente, além da energia do cambone. Naquele momento somos um elo de uma corrente maior que é a própria gira. Se fosse possível fotografar somente a energia, com certeza teríamos a reprodução quase que exata, no meu entender, de fotos como esta que postei de uma galáxia. 
Estar na Umbanda é exercer o amor. Porque atendemos pessoas desconhecidas e abraçamos a dor de estranhos ao nosso dia-a-dia. Talvez nosso maior passo em direção à verdadeira caridade é entender uma outra frase deste mesmo autor que citei acima: "Você não tem uma alma. Você é uma alma. Você tem um corpo."  Por vezes somos impulsionados por nossos egos que se inflam nos sucessos e esvaziam nossa felicidade nos fracassos. Quando se trata de energia e de todo um movimento da natureza, não há como qualificar sucessos e fracassos, simplesmente porque não temos uma visão completa. Independente do que possamos supor sobre os reais resultados, o importante é estarmos sempre dispostos à entrega e à felicidade de fazermos parte de uma energia maior.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Obsessão

Num destes dias normais por aqui  eu, ao entrar em casa,vi umas pegadas diferentes. De cara já fui pedir satisfação para meu marido: entrou algum cavalo aqui? Cavalo não, mas tem um pônei aí fora. Não demorou muito para eu ver meu cachorro correndo atrás do pônei e depois o pônei correndo atrás do cão. No dia seguinte, chegamos a conclusão que aquele ser pertencia a um vizinho, que se mudou de São Paulo para cá e ainda não se adaptou à vida do mato.
Dito e feito. Algumas horas depois ele ligou perguntando se tínhamos visto o tal fujão, que não tinha uma orelha.Toca o lindinho me chamar para ver se eu sabia se não tinha a tal da orelha mesmo. Como eu não havia reparado e esperto que é para confirmar se era o mesmo fez duas perguntas importantes : é preto? é baixinho? O fato é que nem precisava fazer tais perguntas. Gente do mato não tem pônei. Por razões bem práticas: cavalos são mais dóceis e o coice de um pônei é muito violento. Eles são estressados, talvez pela baixa "altitude' e uma falta de visão mais ampla. 
Nós todos temos algumas reações mecânicas e pensamentos condicionados também. Creio que as vezes a nossa baixa "altitude" com relação à natureza humana faça que com isto fique evidente. Vou contar outra história. Uma pessoa que conheço foi assaltada e quando recebeu a voz de assalto logo ergueu os braços. O bandido ,indignado , falou: aonde você pensa que está? No cinema? Baixa estas mãos aí...A pessoa está bem, só com a moral um pouco abalada....
Traçamos o que seria um mundo perfeito pelos referenciais que temos à disposição na mídia de uma forma geral. Invariavelmente acabamos nos deparando com verdades: os pôneis não são legais e a vida não é um filme. Mas tudo bem. O importante é reconhecer que às vezes passamos do limite com relação à nossa própria vida, nos tornando auto-obsessores.Olhamos muito para dentro em busca de elementos comuns a todos os outros seres humanos estampados na mídia e geralmente nos frustramos.
Como na vida, quando nos entregamos à Umbanda temos que dar um passo de cada vez. O conhecimento que acumulamos lá, deve estar em uso contínuo, para consolar e curar os outros e a nós mesmos. Penso hoje que,tanto as glórias e grandes conquistas na religião ,como os momentos ruins, deixam lições e são elas só que devem predominar e não os sentimentos a elas agregados como o orgulho ou a decepção.
É muito comum médiuns novos buscarem respostas para sua própria existência nesta terra. Alguns tem visões sobre vidas passadas, às vezes sem querer, e valorizam demais isto. Como é possível você fazer juízo de um livro todo lendo só uma linha? Não é certo e gera sofrimento. Então uma só pergunta, quando você tem este tipo de visão ou sonhos estranhos, pode debelar muito sofrimento: como posso ajudar alguém, ou a mim mesmo, com uma informação destas?  Se não houver resposta ou se a resposta for negativa , esqueça.
Ser médium não é fácil. Eu tenho minha receita pessoal: quando a coisa está difícil procure algo para rir. Sempre posto coisas engraçadas, mais do que textos espiritualizados. Exatamente porque o riso é algo universal, apartidário. Afinal, às vezes, o cão chupando manga não é tão feio como imaginamos.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Erva Boa!

Tem planta que não vinga aqui no sítio. Você pode fazer de tudo,mas não vão adiante. Louro, alecrim, café e arruda são algumas delas. Não sei exatamente o porquê, mas já tentamos de tudo. Em compensação pimenta ,boldo, hortelã, pitangueira e carqueja é só piscar que nascem aos montes. A natureza é cheia de mistérios, que os que são da terra os resolvem rapidamente.
Na Umbanda, que trata da manipulação das energias naturais, não há como negar a grande força e sabedoria dos pretos. A palavra certa, o conselho certeiro, a manipulação rápida da energia são fatos concretos que observamos numa primeira impressão.Em nossas mentes , como falei no post anterior, associamos as pretas a doceiras, mas há mais uma característica unida à imagem delas: as benzedeiras. Por sua vez, se formos pensar nas benzedeiras a erva que é indissociável é a arruda.
Poucos sabem ,mas a Arruda é originária da Ásia. Na Grécia antiga, ela era usada para tratar diversas enfermidades, mas seu ponto forte era mesmo contra as forças do mal. As mulheres romanas costumavam andar pelas ruas sempre carregando um ramo de arruda na mão, pois diziam que era para se defenderem contra doenças contagiosas mas, principalmente, para afastar todos os males que iam além do corpo físico.William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como sendo "a erva sagrada dos domingos". Dizem que ela passou a ser chamada assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-se fazer um preparado à base de vinho e arruda que era ingerido pelos "possessos" antes de serem exorcizados pelos padres.No século XVI deu origem a uma estória curiosa: quando morriam em Londres 7.000 pessoas por semana com a peste, e as casas atingidas eram marcadas com uma cruz vermelha, alguns ladrões não se incomodavam e entravam para roubar e não eram atingidos pela peste. O motivo: um famoso vinagre, dos quais um dos principais componentes é a arruda, num galão de vinagre de vinho junto com a sálvia, losna, menta, alecrim e lavanda, temperadas com alho, cânfora, noz moscada, cravo e canela, constituindo um poderoso anti-séptico. Essa mistura ficou conhecida como vinagre dos quatro ladrões. Já Michelangelo e Leonardo da Vinci, afirmaram que foi graças aos poderes metafísicos da arruda que ambos tiveram sensíveis melhoras em seus trabalhos de criatividade.
No Brasil pós-escravidão a Arruda era vendida nas ruas pelas ex-escravas, embora antes já o fizessem como mostra a gravura que postei aqui de Debret. No Boletim da Comissão Catarinense de Folclore, num texto de Carlos da Costa Pereira encontramos o seguinte: "Para afugentar os sortilégios, as negras costumavam trazê-la "nas pregas dos turbantes, nos cabelos, atrás da orelha e mesmo nas ventas", e as brancas usavam-na em geral escondida no seio". Acrescenta que quando as negras, vendedoras de frutas, encontravam uma concorrente tida por inimiga, costumavam exclamar: 'Cruz, Ave Maria, arruda', colocando subitamente os dois dedos index sobre a boca", e para se acautelarem "de um perigo iminente, elas diziam: 'toma arruda, ela corrige tudo'". Nas Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida , deparam-se-nos duas referências ao uso da arruda na época em que se situam as cenas do romance. A primeira, quando o autor descreve o "traje habitual" da comadre, que "era como o de todas as mulheres da sua condição e esfera, uma saia lila preta, que se vestia sobre um vestido qualquer, um lenço branco muito teso e engomado ao pescoço, outro na cabeça, um rosário pendurado no cós da saia, um raminho de arruda atrás da orelha, tudo isto coberto por uma clássica mantilha, junto à renda da qual se pregava uma figa de ouro ou de osso". E a outra, quando narra os preparativos feitos para o momento em que a Chiquinha daria à luz, sendo improvisado "um oratório com uma toalha, um copo com arruda e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição..."A arruda também entrou na poesia popular brasileira, tendo Carlos Góis  registrado as seguintes quadras — colhidas em Minas Gerais, a primeira, e no Ceará, a segunda — em que se fazem alusão a essa planta:
                                                                                                                    Arruda tem vinte folhas,
                                      No meio seu arrodeio;
                                      Trata de mim que sou teu,
                                      Deixa de amores alheios.
                                      Arruda também se muda
                                      Do sertão para o deserto
                                      Também se ama de longe
                               Quem não pode amar de perto.

Aliás, estes versos atestam não só a popularidade como a adaptabilidade a regiões indiscriminadas, da planta que, pelas suas pretensas virtudes, os portugueses trouxeram para os seus domínios neste lado do Atlântico".


Arruda serve para quase tudo. No meu entender a mistura da energia de qualquer erva em especial com a linha dos Pretos, que fundamenta a Umbanda, potencializa não só a energia que está sendo manipulada, mas nos envolve de forma carinhosa  na sabedoria e no alento da certeza de crescimento. Não somos nós que ajudamos os pretos e pretas a andarem no terreiro, são eles que nos calçam os pés na bondade e no amor, na alegria de viver, para que nossos pés possam pisar firmes em direção a verdadeira caridade - esta sim o grande mistério da humildade destas almas. 


Neste texto me baseei no estudo feito na Faculdade Integrada Espírita, aqui de Curitiba, por Ana Lúcia Trinquinato Toriani e Lourenço de Oliveira

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nós Cultuamos todas as Doçuras

Pai Maneco
De tempos em tempos me bate uma vontade louca de comer quindim. E tem época: sempre entre setembro e outubro. Sei lá porquê. Talvez seja a alegria em ver o sol de novo, nos dias de primavera. De qualquer forma, os quindins me remetem a alegria de estar vivo, e inevitavelmente, me lembram Oxum.Quem me alertou para este fato repetitivo foi a amiga Ìyálorisá Elaine Ti Òsun, porque todo ano  tenho falado pra ela, na mesma época: preciso de quindim! Ela lá no Rio de Janeiro e eu aqui, no meio do mato em Colombo. Não resolve muita coisa ,mas dissemino a vontade e de repente tá todo mundo consumindo o tal doce.
Pai Maneco é um protetor das doceiras, porque diz que elas trazem alegria. Hoje, portanto, farei uma homenagem a ele, que sempre adoçou minha vida com um sorriso, falando delas. 
A origem dos doces é incerta. Acredita-se que os primeiros doces já eram oferecidos como oferendas aos deuses na época de Ramsés III, feitos de farinha de trigo, mel, frutas e especiarias, conforme hieroglifos encontrado em sua tumba. Aqui no Brasil, berço da Umbanda, o sociólogo Gilberto Freire em uma citação no livro "Casa Grande e Senzala" diz que os meninos do norte/nordeste do Brasil têm a fala mais doce do mundo, porque as amas negras adoçaram suas bocas  e assim tiraram os érres e ésses, porque com seus quitutes conseguiram fazer com que as palavras se desmanchassem na boca.
Muitos acreditam que doces como quindim, bom-bocados, pudim, papo-de-anjo e manjar são doces brasileiros, mas comprovadamente têm origem portuguesa, oriundos dos conventos, com as sobras das gemas dos ovos, uma vez que as claras eram usadas para engomar os hábitos das freiras.No Brasil, as primeiras esquadras portuguesas já traziam doces para os índios de Porto Seguro, ofertados como presentes e na época colonial, a nobreza saboreava-se com cajuadas e goiabadas das cozinheiras negras escravas. Estas cozinheiras foram as grandes responsáveis pelas novas cozinhas regionais que nasciam com criações como bananas assadas com canela, mel de engenho com farinha de mandioca ou macaxeira, arroz-doce com leite-de-coco, tapioca, pamonha, beiju, cuscuz, cocada, pé-de-moleque com castanhas de caju e canjica.
Rui Barbosa, um grande intelectual, se derretia por colheradas de doce de batata e mais recentemente, João Goulart e Jorge Amado, verdadeiros adoradores do doce de coco. Aqui em casa, o lindinho sempre diz que comida é religião, e ela é de fato. Mantém nosso corpo e equilibra nossa alma. Ao fazer ou saborear um doce alguém pode pensar em coisas ruins? Não acredito nisto. Ao morder um quindim você fica tão intensamente inundado pelo sabor, que a  consciência da vida aflora e a delícia do momento te fazem esquecer qualquer coisa, nem que seja por segundos.
Após o término da escravidão, muitas negras tiveram que lavar,engomar, cuidar de doentes e crianças, colher e vender ervas medicinais, fazer doces e vendê-los. Eram tempos difíceis, mas todas estas funções fizeram dos espíritos que hoje trabalham na Umbanda, mães acolhedoras e disseminadoras da alegria por onde passem. A imagem que pode vir à mente são os tabuleiros delas cheios de doces lá do nordeste, mas elas disseminaram a alegria pelo Brasil todo.
Há um estudo chamado "Nós Cultuamos todas as Doçuras" que é um desdobramento do Inventário Nacional de Referências Culturais - produção de doces tradicionais pelotenses, pesquisa que segue metodologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), visando identificar e reconhecer a tradição doceira pela qual Pelotas, situada no Rio Grande do Sul, é nacionalmente conhecida. A pesquisa podia se ater aos doces de origem européia, mas no processo investigativo,  ao consultarem uma mãe de santo da Umbanda na região ela mencionou uma história: " Conta a lenda que uma escrava desejava muito engravidar e não conseguia, então prometeu a Oxum que lhe daria uma quantia de cem quindins caso tivesse um filho.."
Em Pelotas os amalás, por uma questão cultural, têm na maioria das vezes muitos doces. Muitas doceiras da região são fornecedoras deste "material ritualístico" .
Em Pelotas há terreiros que além da entrega feita aos Orixás, a comunidade se reúne para compartilhar o axé proveniente destes doces. Como curiosidade , além dos conhecidos quindins para Oxum, o açúcar cristal é considerado lá elemento de Yansã, a senhora das mudanças,  então é comum você encontrar entregas com figos cristalizados por exemplo, que aliam a força desta orixá com Ossanha, que é o orixá das ervas (que na Umbanda que pratico não é cultuado). Fora os doces cristalizados são encontrados também os de compota, os camafeus, ninhos, bem casados enfim, um verdadeiro transporte da área cultural da cidade para o campo sagrado dos orixás, na busca por por uma vida mais doce. E uma das coisas mais bonitas que já ouvi na religião foi a seguinte, lá do povo de Pelotas: " aqui cada reino "Orixá", tem uma doceira."
Tia Olímpia
Aqui no Paraná ,mais precisamente em Tibagi, viveu uma ex-escrava a "Tia" Olímpia Novaes Taques, que foi considerada a primeira "assistente social" da cidade. Além de lavadeira, e "pau pra toda obra" , Tia Olímpia era excelente doceira e esta sua doçura da alma fez com que ajudasse muitos que necessitavam de sua ajuda. Com saia de algodão escura, franzida e longa, quase até os tornozelos, blusa de algodão estampado em cores claras de mangas compridas, a tia usava lenço claro na cabeça e calçava chinelos de couro, pois assim andava rápido pelas ruas de chão batido. Mesmo tendo dez filhos e uma vida de muito trabalho para sustentar todos, nunca deixou de ajudar ninguém, sempre com um sorriso no rosto.Ajuda aos jovens recém-formados que retornavam ou vinham de outras cidades a Tibagi para se iniciarem na profissão. Por seus cuidados passavam médicos, advogados, professores e juízes. Ia à casa das pessoas doentes e saía em busca de auxílio. Ela visitava outras pessoas, contava que fulano estava doente e que teria de levar a ele uma sopa. As pessoas não só lhe davam a sopa, como também procuravam visitar o doente mencionado. A doçura desta ex-escrava é mais que apenas um nome lembrado em uma rua, foi o alicerce de muitas famílias da região.
Tá certo que Steve Jobs foi um cara muito importante para a vida que levamos hoje, mas mais importante que ele, para o fundamento da nação brasileira, foram essas pretas-velhas que até hoje lançam seus olhares doces aos filhos de Umbanda, na esperança, creio eu,  que com isto aflorem em seus filhos os sentimentos de 
compaixão e humildade com o próximo. 


  • "Nós Cultuamos Todas as Doçuras" é um estudo realizado por  Marília Floôr Kosby é mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e membro da Equipe do Inventário Nacional de Referências Culturais referente à produção de doces tradicionais pelotenses. Flávia Maria Silva Rieth , doutora em Antropologia Social e professora da UFPEL, é coordenadora dessa Equipe, que também é composta por: Fábio Vergara Cerqueira, Maria Letícia Mazucchi Ferreira, Francisca Ferreira Michelon (consultora em imagem), Mario Osorio Magalhães (consultor em história) e Tiago Lemões da Silva.