quarta-feira, 27 de abril de 2011

Umbanda x Fast Food

Seiscentos alunos de quinta e sexta série num mesmo período. Solicitado mais uma vez, lá foi o Syrus defender menininhas indefesas de um tal menino que só corria atrás delas e assustava-as. Disseram categoricamente: Ele está fazendo bullying conosco (porque agora tudo é bullying). Imponente, este pequeno filho, afirmando sua energia do caçador que nunca vai ser caça, chegou para o tal cruel e falou, com o dedo em riste : É melhor que você pare com isto, não tem mais o que fazer? E mais uma vez o pequeno Oxóssi com cara de Justin Bieber, salvou as meninas . Elas, agradecidas, queriam saber se ele conhecia o algoz: Sim é meu irmão! Quando chegar em casa vou contar tudo pra minha mãe ,não se preocupem.
Filho quando começa falando: Veja bem mamãe..... nunca quer de fato que olhemos para a ação cometida. Foi como o Dyogo começou, e ,logicamente terminou falando que não era justo o Syrus se meter na vida pessoal dele, o bullying era contra ele no fundo, mas muito no fundo mesmo. A tal palavra bullying hoje está sendo usada do maternal até o Senado, fazer o quê?
E mais uma vez adotamos uma palavra que servirá tanto para justificar, quanto para acusar. O ser humano está cheio destas palavrinhas que são sacadas rapidamente. E vou falar uma coisa: ou cada ser se define, define suas idéias e concepções sobre verdadeiro ou falso, pratica uma vida pés no chão, ou está fadado a passar o resto de sua vida em conjecturas inúteis. 
Tenho quatro pessoas que amo de verdade com câncer no momento.Uma das melhores coisas que fiz foi ter escutado o Dr. Dráuzio Varela num programa chamado Roda Viva, falando sobre este assunto. Ele simplesmente odeia que falem que uma pessoa se curou de câncer porque tem muita força de vontade. Falou que é inconcebível pensar que alguém não queira se livrar desta doença. Outra coisa muito importante a ser lembrada é a sensação de culpa que se incute no doente.  O câncer é uma alteração genética na célula e ponto. Não se sabe muito sobre ele, mas existe desde que a humanidade existe e tem cura registradas desde o tempo do Egito Antigo, mas cada caso é um caso. A minha fé vê em cada um deles um herói, que cumpre sua função nesta existência, hoje mais rejuvenescidos do que ontem, fazendo algo que deveríamos ter em conta: vivendo um dia de cada vez.
Temos que cuidar dos nossos "falares". Palavras têm força e crescem em proporções por vezes exageradas. Um teólogo chamado Luis Solano Rossi recentemente relançou seu livro "Jesus vai ao Mac Donald's"  falando sobre o consumismo nas religiões católica e protestante, onde cada vez mais o que conta é a transformação de Jesus em produto. Em determinado ponto da entrevista ele fala o seguinte " O impacto se dá em dois momentos. O primeiro é na formação de uma cultura que nega a coletividade, fazendo com que a teologia deixe de ser vista como um instrumento de proteção da vida, principalmente da vida dos mais vulneráveis, para se tornar um instrumento individual. O segundo impacto é que o fiel começa a pensar mais no seu sucesso e bem estar pessoal do que nos outros. Para atender a esse desejo, muitos migram de uma comunidade para outra, seja católica ou protestante, como se fossem lanchonetes de fast-food. Se a pessoa percebe que igreja tal tem uma certa eficiência, se ouve que lá dá resultado, então se muda. Desa­­parece o compromisso com uma doutrina, uma história, uma tradição."
Infelizmente isto não está restrito apenas a  estas religiões. Vejo pessoas  se movimentando entre Terreiros de Umbanda da mesma forma. E cada vez mais se perdem em meio aos seus próprios egos, porque querem alguém que decifre tudo de imediato e acabam por nada entender. Em nenhum momento, nesta minha caminhada me falaram que se eu desenvolvesse minha mediunidade iria me transformar numa popstar, muito pelo contrário. Existe uma linha tênue entre o bem e o mal neste mundo.  Não se pratica a Umbanda sem caridade, sem pensar na coletividade: é impossível. Quem é caridoso não profere palavras que vão contra o prosseguimento da vida, da fé. Com a caridade e com a fé em novos dias, o amor irrestrito passa a ser imperativo nos corações.
O amor , antes de ser algo só poético, constitui-se em um exercício que deve ser praticado todos os dias e uma barreira intransponível para qualquer tipo de mal. Não é fácil sair amando por aí não. Tem que aprender primeiro o que é humildade, depois aprender a observar a beleza que há num mundo onde cada um está num nível diferente, dentre muitos outros itens. Nisso, uso como apoio um pensamento de um filósofo bem conhecido atualmente: o Mario Sergio Cortella. Não nascemos prontos, quem nasceu pronto e envelhece com o tempo é geladeira, fogão.Nós nascemos não-prontos e vamos nos fazendo com o tempo. Isso nunca acaba de fato. Posso amar hoje,mas ainda não sei amar e entender o amor na plenitude.
Caí na palavra que gosto: entendimento. Vão lá no blog do Pai Maneco e vejam quantas perguntas já fiz, além das que tenho guardadas no meu email. Hoje eu entendo que se pergunto cada detalhe mínimo, estou também encerrando ali uma pergunta subliminar: painho, será que consigo passar a mensagem do amor Divino?
Uma amiga assistiu a gira ontem e agora há pouco me falava: Andréa prestei bastante atenção nos atendimentos da entidade que estava com você: entravam muito sérios e saíam leves e sorrindo. Ontem eu consegui deixar a entidade passar a mensagem, bom. Há outros tantos dias pela frente e tanto o que se aprender ainda, que nem dá tempo de ficar enebriada com este passo a mais dado por mim e com certeza por tantos outros.Volto no Cortella: a sensação de felicidade neste caso tem que ter o tempo do cozimento de um miojo: passou de três minutos vira gosma.
A arrogância está aí sendo disseminada e ninguém faz nada. O arrogante não evolui, porque já sabe tudo. Alguém em algum momento tem dizer que o tecido não existe e estamos nus. O médium não pode cair no engôdo de que nunca fará algo errado. Nós, como pessoas além de qualquer religião, não somos infalíveis, antes estamos nesta vida aprendendo a cada minuto. E precisamos pensar no que aprendemos. E, ao contrário disto é o que mais  se propaga nesta rede mundial que habitamos. Se você não entende que está num contínuo processo de aprendizado, em que cada detalhe do seu dia traz um novo conhecimento, como você vai passar isto às gerações mais novas? Notaram que as crianças da cidade já não perguntam tanto? Nem os adultos. Eles simplesmente não tem o que explorar, já sabem tudo.
Um pouco chateada com esta falta de horizontes, deixo aqui um pequeno texto, desejando que todos recuperem a criança que se espanta com a vida e sonha com o inacreditável:
"Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: -Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia". (Carlos Drummond de Andrade).

terça-feira, 19 de abril de 2011

Anjos

Uma das famílias de caseiros que tive aqui gostava muito do Índio, que é o nosso cavalo. A mulher fazia uns bolinhos maravilhosos e, toda vez que os fazia, dava alguns pra agradar este pampa teimoso. Apesar de aconselhá-la a não fazê-lo na porta de casa , ela continuava. E volta e meia, lá estava ela dando os quitutes e beijando o cavalo.Certo dia, muito atarefada, fez os bolinhos e foi cuidar dos seus afazeres.O Índio que já era "íntimo" não se fez de rogado e entrou na casa para servir-se sozinho. Olha ,um cavalo dentro de casa dá um certo trabalho de tirar e é de fato uma lembrança inesquecível.
Nós e nossas experiências pessoais.Lembro-me  que na escola primária um dia a professora ensinou a diferença entre história e estória. Hoje nem sei se ensinam mais.Ela foi tão enfática que até hoje não esqueci, talvez porque goste tanto de história como de estórias. As duas têm grande importância, porque tanto com uma quanto com outra aprendemos um pouco mais a viver.
Paulo Mendes Campos numa de suas estórias falava uma grande verdade:"toda vida vivida até seu fim, dá um grande romance". Isto é real. Se você tem quarenta e bem pouquinhos anos como eu, já sabe que algumas coisas que não faziam sentindo em determinado tempo na sua vida, se resolveram e são repletos de significado. Se alguma coisa ainda não tem um significado ou um sentido claro, deixe o tempo projetar as outras cenas de sua vida que tudo se esclarecerá.
Creio que antes de nascermos escrevemos nossos roteiros de vida.Porém, em algum momento da viagem, esquecemos que é só um roteiro. Muitos espíritas e espiritualistas falam que viemos com uma missão, com algo que precisamos aprender para evoluir. Apesar de entendermos isto, quando passamos por alguma dificuldades ,sofremos de verdade e dolorosamente, esquecendo tudo que é espiritual e vivenciando o sofrimento achamos que ele é eterno. O único filme de terror que assisti no cinema  foi a Volta dos Mortos Vivos, confesso que esqueci que era uma estória e não consegui dormir por alguns dias....
O bom da vida é que nos entregamos à história, mas o ruim é que nos esquecemos de dar atenção aos detalhes às vezes. Não sei se vocês já assistiram ao filme Asas do Desejo de Win Wenders. Ali um dos anjos fala que gostaria de estar entre os vivos, não para ter filhos ou plantar árvores, mas para saborear um café e fazer coisas corriqueiras do nosso cotidiano. É um filme intenso e vale a pena ver.
Falando em intensidade, neste mesmo filme um senhor pensa assim: por que na história da humanidade não houve um período de paz grande o suficiente para ser relatada pelos historiadores? Talvez este nosso roteiro produzido antes de encarnarmos venha com uma frase específica: sem sofrimento não há evolução. E aqui coloco mais um talvez: talvez por este motivo a humanidade goste tanto de assistir sobre tragédias na mídia. A mídia explorou tanto o caso de Realengo e colocou tanto sobre o assassino que cheguei a pensar que a imprensa estava fazendo o caminho inverso da ética. A mídia sozinha não tem culpa, ela apenas alimenta a humanidade conforme sua fome. Pode ser a nossa necessidade urgente de evoluir que nos faça só absorver sofrimento.Sei lá.
Heróis e vilões se confundem em nosso dia-a-dia. E alternam seus papéis. Isto me surpreende sempre. Num só dia alguém que te defende pode subitamente empunhar a espada na jugular, como também o vilão que te deixa preso na masmorra pode te ensinar a voar livre.Tem tanta princesa por aí domesticando o dragão e tanto príncipe à espera de salvação, que estamos todos confusos quanto aos nossos verdadeiros papéis.
Infelizmente não há uma receita perfeita e única para se viver bem. Somos espectadores e atores de nosso papel principal na vivência.
Passamos a vida procurando respostas fora de nós.Diferente do famoso seriado que prega que a verdade está lá fora, posso afirmar que não. Gosto muito de uma tese descrita no livro Grifos do Passado, do pai Fernando Guimarães, que diz que nosso anjo da guarda só pode ser o nosso próprio espírito. Transcrevo aqui a explicação: " - Se temos dentro de nós a vontade e a partícula Divina, não pode ser essa essência, nosso próprio guardião? E se nessa vida, estamos vivendo uma unidade de encarnação, temos todo direito de evocar a somatória de nossas vidas anteriores, para proteger a nossa atual. Quem melhor que nosso próprio espírito, para nos proteger?
Leve sua história a sério, mas não tanto a ponto de achar que ela é infinita. Aproveite cada momento e dê um tempo a você mesmo, para estourar umas pipocas e pensar um pouco no enredo de sua vida. Daqui há pouco volto pra contar um pouco mais da minha...


 A ilustração de hoje é mais uma mandala maravilhosa do Marcelo Dalla, a Íris Mágica, que creio que cada um de nós possui. Aproveito para parabenizá-lo pelos mil seguidores e pelo trabalho fantástico que tem feito.

O livro Grifos do Passado, do Pai Fernando Guimarães, já está esgotado,mas você pode lê-lo na íntegra no site:

terça-feira, 12 de abril de 2011

Das Tragédias aos Milagres

Dia 9 de novembro de 1989. Lá estava eu vendo a queda do muro de Berlim pela tv, emocionadíssima e pensando que aquele filho que eu trazia no ventre viveria em um mundo mais livre. Numa destas ironias da vida hoje meu filho nascido no final de 89 , está em Berlim desfrutando da liberdade proporcionada pelo conhecimento e pela sua dedicação aos estudos. Quem tem um pouco mais de vivência sabe como a vida pode ser uma seqüência de fatos correlacionados, que em algum momento, fazem um sentido maior. Nada é em vão e os ventos sopram na direção em que as mudanças são necessárias.
Minha relação com Deus sempre foi muito , vamos dizer ,calorosa. Já briguei e perguntei a Ele o porque disto ou daquilo.Sempre me respondeu no tempo em que Ele achou que eu entenderia, como responde a cada ser que fala com Ele, sempre no tempo Dele. A Umbanda me ajudou a entender isto, creio que porque me faz pensar muito em cada detalhe.
Algumas pessoas me ligaram no dia da tragédia de Realengo. Estava triste demais para falar. Eu sei o que é a dor de perder alguém que se ama muito e imaginava os pais da crianças. O porquê Deus explicará no tempo Dele, repito, e não no nosso. Mas escutei muita gente revoltada com o Divino.
Elucidar os motivos de um ser obsediado, é correr atrás do vento. Os iguais se atraem e, logicamente, as mentes doentias atraem outras deste e de outros planos. Falar sobre eles não acrescenta, nem tão pouco contribuirá para evitar outras tragédias.
Há muitos dias parece que vejo em minha mente Chico Xavier  falando: " Fora da caridade não há salvação." Esta frase pertence a Allan Kardec e é de fato um pouco prolixa. Você precisa de salvação? Salvar do que e pra quê? E se a salvação é necessária é porque estamos eminentemente em perigo. Que perigo é esse?
Nossa mente é uma bomba em potencial. Nela criamos conceitos e idéias e percebemos outras de fora. Dentro de nossa mente um futuro inteiro é construído ou destruído em instantes.Mas ,o mais perigoso é quando pensamentos pequenininhos e inofensivos a princípio, começam a achar justificativas cada vez mais concretas e sólidas para permanecerem lá todos os dias.
Destes pensamentos o ódio é o pior. Ele é a doença degenerativa do amor.Temos que ser caridosos, a princípio, conosco mesmos. Um dos gestos mais bonitos que eu vi foi a nova pintura da casa dos familiares do atirador, pichada com palavras de ódio, pelos moradores da região e ex alunos, e o motivo dado? "Não podemos dar continuidade ao mal que ele causou". Não podemos dar continuidade aos nossos pensamentos de ódio, tristeza, falta de esperança. Fortalecidos , podemos sim ensinar e acolher ,pelo menos com um grande abraço, a quem nos procura. E isto também é caridade.
Caridade é uma palavra muito grande ,mas pode ser traduzida em atos pequenos. Quantos muros construímos durante esta vida?A ignorância faz com que construamos muros cada vez mais altos entre nós e uma série de possibilidades de felicidade.Os pré-conceitos são alicerces difíceis de serem quebrados. Não somos obrigados a amar a todos, mas somos chamados a respeitar cada um, cada vida que caminha nesta mesma existência que a nossa.
No muro do colégio há infinitas homenagens e pedidos de paz. Todo ser humano que se sensibilizou com a tragédia de uma forma inconsciente está lá representado também. Há tanto a ser feito que deveríamos formar uma corrente, nesta grande gira da vida, na qual cada um refletindo a luz divina e fazendo a sua parte consiga dar um passo a mais em direção à caridade.
Todos os dias acontecem tragédias, como também acontecem milagres. Precisamos dar ênfase às boas notícias, aos esforços individuais e coletivos pelo bem comum.Precisamos criar uma onda inversa, um tsunami do bem.
Hoje vou deixar aqui uma frase da Vovó Catarina, que pediu aos médiuns de corrente da gira da Mãe Rita do TPM,para reflexão aqui e  que eu creio ser bem pertinente no momento : um passo, um ato, um olhar. Se fizermos estes três itens todos dias direcionados à fé, ao amor e a caridade certamente caminharemos com mais cuidado sobre esta terra.Saravá!


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pomba Gira


Não sei vocês ,mas eu identifico as estações do ano pelo cheiro. Ontem senti pela primeira vez o aroma de outono no ar. Aqui no sul é mais ou menos como se o ar ficasse um pouco mais "ardido", um pouquinho mais gelado. Mas é só com o tempo de vida um pouco maior é que começamos a associar estes cheiros do tempo com fatos, bons e maus, que ocorreram em nossa caminhada.

É quase impossível,deixar de  tornar o outono um período para reflexão. O verão se desfaz em folhas secas pelo chão e é hora de se recolher um pouco mais. Daí os eventos nesta época tomarem ,quem sabe, uma proporção um pouco maior e uma lembrança mais concreta em nossas mentes. O início do frio desperta em nós também um pouco mais de solidão.Até que passe o inverno, e venha a primavera nos surprender, a impressão que fica é que não vai acabar nunca, apesar de saber por experiência que nada é eterno, sofremos como se tudo fosse.Principalmente as mulheres.
Ontem, graças a boiadeira que recebo, sofri 85% a menos. Num tal atendimento que fez, e que contei aqui, aconselhou à pequena senhora a fazer seu maravilhoso bolo de fubá cremoso maravilhoso (que eu desconhecia) e convidá-la a participar de sua mesa em casa. Pois fui agraciada com um pedaço dele ontem. Indescritível, coisa de mãe mesmo.Quando conseguir a receita deste milagre saboroso conto a vocês.
Pois bem, para mim, toda mulher, mesmo sem filhos, carrega em si uma mãe em potencial: a que faz quitutes, a que se preocupa , a que se orgulha e principalmente a que protege e aconselha.
São muitas as Marias de Umbanda. A Maria Padilha, a Maria Mulambo, a Maria Navalha, a Maria Quitéria, a Maria do Balaio. Ah, as desconhecidas e amadas Marias.E se têm Maria no nome é porque tem motivo, ou acha que não? Maria está na mente das pessoas como aquela que foi colocada em xeque, mas que deu a luz um novo caminho.
As Pomba Giras são assim. Quem não as conhece, julga como entidades malígnas prontas a aceitar os trabalhos mais sórdidos, mas quem já experimentou o amor das Marias sabe de que escuridão ela os tirou. E refiro-me a todas as pomba giras como Marias, mesmo que não levem em seus nomes, porque o são de fato. Uma vez lendo os apócrifos vi uma história muito linda. Maria usava a água do banho de Jesus quando bebê para lavar as feridas dos leprosos e assim curá-los das enfermidades. Porisso, sabendo da hora do banho do bebê, na janela da casa juntavam-se muitos doentes.
Toda Maria desde então, creio eu, vem lavando os males de quem as procura. São tantas as dores deste mundo que elas lavam, enxugam e curam. Elas transformam o outono/inverno da vida em manhãs quentes de primavera, nas quais, se você se ativer ao entendimento, sentirá notavelmente o cheiro das flores. Não estou santificando as Pombas Giras, mas quero que entendam de uma outra forma. Elas fazem amarrações,mas somente das idéias que andam dispersas na cabeça das pessoas. Entidade nenhuma se preza a fazer o mal, mas antes e principalmente a dissipá-lo. Entendo como mal não só aquela energia que circula pelo mundo,mas também , e tenho falado muito nisso, aquele mal que praticamos a nós mesmos.
Quando pensamos que não somos capazes, ou temos a grande pretensão de abarcar o mundo sozinhos com nossas pernas curtas. Quando achamos que a vida do próximo está boa demais ou que estão tendo "algo que merecem". Criamos larvas em nossos pensamentos e elas vão nos minando e aos que nos estão mais próximos , com muito mais eficácia quer os mosquitos da dengue.
As pombas giras se apresentam como mulheres que não tiveram uma experiência neste plano perfeita, mas  foram discriminalizadas pelo imaginário popular. Digo que a grande intenção delas, ao meu ver, é seduzir homens e mulheres para o caminho da caridade. Somos juízes todos os dias, mas não vi até hoje quem queira se sentar no lugar do réu.
Existem várias formas de se fazer caridade. Gostaria que este texto fosse só um preâmbulo, uma introdução para que você  partilhasse sua história, de como foi auxiliado por uma Pomba Gira. Como costumeiramente todos os depoimentos aqui tem sido preciosos não só para mim, mas como todos os que lêem, certamente o seu ajudará alguém a achar um novo caminho.