quarta-feira, 29 de junho de 2011

As Janelas da Percepção

Pai Antonio incorporado em Zélio de Moraes na Cabana de Pai Antonio,
 em Boca do Mato - Cachoeiras de Macacu - RJ.
O fato se passou na linha de ônibus escolar do Uvaranal, aqui em Colombo. O motorista do turno da noite observa pelo espelho duas alunas sentadas no fundo do veículo, mais à frente quatro rapazes conversam. Na parada o motorista espera descerem. Pergunta à moça que desce por último: sua amiga não vai descer? Eu sou a única mulher que vem nessa linha, tio. A verdade é que naquela linha andam acontecendo coisas estranhas, sempre com esta moça, que volta e meia é vista também numa encruzilhada de três ruas ,lá no meio das matas do local. Passos são ouvidos dentro do ônibus e ,em algumas paradas, se escuta um tchau de alguém que ninguém vê.
Ao me contarem esta história a primeira coisa que pergunto é se o motorista é médium. A resposta é positiva, tendo em vista a sua trajetória em ver e ouvir espíritos desde pequeno. Ser médium é ,meus amigos, funcionalidade e não qualidade. Por este motivo a mediunidade não é característica encontrada em membros de uma só religião. Seu desenvolvimento e suas características variam de pessoa para pessoa, assim como tudo o que é pertinente ao ser humano- definitivamente não somos iguais,mas semelhantes.
Falava sobre assombrações. Hoje não as temo, mas tenho amigos que falam de sua extrema coragem com as ditas aparições somente uma vez por semana e em horário determinado: das 20 às 21:50 e das 22 às 23:50h. É o horário que estão na gira e no meio de muita gente, sob os olhares do pai de santo. Fora deste período a coragem também tira folga. Não é o que vemos , como diriam os matutos daqui, com estes olhos que a terra há de comer, mas o que não vemos que devemos ter atenção.
Os extremos de nossos sentimentos são capazes de nos abrir portas para as vibrações mais perigosas. Chamo de extremos aqueles momentos em que acreditamos ,com uma alegria e orgulho inenarráveis, que somos os melhores médiuns interplanetários ou , na contrapartida, que somos um fracasso total e de forma irreparável. Nestes momentos, como médiuns que somos ,se aproximam de nós espíritos com a mesma vibração, que sutilmente vão alimentar estes pensamentos catastróficos.
Primeiro temos que ter em mente que estamos numa caminhada em busca da perfeição e enquanto buscamos, teremos acertos e erros. Sempre falo que em uma mensagem espiritual é muito fácil você confundir "vou te cobrir de ouro" com " vou te dar um couro", então esteja sempre atento. Saber o que são pensamentos seus e o que não são, bem como o das pessoas que o cercam, requer observação e humildade. Para ser humilde há que se entender o amor como energia universal. Entendendo a energia universal pratica-se a verdadeira caridade.
" E é preciso ter muito cuidado, haver moral, para que a Umbanda progrida e seja uma Umbanda de humildade, amor e caridade.É  esta nossa bandeira." Estas palavras são do Caboclo das Sete Encruzilhadas, ditas através do seu médium Zélio Fernandino de Moraes fundador da Umbanda.  Os ritos podem ser diferentes nas mais diversas casas, mas a bandeira da religião é uma só, que por sinal é a base que todo médium deve ter para que a sua funcionalidade, como falei antes, obtenha êxito. É a nosso objetivo evolutivo que nos diferencia e nosso conjunto de preceitos morais que nos equilibra e proteje.
Buscar manter sempre um equilíbrio familiar, pessoal e profissional são meios de nos protegermos de influências ruins e auxiliam sim em nosso desenvolvimento espiritual. Alguns outros cuidados são também imprescindíveis: observar os pensamentos e ações dos líderes espirituais a quem você vai confiar seu desenvolvimento, se quiser usar da ferramenta da mediunidade. Ter conhecimento do que é e o que objetiva a religião a ser escolhida também é importante. Agora em especial aos médiuns umbandistas: sempre mantenha um diálogo claro e respeitoso com seu pai/mãe de santo e prefira sempre os que te mantém com os pés no chão, nos caminhos da verdadeira Umbanda. Líderes religiosos e membros de hierarquia, como médiuns mantenham-se sempre com os pés no chão, porque também o lugar em que ocupam não é uma qualidade e sim uma função, não emitindo brincadeiras sobre médiuns iniciantes, antes encaminhe-os ao verdadeiro aprendizado que sempre é com respeito, humildade  e amor, porque o que ensinares assim será perpetuado nos corações dos aprendizes. Saravá!

A foto postada aqui aparece no blog http://todomundoquerumbanda.blogspot.com/ contudo não aparece o nome do autor, quem souber por favor me conte para dar o devido crédito.
  

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Palavra do Caboclo Pena Branca

Caboclo Pena Branca, imagem intuitiva feita pelo médium Jimmi
Filho de Oxóssi quando vem com uma risadinha no canto da boca, pode contar que vai falar uma piadinha. E veio o Syrus com o tal sintoma: Mamãe quer um chokito? Já sabia qual era a resposta ,mas falei: ah, eu quero sim filhinho! Pois então coloca o "dedito" na "tomadita". Ele estava rindo muito e tive que ensaiar uma risada assim também. Como é bom chegar no mundo agora não é? Tantas piadas "novas" pra escutar e passar adiante....
No dia dos namorados rolava na rede que amor é uma coisa brega, tão brega que precisa de dois,como nas duplas sertanejas. De fato, o amor é algo muito antigo na humanidade e a discussão sobre ele também. Fiz uma grande descoberta hoje sobre ele, mas quero explicar um pouco sobre o contexto.
Dificilmente visito outras giras que não seja a que freqüento, não tenho uma razão exata para isto, mas sou assim. Hoje resolvi quebrar um pouco isto e fui ver uma gira do Pai Beco de Oxóssi, no Terreiro do Pai Maneco mesmo. Amo as giras de Oxóssi, um cheiro de mato misturado à orvalho da manhã, num dia de verão (porque energia pra mim tem cheiro) e uma alegria com relação à vida sem igual. Talvez por isto Oxóssi seja tão ligado à cura e à saúde.Fui falar com o caboclo Pena Branca pedir uma ajudinha, um axé e fazer uma pergunta (lógico). Ainda estou digerindo tudo o que vi e senti. Quando você é iniciante na Umbanda, tem toda uma relação especial com ela, como num namoro, no começo quase é impossível não ser um pouco fanático. Aprendi que com o tempo as coisas se equilibram e tudo tem o seu lugar correto: sua vida social, familiar, profissional e religiosa coexistem sem conflitos.
A história da relação do amor na vida das pessoas dentro das religiões  se desenrolou,muito resumidamente, da seguinte forma: primeiro se alguém fazia algo de ruim para outra pessoa se tornava uma guerra entre famílias ,e a briga se estendia por gerações. Aí, por volta de 1780 a. C., no Código de Hamurabi, veio a Lei de Talião, ou seja, olho por olho ,dente por dente. Se alguém te fez algo você devolve na mesma moeda e acaba aí. Era o dito "castigo-espelho". Anos depois surgiram os dez mandamentos, na Torá, para que as pessoas se harmonizassem e seguissem regras de entendimento comum.
Se você levar em consideração que a primeira Bíblia foi impressa em  1456, pode-se levar em conta que a palavra do Cristo começou a ser mais divulgada a partir desta data .Lá está escrito que seria a partir daquele momento um só mandamento seria usado: Amai-vos uns aos outros. Apesar de simples, levou séculos para ser entendida, pois é de complicada execução e absorção, por incrível que possa parecer, mas está aí a história que não me deixa errar nesta afirmação.
Portanto , na humanidade, o amor ainda está em evolução. O aprendizado do amor , creio eu, envolve várias vidas até chegar em sua plenitude pelo espírito. Perguntei ao Caboclo Pena Branca se ele teria alguma coisa a me dizer, para eu passar aos médiuns de Umbanda.  Havia muitas coisas que ele poderia dizer, então pedi que me falasse a que considerava mais importante no desenvolvimento mediúnico. Falou da importância do equilíbrio de nossos "vícios" como a inveja e arrogância e, de repente, senti que não só seu Pena Branca ,mas muitas entidades próximas. Ele me falou então que a meta do médium , de seu desenvolvimento total, é ser amor, não escolher o que se amará, mas ser amor. Até agora estou emocionada. Ser amor compreende uma vasta possibilidade de afinidades espirituais,  e uma compreensão plena da caridade e da fé. E se amar ao próximo como a si mesmo já é difícil, ser amor é algo que levará mais um bom tempo para ser compreendido. Uma árvore pode demorar anos para dar frutos, então o importante é plantá-la mais rápido possível.
Hoje o Caboclo Pena Branca foi portador da voz da Umbanda como um todo e eu o agradeço muito por este presente, que sei que será utilizado por pessoas não só da minha religião, mas por todos aqueles que buscam, como eu, tornar a fé um meio de sermos um pouco melhores a cada dia, no entendimento da palavra amor. Hoje, em frente ao congá, me senti uma criança chegando ao mundo, maravilhada com as coisas que estou descobrindo. Saravá seo Pena Branca!


Dedico esta postagem À Beatriz Silva e ela sabe porquê.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Comida de Santo

Este é o Pai Fernando, na Cruz das Almas no Terreiro do Pai Maneco
No início minha juventude, que faço questão de frizar que ainda não terminou, eu buscava em oráculos respostas para minhas perguntas. Se você parar para pensar um pouco vai ver que tudo que previram para você , está esquecido, porque a vida se movimenta muito rápido.  Tem uma resposta que obtive, porém, que nunca esqueci. Já não sei qual foi a pergunta, me desculpem, mas o resultado do I Ching foi:  "observe pessoas alimentando outras e repare como elas se alimentam a si mesmas". 
Não pude parar de pensar nisto ao ler o livro do Alexandre Cumino, "História da Umbanda"  publicado pela Editora Madras, principalmente por um detalhe. Lá ,contando um pouco da história do Zélio Ferdinando de Moraes, a conhecida como fundador da Umbanda no Brasil, nos revela o detalhe da incursão dele como vereador a partir de 1924. Zélio era comerciante, porque desde sua fundação a Umbanda tinha como norma não cobrar pelos atendimentos. Decidiu pela vida pública não para difundir sua religião, mas para poder atuar na difusão das escolas públicas. Isto me chamou bastante a atenção, principalmente pela época em que se passou e pelo próprio propósito inicial da Umbanda.
Nós médiuns temos sim um privilégio sobre os outros praticantes da Umbanda, que não precisam estar necessariamente dentro de uma gira: a possibilidade de entrar em contato com a consciência de outros espíritos diferentes do nosso e de nossa formação. Todo privilégio leva a uma responsabilidade maior. Tudo o que lemos ,aprendemos e vivenciamos , na medida que trabalhamos com estas entidades vai ,certamente, acrescentando e moldando não só nosso conhecimento dentro da religião, mas fazendo com que nossa sabedoria tome um aspecto mais universal.
Ainda sou uma aprendiz, mas me dei ao direito de vislumbrar um pouco do futuro da Umbanda ao ler o livro do Cumino. Pai Fernando fala que existe um ponto de maturidade no médium onde ocorre uma simbiose com as entidades. De uma certa forma eu creio que a Umbanda esteja iniciando seu processo de maturidade, talvez criando uma simbiose com a população brasileira. Hoje já não há quem não conheça esta religião e que não tenha ,em algum momento, lido algum texto de alguma entidade. Podemos esquecer muitas coisas nesta vida, mas quando somos alcançados por palavras de sabedoria imediatamente nos alimentamos delas.
A nossa falta de dogmas tem nos tornado muito mais responsáveis pelas mensagens que passamos. É  a liberdade com responsabilidade. Talvez Zélio com todo conhecimento que compartilhou com as entidades tenha chegado, em uma certa altura, à conclusão que somos responsáveis pelo desenvolvimento, também, dos que nos cercam. Possibilitar que crianças tenham acesso ao conhecimento e ao aprendizado, no começo do século passado, era uma idéia não muito comum, mas extremamente necessária.
Creio que como religião brasileira, a Umbanda tem um quê que me alimenta e proporciona que eu alimente outros. As pessoas vão ali em busca de cura num amplo sentido e são, muito suavemente, conduzidas a caminhos mais amplos pelas próprias entidades. Estes caminhos levam inevitavelmente à uma consciência de responsabilidade não só consigo mesmo, mas com próximo e com a realidade do tempo em que vivemos. É a nossa cidadania sendo desenvolvida, seja pela consciência ecológica que obtemos em nossas práticas, seja pelo conhecimento das necessidades básicas das pessoas que nos procuram. E o que fazemos com este conhecimento em nossas vidas fora do Terreiro é de extrema importância.
Hoje há muitos umbandistas ligados à área de direito e política, de comunicação, de saúde e tecnologia, tanto que não se pode mais falar que é uma religião dos menos favorecidos. Isso vejo como sinal claro de que toda a sabedoria que nos é passada, pode sim ser aplicada cada vez mais na vida pública, com proveito de toda uma população, sem preconceitos de religião.
De fato não importa o porquê da pessoa ter procurado a Umbanda, mas sim o que ela fará com o que vier a aprender. Hoje estou aqui para deixar aqui a seguinte mensagem adaptada: observe as pessoas na Umbanda alimentando outras com caridade, amor ao próximo fé e conhecimento e veja como se alimentam a si próprias.



quinta-feira, 16 de junho de 2011

Grande Magia

Amendoins salvam se acompanhados de sabedoria. Vendo o pânico das crianças ,que apesar de morarem na sua grande maioria em sítios, sabiam que o mundo ia acabar naquele sábado, a Barbra Voigt, atendente do ônibus escolar teve uma idéia. Se o mundo não acabasse no sábado, na segunda cada um traria umas moedinhas e fariam uma vaquinha para comprar amendoins. Seria um lanche comemorativo no ônibus, na volta da escola. Como as crianças estão praticamente chegando no mundo agora, ter uma data pro fim do mundo assim tão próximo assustou, mas a comemoração por não ter acabado foi uma grande festa.Agora esperam ansiosas por mais um fim de mundo, e mal sabem que vão ter muitos anúncios antes de chegarem à uma idade avançada, mas certamente não esquecerão deste primeiro.
Assim como a Barbra, heroína desconhecida ainda de Colombo, teve a professora Martha Rivera Alanis do México. Enquanto acontecia lá fora um violento tiroteio entre traficantes, a professora primária resolveu cantar para os alunos, para que o episódio passasse quase despercebido, mantendo-os calmos dentro da sua inocência. Mais do que letras e contas estas pessoas ensinam o que é mais necessário nesta vida: aprender a superar dificuldades com alegria. E isso é inestimável.
Na Umbanda não acreditamos no inferno nem em demônios. Talvez o grande mérito da religião seja, através das entidades ensinar a enfrentar as situações difíceis com coragem e humildade. A Umbanda, como sempre fala Pai Fernando, é uma religião de combate. Eu tenho comigo que devíamos mesmo fazer um alongamento antes da gira. Parece engraçado, e é no fundo, porque quando adentramos em nosso solo sagrado para começar nosso ritual sabemos que vamos enfrentar não só as assombrações produzidas pelo medo dos outros ,mas pelos nossos próprios medos. Medo de ficar só, medo da morte, medo da vida insegura. 
A agressividade de alguns momentos da nossa própria vida podem ser combatidos com amor e bom humor, além de coragem, não podia ser diferente. Umbandistas são fiéis corajosos e isto não há como negar. E é tanta coisa que se vê numa gira que às vezes nós médiuns nos esquecemos de nós mesmos, porque há infindáveis situações piores que as nossas próprias.
Prova disto estes dias li no Blog do Pai Maneco , no tópico o que você não entende na Umbanda , a seguinte pergunta, feita pela Marli que vou resumir aqui: os guias do médium não ajudam o próprio cavalo?
Vou postar a resposta do Pai Fernando na íntegra pois creio ser de utilidade pública para qualquer médium: "Marli, seria um absurdo um seguidor da Umbanda não poder pedir atendimento às entidades para ajudá-lo nos seus problemas pessoais, seja ele qual for. Nunca a Umbanda vai lhe dar dinheiro, poder ou vai lhe trazer benefícios jurídicos sem merecê-los, mas com toda certeza vai lhe trazer todas as oportunidades possíveis para que suas necessidades sejam supridas, desde que isso não fira alguma lei do carma ou possa prejudicar terceiros. Essas afirmações na pergunta, inclusive com relação ao seu relacionamento com o Caboclo, na minha ótica não têm fundamento. Talvez seja uma forma de expressão. Eu jamais iria entender a razão que as entidades atendam aos consulentes e nada façam por seus cavalos. Os médiuns têm suas dificuldades, sofrimentos e mesmo falta de dinheiro. Acho que talvez os dirigentes não estejam esclarecendo os médiuns como isso possa acontecer. Não sei se vc está passando algum problema difícil e que não esteja sendo atendida pelas entidades, mas vou sugerir que a todos que experimentem fazer um teste. Aos que estão com a vida sem rumo, desorganizada façam uma entrega para o Orixá Oxum, que é a que põe tudo em ordem. Feita essa entrega, se for falta de emprego faça um amalá para o Exu. Se for falta de dinheiro um amalá para o Preto Velho. Se for um problema familiar, que faça uma entrega aos ciganos. Assim por diante os médiuns podem sim pedir e serem atendidos pelos maravilhosos guias que nos usam como instrumento de trabalho. Não podemos esquecer jamais que eles são nossos amigos e só querem o nosso bem estar. Vamos levar isso para o lado da matéria. Seria o mesmo que nosso pai carnal não nos ajudasse. Só que ele tem que saber das nossas dificuldades, o mesmo acontecendo com os nossos pais espirituais. Eles têm que saber o que queremos e precisamos, aos menos para liberá-los na interferência no nosso livre arbítrio, como muito bem explicou varias vezes em nosso terreiro o Pai de Santo Beco de Oxossi. A todos desejo sucesso e a solução dos seus problemas. "
Além do proposto pelo Pai Fernando, gostaria que o observassem a tônica do conselho, que é algo que venho colocando aqui frequentemente. Entendimento e pés no chão. Somos todos educadores, cuidadores do próximo e de nós mesmos. Temos que ter em mente que nosso bem maior é a vida, assim como é dos que nos rodeiam. Com amor à vida temos a coragem necessária para enfrentar qualquer coisa e, com bom humor e discernimento, sempre é mais fácil. Se estamos num grupo é necessário pedir ajuda quando precisamos, porque se ajudamos o próximo com tanto amor, temos que pensar em nós mesmos para que fiquemos cada vez melhores em nossa função escolhida. Há uma grande magia aqui,pense nisso. Saravá!

Esta postagem de hoje é dedicada aos Cuidadores Online que fazem um trabalho fantástico pela educação do próximo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Contando Histórias

A profissão mais antiga do mundo é a de contador de histórias, inegavelmente. E tenho como comprovar: a primeira versão de um blog foram as pinturas rupestres. Quem sabe eu mesma não vivi naquela época, pintando minhas experiências pelas paredes das cavernas? Minha habilidade de desenhar é nula , mas tenho tentado passar as histórias que vivo aqui, desenhando-as da melhor forma pelas letras. Nós todos somos dependentes de boas histórias,na realidade.
Indignada esta semana com as histórias que se contam de heróis e bandidos em lugares trocados nos jornais, onde bombeiros são presos e bandidos são acolhidos, não tive como não pensar na frase de Jorge Amado, em que ele dizia que o Brasil é um país sério, apesar de surrealista.
Na busca por uma visão de dias melhores, vi uma postagem de minha amiga Paloma numa rede social, onde ela colocou esta foto aqui do seu neto Felipe. Ele havia acabado de acordar e foi ler a página de esportes, enquanto a avó deveria imprimir o time Antártica 2, que os dois haviam montado . Isso me aliviou o coração e me deu esperanças. Numa era em que a internet é tão presente, uma criança gostar de sentir o cheiro da tinta impressa num jornal é simplesmente um grande sinal.  Sinal de que a próxima geração de brasileiros ainda pode se habituar às letras e pode sim continuar contando histórias que formarão as próximas gerações.
A sabedoria dos mais velhos, a inocência e a alegria das crianças e a coragem dos adultos, formam não só a base da Umbanda como a base de toda família brasileira. Ou pelo menos deveria formar. A Paloma e seu neto Felipe têm se dedicado a produzir um campeonato mundial de futebol de bichos, com times bem variados, e assim, na brincadeira a família se une e passa suas principais idéias sobre a vida. É o tempo que compartilhamos juntos que nos fazem cada vez mais unidos. Quem sabe o Felipe não monte um blog com suas histórias? Quem sabe este não é um incentivo para você passar um tempo com melhor qualidade em família?
A vida familiar não é fácil , mas é tão necessária para o amadurecimento de uma nação que devemos sempre mantê-la em equilíbrio. Famílias se formam das mais diversas formas, seja por laços sanguíneos ou de ideais, e com este entendimento uso de uma frase de uma outra amiga da rede social , a Márcia: não há mais quem me faça baixar o cocar, porque no meu caso sei de onde vim e estou preparada para o que vier. Unidos nos protegemos, obtemos nosso equilíbrio e somos muito melhores individualmente, seja na sua própria família ou numa gira de Umbanda. É nesse aprendizado de amor e respeito que acontece a grande magia da fé, da caridade e do amor ao próximo. E são estes os elementos mágicos que usaremos para  nos fortalecer e aos que nos pedem apoio e consolo nas suas lutas diárias.
Esqueçam as manchetes  surreais por um momento. O Felipe é o herói da semana. A sua disposição em contar uma boa história com o apoio de sua avó, nos faz crer novamente que apesar de todo surrealismo da nação, a família ainda tem força e nós podemos sim ter um futuro de gente feliz, que gosta das boas histórias e trilha um caminho melhor. Só para constar, o Felipe é bisneto de Jorge Amado.

Agradeço à Cecília Amado a autorização da divulgação da foto do Felipe.



quarta-feira, 8 de junho de 2011

Corpo e Espírito

Eu avisei. Syrus passou o dia assistindo vídeos de sustos pelo Youtube. À noite , quando eu já estava quase dormindo veio a gritaria e o choro: Mamãe as caras que eu vi na internet estão se multiplicando em minha mente,  estou com medo dos meus pensamentos! Posso dormir com vocês? Mais calmo me explicava que não conseguia dominar seus pensamentos, que fugiram do seu controle. Não havia nada de sobrenatural ,além da própria mente dele. Pensei na hora: já pensou se cada vez que nossos pensamentos fugissem do controle a gente começasse a gritar? Seria muito mais fácil de se viver assim na realidade, pois saberíamos que o que está fora do controle é nossa mente e não nossa vida.
Não é só a vida espiritual que é misteriosa, nosso próprio corpo tem um mecanismo extraordinário. Há várias teorias, por exemplo, sobre o motivo pelo qual envelhecemos. Um deles me deixou pensativa: nossa renovação celular é constante e muito pequenas partes do corpo permanecem as mesmas num período máximo de 10 anos. Em um ano apenas conseguimos trocar quase que 90% de nossas células. As células vão se copiando como um filme,e no final somos quase como uma cópia pirata grosseira do que fomos na infância.O corpo humano é uma miniatura do que é a natureza fora dele.
A idéia de que somos regidos por uma energia específica de Deus é antiga, pois vem do início do Judaísmo, que falava que nosso espírito era guardado por um anjo específico. Na Umbanda cada membro é regido por uma energia , um Orixá Cósmico. A nossa mini-natureza interna contudo se assemelha em muito as energias que regem o todo.
No cérebro acontecem tempestades como as que vemos na natureza, com direito aos raios causados pelas sinapses dos neurônios e é ele que rege toda a movimentação do tempo em nossa vida, então o cérebro e todas as suas atribuições seriam guiados pela energia Yansã/ Xangô. Outro elemento importante é o sangue e sua fluência pelo nosso corpo, sendo bombeado pelo coração e nessa nossa natureza interna seria regido por Oxum.  A vida que se renova e se copia através das células estaria a cargo de Oxóssi, orixá que personifica a saúde corpórea. Os sais minerais desempenham funções vitais em nosso corpo como manter o equilíbrio de fluidos, controlar a contração muscular, carregar oxigênio para a musculatura e regular o metabolismo energético,esta função seria inevitavelmente de Ogum. Outro elemento muito importante, que determina quem somos e como somos ,são nossos hormônios e sua variação estaria inegavelmente correlata com Yemanjá. A relação do funcionamento de nosso corpo e sua ligação com nosso espírito seria feito, neste nosso universo particular, através de Oxalá.
Nós somos definitivamente um microcosmo e isso é brilhante. O nome de Deus na Umbanda é Zambi, e se Zambi rege o Universo temos que ter em conta que Ele está dentro de nós. É nossa obrigação manter nosso universo equilibrado, tendo em vista que temos um morador tão ilustre. Nossa ação neste mundo pode ser limitada, pois não conseguimos por vezes auxiliar a todos, nem tão pouco mudar o rumo das coisas que nos cercam.
Sozinhos não temos força que gostaríamos de ter, mas ao unirmos estes diferentes Universos, nossas naturezas tão semelhantes, e a centelha divina que há dentro de cada um, em equilíbrio, somos sim capazes de reverter situações em que a vida e a dignidade do ser humano estejam ameaçadas. Um povo unido pode sim fazer com que seus líderes apliquem recursos com mais objetividade contra a violência e à prevenção e combate às drogas.É necessária a união para que as políticas públicas de educação e incentivo às pesquisas sejam também prioridade.Enquanto não entendermos o poder que dispomos como seres humanos dotados de um espírito Divino nossa conta continuará sendo esta: 10-7=4.
Somos como velas acessas em frente ao altar do Divino. Que a sua luz se some a dos outros e que todos consigamos um caminho nessa nossa existência de mais comunhão e caridade.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Consciência

Urubu não se cria em ninho de pardal. O difícil é distinguir no meio da multidão quem é urubu e quem não é. Há muito o que aprender até conseguirmos enxergar as coisas como são e qual o caminho que elas podem tomar. Requer tempo, observação e conhecimento.
O Syrus é um doce, inteligente e lindo. Meu caçula. Pediram para que eu fosse falar com a orientadora. Chegando lá, ela me explica que o Syrus está com depressão. A professora de matemática nem fala muito com ele porque o coitado começa a chorar. Boas notas tem. Problema familiar nenhum, mas disse que quando fica sozinho em casa chora muito. Depois da conversa com a orientadora e encontrar com meu pequenino só tinha uma coisa para falar para ele: E o oscar de melhor interpretação dramática de 2011 vai para: Syrus! 
Primeiro: o Syrus nunca fica sozinho em casa, segundo a professora de matemática é a que dá mais lição (e ele é preguiçoso) e terceiro e mais importante: não importa a idade da pessoa, todas aprendem a manipular os que estão em volta para o seu próprio bem estar, é instintivo. Quando eu falei a frase para para ele sua reação foi rápida: começou a rir e agradeceu. Lógico que depois da descoberta ele parou. A orientadora se espantou por eu ter falado que ele estava manipulando todo mundo, menos a professora de geografia que não dava muita bola e ele não conseguia nada do que queria com ela.
A quinta série é difícil, tudo muda, mas estes pequenos seres têm um poder de adaptação tremendo.Como todos nós. Aliás o que nos distingue de todos os outros seres vivos neste planeta é nossa consciência, por incrível que isto possa parecer.Podemos analisar todos os dados do que nos cerca e em milésimos de segundos ter uma posição sobre o que estamos vendo ou vivenciando.
O homem conseguiu ir à Lua, mas não sabe quase nada sobre as regiões zonas  abissais,  regiões profundas dos leitos de nossos oceanos.Eu tenho uma opinião: quanto mais longe vai o olhar, menos foco você tem. O mundo espiritual é intrínseco à nossa própria essência. Não nos separamos dele, contudo pouco sabemos.
Um dos grandes mistérios é a incorporação, onde uma consciência , que é a do médium se alia à consciência da entidade. Inconsciente o médium não aprende nada, com duas consciências desligadas uma da outra, descoordenadas, as coisas se complicam um pouco. Se como seres humanos nossa condição primordial é a consciência então não é plausível que as incorporações sejam inconscientes, nem tão pouco descoordenadas.Pai Fernando sempre fala que há uma mistura como café com leite. 
Creio que é necessário sempre um bom exemplo e encontrei um no tocante à consciência. Karen Byrne, de 55 anos, norte americana sofria de epilepsia. Por complicações em uma operação resolveram cortar a ligação que havia entre o hemisfério esquerdo e direito de seu cérebro. Foi de fato curada da doença ,mas veja o que aconteceu: “Um certo dia em uma consulta médico me disse: ‘Karen, o que você está fazendo? Sua mão está te despindo’. Até ele dizer isso eu não tinha percebido que minha mão esquerda estava abrindo os botões da minha camisa”, diz. “Então eu comecei a abotoar a camisa novamente com a mão direita, mas assim que eu terminei, a mão esquerda começou a desabotoar de novo. Então o médico fez uma chamada de emergência para um outro médico e disse: ‘Mike, você precisa vir aqui imediatamente, temos um problema’.” Foi constatado que Karen Byrne havia saído da operação com uma mão esquerda que estava fora de controle. “Eu acendia um cigarro, colocava-o no cinzeiro e então minha mão esquerda jogava-o fora. Ela tirava coisas da minha bolsa sem que eu percebesse. Perdi muitas coisas até que eu percebesse o que estava acontecendo”, diz.
O problema de Byrne foi provocado por uma luta por poder dentro de sua cabeça. Um cérebro normal é formado por dois hemisférios que se comunicam entre si por meio do corpo caloso. O hemisfério esquerdo, que controla o braço e a perna direitos, tende a ser onde residem as habilidades linguísticas. O hemisfério direito, que controla o braço e a perna esquerdos, é mais responsável pela localização espacial e pelo reconhecimento de padrões.Normalmente o hemisfério esquerdo, mais analítico, é dominante e tem a palavra final nas ações que desempenhamos. A descoberta do domínio hemisférico tem sua raiz nos anos 1940, quando os cirurgiões decidiram começar a tratar a epilepsia com o corte do corpo caloso.
No início das incorporações os movimentos são desordenados. Há quase que uma "briga' interna, pela insegurança do médium iniciante. Com o tempo, o estudo, a observação e sem vergonha de sanar dúvidas com os dirigentes, desenvolvemos a habilidade de lidar com nossa mediunidade e percepções. Cada vez mais nos entregamos e há uma unidade maior entre a consciência do médium e a da entidade.
Se você leva sua mediunidade e seu trabalho no Terreiro a sério, sempre busque informações sobre os assuntos espirituais com quem é responsável pelo seu desenvolvimento e preste bastante atenção ao que acontece na gira. Evite sofrimentos infundados, porque como disse, antes na natureza é impossível um urubu passar desapercebido num ninho de pardais, mas entre nós é difícil e tolo tentar julgar pelas aparências as pessoas que nos cercam.