Há algum tempo atrás - mas nem tanto assim- era bem comum quando o leite azedava rapidamente numa casa, o dono do sítio ía aos vizinhos para ver se o mesmo fato havia ocorrido em seus lares. Se positivo era certo que o local estava com uma possessão. Na humanidade este fato é observado desde que se tornaram conhecidas as culturas egípcia, babilônica, assíria e judaica, onde atribuíam-se certas doenças e calamidades naturais à ação dos demônios. E para isto sempre existiram vários rituais de exorcismo - palavra do grego exorkismós, "ato de fazer jurar", pelo latim exorcismu.
Na Umbanda não existem demônios e não se crê no inferno. Ainda não cheguei a uma conclusão se isto é bom ou mal, então gostaria de refletir com você que lê agora alguns pontos importantes. A princípio a Umbanda é a celebração da vida, pois observa e interage com as forças naturais que regem nosso planeta. Todas as entidades representadas na religião tiveram uma relação grande com a Natureza: os índios em seu respeito à mata, os pretos velhos no conhecimento das ervas e manipulação de energias, os boiadeiros e marinheiros na observação e uso dos elementos naturais na própria sobrevivência, os ciganos na adequação da energia e transmutação da mesma devido ao fato de serem andarilhos, das crianças que conseguem enxergar e passar mais claramente a magia em cada elemento novo e por fim os exus/pombogiras guardiões das energias mais sutis por justamente terem adquirido o poder de manipulá-las.
O médium é a porta , ou melhor, a ponte que possibilita a travessia deste conhecimento até a pessoa que o necessita. Só. Em um atendimento de caridade ,feito com responsabilidade por um médium ciente, seguem-se alguns princípios básicos: o primeiro é o respeito ao livre arbítrio -nada de amarrações ou induções- ,o segundo é a primazia pelo equilíbrio, nunca fomentando situações que venham a fomentar mais desajustes. Numa brilhante frase de Carl Young que li estes dias visualizei todo um processo em nossa religião: "O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação." No caso específico da Umbanda três personalidades se transformam em um atendimento: a entidade, o médium e o consulente. Cada vez que se consegue equilibrar e elevar energias, há sem sombra de dúvida um crescimento e uma evolução conjunta, que beneficia não só o consulente ou ao médium, mas um pequeno microcosmo, como, por exemplo, a família dos dois.
O problema surge quando o médium desavisado, sem conhecimento das leis universais que regem toda e qualquer ação nesta terra, resolve que tem poderes ilimitados e que seu cérebro não tem qualquer outra função que não seja a de manipular em seu próprio proveito qualquer tipo de energia. Alguns umbandistas sofrem de um mal do qual as vezes não se dão conta: o ego super inflado. Então através desta doença, se acham vítimas de todos os outros umbandistas que têm 'inveja" de seus super poderes e vivem "desmanchando" o que fizeram de mal contra a santidade de sua mediunidade. Ou pior, induzem os seus próximos a erro, fazendo amarrações e trazendo o "amor" de volta em três dias. Estes são vítimas inexoráveis de sua própria ignorância, fato que os deixa disponíveis para possessões- pela lei que diz que os iguais se atraem. Neste ponto é que vem minha dúvida- se estas pessoas acreditassem no mal, será que não mudariam suas posturas? De fato , cada um é o que come e com o que alimenta os outros.
A Umbanda, creiam, está passando por um momento de crescimento e muitos estão reavaliando as suas próprias posturas. Todo crescimento envolve o caos, o que precede sempre o nascimento de uma estrela. São muitas as vertentes que nos orientam dentro da própria Umbanda para o caminho da real caridade e equilíbrio. Que Ogum sempre nos permita caminhar pelas estradas retas da verdadeira Umbanda e que Yansã transmute qualquer energia contrária. Axé a todos.
Indico o texto do meu irmão de coração Babalorisá Samir Castro ,que demonstra extrema coerência em seus dizeres sobre o Candomblé: