domingo, 22 de setembro de 2013

Mundo das Idéias

Menino mata os pais, pai mata filhos, mãe mata as filhas. É o que há no noticiário.E tudo isto quer dizer algo,
gritar, mas o quê? Podemos botar a culpa no Governo, nos partidos políticos, podemos nos unir em passeatas divertidas ou agressivas.Não perguntei em quem por a culpa, nem o que fazer, perguntei o que isto quer dizer.
Jesus ,ao final de sua gira nesta terra, resolveu se dar em sacrifício. Seu sangue eram suas idéias que se esparramaram. Antes dele Sócrates  - o filósofo- que dizia que todos,homens ,mulheres, escravos, podiam pensar sobre as questões importantes da vida com a mesma desenvoltura, "tocou pra subir" com um copo de cicuta. A morte dos dois foi porque eram demais para época em que viviam, precisavam ser eliminados.Podiam ter pedido perdão, podiam ter fugido, mas queriam mostrar que viviam até o fim o que acreditavam. A morte dos dois nos diz que podemos sim - e devemos- mudar, com o propósito da felicidade, energia que nos impulsiona a um caminhar menos dolorido.
Zélio criou a Umbanda, as entidades ensinaram a progredir nas noções de amor,caridade e fé e os umbandistas - ah os umbandistas - estes tem é criado confusão. Sei que não são todos, mas mesmo em menor número,atrapalham. Olhando para minhas contas , da guia de Yansã, fico pensando o que realmente querem. Gostaria que quem tivesse alguns anos de religião voltasse um pouquinho no tempo e lembrasse de suas primeiras giras. Lembra da insegurança, dos dias em que era só entre você e sua banda? Dias de namoro e juras de paixão eterna, até o momento que começou a pensar que sabia mais do que quem acabou de entrar,ou que começou a fazer parte de uma "patotinha" mais "inteligente" da gira.
Sim, estou bem rabugenta. Podíamos estar aprendendo - há muito ainda o que se descobrir- podíamos estar curando, benzendo,amando, mas não. Estamos aqui participando de uma tola corrida para ver quem tem o ogã melhor, quem tem o ponto riscado mais complexo, quem faz os textos mais prolixos. 
Imagino mesmo Zélio e o Caboclo das Sete Encruzilhadas dividindo um coité com chá de capim limão, para acalmar os nervos. Como fazer para que entendam e pratiquem o  que a Umbanda se propõe? Só há uma forma: se entregar a ela!
Sócrates e Jesus não deixaram uma linha escrita pelas próprias mãos. Imagino os dois pregando suas verdades numa gira em que todos tinham vez. Gosto de pensar nas perguntas de Sócrates para os que nem imaginavam que se podia observar a vida de outro ângulo. Gosto de pensar num Jesus cuja mãe usava da água do banho para curar leprosos. Gosto de pensar numa Umbanda de chão batido, de ervas recém colhidas, no cheiro do charuto e do cachimbo que curam, da pinga jogada no chão, da água do mar e da cachoeira passada na mão dos fiéis. Gosto de pensar na pessoa aflita que tem um milagre concretizado ao som dos atabaques.
Tem gira neste Brasil inteiro. Tem um terreiro numa cidade no interior da Bahia chamada Uauá, o nome deste ponto de oração é Templo de Umbanda Consolação dos Aflitos. Lá ninguém sabe que aqui tem terreiro tal com tantos metros quadrados, ou pai ou mãe de santo com tantos anos de estudos profundos. Não, lá ninguém tem tempo de se importar com isto. O importante lá é dar subsídios para que haja coragem e esperança no dia seguinte.
Os terreiros viraram orgãos políticos de servidores públicos. É uma comissão aqui pra ajudar não sei o que, comissão cultural para se apresentar não sei onde, tem terreiro que tem até comissão de ética. Gente, Umbanda é pra salvar e caridade não é pra divulgar. Um dia meu filho viu que meus caseiros tinham menos comida nos armários do que nós. Pegou feijão,trigo e arroz e levou para eles. É isso que é caridade. Viu que faltava e foi lá e fez. Não é porque ele é meu filho,mas porque é natural ser caridoso, só precisamos lembrar disto. 
Vou contar outra coisa e esta é íntima. Muito braba com algumas coisas que aconteciam num terreiro comecei a disparar indiretas que nem minha mãe Yansã. Cada linha um raio. Chegou do meu lado Pai Joaquim e com a doçura das suas palavras, olhou em meus olhos e disse: perdoe Andréa, não vale a pena isto. Chorei como choro agora ao escrever.Nos olhos de pai Joaquim estava a Umbanda que eu amo. Foi difícil para mim, mas perdoei a quem eu amava tanto e havia me magoado e assim, dois dias depois ele faleceu e levou junto um tanto do meu coração.
Somos todos humanos e erramos sim. Seja porque temos 5 giras de vida umbandista ou 5.000. Somos irremediavelmente todos iguais, embora passemos a vida achando que podemos nos distinguir numa multidão de bilhões de seres vivos. 
E se nós pedíssemos em uníssono pelas famílias,pedíssemos perdão pelos mal entendidos, se fizéssemos nossa caridade dentro e fora dos terreiros quietos, se não ouvíssemos e fizéssemos fofocas, nem nos metêssemos em brigas desnecessárias teríamos salvo todas estas pessoas de que falei no início do texto? Talvez sim.Porque o bem que se faz se propaga e vai muito além do terreiro, atinge pessoas que nem são de nossa religião. Porque o bem se propaga na luz de nosso entendimento.Ele existe já lá no mundo das idéias de Platão, basta trazermos para cá, bem dentro da nossa alma.