quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Erva Boa!

Tem planta que não vinga aqui no sítio. Você pode fazer de tudo,mas não vão adiante. Louro, alecrim, café e arruda são algumas delas. Não sei exatamente o porquê, mas já tentamos de tudo. Em compensação pimenta ,boldo, hortelã, pitangueira e carqueja é só piscar que nascem aos montes. A natureza é cheia de mistérios, que os que são da terra os resolvem rapidamente.
Na Umbanda, que trata da manipulação das energias naturais, não há como negar a grande força e sabedoria dos pretos. A palavra certa, o conselho certeiro, a manipulação rápida da energia são fatos concretos que observamos numa primeira impressão.Em nossas mentes , como falei no post anterior, associamos as pretas a doceiras, mas há mais uma característica unida à imagem delas: as benzedeiras. Por sua vez, se formos pensar nas benzedeiras a erva que é indissociável é a arruda.
Poucos sabem ,mas a Arruda é originária da Ásia. Na Grécia antiga, ela era usada para tratar diversas enfermidades, mas seu ponto forte era mesmo contra as forças do mal. As mulheres romanas costumavam andar pelas ruas sempre carregando um ramo de arruda na mão, pois diziam que era para se defenderem contra doenças contagiosas mas, principalmente, para afastar todos os males que iam além do corpo físico.William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como sendo "a erva sagrada dos domingos". Dizem que ela passou a ser chamada assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-se fazer um preparado à base de vinho e arruda que era ingerido pelos "possessos" antes de serem exorcizados pelos padres.No século XVI deu origem a uma estória curiosa: quando morriam em Londres 7.000 pessoas por semana com a peste, e as casas atingidas eram marcadas com uma cruz vermelha, alguns ladrões não se incomodavam e entravam para roubar e não eram atingidos pela peste. O motivo: um famoso vinagre, dos quais um dos principais componentes é a arruda, num galão de vinagre de vinho junto com a sálvia, losna, menta, alecrim e lavanda, temperadas com alho, cânfora, noz moscada, cravo e canela, constituindo um poderoso anti-séptico. Essa mistura ficou conhecida como vinagre dos quatro ladrões. Já Michelangelo e Leonardo da Vinci, afirmaram que foi graças aos poderes metafísicos da arruda que ambos tiveram sensíveis melhoras em seus trabalhos de criatividade.
No Brasil pós-escravidão a Arruda era vendida nas ruas pelas ex-escravas, embora antes já o fizessem como mostra a gravura que postei aqui de Debret. No Boletim da Comissão Catarinense de Folclore, num texto de Carlos da Costa Pereira encontramos o seguinte: "Para afugentar os sortilégios, as negras costumavam trazê-la "nas pregas dos turbantes, nos cabelos, atrás da orelha e mesmo nas ventas", e as brancas usavam-na em geral escondida no seio". Acrescenta que quando as negras, vendedoras de frutas, encontravam uma concorrente tida por inimiga, costumavam exclamar: 'Cruz, Ave Maria, arruda', colocando subitamente os dois dedos index sobre a boca", e para se acautelarem "de um perigo iminente, elas diziam: 'toma arruda, ela corrige tudo'". Nas Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida , deparam-se-nos duas referências ao uso da arruda na época em que se situam as cenas do romance. A primeira, quando o autor descreve o "traje habitual" da comadre, que "era como o de todas as mulheres da sua condição e esfera, uma saia lila preta, que se vestia sobre um vestido qualquer, um lenço branco muito teso e engomado ao pescoço, outro na cabeça, um rosário pendurado no cós da saia, um raminho de arruda atrás da orelha, tudo isto coberto por uma clássica mantilha, junto à renda da qual se pregava uma figa de ouro ou de osso". E a outra, quando narra os preparativos feitos para o momento em que a Chiquinha daria à luz, sendo improvisado "um oratório com uma toalha, um copo com arruda e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição..."A arruda também entrou na poesia popular brasileira, tendo Carlos Góis  registrado as seguintes quadras — colhidas em Minas Gerais, a primeira, e no Ceará, a segunda — em que se fazem alusão a essa planta:
                                                                                                                    Arruda tem vinte folhas,
                                      No meio seu arrodeio;
                                      Trata de mim que sou teu,
                                      Deixa de amores alheios.
                                      Arruda também se muda
                                      Do sertão para o deserto
                                      Também se ama de longe
                               Quem não pode amar de perto.

Aliás, estes versos atestam não só a popularidade como a adaptabilidade a regiões indiscriminadas, da planta que, pelas suas pretensas virtudes, os portugueses trouxeram para os seus domínios neste lado do Atlântico".


Arruda serve para quase tudo. No meu entender a mistura da energia de qualquer erva em especial com a linha dos Pretos, que fundamenta a Umbanda, potencializa não só a energia que está sendo manipulada, mas nos envolve de forma carinhosa  na sabedoria e no alento da certeza de crescimento. Não somos nós que ajudamos os pretos e pretas a andarem no terreiro, são eles que nos calçam os pés na bondade e no amor, na alegria de viver, para que nossos pés possam pisar firmes em direção a verdadeira caridade - esta sim o grande mistério da humildade destas almas. 


Neste texto me baseei no estudo feito na Faculdade Integrada Espírita, aqui de Curitiba, por Ana Lúcia Trinquinato Toriani e Lourenço de Oliveira

17 comentários:

  1. Amei essa "sequência" sobre os pretos e pretas, arrudas e afins.
    Por coincidência, comprei hoje cedo uma "arrudona". "Pra proteger" o baby. Passei no moço das flores, senti o cheirinho característico da erva e disse: "Quero uma!". Intuição é sempre intuição, né?
    Beijos

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  2. Concordo com o que a Dany escreveu acima... Texto muito bem amarrado... e com a sensibilidade de sempre! É sempre bom ler você e aprender com você! Um beijo.

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  3. Olha, eu tenho mão boa para plantar.
    Dificilmente o que enfio na terra deixa de germinar e crescer, mas últimamente a arruda anda me dando um baile; tal qual a vida.

    Esse ano, só está faltando acertar na sena e perder o bilhete.

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  4. Curto ervas,mas quem plantava é cultivava era minha vó.Glaucio Elias

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  5. Arruda também espanta moscas. Sempre que acho um ramo bonito no supermercado trago pra casa e coloco num vaso. Todo dia peço licença e arranco um raminho pra colocar atrás da orelha. Tanto é costume aqui em casa que meu filho, ainda pequeno, já faz o mesmo, pega o raminho dele e coloca na orelha. Espanta a uruca, e com a ziquizira afastada as coisas boas vêm naturalmente. Sem dúvidas essa é mesmo erva da boa! Valeu Andréa, aprendi coisas muito legais sobre a arruda lendo seu post. Saber não ocupa espaço e quando aprendemos sobre o que gostamos é divertido. Sobre plantar louro, alecrim e arruda, experimente plantar primeiro num vaso grande, protegido do tempo, se na minha casa pega na sua também deve pegar... Saravá amiga!

    Axé / Ronald

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  6. Andrea,
    As ervas são para mim, preciosidades.
    Mas com o seu maravilhoso texto, conheci
    mais e mais os beneficios da arruda.Bárbaro!!!!

    Um abraço com aroma de ervas: Liduina.

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  7. Bacana Andréa...
    Cristiano

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  8. Olá amiga! A arruda realmente é uma erva muito poderosa! Me pego nela quando preciso tirar as energias negativas que me cercam! Acho que o que mais me encanta na Umbanda é essa manipulação das ervas, gerando energias positivas e curando nossos males espirituais. Um abraço. Axé!!

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  9. ADOREI COMO SEMPRE E NÃO PODERIA SER DIFERENTE, VOCE SEMPRE FAZ ACONTECER NAS TUAS POSTAGENS!!!!!!
    É UMA HONRA SEGUI-LA!!!!
    UM XERINHO (COM X SEMPRE,KKKK) DE DAMA DA NOITE PARA ATIÇAR A PAIXÃO!!!!!!!
    TEM AI NO TEU PARAÍSO? BJIM E AXÉ DESSA AQUI QUE TAMBÉM É UMA PEQUENA REZADEIRA.

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  10. Como sempre o seu texto tem aquela coisa gostosa de história de infância, contada pelo avós, trazendo a sabedoria e a sensibilidade dos antigos. Amo os preto velhos e concordo com você quando diz que:"são eles que nos calçam os pés na bondade e no amor, na alegria de viver, para que nossos pés possam pisar firmes em direção a verdadeira caridade - esta sim o grande mistério da humildade destas almas. " Obrigada por mais um texto lindo amiga.

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  11. Adoro amo arruda.
    Aqui no Japão eu encontrei, comprei duas mudas e estou admirando elas crescerem.
    Parabéns pelo post
    bjsssssssss

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  12. É sempre bom ler seus textos. Você tem o dom para escrever e trazer conhecimento e isso nos incentiva a leitura.
    Tudo o que os pais velhos ensinam tem fundamento e magia. Então vai aqui uma receita de Maria Conga para tirar a urucubaca: arruda, guiné e folha de café, em forma de banho, quebram qualquer encanto para o mau. Aqui em Goiânia, há duas espécies de arruda a de folha grande é macho, a de folha miúda é fêmea. Indicadas para banho com uso correto, das folhas, para os filhos de sexos diferente.
    Para plantar e crescer, sem morrer com o olho gordo, enterrem no fundo do buraco ou do vaso uma (miniatura de aço) espada de Ogum, um raio de Iansã e um machado de Xangô. Eles cortam o olho grande antes de chegar à raiz da planta.
    Mirongas de Maria Conga para conservar viva a erva da boa.
    Beijos Andréa. Saudades de você amada irmã!

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  13. Oi, minha linda! Engraçado... Essa semana passei vários dias pensando na importância das ervas, tanto na Umbanda quanto no Candomblé. E como o conhecimento das plantas vem dos nossos antepassados e do popular. Uma energia tão importante e ura que atualmente é desprezada por muitas pessoas do mundo moderno.

    Salvemos nós a sabedoria de nossas avós, tias, pretos-velhos, caboclos!

    Abraços!

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  14. Também adoro cultivar plantas e embora tenha pouco espaço as flores que planto em vasos crescem muito bem. Também tenho erva-doce e alecrim em vasos. Todo mundo diz que as plantas crescem melhor quando cuido delas. E olha que nada sei de jardinagem.

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  15. Que coisa feliz achar por acaso teu blog e ese texto lindo!

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