Os fatos narrados a seguir são reais, presenciados por esta escriba e podem chocar os incautos. Inicia-se o ritual da Umbanda em minha gira. Saudamos os orixás e, uma das 150 médiuns ao se levantar logo vai ao chão de novo. Era Mariazinha de Oxum, cujo nome é fictício aqui, mas na realidade está ciente do que eu vou descrever a seguir.Todos em seus lugares , ao lado de Mariazinha e bem assustados. Meu Deus Mariazinha foi pega por um obsessor! Dizia um , enquanto outro complementava: é, hoje a gira será pesada! Com as mãos estendidas no chão Mariazinha se contorce um pouco para esquerda e ali, os temerosos médiuns falam: é demanda! Será? É sim! Mas coitada, Mariazinha é tão boa gente ,sempre solícita! Não, não é contra ela é contra o pai de santo! Meu Divino Oxalá, ele também não merece isso!Logo,logo mais médiuns vão cair e sabe do que mais? Eu creio que é contra o Terreiro! Enquanto isto acontecia, sobre o olhar dos comentaristas espirituais, os demais da corrente estavam voltados para o congá, na parte do ritual que pede a proteção dos anjos da guarda.
Maravilhosa natureza humana! Mariazinha de Oxum rapidamente se levantou, arrumou os cabelos, ajeitou a saia e cochichando falou aos colegas: perdi minha unha postiça do pé- coisa que eu, Andréa jamais pensei que existisse-, se acharem me devolvam!
Assim como o medo a imaginação é um sistema de defesa do ser humano, porém, também como o medo sem controle, a imaginação sem fim é causa de muita dor de cabeça. Nos sistemas lineares, como por exemplo quando você coloca arroz para cozinhar, quando você sabe o estado atual é possível dizer exatamente qual será o próximo estado, no caso arroz cozido. Mas em sistemas não-lineares, é muito difícil prever o que irá acontecer no momento seguinte, mesmo conhecendo o presente – justamente porque ele não é linear.
Certa vez uma menina veio desesperada pedir para "desfazer" seu pedido anterior - que era o de engravidar. A vida tinha tomado rumo diferente daquele imaginado, então neste momento não seria mais plausível uma gravidez tranquila. Exu, conhecedor dos caminhos tortuosos da mente humana, explica que detentores que somos do livre arbítrio, podemos sim deixar de querer algo, num momento em que a vida pede outras atitudes. Faz parte de nosso desenvolvimento espiritual.
Nossa mente é um cavalo selvagem. Passamos a vida tentando domesticá-la, mas quando menos esperamos nos seguramos em sua crina e lá vamos nós correndo sem rumo, até encontrarmos galhos que nos façam cair da montaria. Cavalo quando come milho demais "esquenta" o sangue e fica mais ativo. Cuidado com o que você vem alimentando seu cérebro.
Tenho uma amiga que trabalhou no Consulado do Brasil na Alemanha. Pessoa de alto nível intelectual. Quando fazia palestras se cercava de livros e os devorava, em busca de mais elementos que abrilhantassem suas apresentações. Nunca ficava satisfeita com seus resultados. Um dia mudou de tática, porque já contava com muito conhecimento.Resolveu que para chegar a um bom resultado tinha que acalmar seus pensamentos. Retomou seu conhecimento em crochê. Passava duas a três horas concentrada na linha e na agulha, tirava o foco da palestra e ao final, com a mente vazia, conseguia planejar melhor o que iria falar sobre as estruturas econômicas da Europa.
"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela." Já dizia Albert Einstein, mas quem consegue ficar em silêncio sem pensar em nada?
Então aconselho que em momentos em que você está muito preocupado com coisas que realmente não pode resolver /entender se distraia com outras coisas.
E há um brilhante psiquiatra brasileiro chamado Daniel Martins de Barros que fala o seguinte sobre nossa mente: "O cérebro é um sistema complexo, já que nossos 100 bilhões de neurônios geram 100 trilhões de sinapses, estima-se. São muitas variáveis independentes (os neurônios), mas conectadas (as sinapses), produzindo um sistema não-linear que influencia a si mesmo de diversas maneiras. A mente, ou a consciência, pode então ser entendida como o resultado que emerge desse sistema. Ela pode, sim, ter uma causa física, mas ao se configurar como um sistema caótico, torna-se imprevisível e aparentemente aleatória, onde modificações imperceptíveis num momento podem levar a transformações radicas em outro. Tudo isso confere a ela sua característica essencial de imaterialidade."
Veja que na Umbanda ocorre o mesmo: uma pensamento errado, quase imperceptível, pode influenciar todo um grupo, gerando um momento caótico transformando o que era pra ser um culto tranquilo, em que você receberia um axé maravilhoso, em uma fonte de problemas. Se seu vizinho de corrente, no seu entender está passando mal, chame um responsável pela organização da gira e não tire conclusões erradas. Filhas de Oxum evitem as unhas postiças.
Aconselho uma leitura mais direcionada a esta situação, escrita por quem entende melhor do que eu:
Ótimo texto...o problema das pessoas de modo geral (nas quais me incluo) é que racionalizamos muito as coisas e rapidamente, e esquecemos de sentir os outros e a nós mesmos, as vezes tudo que precisamos é ouvir mais, falar menos e e seguir nosso coração como espada e mente como escudo...difícil mas necessário nesse aprendizado..mas são apenas considerações levando a experiência de vida como base...desde já peço desculpas caso equivoco-me...mas somos todos humanos...
ResponderExcluirIdentifiquei-me com o texto pois sofro por antecipação, ou seja a coisa nem aconteceu e eu já to pensando, imaginando mil e uma coisas para falar, para reagir e no fim acabo falando coisas que nem planejei, a situação se desenrola, tudo acaba bem e eu sofri a toa, hahaha e acho que o seu texto se encaixa bem nessa situação!
ResponderExcluirExcelente postagem, Andréa!
Ri MUITO com essa frase: "Filhas de Oxum evitem as unhas postiças".
A mente humana é realmente incrível... principalmente para pensar coisas ruins. Como nos precipitamos e na maioria das vezes, pensamos que aquela situação é ruim, nunca conseguimos pensar que seja algo bom, ou não pensar nada e deixar a situação acontecer para depois pensarmos algo a respeito. :P
Andreia, minha amiga...hahaha.Morri de rir imaginando a situação e a cara desconfiada da Mariazinha.Já vi cena semelhante com unhas postiças.realmente elas são "um perigo"rsrs.Nossa mente é cheinha de Pré isso..pré aquilo e sofremos por antecipação,julgamos sem conhecer e conceituamos sem poder.Tudo errado,mas humano.Ouvi uma vez uma história também que uma mãe manda que os filhos deixassem os problemas dependurados numa árvore de fora da casa e só pegassem quando fossem sair para resolver.Acho que é por aí...de nada adianta uma ansiedade,um stress por coisas que não podemos resolver no momento.Penso ainda que isso requer um controle imenso e um treino.Treinar a mente..dificil mas não impossível..beijos
ResponderExcluir"Cavalo quando come milho demais "esquenta" o sangue e fica mais ativo. Cuidado com o que você vem alimentando seu cérebro." Essa frase diz tudo. Você citou Daniel Martins de Barros e me veio à mente um outro psiquiatra, Augueto Cury, maravilhoso, que diz que pensar demais compromete a saúde psíquica. Acalmar os ânimos, amansar o cavalo. Que belo texto. Estupendo.
ResponderExcluirQuerida Andrea
ResponderExcluirPara que possamos visualizar a Luz no Fim do Túnel é necessário observar com os olhos da Alma para não enveredar pelos caminhos tortuosos do pensamento.
Marisa Cruz
Amada, ri muito com o começo do seu texto, fiquei imaginando a cara de todos, os cohicos temerosos e a Mariazinha sem saber de nada tentanto encontrar a sua unha....hilário. Somos seres engraçados por natureza, sempre digo que o riso é o melhor remédio do mundo, gosto de uma passagem do livro Prisioneiro de Askaban (Harry Potter) em que o prof. ensina aos alunos o feiticço Ridiculus. Este feitiço consiste basicamente em tranformar algo assustador em uma coisa ridicula e consequentemente tirar todo o seu peso. Essa é uma "brincadeira" de criança que deveriamos exercitar constantemente. Quando nos tornamos "adultos", incorporamos a idéia de que devemos ser sérios ede que as situações tem um peso a ser carregado, o peso da responsabilidade e se a questão é espiritual ai então a imaginação corre solta, inventamos deuses,magias e toda sorte de coisas milaborantes, esquecendo-nos de que o plano espiritual é simples, é tão somente energia de amor e que nós encarnados é que fantasiamos o resto. Adorei o texto, obrgada pelas gargalhadas e pela reflexão. Bjkas!!!!
ResponderExcluirNossa amei tudo, o texto e os posts!
ResponderExcluirNão sou espírita praticante, mas o espírito esta em mim. Presenciei algo semelhante em 2008 quando fui para Africa com uma tia minha (Iyá Iyá, de um terreiro na Bahia). Era um tipo de reunião dos chefes de terreiro (Algo como linhagem Ifa).
ResponderExcluirForam duas semanas de eventos (Cultos). Em um desses eventos aconteceu a mesma coisa descrita por você. Haviam muitos médiuns, incorporando, dançando e fazendo seus rituais. Quando um determinado grupo deles começou a cair, como se tivessem tendo um ataque epilético. Caiam um a um no chão de terra batida.
A diferença entre o evento na Africa e o que descreveu, é que não houve pânico, apenas um repentino silêncio. O chefe supremo pronunciou uma palavra, uma roda de médiuns fechou uma corrente envolta dos que estavam caídos. Em seguida alguns médiuns dessa corrente começaram a cair. Logo o chefe pronunciou outra palavra e Os chefes de terreiro formaram um outro círculo, como se fossem uma barreira protetora dos médiuns que estavam na corrente central.
O Chefe supremo se levantou e começou um ritual. O ritual até a recuperação dos médiuns caídos durou aproximadamente 1 Hora.
O que minha tia disse. Que o terreiro fora atacado por uma entidade muito poderosa, e que a carga de energia de um único espírito derrubou todos aqueles médiuns.
Foi ai que perguntei. - Porque o terreiro não foi forte o suficiente para impedir esse ataque ?. Ela respondeu, em uma guerra cada exército utiliza de sua estratégia, e o importante no final é vencer a batalha.
O medo e a falta de fé muitas vezes nos fazem perder pequenas batalhas. Porque fazemos de nossos medos algo gigantesco.
Em relação a Mariazinha irradiada por Oxum, foi simplesmente lindo o episódio. "pra que se preocupar com essa demandazinha, o mais importante é a beleza de Oxum" .
Pra que desespero, medo, confusão e terror. Vamos nos concetrar em algo. Porque não em uma unha postiça ?
Os computadores imitam a mente humana. quando entram em colapso, nada melhor que um restart.
Não pensar em nada só é possível em altos graus de evolução. É o verdadeiro controle da mente, é a vitória sobre nossos demônios interiores. É a paz verdadeira.
Parabéns pelo texto
MarquesK
Só o Rock Alivia
Olha, com certeza não achei nada linear a preocupação com a unha postiça na gira, principalmente por ser do pé. Assim, é com muita satisfação que analiso seu texto, como faço com os humorísticos a que me dediquei tempos atrás: busquei o inesperado e me surpreendi com o resultado. Parabéns mais uma vez.
ResponderExcluirRobson Santiago
Olá Andréa,
ResponderExcluirestou me estreando aqui no seu blog.
Vim conhecer por intermédio duma amiga que recomendou o texto do Indio.
Mas gostei tanto da forma como você escreve com sentimento e profundidade que continuei lendo os artigos em baixo.
Nesse aqui da unha do pé postiça, ri imenso. Um momento extraordinário de humor inteligente.
Vou levar seu link comigo. Deixo o convite para vc me visitar. Vamos trocar energia boa?
Paz e bem.
Rute
(publicarparapartilhar.blogspot.com)