domingo, 1 de maio de 2011

O Homem do Saco

Gravura de Gustav Doré
Vá fazendo isso que o homem do saco já te leva... Nunca vi tal homem ,mas tinha medo. O simples fato de "levar pra sempre" já era o suficiente pra deixar qualquer criança quieta. Hoje não. Tenho que falar que o homem do saco faz comércio ilegal de orgãos humanos para meus filhos entenderem. Aqui no mato tem mais coisas que assustam as crianças que o homem do saco, e os pais se aproveitam de todas elas.
Tinha uma outra figura que metia medo na minha infância: uma mulher que costurava e usava aquelas faixas roxas que ornamentavam as coroas de flores dos cemitérios. Curitiba de antigamente me dava medo mesmo.Como tudo é entendimento, os medos se foram e ficou o respeito.
Um dia, um homem chamado  "homem da rosa" entrou numa barbearia onde tinha levado meu filho para cortar o cabelo, me olhou e falou: vá lá resolver o problema da escola do piá ,senão ele não vai estudar mais.Esse homem, reza a lenda, era um engenheiro que havia perdido a família num acidente de carro,e, desde então,perambulava pelas ruas com uma flor para levar ao cemitério. Bom, quanto à escola do meu filho, realmente tive que ir até lá resolver uma questão de mensalidade. Afortunadamente, acabei trabalhando lá por cinco anos.
Tenho muito respeito por este povo, moradores de rua. Lógico que hoje a incidência de drogas como o crack está fazendo com que esta população aumente e eles, estes usuários,no meu entender não tem a ver com o verdadeiro povo da rua.As cracolândias que hoje se encontram até nas menores cidades do país são um grave problema brasileiro. Tudo que se descreveu até hoje sobre os planos espirituais onde vivem os drogados bate exatamente com que temos visto no plano material.
Na Umbanda há uma linha específica do povo da rua. Apesar de virem com aparência de mendigos, têm uma luz espiritual muito grande, e quando são solicitados trazem a humildade e o calor espiritual para limpar o ambiente.Hoje no Brasil quando se fala em povo da rua ,nos termos que estou falando, é comum lembrar do poeta Gentileza, cujo nome real era José Datrino. Mais recentemente o morador de rua encontrou uma criança numa lixeira, jogada pela própria mãe.São tantas histórias que as vezes nem sabemos.
Hoje me emocionei ao ler uma crônica/conto/reportagem do meu escritor predileto:  o jornalista curitibano José Carlos Fernandes. Com a maestria que lhe é peculiar, em seu artigo apresenta ao público o trabalho desenvolvido pela artista Cíntia Glock . Ele começa o texto assim: "Eu, você – a maioria – não saberíamos o que fazer diante de um corpo estendido no chão. A atriz Cíntia Glock também não. Até se ver diante de um esfaqueado recém-alçado à vida eterna, a dois palmos da ponta de sua bota, manchando de sangue as ruas de Colombo. Foi há sete anos. Ganhou sete vidas desde aquele dia." A matéria completa está disponível no link ao final deste texto. Parabéns Zeca por falar desta pessoa que batalha pelo bem, porque estas palavras encontram reflexo em outros corações e talvez despertam mais espíritos auxiliadores da humanidade. Quanto à Cíntia, não sei qual sua religião,mas sei que já deve ter um monte de auxiliares espirituais ajudando-a nesta sua caminhada.
Dignidade. É isto que esta moça doa sem reservas. Quem se dispõe a fazer isto,nos dias atuais? Quem é capaz de atravessar o muro de seus próprios sentimentos e ver que o do próximo pode ser pior? Será que é necessário ajudar só em casos em que a mídia esteja cobrindo? Lembro da minha mãe, que toda segunda entregava jornais à uma carrinheira que passava lá na frente de casa. O filho dela só ganhava algo se mostrasse os cadernos com lição bonita e bem feitinha. Aprendi com minha mãe a não ter preconceitos, a ver gente como ela é: igualzinha a mim.
Na Umbanda eu fui além. Aprendi que todos os que sofreram preconceitos, no passado e no presente, hoje estão em espírito auxiliando os mais necessitados. Tem dado muito certo. Cada vez mais há mais gente nos Terreiros e sinceramente espero que cada um que encontrou a solução neles tenha passado a considerar melhor a vida neste plano e a respeitá-la, em todas as suas formas. Como disse meu amigo Ronald Stresser Jr. em um depoimento no Blog do Pai Maneco, quando estas entidades da linha dos Mendigos vem ,seu choro e gemidos não são de dor e sofrimento,mas sim de sua proximidade com Oxalá. E como diz Pai Fernando neste mesmo tópico do blog: "Conversar com eles é um lenitivo para nossa alma. São mansos, calmos e carinhosos". 
Escrevi tudo isto apenas para chegar aqui e poder perguntar a você: quem mendiga o quê nesta vida?

Acesse e leia a matéria do José Carlos Fernandes: 
http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1120785&tit=Nos-que-aqui-estamos-por-vos-esperamos

Blog do Pai Maneco- Linha dos Mendigos
http://paimaneco.blogspot.com/2009/05/linha-dos-mendigos.html

13 comentários:

  1. Falou e disse irmã amada, pois como ensina nosso amado São Francisco de Assis: "É dando que se recebe". Valeu a menção, assino embaixo! Saravá queridona! Epa-Hê-Oyá!

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  2. Querida...quem mendiga o que nesta vida?Olha tenho visto e convivido com tantas maneiras de mendicância que nem sei mais.Percebo hoje mendigar vai muito além da falta.Tem a ver com carência, com necessidade de proteção.Vem do nosso lado animal mesmo...sobrevivência que infelizmente vem sendo testada mais a cada dia aqui nesta Terra.Espero que nós possamos o quanto antes definir e distinguir o que precisamos realmente e parar de discriminar as diferenças.
    beijos

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  3. A caridade é um dom, as pessoas que moram na rua geralmente tem esse dom, ou aprendem a te-lo, porque sabem a importância de ajudar e de receber ajuda. Mas muitas das pessoas que moram em casas, têm seus carros, empregos e vida 'normal', são hipócritas e preconceituosas. Hoje, assistindo um filme que passou na televisão, escutei uma frase muito interessante: 'O que torna sua vida mais valiosa que a dele?'.

    Muito bom o texto, beijo.

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  4. Disse tudo !
    Somos todos irmãos aos olhos do nosso Pai maior e devemos tratar o nosso próximo, por mais "diferente" que ele seja como se fosse alguém da nossa familia, um filho.. enfim.
    Ninguém é melhor que ninguém, e a Umbanda me ensinou isso. Se parte das pessoas do mundo tivesse o mesmo pensamento, não haveriam tantas notícias ruins no mundo. Parabéns, um graaaande beijo e muito axé !

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  5. Axé pomboquinha de luz ! Muita verdade em sua palavra ! Beijo no coração.

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  6. Incrível como seus textos vem sempre a calhar com alguma coisa que eu faça ou que aconteça comigo. Hoje estava lendo um relato muito bonito que recebi por email, chamado: o Pão de Cristo, que falava de um rapaz que estava desempregado, não conseguia arrumar um emprego e se viu na necessidade de mendigar para poder comer. Ele estava na porta de um clube social quando um casal passou por ele, que pediu algumas moedas para poder comer. O homem disse que não tinha trocado, a mulher virou para o marido e disse: "não podemos entrar e comer uma comida farta que não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora!" O marido respondeu: "Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que quer dinheiro para beber!" a mulher retrucou: "Tenho uns trocados comigo. Vou dar-lhe alguma coisa!" O mendigo ouviu a conversa e ficou envergonhado, a mulher foi até ele e com uma voz amável falou: "Aqui tens algumas moedas. Consiga algo de comer, ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança. Em algum lugar existe um trabalho para você. Espero que encontre." O mendigo respondeu: "Obrigado, senhora. Acabo de sentir-me melhor e capaz de começar de
    novo. A senhora me ajudou a recobrar o ânimo! Jamais esquecerei sua gentileza.". "Você estará comendo o Pão de Cristo! Partilhe-o" - disse ela com um largo sorriso dirigido mais a um homem que a um mendigo. Ele foi comer e partilhou aquelas moedas com um senhor que também sentia fome, dando-lhe uma refeição. Esse senhor carregava um pão que ia dar a um menino, que também não tinha nada para comer e sentia fome. O rapaz e o senhor foram levar o pão ao menino que o comeu com alegria. De repente o menino se deteve e chamou um cachorrinho, pequeno e assustado. O menino falou: "Tome cachorrinho. Te dou a metade. O Pão de Cristo alcançará tambem você." O menino tinha mudado de semblante pôs-se de pé e começou a vender o jornal com alegria. O rapaz que se tornara mendigo, se despediu do senhor, dizendo que o que compartilharam ali era o Pão de Cristo e que o futuro lhes reservava algo de bom. O rapaz reparou no cachorrinho que lhe farejava a perna, notou que tinha uma coleira com endereço. Levou-o até a casa. O dono do cachorro ficou muito feliz e disse ao rapaz que no jornal tinha oferecido uma recompensa para quem achasse o cachorro. O rapaz que se tornara mendigo, recusou o dinheiro pois só queria fazer o bem ao cachorrinho. O dono respondeu: "Pegue-o! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto! Você precisa de um emprego? Venha ao meu escritório amanhã. Faz-me muita falta uma pessoa íntegra como você." E o email terminou com estes dizeres: "Parte o pão da vida, não canseis de dar, mas não dês as sobras, dai com o coração mesmo que doa, que o Senhor nos conceda a graça de tomar nossa cruz e segui-Lo mesmo que doa!" Senti a necessidade de postar esse texto aqui, porque pode servir para alguém como serviu para mim, pode acrescentar algo à alguém como acrescentou a mim.

    Seu texto maravilhoso e muito reflexivo nos mostra que somos iguais, que devemos nos tratar igualmente, assim como Oxalá nos ensinou: "Amai o próximo como a ti mesmo". O povo da rua é tão digno quanto nós, digno de respeito e atenção.


    Eu e meus comentários longos, rsrs.
    Paro aqui, até o próximo comentário.

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  7. Edificante o texto. Saravá a todas as linhas de Umbanda. Saravá a linha dos Mendigos.

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  8. Olá Andréa,

    Como alguém já comentou, a mendicância hoje, vai muito além do material...pensei nas pessoas que se suicidam, por exemplo. Na minha cabeça, essas pessoas são tomadas por uma carência extrema e insuportável (claro que excetuando-se os casos de patologia). Particularmente, fico sempre ligada em mim, sabe? Já me percebi carente demais e sempre em busca de cantos, de isolamento...mas, aprendi a controlar esses sentimentos e não dar vazão a essas tendências.
    Tenho lido sobre a Umbanda ultimamente e gostaria mesmo de conhecer alguma casa aqui em Salvador. Percebo um identificação forte com os conceitos e práticas.
    Um forte abraço e mais uma vez obrigada pelo bem que, talvez, você nem saiba que está ME fazendo. *..*
    @pereiragleide

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  9. Amadíssima irmã, seus textos maravilhosos são inspiradores e com certeza divinamente inspirados. Hoje estava lendo sobre a morte de Bin Laden e as comemorações nos Estados Unidos e fiquei me questionando sobre a barbaridade de tudo isto. Um ato de extrema violência que gerou tantas mortes realmente é horrível, mas será que comemorar a morte de alguém também não é? Sou um espírito em evolução neste planeta, como todo mudo aqui, talvez se tivesse perdido algum entre querido naquele atentando, tbem me sentiria da mesma forma, não se de verdade a resposta....mas ainda assim me assusta ver alguém comemorar a morte. Estamos ficando tão frios, tão insensíveis que isto é pior do que uma guerra, ou atos terroristas poeque é justamente essa frieza que nos leva a cometer atos insanos. Acho que estamos vivendo mesmo uma gande mendicância, estamos desesperados, esmolando po mais amor, sensibilidade, respeito, espiritualidadem qualquer coisa que nos devolva para o caminho do bem.

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  10. Oi minha querida amiga BRUXINHA,
    Sabe que nem me lembro mais porque o apelido que lhe dei.Lendo seu texto me lembrei que dia desses fazendo um trabalho pra facul sobre Buda, li uma história contada por um rapaz que levando um amigo, que estava visitando a sua cidade, para conhecer a praça depararam-se com um mendigo que alegremente pedia esmolas.O rapaz visitante perguntou ao amigo se ele sabia porque aquele mendigo, apesar da condição em que se encontrava trazia na face tamanha satisfação? Respondendo lhe disse que certa vez perguntou isto ao mendigo que lhe respondeu:
    Sou feliz mesmo pedindo esmolas e vivendo na rua porque não é para mim que peço esmolas,é para o meu corpo.
    Bruxinha respondendo à sua pergunta; Tenho a impressão que os mendigos somos nós!!!
    BEIJOS NO SEU CORAÇÂO!!!
    Cátia.

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  11. Amiga, seu belo texto fez com que eu recordasse bons episódios. Vovô paterno, que hoje "está no céu" sempre me falou do homem do saco. Sempre gostei de ouvir histórias na rua (não necessariamente de mendigos, mas o fato é que não entendo - talvez um dia eu entenda, mas não tenho pressa - por que as pessoas me param na rua com tanta frequência pra conversar, quase diariamente!) Quando eu estava no colégio, costumava encontrar meus amigos todo dia num terminal de ônibus, o Terminal Santana. Aos poucos se tornou nosso lugar predileto, nossa sala-de-estar. Meus pais brigavam comigo, mas eu ficava lá a tarde inteira (meus amigos tocando violão, eu cantando. Deixávamos o chapéu de um amigo no banco e o mais impressionante foi o dia em que alguns mendigos contribuíram com moedas). Feliz era o tempo em que não havia responsabilidades! Eu não pensava no que seria quando crescesse, porque eu sabia que ainda estava crescendo. De repente tínhamos nos tornado amigos de TODOS os mendigos daquele terminal. Amigos, mesmo, de saber toda a história de vida deles e o que os levou a chegar ali, e às vezes até a concluir que estavam melhores do que a vida hipócrita que muitos levam debaixo de um teto. Tanto é verdade que tenho uma ligação profunda com mendigos (que leva meu pai - policial do Choque - e minha mãe a me advertirem, receosos porque segundo eles sou "muito dada") que o melhor dia do ano pra mim é sem dúvida o Tributo a Raul Seixas, comemorado na Praça da Sé em agosto. Faz só dois anos que vou, mas só quem está lá sabe a energia que é. Meu tio é um dos organizadores e "me ensinou" a ouvir o que as pessoas das ruas têm a dizer. Sempre que vamos ao Tributo, é de algum modo sagrado, e sempre aprendo. É a festa dos mendigos, é a vez deles e só pra você ter uma ideia, amiga, jamais houve briga em um tributo a Raul. Jamais a polícia precisou intervir. Porque ali somos todos iguais, somos um, e só queremos cantar. Ali eu faço amizades valiosas com os mendigos da Sé, muitas vezes caricatos, e fico impressionada como eles sabem cantar muitas músicas do Raul que jamais tocaram no rádio. E cantam como uma filosofia. A vida naquele instante é perfeita, e todos são iguais. Até me emociono. Um grande amigo meu, o "Barba", hoje é dono de um bar no vale do Anhangabaú. Ele perdeu a família, virou mendigo, deixou-se levar pelas drogas e, por uma brincadeira, começou a se vestir como Bin Laden. Aos poucos as pessoas achavam que era o próprio. Hoje o Barba dá entrevistas, é chamado para festas, é um personagem do Centro Velho de São Paulo que muitos conhecem e por quem muitos têm carinho. E toda vez que eu chego no "bar do Barba" ele abre um sorriso e diz: "os CDs do Raul estão em cima da mesa. Só esperando você chegar". Tenho orgulho de minhas amizades. Saravá, amiga!

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  12. Oi Déa...
    Amei seu texto... eu não tinha medo do homem do saco, mas da loira do banheiro na escola..hahahha Cada coisa, né?
    Muitas verdades em suas palavras.. infelizmente estamos perdendo alguns bons iluminados nas ruas para essa droga. Mantenhamos nossa fé e corrente espiritual, para que possamos vencer mais essa batalha!
    Grande beijo

    @karydeo

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  13. Atualmente o google tem desmistificado a maioria dessas lendas urbanas que fizeram parte de nossas infancias,.. :( rs

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