segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Teoria e Prática

Hoje, depois de ter voltado de um período curto de férias e vendo as novidades da rede, meu lindinho me pede para escrever sobre a parábola da semente de mostarda. Contudo meus pensamentos estão um pouco além das linhas dos mares de Yemanjá, o que me faz perguntar a vocês : o que preferem ? A cópia ou o original? Enquanto pensam eu vou contando meu "causo".
Gosto muito de observar o cotidiano. Do que as pessoas se alimentam, quando não estão comendo. Sentada na beira da praia fico eu regendo, como diz meu lindinho, as crianças na água. Qualquer movimento de ir mais para o fundo, ou de brincadeiras mais perigosas, lá estou eu com as mãos para cima organizando o que fazem. Eles me entendem muito bem. Qualquer infração grave é punição passível de ser expulso do meio de campo, no caso, do meio das ondas.Apesar da minha concentração, não consigo deixar de observar os que estão próximos. Havia, num destes dias, uma família inteira ao meu lado. O avô e o pai seriamente montavam um castelo de areia ,enquanto o filho/neto ficava correndo em volta sem se preocupar com o projeto de engenharia que seus ancestrais articulavam em sua frente. Estavam tão sérios aqueles dois senhores e tão compenetrados em sua construção, que imagino que em suas mentes eles não estavam ali naquele momento, deveriam estar sim na praia ,mas há uns 25 anos atrás.
O que me levou a pensar e a repensar sobre exatamente o que as pessoas esperam do futuro, seria uma oportunidade melhor de reavaliar seus passados? Ou recodificá-los? Para que então possam chegar a um ponto e dizerem : eu fiz do jeito certo, porque as coisas ocorreram do jeito que imaginei.
O fato é que, embora já estejamos com mais de cem anos de religião, as forças que regem a  Umbanda não mudam e nunca mudarão. O que precisamos de fato é modernizar os umbandistas e isto precisa ser feito , acredito eu, de forma emergencial. A primeira coisa que temos que ter em mente , para conseguirmos dar um passo adiante, é saber o porquê da Umbanda existir. Eu creio que seu fundador, o sr Zélio de Morais, foi um canal excepcional para que espíritos elevados em conhecimento e humildade pudessem realmente praticar a caridade e o amor ao próximo.
Cada um tem seu modo de entender e de se comunicar com as esferas espirituais. A Umbanda veio para ser um contraponto na questão do conhecimento do próprio homem. No mundo formal em que vivemos os diplomas são essenciais para nossa sobrevivência. Nos planos superiores a nossa fé, a nossa humildade no tocante ao conhecimento e a nossa entrega à caridade é que são sempre necessárias. No dia 16 de novembro de 1908,na primeira gira de Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas fala em alto e bom tom:"-Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".
Uma amiga que encontrei na praia veio me dizer que uma psicografia que eu havia feito no ano anterior para ela , foi relida algumas vezes durante este ano. Eu não me lembro o que estava escrito e nem quem enviou. Em todas as releituras, apesar de uma carta simples, sempre achou alguma resposta às suas perguntas, até porque não tem condições de ir a um terreiro frequentemente.A sensação quanto às psicografias dentro da Umbanda, que são muito diferentes das do espiritismo tradicional, é que trazem alívio por conselhos dados por entidades, e cumprem a função da religião como propagadora do Amor Divino com extrema simplicidade. É lógico que incorporando fica muito mais fácil e menos cansativo. Tenho uma visão até romântica disto: às vezes me sinto como aqueles que redigiam cartas para as pessoas que não sabiam escrever aos seus familiares, mas queriam mandar mensagens por estarem distantes.
A Umbanda está se popularizando, mas meu grande medo é que toda a beleza que ela tem caia em mãos de teóricos, que jamais experimentaram o dia-a-dia de dentro de uma gira. Amor não se teoriza. Caridade não se teoriza. Conhecimento deve ser aliado à prática, especialmente na Umbanda, religião dinâmica e simples em seus objetivos. Se eu não praticasse, não me atreveria a escrever. Vivo e escrevo do meu sentimento original de querer ver sempre uma Umbanda acessível a todos e desmistificada.
Um dia destes , uma menina de dezessete anos veio me falar que seu pai de santo, que recentemente montou um terreiro, falou para ela: Minha filha não tenha muitas esperanças porque na sua vida as coisas estão fadadas a nunca darem certo. O pouco que conseguir, você irá perder. Isso para mim , não é Umbanda. É terrorismo e manipulação.Conheço a pessoa que falou. Foi um grande teórico e de cará já pediu para ser feito pai de santo. Na prática a teoria é outra....
Mais uma vez torno a falar : os umbandistas têm que se modernizar, num processo contínuo em direção da coragem dos caboclos, na alegria das crianças e na sabedoria dos pretos velhos, sob o Infinito amor de Deus. Os dirigentes têm que utilizar da parábola da semente de mostarda, que diz que a todos deve ser dada a mesma oportunidade. Porque a todo médium as entidades dão as mesmas oportunidades de entender:  não se cansam em falar e explicar sobre o que é a caridade verdadeira e o que é o verdadeiro amor ao próximo. O que cada um faz com as sementes que a Umbanda espalha é de responsabilidade individual.
Passeando na beira da praia e conversando com meu lindinho ele me pergunta: Você gosta do original ou da cópia? Rapidamente respondi que gostava do original. Então ele me disse que nossos sentimentos são originais, mas que criamos cópias em direção às pessoas. Essas cópias, apesar de num primeiro momento rejeitarmos, voltam à sua base original. Então venho pedir a vocês que em 2011 produzam muitas cópias de amor e fraternidade e que todas elas voltem prósperas para cada  um de vocês e suas famílias!






12 comentários:

  1. Como sempre, um ótimo texto! Parabéns pelo ótimo conteúdo do blog!

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  2. "Vivo e escrevo do meu sentimento original de querer ver sempre uma Umbanda acessível a todos e desmistificada." ...
    Eu também, e sei que o trabalho é árduo mas muito recompensador, em especial quando vemos que nossas palavras não foram simplesmente jogadas ao vento, que serviram de conforto e crescimento a quem as recebeu...

    Um 2011 cheio de cópias, de cópias de amor e nenhuma reprodução de preconceito...

    Beijos mil

    Angela / Luzes e Sonhos
    http://luzesesonhos.blogspot.com/

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  3. Lindo do início ao fim, como todos outros teus textos, minha querida. Mas só por esta frase eu já me emocionaria, como me emocionei "A Umbanda está se popularizando, mas meu grande medo é que toda a beleza que ela tem caia em mãos de teóricos, que jamais experimentaram o dia-a-dia de dentro de uma gira." - Tenho visto com tristeza isto acontecer, pessoas que se preocupam mais em explicar a Umbanda do que a vivê-la. Falam de luz com um guarda-sol sobre as cabeças, sem experimentar de fato a luz. Consultam o Pai Google pq não possuem pai de santo, nem mãe. São Pais e Mães de Santo que nunca foram filhos de santo. Desculpe o desabafo específico, sei que seu texto vai muito além, mas cursos de benzimento virtual, formação de sacerdotes pela internet (aberto a todos, sem precisar de mediunidade - diz a divulgação) são coisas que me preocupam e formam teóricos que se julgam mais sábios que os paizinhos e mãezinhas que praticam a Umbanda com os pés no chão. Parabéns e mais uma vez desculpe o desabafo. Bjs!

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  4. como sempre, dando show de sabedoria !

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  5. Amiga, também tenho medo dos novos, não por desmerecê-los pois acredito que não façam pelo mal.
    Mas ao "elitizarem" e "padronizarem" a Umbanda sinto que cada um de nós, os "veteranos", perdemos um pouco.
    Criticados por nossa Umbanda "arcaica" e lindamente simples, sem marcações, sem modelos prontos, umbanda simples, umbanda de coração, nos sentimos menosprezados quando percebemos que somos tratados como "dinossauros" e temos nosso modo de trabalhar colocados em xeque.
    Quando na nossa simplicidade necessitamos apenas do nosso aparelho para mantermos um contato com o divino.
    Lindas palavras, me trouxe mais belas reflexões.

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  6. Oi Andréa,
    belo texto e seja bem vinda de volta a vida, é tão bom quando saimos sem ter a obrigação de fazer nada, pensar em nada, fazer o que da na telha, eitcha que maravilha, estava sentido falta de ler seus textos, seus pensamentos, enfim tudo que nos faz movimentar e viver na harmonia. bjão e fique com Deus.

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  7. Lindas palavras, linda imagem de capa. Nossa Umbanda é muito maior que a teoria. Acredito veemente que umbandista é aquele que sente a vibração dos atabaques tocados com dedicação pelos ogãns, aquele que conversa com uma entidade que enxerga seus problemas. O Pai Google (Citado pelo Ricardo) pode sim auxiliar, mas não substituirá nossa luz maior que é a Umbanda Sagrada.

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  8. Oi Andrea, depois de algum tempo volto aqui para deixar minha impressão sobre seus textos. Admiro muito a sua humildade de se colocar sempre como aprendiz, Sao poucos os que tem essa capacidade, muitos acham que já sabem tudo, e isso não apenas a respeito das religiões mas em todas as áreas da vida. Tenho minha fe baseada no cristianismo (Jesus Cristo) e isso me faz bem, o que não quer dizer que tenho minhas duvidas, questionamentos e medos. O ser humano tem a capacidade de pensar, e por isso, mudar conceitos, corrigir rumos e procurar melhorar sua vida e das pessoas que o cercam, a partir do momento que cada um fizer sua parte o Paraiso Biblico será aqui. Sou assim como você um aprendiz...

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  9. Querida Andrea,

    Adorei o texto e, como sempre, adorei mais ainda mais pela presença do seu 'lindinho'.

    Ah, quero aproveita a oportunidade para te desejar novamente um ótimo Natal (atrasado.. hehe) e um próspero An0-Novo, cheio de realizações, saúde e muita luz.

    Espero poder novamente prestigiar em 2011 da sua amizade e do seu conhecimento!

    Obrigada!

    Juliana Fideles
    @juliana_fideles

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  10. Gosto das suas reflexões profundas sobre religião, amor e esperança; belíssimo texto!

    http://vazaante.blogspot.com/

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  11. Olá minha amada amiga!
    Passei para pegar a sementinha da paz que você joga aqui e dispersá-la, de acordo? :)
    Fazia tempo que não mergulhava por essas letrinhas tão maravilhosas, mas estou aqui. E não é que seu texto me serviu de modo peculiar? Isso porque, antes que as aulas na faculdade terminassem esse ano, decidi aproveitar a oportunidade de fazer iniciação científica. Sou apaixonada por Literatura e Sociologia, mas não vi modos de unir ambas e, como preciso ir pelo caminho da Comunicação, pedi a orientação de um professor. Levei um projeto rascunhado, sobre um teórico, e disse que pretendia relacioná-lo à revista Veja e outras coisas. Em sua sinceridade de profundo conhecedor do que faz, ele disse: "Marcela, acho que esse projeto não tem a sua cara. Por que você não relaciona essa teoria ['desencantamento do mundo', de Max Weber] com a Umbanda?". Para mim foi um baque, porque ele me segue no Twitter e por isso achou que a Umbanda "tem tudo a ver comigo". O fato é que esse meu professor não é umbandista e não conhece as práticas, amiga. Mesmo assim, refiz o projeto e entreguei. Se for aceito, a partir de fevereiro entrarei de cabeça nesse desafio. Mas, agora sei, com outros olhos. Destinarei à Umbanda o olhar que merecer, com amor e fraternidade unidos a determinada teoria que, não fosse a prática, jamais faria sentido. Aproveito para desejar que 2011 seja metade semear e metade colher. O alimento? Amor, evidentemente. Muito obrigada por tudo que me proporcionou este ano. Abraço fraterno em você e em sua linda família!
    Marcela Marcos

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  12. Yemanjá, sou filha dela, e sinto o grande amor que ela possui. Seo Beira Mar, amo demais....
    Odoya!
    Estou amando seu blog, é abençoado; virei fã;
    Gislaine

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