terça-feira, 4 de maio de 2010

Peão, Cavalo ou Rei?


Os fios que ligam a bomba que puxa a água do poço, que usamos aqui em casa, entraram em curto de novo. E lá foi o lindinho pro meio do mato resolver a questão.Cada vez que vou até o poço fico pensando que, a maioria das pessoas que conheço, jamais fariam isso: se embrenhar numa mata fechada, com cobras porque senão não tem graça, pra ter o alívio de ter água em casa.
Ao longe hoje eu avistava o lindinho e o meu filho do meio indo para mais uma missão impossível, que se resolveu a contento. Tenho um baita orgulho disto. Todas as famílias são assim: nos orgulhamos, nos amamos e brigamos uns com os outros. Perpetuamos a vida e nossa essência no que ensinamos a nossos filhos. Ontem mesmo estava rindo com a minha vizinha. Proibiu os filhos de andarem de moto porque é muito perigoso. Agora se quiserem sair, inclusive o pequeno de dez anos, é só a cavalo. E o pequeno dela foi estes dias na casa de um amiguinho que fica a uns dez quilometros daqui, sozinho, no trote do seu potente pampa. Não pense você que são crianças do mato e que desconhecem a civilização, pois gostam de ir a shoppings também. Oxalá permita que usem bem o aprendizado na fase adulta.
Duvido que uma criança destas sabendo que seus espiritos se expandem na natureza queiram, quando maiores, botar fogo ou pichar mendigos. Ou tratar seres humanos como algo separado de si mesmos. Enquanto estamos na cidade, a percepção que temos é que somos limitados por nossos próprios corpos, como se fosse um cárcere privado de nossos pensamentos. E que dentro deste cárcere não interagimos com nada. Ledo engano. Precisamos antes despertar pra essa realidade. Somos um.
A vida nos impulsiona para um jogo de xadrez . E jogar algo em que não se conhece as regras é estar fadado ao fracasso e, no caso do xadrez, ser usado como um simples peão, que pode ser descartado a qualquer momento. É perigoso também, porisso acredito que seja oportuno que eu divida com você o que sei. Até para reforçar nosso campo morfogenético*.
Vou usar mais uma vez um texto do Caibalion, que é bem importante na Umbanda também: "A posse do Conhecimento sem ser acompanhada de uma manifestação ou expressão em Ação é como o amontoamento de metais preciosos, uma coisa vã e tola. O Conhecimento é, como a riqueza, destinado ao Uso. Lei do Uso é Universal, e aquele que viola esta lei sofre por causa do seu conflito com as forças naturais."
Nós temos um conhecimento na Umbanda, do qual derivam todos os outros: agir com fé, caridade e fraternidade. Se faltar um destes elementos de conhecimento mágico ela não funciona.Para se ter fé tem que ter coragem, para ser caridoso há de se ter sabedoria e para ser fraterno só com pureza de intenções. Conhecimento, manifestação e expressão em ação.Caboclos, pretos-velhos e crianças. A Umbanda é a expressão da natureza e sem um de seus três elementos está fadada a entrar em conflito com as forças naturais.
Esta verdade não cabe só à Umbanda. Cabe a você também. Reflita.

* Sobre Campos Morfogenéticos:

http://coisasdecasados.blogspot.com/2010/03/olhos-nos-olhos.html

6 comentários:

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  2. Lindo Andrea.
    Sarava Umbanda!
    Sarava a nossa banda!

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  3. Amiga... rsrsrs
    Eu e minhas distrações, mas abafa o caso! ;)
    Voce é sublime, escreves com maestria, de uma forma deliciosa que nos prende do início ao fim de seus textos (todos sem exceção).
    Você é uma DEUSA mesmo, sabe fazer tudo de bom para as pessoas a sua volta, comigo é assim, e olha minha consideração para com você é tamanha, que podes compará-la ao nascer do sol e ao brilho das estrelas!
    Amo-te...
    P.S. Pode ir preparando o bolo, porque irei ve-la em breve, e levarei a "tropinha"comigo viu! rsrs ;)
    BEIJOS MIL EM VOCÊ E SUA FAMÍLIA.
    PAZ E AMOR SEMPRE!!!
    @carlafloresadv

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  4. Andréa, meus parabéns!
    É muito bom acordar pela manhã e ler um texto tão bacana e interessante quanto o seu. Achei muito legal você chamar atenção para o fato de termos mais consciência com a natureza e respeitá-la de uma forma geral.Sou a favor das crianças terem uma ligação com o meio ambiente desde cedo, pois assim quando elas forem adultas trataram os problemas que possam vim a surgir neste local de uma forma mais adequada.
    Tenha uma ótima semana!
    Abraços
    @fabiofloresta

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  5. "Para se ter fé tem que ter coragem" essa sua frase resume tudo. Se eu não tenho fé/coragem é pq confundi a filosofia agnóstica e laíca com religião. Fé e religião não são as mesma coisa. E não ter fé é renegar a vida e nossa própria existência. Se não há fé, não há vida, tudo é mera repetição, tudo é vazio na complexidade da natureza que torna a vida única e nos transforma em pessoas únicas. Fé é vida, religião é opção. Respeitar as religiões, conhecê-las, renegá-las, ter uma religião... é uma questão de fé. Mas, a fé vai além... "Não acredito em nada não, só não dúvido da fé"

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  6. Concordo...

    Somos um conjunto de fracassos e vitórias, acordos e conflitos que oscila e determina nossos parâmetros de conduta. Somos um amontoado de valores, um acúmulo incessante de experiências positivas e negativas que carregamos antes mesmo do nascimento e que, de um modo geral, direciona a nossa identidade.
    Conforme sugere Stuart Hall, “... a identidade é, na verdade, algo formado ao longo do tempo através de processos inconscientes mais do que algo inato à consciência, desde o nascimento... Ela permanece incompleta, está sempre em processo, sempre sendo formada...”
    Com o decorrer do tempo, o indivíduo ao descobrir-se inserido na sociedade e agente transformador da mesma, passar a adquirir características diversas que são adequadas ao seu grupo, o que reafirma a sua representatividade e o “deslocamento” das suas concepções primárias... Inexiste a ideia iluminista de um sujeito “unificado”. Indubitavelmente, a identidade é situacional e transitória. Somos fragmentos de ideias e desejos momentâneos, moldáveis conforme as necessidades...
    Nesse sentido, antes mesmo de tornarmos “sujeitos sociais”, incorporamos o fio condutor ideológico que formará e condicionará o nosso caráter, a nossa índole. Isso dificilmente é alterado e pode até ser aprimorado...
    Nós, mães e pais, temos um compromisso universal, intransferível e irrevogável de arcar com essa responsabilidade, enquanto os primeiros educadores que delinearão a vida social dos nossos herdeiros e dos seus pares.
    Assim, diante de uma provável “crise de identidade”, é imprescindível assegurar a “base”, a “estrutura” psicossocial moldada pelos primeiros formadores de elos, evitando deslizamentos bruscos e os deslocamentos trágicos da identidade, mesmo porque as relações sociais contemporâneas são, infelizmente, voláteis, descartáveis e substituíveis...

    Mais uma vez, parabéns pela reflexão...

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