sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Immanuel Kant e Ogum Beira Mar - O Futuro da Umbanda

foto do pinheiral em frente à minha casa
Há uma certa paz na chuva.Enquanto o sol nos impele a agir, a água que cai torrencialmente do céu nos desperta para a introspecção. Como se esperássemos que aquela chuva fizesse brotar em nós sentimentos e idéias novas, que, por algum motivo, se encontram adormecidos em sementes no nosso peito.
Na última gira na Tenda de Yansã e Ogum Beira Mar, dona Maria Molambo do Cemitério fala pra um dos filhos de corrente que “Tudo é destino, mas nem tudo é um sinal.”  Chocou-me ouvir aquilo saindo da minha boca, já que ainda não tenho bem formulado em minha cabeça o que seja destino. Hoje já se sabe que trazemos em nosso DNA um vaticínio sobre nossa vida carnal, doenças e possibilidades do nosso corpo evoluir. Seria nosso espírito também dotado de um código? E quem o imprime em nós?
Se é de tua vontade saber a verdade, o Universo, como diria Carl Young, sempre dará um jeito de te dar as respostas. Meu filho queria que eu o ajudasse a fazer  um resumo sobre um texto de Kant: “O que é esclarecimento?”  E estava lá uma parte da resposta: “Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.”
No DNA da Umbanda há sim a possibilidade de nos tirar da inércia da menoridade citada e nos trazer esclarecimento. Esclarecimento para quem tem coragem de construir seu próprio saber. Tudo aquilo que nos dá condição de pensar e absorver, nos faz crescer.  Como mãe de santo me preocupa muito o que passo para as pessoas que compõe a minha corrente. A minha intenção principal é que todos sejam curados, inclusive eu, da menoridade que a imposição de idéias tem causado nos umbandistas.
Zélio de Morais foi usado para quebrar esta corrente de pensamentos de superioridade que existia com relação à espiritualidade : que mensagem boa só vem de espíritos que quando encarnados eram doutores. No passar dos anos no que tem transformado nossa religião? Vejo por aí umbandistas falando das entidades que recebem como se fossem senhores de engenho falando de escravos. A luta pela retomada da consciência não é pequena, mas como diria seo Beira Mar é um bom combate e vale a pena lutar.
Emociono-me muito quando o “acaso” coloca em meu caminho pessoas que também lutam pelo direito de termos uma religião limpa e com o firme propósito do bem comum.  Conversando com o Marcelo Marrento que é uma destas pessoas abençoadas que veio somar a esta batalha, ele me diz o seguinte: seo Beira Mar podia ditar um texto sobre qual seria o futuro da Umbanda. E como tudo que é pedido com fé encontra repercussão no plano espiritual, segue abaixo o texto que ele me ditou:


“Imagine a religião universal como um corpo: há necessidade de pés e mãos, de órgãos internos e externos, mas nem um é mais importante ou menos do que outro.Se um faltar , por exemplo a visão, a audição será evidentemente aguçada para suprir esta falta. O Divino como Ser Perfeito tem nas religiões o seu Espírito Santo e cada qual está sempre em equilíbrio. A Umbanda se move na rapidez dos ventos de Yansã, que deposita no rio da vida de Oxum elementos que vão para o grande mar de pensamentos de Yemanjá, tudo sob a Lei de Xangô, nos caminhos determinados por Ogum. Ao grande Caçador de Almas – Oxóssi- cabe movimentar e agrupar esta grande tribo de umbandistas numa só egrégora ,que foi o primeiro passo dado pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas e seu parceiro encarnado Zélio. A intenção da Umbanda é que todos que nela estão aprendam o que é a sua base: somos todos interdependentes, fazemos parte de um corpo só, somos todos Oxalá. A evolução é o entendimento, a compreensão plena, que só se dá quando despimo-nos da carcaça que carregamos cheias de rótulos e menções honrosas que nada valem evolutivamente.  A Umbanda do futuro caminha pela consciência e já está sendo despertada em cada um. Cabe neste entendimento ao adepto pensar se é este o caminho espiritual mais adequado à sua evolução.  O ritual é apenas uma forma de se ligar aos mentores, portanto cada grupo tem o seu formato mais adequado ao entendimento de seus integrantes, a verdadeira evolução não está no ritual ,mas no coração dos adeptos. Que sejamos todos reflexo da Luz Maior.Caboclo de Ogum Beira Mar.”

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Entidades de Umbanda

O nome da minha mãe era Lia e do meu pai Cid. Isto para você pode ser uma referência sobre minha pessoa, mas tudo o que eles significaram para construção do que eu sou é impossível de configurar em nomes. Assim como para mim o nome dos que fazem ou fizeram parte da vida de vocês não tem um significado tão grande, porque não consigo com isto mensurar a extensão da influencia que tem no que você é.
Se você lê a história e não a interpreta, perde a lição. Quando a Umbanda foi criada em 1908, no meu entendimento para libertar as almas desta terra do domínio do ego do poder do conhecimento- corajosamente por um menino de 18 anos chamado Zélio de Morais, era a espiritualidade pedindo libertação. Libertação da energia pela simplicidade. Aqui está faltando uma flor, falou Zélio, e foi buscar uma rosa que depositou no centro da mesa. Depois disto,apresentaram-se vários espíritos de caboclos e negros num centro espírita. Bom, a história quem é de Umbanda deve conhecer.
Evoluímos de lá pra cá e muito. O mundo mudou muito, mas as pessoas, estas não perderam seus vícios. Acho mesmo que algumas coisas são registradas em nossos DNAs. Praticamos com mais liberdade nossa querida Umbanda ,mas estamos nos tornando cruéis com relação às nossas entidades.
Quem é capaz de dizer com certeza absoluta o que é o espírito que está recebendo? Acho deprimente quando falam: o meu caboclo, o meu preto, o meu exu. Estes espíritos existem para nos libertar e não para serem nossos escravos pessoais. Adianta saber se é exu Caveira, ou Caboclo das 7 Flexas, ou seja lá qual falange pertença? O nome dos meus pais como falei no começo não significam nada se você não souber da obra que eles fizeram. Os espíritos que nos guiam são exatamente iguais a nós , embora estejam num nível superior de entendimento. Você não é apenas um nome, é um conjunto de qualidades adquiridas, é um ser na busca de desenvolvimento e uma entidade neste ponto não é diferente, porque não respeitá-los então?
Se você buscar meu nome na internet vai encontrar os livros que publiquei e mais algumas coisas sobre minha vida,mas em momento nenhum isto vai te dar a minha real dimensão, e assim é com as entidades que aceitaram fazer uma parceria com vocês. Se dêem a oportunidade de conhecer suas entidades como conhecem os seus amigos: conversem, alimentem a amizade com respeito e dignidade que eles merecem.
O que mais tem por aí é uma Umbanda ostentação: aprenda tudo sobre umbanda por um preço maravilhoso, participe de giras gigantescas e seja mais um....em momento nenhum vejo: viva a Umbanda em plenitude, descubra-a e se descubra, experimente, observe!  O que querem de você?  Alienação e enquadramento em um sistema que a Umbanda de início veio para quebrar. Pense! Saravá a sua banda!


domingo, 17 de maio de 2015

O Silêncio dos Não Inocentes



Repetidas vezes , a vida faz com que  sejamos levados a “dar um tempo” e realinharmos as idéias, comigo não foi diferente. Seja pela morte ou por uma conexão de telefonia que deixa de ser  ilimitada, nosso espírito precisa continuamente de renovação, observação e ação. E neste meu silêncio muitas vozes se fizeram mais fortes.
Não é possível , nem nunca deveria ter sido, um médium ser passível de manipulação e falta de entendimento mínimo sobre o que o cerca.A mediunidade é dom ,mas antes também ferramenta de evolução individual. É preciso compreender o que isto significa na Umbanda. A primeira pedra da sua construção e que é a pedra angular de tudo o que vai construir, é que seu desenvolvimento pessoal é responsabilidade sua e de mais ninguém. Portanto, se não te respondem as perguntas relativas a tua atividade como médium, se não há acréscimo em entendimento, não desperdice seu tempo, vá em busca da verdade que você precisa.
As verdades são diferentes  entre as pessoas, porém não deixam de ser verdades. Seja a verdade Pentecostal , Islâmica, Espírita,ou qualquer outra, porque é através dela que se abrirão os espelhos para que você possa enxergar seu próprio espírito e assim entendê-lo.
Na Umbanda não é sua incorporação,não são os nomes de suas entidades , não é seu Orixá, nem seu ritual que o fará evoluir mediunicamente – embora o façam acreditar nisto – mas é definitivamente a sua condição humana de observar a humanidade nos que o cercam.
Mediunidade não pode ser brinquedo e o contexto em que ela é inserida tem uma grande importância. “Vou lá faço meus atendimentos e pronto.” É no mínimo uma frase deprimente para um médium. Não é necessário ser íntimo de ninguém dentro de uma gira, mas ver que não há compatibilidade do que se fala com o que se faz no trato da caridade real é, no mínimo, compactuar com o desvio de caráter do próximo. Ora, se temos que manter nosso corpo longe de drogas, bebidas, sexo e carne para podermos nos conectar com esferas superiores para auxílio dos necessitados, por que mancharíamos nossa índole sendo omissos? Isto também não interferiria em nosso potencial de auxílio e conexão?
A natureza é perfeita e assim sendo cada um é responsável pela energia que gera. Orai, girai e vigiai!


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Síndrome da Matilha

Embora sempre em movimento crescente, a Umbanda está iniciando um processo diferenciado de expansão.Nosso ciclo evolutivo chegou a um ponto de maturação necessário para implodir e resgatar sua função principal.E se vocês repararem com mais atenção todas as religiões se encontram neste mesmo processo. Estes dias ,conversando com meu filho mais velho, ele falou de sua admiração pelo Papa e depois de ter mostrado sobre as doenças que ele havia citado aos cardeais, meu filho fala: faltou a síndrome da matilha.
É sobre isto que venho falar a vocês hoje. Todas as doenças apontadas pelo Papa à Igreja Católica nos cabem, do mal de Alzeihmer , a "redução progressiva das faculdades espirituais"  à doença da rivalidade e vaidade entre terreiros, vale a pena conferir esta fala, portanto vou deixar um link abaixo para que possam desfrutar e refletir nesta leitura.
Atualmente a  síndrome da matilha veste a Umbanda de forma inexorável. Enquanto entendemos de forma individual nossa religião e a praticamos dentro dos ideias por ela propostos: fé ,amor e caridade, somos cuidadosos com seus princípios e sua função. Deixar que a entidade fale por ela mesma, observar os acontecimentos, absorver o que se é dito com muita atenção e humildade, se entregar sem fazer disto uma obsessão, tudo sempre com equilíbrio.Ter a noção que a religião que adotamos tem como principal serventia nos acrescentar como ensinamento para uma vida em comunidade melhor, além do nosso crescimento pessoal.
A Síndrome da Matilha ocorre quando o indivíduo junta-se a um grupo com os mesmos ideais e perde seu medo, instinto natural do ser humano que tem o poder de defende-lo de cometer besteiras. É aquela sensação de impunidade latente: " meu pai/mãe de santo faz coisas erradas ,mas eu vou lá só para fazer o bem então nem me importo com o que ele/a faz" o que se traduz na verdade como meu pai/mãe de santo nos protegem , posso fazer o meu lado e o que os outros fazem não me atinge porque estou protegido, acabando totalmente com o senso de responsabilidade individual. Por outro lado também há a famosa desculpa que a Umbanda é multi facetada então posso fazer o que quiser no ritual que não há engano. Vou dar um exemplo: estes dias o Matheus Gonçalves em seu blog http://falando-de-umbanda.blogspot.com.br/  fez um texto muito apropriado questionando se os excessos ainda podiam ser considerados como "diversidade". Nenhum excesso em Umbanda é diversidade, de fato se aproxima mais de excesso de vaidade ,o que é uma doença. É lógico que Matheus foi atacado por fundamentalistas da Síndrome da Matilha , que julgam que tudo é possível pois se sentem protegidos. Embora estejamos todos na mesma egrégora nosso desenvolvimento é indivudal, assim como nossa caminhada e proteção. Gostaria de lembrar também que por maior que seja a firmeza de proteção que tenha, nada livrará você da Lei Universal da Ação e Reação. E como diz Exu Mirim Tempestade, a vida não tem controle remoto, você tem que levantar e mudar. Saravá nossa Umbanda!



Texto sobre doenças da Igreja Católica:



http://www.brasilpost.com.br/2014/12/22/papa-doencas-igreja_n_6367502.html 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Orixá de 2015 - Jurema

Esperava por um sinal para escrever novamente. A Umbanda é uma religião fascinante, mas o que tenho experimentado estes anos todos, assim como alguns membros por este Brasil afora, são acúmulos de decepções com os vivos que dela fazem parte. De manipulação das falas de entidades à corrupção dos valores principais em prol do poder e do dinheiro. 
Sei que há muito o que se esperar da Umbanda. A magia da manipulação da energia pela palavra e pelos elementos inerentes a ela, têm trazido cura às almas mais aflitas. Contudo, infelizmente o que se vê é uma religião doente, mais do que o Alzheimer identificado brilhantemente pelo Papa na Igreja Católica, estamos sofrendo de Escoliose, onde a Coluna Vertebral da religião- amor ,fé e caridade- é desviada pela má postura de alguns dirigentes. 
A Umbanda foi criada por Zélio e pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas para servir aos mais simples, não para explorá-los. Não tenho pretensão de ser critica da religião, antes gostaria de praticá-la com o amor e dedicação e é o que tenho feito. Com o apoio de alguns amigos e de mensagens de entidades que vieram através de médiuns que não sabiam das minhas inquietações, resolvi abrir minha própria gira.  
Apesar de ser uma casa comandada por Ogum Beira Mar e Yansã, toda nossa força provém da Jurema, grande sustentadora da Umbanda e de todos seus rituais. Conto a vocês isto , para que , assim como eu, não esmoreçam na fé e com os pés descalços saibam que podemos manter nossa coluna ereta em paz, caridade e amor. Há infinitas almas sofredoras neste plano, além das nossas, que merecem e precisam do que as entidades possam oferecer para que trilhem seu caminho com passos mais firmes.
Somos todos responsáveis e mediunidade não é brinquedo. 2015 iniciou numa quinta feira - que é dedicada ao Caçador de Almas- Oxóssi, esta energia dará a tônica de nossas metas espirituais. Há vertentes, as quais acredito- que dizem que o ano é regido por Ogum e Yemanjá, que no meu entendimento remete à energia de entidades de Ogum Beira Mar, especializadas na cura do ser espiritual.Há outros ainda que exortam à força feminina das Yabás preenchendo os ares de 2015, assim potencializando nosso poder gerador.
Umbanda é,antes de tudo observação. Não há como entender seus ciclos sem observar. Creio que estaremos envolvidos pelo espírito do Caçador de Almas, com o intuito de curar corpos espirituais e aumentar nossa capacidade geradora de luz.E tudo isto unido é também a Jurema Sagrada.
A luta não é pequena, mas juntos seremos fortes, em prol do bem comum. Quando se inicia uma nova caminhada é comum alguns que supostamente nos apoiam darem as costas, por uma infinidade de razões menores ,mas a estes também se aplica a lei do Destino. Esta lei explica que tudo que te acrescenta e te diminui também são aprendizados valorosos. Confio nas entidades que trabalham comigo e que regem esta nova Umbanda que estamos praticando, confio em meus Orixás regentes e na energia que emana do Divino, que está a disposição de todos que não se furtarem à luta pelo bem comum.
Aos poucos irei postando aqui mensagens deste novo tempo em que me encontro e espero que sejam informações que acrescentem à vida de cada um de vocês! Saravá 2015!

Quem quiser mais informações pode me escrever: addestefani@hotmail.com

domingo, 14 de setembro de 2014

O Caminho que Ninguém Vê - Exu Mirim

Exu Mirim Tempestade -desenho intuitivo de Mayara Aquemi
Estes dias estava vendo um programa bem curioso num destes canais a cabo: "Nu e Abandonado".A tônica era uma pessoa ser deixada numa ilha distante sem roupa e sem recursos, por dois meses. Notei duas grandes lições ali. A primeira foi quando o cara , por estar muito faminto e comer só o que encontrava, resolveu fazer um arco e flecha para matar uma das cabras selvagens que havia na ilha. Planejou, estruturou, buscou materiais perfeitos, achou uma corda que o mar trouxe, aprontou tudo e treinou bastante. Num belo dia, ele andando pela praia se deparou com um bode preso pelos chifres numas raízes aparentes. Não teve dúvidas. Pegou uma pedra e matou o bode. Parece cruel, mas ele estava com fome e frio. Preparou toda carne, que consumiu por dias, teve a energia do corpo revigorada e usou o couro pra fazer um casaco.
Qual a lição disto? O Divino provê se sua intenção e determinação são firmes. Às vezes tudo que você preparou não é usado, mas o que você batalhou consegue. Porque é necessário para te manter em pé. Isto não só relacionado à alimentação,mas tudo mesmo. Mais uma vez falo em uma postagem: o Divino ama e protege os corajosos e os honestos com sua própria vivência.
Falei que havia duas lições. A segunda é bem importante. O que você faz quando ninguém está vendo? Continua na tua luta ou vai pro muro das lamentações pessoais? Se for, está perdendo tempo porque sempre tem alguém vendo.Eu sei que você vai conseguir ver nisso tudo mais que apenas duas lições....
Aqui no sul do Brasil, na Umbanda que praticamos Exu Mirim não dá consultas, até porque não se conhece muito dele e sinceramente alguns tem até medo pelo 'excesso de sinceridade" dos mesmos. É uma pena! Eles tem a capacidade de fazer com que enxerguemos onde estão as lutas boas de serem travadas, aquelas que o Divino apóia o nosso esforço em conseguir, porque é ele que laça os 'bodes' desta vida e nos deixa ali, bem ao alcance de nossas mãos calejadas pelo esforço.
Uma destas pessoas que venceu pelo esforço contínuo pela Umbanda é a mãe Angela Maria Gonçalves, lá de Anápolis/Goiás. Seu esforço, comprometimento tem trazido a Umbanda a quem já não tem forças e a voz das entidades que incorpora e da própria Umbanda chega a todos os recantos deste Brasil enorme, inclusive aqui,no meio do mato onde moro. A mão Angela sabe dividir, porisso a Umbanda se multiplica pelas mãos dela.
Uma das entidades que recebe é o Exu Mirim Tempestade, que fiz questão de entrevistar para este nosso espaço. Vou publicar exatamente o que disse para que cada um reflita e sinta a energia que eu senti. No final do texto encontrarão links para que ouçam outras conversas dele,ok? Boa semana a todos! Laroyê o Mirim de cada um de vocês!


1. Qual é a exata função de um exu mirim no funcionamento de um terreiro?
Função de Exu mirim no Terreiro ,Mano? É renovação constante, é levantar os véus que encobrem as intenções... È vigiar tudo que está oculto... Tu pode num saber porque é que tá se  lascando ,mas mirim sabe porque que está te ferrando ...sua intenção escondida não está escondida de Mirim.


2. Se um pai /mãe de santo age de forma com que seu ego seja maior que sua função no terreiro o que acontece? A ele e a seus filhos de corrente...
Ae, se garante ae mermão... Porque quem segue no mesmo passo do coxo aprende a ficar manco, powrra! Manda quem pode obedece quem tem critério... porque se ta no comando comandante tem que ser e bom comando cuida da geral e não do pessoal né non?Acontece é que se fode e geral vai pro saco junto porque já falei ae pow, que segue coxo aprende a mancar mesmo....



3. Quando o médium fecha os olhos aos desmandos do dirigente e diz que vai lá só fazer sua caridade e pronto, está certo?
 Ae certo faz que segue a consciência faz a parte q toca e se liga no que é certo e cada um é um...quem ta no certo não precisa ser entortado pra consertar o errado, quem pisa na merda ,sabem bem porque que faz pow..... se num quer mudar de caminho nem é mirim que vai dizer nada uahauahuahauahauaha


4. Estão ocorrendo coisas tenebrosas dentro de alguns terreiros e os adeptos da religião ficam pensando se isto não vai acabar nunca. Por que há demora em cessar estas coisas?
Se tem quem apoia a bagaça sempre tem espaço pra mais bagaçeira e so muda quanto pelo menos a metade se situa,por causa de um se segura uma casa inteira manolo,saisse esse um e a casa caia rapidão, então quer dizer que para proteger um vocês deixam muitos errarem? É sim não se fere inocente principalmente se é ele que segura a parada toda.Vou repetir: se pisa na merda é porque quer ou tá fazendo ela de adubo c....!! se tivesse ruim para todos a casa já tinha caído!


5.E por fim como um médium pode usar da força de seus guias fora do terreiro?
Tá agora viramos sabão pra ser usado? Guia é pra guiar,  e seja aqui ou na casa do c... a gente tá junto,pow! Chama e se liga e tamos aí pra encarar qualquer parada! Falo por mim sou Mirim e Mirim conhece caminho que ninguém vê! Valeu!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

De Olho na Ética Umbandista

Sabe quando algo te deixa vermelho de vergonha, sem graça, com batimentos cardíacos alterados? É a reação física quando você vai contra seus conceitos morais, seus valores. Algo simples aparentemente, mas profundo e complexo, muito bem explicado pelos filósofos  Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella no último Café Filosófico . Os padrões morais  variam de cultura para cultura. A Ética que se fala tanto na atualidade é um conjunto de valores específicos de um grupo. Se , ao pertencer a um grupo, eu entender os padrões morais que o regem -a sua ética- e for contra eles e não me envergonhar, não tiver uma reação física imediata, terei que repensar minha participação no grupo.
Trocando em miúdos, se eu prego uma verdade dentro da  cultura do meu grupo e não a vivencio, não estou no lugar adequado. É lógico que todos nós erramos, não somos perfeitos, estamos em evolução constante. Assim como nosso rol de valores não é petrificado, ele também evolui.A questão é absorver os valores a tal ponto de externá-los com naturalidade, porque moral também se incorpora ao nosso físico. Como andar de bicicleta, valores se adquirem em grupo e  se externam de maneira espontânea.
Uma mãe passa seus padrões morais a um filho para que ele não sofra ao se adaptar à sociedade, lugar em que ele vai se desenvolver como adulto, com bases sólidas para que seja feliz e livre. A nossa liberdade como umbandistas é "limitada" dentro da fé ,do amor e da caridade.Cada valor destes deve ser entendido para que exerçamos com ética nossa religião.
Pedi à mãe Lilian Maria Dallastra que escrevesse algo sobre ética umbandista e o texto que ela fez conceituo como uma base bem sólida para construirmos uma Umbanda cada vez mais voltada para a evolução. Peço aos meus leitores que nos comentários complementem, acrescentem, discutam porque sempre acrescentará a quem busca na religião crescimento e verdade:

Ética na Umbanda


Escrever alguma coisa sobre este assunto requer mais do que um parágrafo, pois eu divido a Ética da Umbanda que pratico em 3 pontos:
Ética Sacerdotal
Subdivido esta categoria em mais três pontos.
Respeitar os fundamentos de outras religiões e de outros Terreiros de Umbanda é premissa para ser ético como sacerdote. A minha verdade temporária é o que aprendi até então com os guias que me regem e tais ensinamentos permeiam o terreiro que dirijo. Além desta margem respeito todos os terreiros e seus ideais, regras e fundamentos, assim como espero que o terreiro que dirijo seja respeitado. Neste quesito, ser ético é não julgar o que não lhe compete. Outros dois pontos que merecem citação é a relação entre o pai ou mãe de santo e seus filhos,além da discrição entre assuntos confidenciais do filho para com seu pai ou mãe de santo, a relação fraternal e philia deve ser respeitada. Como assim? Explicarei...
O que um filho de santo confidencia ao seu pai/mãe é por confiar no mesmo. O ser humano tem como hábito (triste hábito) a necessidade de contar um segredo que ouvir como forma de desabafo. Instintivamente isso acontece. O melhor amigo conta um segredo para o amigo, que conta para seu melhor amigo, que por sua vez conta para outro e por aí vai. Um sacerdote precisa ser ético com a sua referência e não transferir o peso da confissão para outro. O que eu conto à você é para você e não para um telefone sem fio. Pai/mãe de santo precisa aprender a não fazer telefone sem fio! A capacidade de ouvir e discernir sobre o assunto sem devaneios e auxiliar o filho fazendo-o pensar em soluções e caminhos diferentes sem interferir no livre arbítrio e em sigilo é papel do sacerdote umbandista.
Um assunto que para mim é algo simples de falar é sobre o envolvimento de filhos de santo com seus pais/mães de santo. O amor, filosoficamente falando, pode ser classificado em três vertentes: eros, philia e ágape. O amor Eros é o erótico, é aquele que pertence à carne, o tesão, a paixão, o desejo.  Philia é o amor de pai para filho e vice-versa, aquele que ama sem interesses, aquele que ama apenas por intenção da felicidade do outro, sem interesses obscuros. Já o Ágape é o amor ao Divino, à Deus, ao Supremo. Não consigo conceber outra forma de amor entre um pai/mãe e um filho que não seja o Philia, ambos (pai e filho) vibrando no amor Ágape. Não consigo entender, mas sei que existe e aqui também entra a ética...

- Ética dos Médiuns
                Ser médium não é fácil justamente por ser tão simples e ninguém acreditar nisso. Ser médium é não fazer absolutamente nada que não seja ser instrumento nas mãos de um espírito de luz. Sabiamente que todo médium deve estudar e procurar mais conhecimento, mas isso requer ética para que não faça de seus estudos assuntos de consulta. Ler livros, ouvir depoimentos e tantas outras fontes de conhecimento são maravilhosas oportunidade de aprendizado, mas isso não pode ser confundido com o saber do espírito que se incorpora. A mistura do “café com leite” é fato, mas separar o que você pensa do que a entidade quer dizer é uma prática necessária e ética. Se o consulente quisesse a sua opinião, falaria com você e não com um guia. Já fui surpreendida algumas vezes quando minha resposta era A e a entidade queria dizer B. Neste momento eu poderia intervir na consulta, mas não o fiz. Assim também como a ética num momento de consulta também é não quebrar regras da casa na qual você pertence. A partir do momento que você aceita as regras de um terreiro, cabe à você ser ético e cumpri-las. Além da ética está também a moral e os valores agregados ao convívio com os demais.
                Neste caso é muito simples ser médium. Basta ser instrumento e não querer inventar moda. Passe a mensagem do espírito e não queira ser mais que o espírito, pois o espírito certamente não tem a vaidade que o médium tem muito menos a pretensão em querer falar além do necessário.
                Notoriamente é importante falar também dos médiuns que adoram “posar de pai/mãe de santo”. Saem por aí (incorporados ou não) dizendo frases do tipo:
- Eu sei com quem você trabalha na esquerda!
- Se eu fosse você pedia para jogar obi novamente, pois acho que você não é de Ogum, é de Oxossi!
- Você viu aquele irmão que ficou no meio na hora de Ogum de Ronda? Coitado, deve estar muito perdido...
- Tenho um recado da pomba-gira para você!
- Ei! Eu sonhei com o seu caboclo de Oxóssi! Sei quem ele é!
- Sua cigana usa uma saia azul com listras laranjas e bolinhas verdes!
                Atitudes como esta são totalmente antiéticas! Qual é o direito que uma pessoa tem de determinar o que é ou não é para o outro médium? A vaidade faz as pessoas fazerem muitas coisas, infelizmente. Hoje, como mãe de santo, não faço isso por não me achar no direito de roubar o aprendizado do médium... Em contrapartida das frases acima, eu responderia se eu fosse o médium vitimado da seguinte forma:
- Que bom que sabe! Mas não abra a boca, quero que ele mesmo que diga!
- Ainda bem que você não é meu pai de santo!
- Preocupe-se com a sua vida!
- Deixa que ela venha falar comigo!
- Que beleza! Quando ele quiser ele vem me dizer quem ele é!
- A cigana não é minha, mas quando minha mãe Cigana quiser algo, ela dirá incorporada no terreiro... Agradeço a intenção!
               
                Neste caso, ser ético é não se intrometer no desenvolvimento do outro. Ser ético é ajudar seu irmão de corrente em dificuldades sim, mas não se intrometer na espiritualidade. Há pessoas que se julgam tão boas na questão da adivinhação, desdobramento, clariaudiência, clarividência e psicografia que não sei mesmo porque vão ao terreiro... Se possuem toda esta mediunidade porque possuem tantos problemas ainda na sua vida carnal? Será que com toda essa informação espiritual ainda não adquiriram o equilíbrio necessário para se ajudar e ajudar os outros sem atrapalhar? Enfim... aqui já foi mais um desabafo sobre a minha indignação sobre o “Triste hábito”, breve texto que já escrevi sobre o assunto tempos atrás.
                A ética do médium se resume em respeitar a Umbanda da casa que pertence, não se intrometer na espiritualidade dos outros e ser fiel as mensagens dos espíritos. Como falei lá no início do texto, é muito simples... o médium é que complica tudo! (risos)

Ética entre as religiões e terreiros
                As religiões são responsáveis em explicar a morte. Isto eu aprendi na faculdade. Além disso, agrego como função das religiões a capacidade em explicar a nossa existência. Assim forma nascendo as religiões, cada qual com suas intencionalidades e paradigmas.
                Aqui me atenho à Umbanda, nascida há mais de 100 anos, ainda um bebê. Aos 17 anos perambulei nas religiões para me encontrar, mesmo sendo de outra religião desde pequena. Conhecendo várias me encontrei na Umbanda. Rezo hoje mais de 6 horas seguidas sem me cansar e pasme: faço isso alegremente! Realmente amo a minha religião.
                As pessoas deveriam fazer o mesmo antes de se decidirem qual religião seguir. Muitas, se não for a maioria, acaba seguindo o que o pai ou mãe ensinou em casa. Pais estes que também seguiram o que lhes foi passado e etc. A tradição passada de geração para geração é muito bonita, desde que seja pela prática da liberdade. Hoje vemos religiões se atacando. Uma se dizendo ser melhor do que a outra. Medem a quantidade de fiéis, de bens... mas deveriam medir na verdade a quantidade de atrocidades que acontecem. É nos erros que medimos nossa valia e não nos acertos. Quanto menos errar melhor.
                Onde está a ética se uma religião prega que a outra não presta, que é do demônio? A mesma pergunta eu faço para quem fala mal de um terreiro ou de outro? O assunto é vasto, vai longe...
                Entre as religiões há sim o poder financeiro que comanda o desejo pela massa popular. Quanto mais fiéis, mais moedas caem no caixa. Obviamente é melhor ridicularizar as demais religiões já que eu não consigo ser verdadeiro e conquistar os adeptos pelos valores verdadeiros que a fé ora defendida prega. Seria mais ou menos assim: não confio no meu taco, então é melhor apedrejar a janela do vizinho.
                Entre os terreiros há algo parecido. Também no quesito financeiro como do “poder” energético. Sinceramente, não me preocupo com isso. Me preocupo com meus filhos: se estão sorrindo, se estão caminhando bem na evolução espiritual e se conseguem transpor as dificuldades da vida material. Uma pessoa que considero muito me falou, e não só uma vez, que o terreiro o qual dirijo está em evidência. Realmente, deve estar. Talvez por eu não querer nada além de abrir uma gira e terminar com alegria e ter a satisfação de ajudar meus filhos. Esta relação despreocupada com o que vão dizer ou pensar me faz ser serena e boba. Serena porque não estou preocupada com o que dizem, pois sei o que faço. Boba porque mesmo os que falam mal me procuram e ajudo da mesma maneira.
                Esta ética entre os terreiros também é muito simples: não fale mal dos outros, pois quem fala mal é espelho da maldade. Propagar verdades inerentes aos fatos é o mesmo que cuspir para cima. Muitas pessoas entram num terreiro falando mal do qual saíram. Isto é antiético. Mal sabe o médium que o pai/mãe de santo já fica com o pé atrás... Mudar é preciso, mas sair falando mal é maldade. Se algo não lhe serve, não use, mas também não saia difamando. Seja ético!
                Pai/mãe de santo que desfaz de outro é a mesma coisa, tão simples como tudo o que já descrevi até agora. É medo de não ser suficientemente bom para manter seus filhos na corrente e ajuda-los verdadeiramente na caminhada ou puramente ego elevado.
Axé

Mãe Lilian
Terreiro Vovó Benta- Curitiba
http://www.vobenta.com/