domingo, 29 de janeiro de 2012

Metamorfose

Andei meio sumida da civilização. Às vezes, isto é bem necessário para sabermos por onde continuar a andar. Embora não tenha tido contato com ninguém, reciclei minhas idéias sobre a vida e a Umbanda.
Nada e nenhum evento existem por si só. Uma pedra abriga, no lugar em que repousa, uma vida imensa e necessária para alimentar outras vidas. A própria morte é necessária para que desperte a  vida em alguém, assim como a vida abriga em si a possibilidade de repouso eterno para algo. Assim que viemos a este mundo ,embora não pareça a princípio, nos envolvemos numa rede de expectativas e ansiedade com tudo que nos relacionamos,porque fomos alimentados automaticamente dentro do ventre e estivemos acolhidos em águas quentes- tudo perfeito. Então ao encontrar uma pessoa que diga que não cria expectativas com relação a nada, primeiro ela pode ter o dom de fantasiar sobre a realidade e segundo não se deu conta que realmente tem expectativa com relação a si própria: de não criar expectativas em sua relação com o mundo.
Há uma rede muito grande na simplicidade da Umbanda que torna necessária a observação.  Quando se aceita a possibilidade de ser médium, aceita-se também, mesmo que sutilmente, a possibilidade de que seja uma missão assumida antes da reencarnação, e muito provavelmente não se encontre um médium que não pense assim. Não digo que isto é correto, apenas observo isto. Este contrato velado com o Divino, a mediunidade, tem em sua escrita cláusulas que se esperam ser éticas e imutáveis : uma certa regalia na vida por auxiliar o próximo, nem que seja a completa e total proteção do Divino a intempéries próprias da existência.
Como em um namoro, acreditamos no amor recíproco com nossas entidades. A devoção e a lealdade são obviamente recíprocas. Se restringirmos em 180 graus nossa visão, perderemos a noção completa do que é a mediunidade e o relacionamento com os seres espirituais. Quem está a mais tempo na religião sabe o quanto é comum encontrar indivíduos que, apesar de estarem há décadas  professando a mesma fé, desistem de tudo por fatalidades. Não avisar que perderemos entes queridos é considerado falta grave no relacionamento com as entidades, na restrita visão humana, e assim, alguns desistem no meio do caminho sentindo-se traídos.
Como seres humanos nossa visão é parca. Entendemos sim que a morte é, para o mundo espiritual, uma passagem de plano apenas, até que aconteça conosco. Portanto até que se entenda, e se passe adiante, que mediunidade é uma forma para se desenvolver o espírito, no sentido de fazê-lo treinar a visão interna, ninguém terá a segurança de entender a relação do umbandista com as entidades. Todo umbandista que incorpora ou se comunica com as entidades conforme suas habilidades pessoais, está , no mínimo, ligado a quatro tipos de espíritos: o Caboclo, o Preto, a Criança e o Exu. Quatro visões diferentes do mundo para que o médium conheça e estruture sua própria verdade sobre seu espírito. Auxiliar ao próximo, nada mais é do que a possibilidade de ter mais um ponto de reconhecimento desta verdade e nunca uma forma de barganha com o Divino.
Nosso senso de justiça é restrito, pois temos como advogado principal nosso próprio ego, quer aceitemos ou não. É ele quem dita à nossa mente as retribuições devidas a cada ato nosso sobre esta terra. Entretanto, um médium não deve ser um ser resignado, antes tivesse a capacidade de se reconhecer como um pesquisador cujos resultados podem não ser obtidos em uma só vida.
Tudo tem um propósito, até o movimento das nuvens no céu e da lava no interior da terra, quem dirá que não há nos passos de um ser que se diz filho de Deus, provido de uma alma imortal. Só se pode entender o passado no futuro e ele, o futuro, está sempre um passo adiante da nossa idéia no presente. Portanto a única certeza sobre os fatos que pode mudar é a do passado, nunca a do presente, nem tão pouco a do futuro. Ao nascer, o bebê, em seu desespero do nascimento, deve imaginar que outras “desgraças” podem ocorrer além do ar que queima - lhe os pulmões, e daquela sensação de sua pele sendo “lixada”- ao ser enxuto após o primeiro banho, jamais pensaria que o ar é necessário para viver neste mundo e enxugar seu corpo é condição para que não morra de frio. Para um bebê a primeira mamada é o maior milagre do mundo, depois do tenebroso início e alguns anos mais tarde nem lembra este evento. 
Somos lagartas em busca da transformação plena, enquanto caminhamos pelo mundo, seja lá a idade que tenhamos.Enquanto vivos, neste plano, estamos nos transformando. Portanto creio que o melhor meio é buscarmos sempre a nossa própria verdade e não a que é imposta pelo outro. A descoberta da paisagem no meio do caminho e nossa visão sobre ela é que fazem a viagem se tornar inesquecível. Axé a todos!




Nota: Gostaria que vissem, na coluna ao lado, a nota que coloquei sobre a venda do meu ebook. Grata!





19 comentários:

  1. Minha amiga de jornada...
    Mais um texto indiscutivelmente incrível....
    Realmente somos lagartas procurando um lugar onde se fixar para poder completar nossa jornada...

    Divulgando pelas redes sociais!

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  2. Antes de poder voar como borboleta e conhecer novos mundos, a lagarta precisa rastejar.

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  3. QUERIDA ANDREIA

    PARA ENXERGARMOS NOSSA VERDADEIRA ESSÊNCIA INICIAMOS COMO LAGARTAS, TRANSFORMANDO OS RANÇOS DO PASSADO E ADQUIRINDO NOVAS FORMAS DE DEMONSTRARMOS O AMOR UNIVERSAL E ASSIM SERMOS AS BORBOLETAS MULTICOLORIDAS DO CRIADOR!!!

    Marisa Cruz

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  4. Está explicado sua ausêcia no café com Quindim,e para nossa surpresa aprece vc aqui postando esta maravilha.Estás certíssima quando falas que não importa o tempo que se tenha de seguimento religioso e que existem médiuns que simplesmente abandonam a religião,principalmente a Umbanda,por razões muitas das vezes futeis e os mesmos não percebem que estão quebrando um compromisso assumido antes de sua reencarnção e que fatalmente irão ser cobrados por tal.Somos lagartas mesmo,nos rastejamos em busca de algo que conscientemente não lembramos ,até que consigamos chegar ao periodo de mutação e virarmos borboletas.Algumas lindas como as que postaste,outras sem muito brilho e coloração,porém todas borboletas.Que sabe se as menores e com menas coloração,não serão aquelas que mais alto degrau alcançaram,talvez voem mais alto que as maiores e mais belas.Devo frear minhas opiniões,pois sabes que me deixo levar,e parabenizá-la por mais este post em seu blog.Fui e sou um encherido,pois não fui convidado a postar,mas mesmo assim aqui estou.Desculpe-me.Parabéns e não é à toa que te considero minha GURU,com todo respeito.Bjs Paulo.

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  5. A cada leitura que faço dos seus textos, mais me encanto.
    Obrigada por compartilhar tamanho amor, tão bem empregado em cada palavra, cada linha escrita...
    Você é ímpar e faz toda diferença neste mundo nu e cru!
    Beijos
    AMO você minha deusa.

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  6. òtimo texto amiga, publiquei no meu grupo TUFIX no Facebook, dê uma olhadinha depois http://www.facebook.com/groups/168745023168681/

    bjks

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  7. Sempre interessante saber como outras pessoas observam o mundo e os alimentos que o mantem vivo.

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  8. Andréa, és abençoada pelo dom da escrita. Torno-me repetitiva, mas é sempre um prazer ler seus textos... pérola em forma de letras... verdadeiro tesouro!

    Todo médium é moldado no fogo, precisamos aprender a humildade, perder o orgulho, rastejar e implorar ao Criador que afaste de nós o cálice amargo da derrota sem derramar toda a fé que existe em nós. Pois é em nosso sofrimento, nos tombos que atraímos da vida, que se faz a nossa METAMORFOSE

    Acreditamos que como médium somos poupados...ledo engano. Ai, queremos desistir...deixamos balançar nossa fé...nos julgamos traídos. Já senti isso querida! É dentro do maior sufoco que nossa fé é testada. É ai que acontece a nossa mudança, nossa certeza que viemos para auxiliar...mas não somos isolado dos nossos sofrimentos...nem Oxalá foi.

    Mas, depois, com certeza...despertamos mais fortes, mas resolvidos, mais confiantes e sabendo discernir o que é da competência de Olorum e o que é para nossa evolução...portanto, da nossa competência.

    Lendo sua frase “Auxiliar ao próximo, nada mais é do que a possibilidade de ter mais um ponto de reconhecimento desta verdade e nunca uma forma de barganha com o Divino." Me fez recordar as palavras da Cabocla Jurema, quando reclamei que ela não gostava de mim, por todo sofrimento que passei e ela não me avisou. Ela me disse: te reconheces como Tupã...pois só Ele tem o poder de saber o amanhã! Se julgas melhor do que teus irmãos, para ser avisada de algo ruim...que merecimento teria tua evolução se fosses avisada dos maus em teu caminho...podemos te preparar livrar jamais.

    Então, amiga amada, o sofrimento me fez mais forte, mais compreensiva, melhorou minha mediunidade em todos os aspectos, reforçou a minha fé e me tornei mais solta e mais feliz.

    Certamente todo médium realmente comprometido com sua reencarnação passou ou passará pela prova de fogo, é o teste de sua fé.

    Amo você irmãzinha e desejo que cresças cada vez mais em fé, sabedoria e continue nos brindando com pérolas como esta!

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  9. Adoro a sua simplicidade no trato das palavras e também com os temas!!!Ainda bem que voltou!! Axé e boa semana

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  10. Lindissio texto,palavras suaves q vicia ler s post q n li rsrsrs adoro

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  11. Ainda encantada, me deliciando com cada palavra...
    Estou vivendo minha fase lagarta, como você deve ter percebido (sempre percebe, hehe).
    Nem sei dizer o quanto foi bom ter passado por aqui..
    Obrigada.
    Zilhões de beijos!!

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  12. Me identifiquei muito com suas palavras nesse texto. Fiquei realmente feliz por ter voltado, senti falta de ler coisas novas por aqui, mas como você mesma disse: ''Às vezes, isto é bem necessário para sabermos por onde continuar a andar.''

    Até a próxima.

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  13. Adorei o texto Andréia. Parabéns pelo site! Sucesso e felicidades querida! bjos!

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  14. Depois de lagartas seremos belas borboletas coloridas!! Belo texto querida!
    Beijocas

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  15. uuuuu..... " Nosso senso de justiça é restrito, pois temos como advogado principal nosso próprio ego(*)

    SENHOR.....NAO ME DEIXE CAIR EM TENTACAO.
    A VAIDADE esse PECADINHO CAPITAL que persegue /.\ .

    TEAChhhhhh clap ! clap! clap!

    vou treinar mais....muuuuito mais.

    MUITO OBRIGADA.

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  16. Olá, amiga! Que bom que voltou! Andava meio sumida. Continua com bons textos! Ótimos, eu diria!

    Feliz 2012!

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  17. Para mim a reflexão é no sentido de colocar-se na posição do outro indivíduo e identificar como é utilizar-se do bom senso, o que é respeitar alguém além de si mesmo e cultuar as entidades quando abraçamos uma crença ou religião solicitando paciência, sabedoria e parcimônia para que todos possam usufruir do que nos é dado de modo gratuito: o dom.

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