segunda-feira, 20 de junho de 2011

Comida de Santo

Este é o Pai Fernando, na Cruz das Almas no Terreiro do Pai Maneco
No início minha juventude, que faço questão de frizar que ainda não terminou, eu buscava em oráculos respostas para minhas perguntas. Se você parar para pensar um pouco vai ver que tudo que previram para você , está esquecido, porque a vida se movimenta muito rápido.  Tem uma resposta que obtive, porém, que nunca esqueci. Já não sei qual foi a pergunta, me desculpem, mas o resultado do I Ching foi:  "observe pessoas alimentando outras e repare como elas se alimentam a si mesmas". 
Não pude parar de pensar nisto ao ler o livro do Alexandre Cumino, "História da Umbanda"  publicado pela Editora Madras, principalmente por um detalhe. Lá ,contando um pouco da história do Zélio Ferdinando de Moraes, a conhecida como fundador da Umbanda no Brasil, nos revela o detalhe da incursão dele como vereador a partir de 1924. Zélio era comerciante, porque desde sua fundação a Umbanda tinha como norma não cobrar pelos atendimentos. Decidiu pela vida pública não para difundir sua religião, mas para poder atuar na difusão das escolas públicas. Isto me chamou bastante a atenção, principalmente pela época em que se passou e pelo próprio propósito inicial da Umbanda.
Nós médiuns temos sim um privilégio sobre os outros praticantes da Umbanda, que não precisam estar necessariamente dentro de uma gira: a possibilidade de entrar em contato com a consciência de outros espíritos diferentes do nosso e de nossa formação. Todo privilégio leva a uma responsabilidade maior. Tudo o que lemos ,aprendemos e vivenciamos , na medida que trabalhamos com estas entidades vai ,certamente, acrescentando e moldando não só nosso conhecimento dentro da religião, mas fazendo com que nossa sabedoria tome um aspecto mais universal.
Ainda sou uma aprendiz, mas me dei ao direito de vislumbrar um pouco do futuro da Umbanda ao ler o livro do Cumino. Pai Fernando fala que existe um ponto de maturidade no médium onde ocorre uma simbiose com as entidades. De uma certa forma eu creio que a Umbanda esteja iniciando seu processo de maturidade, talvez criando uma simbiose com a população brasileira. Hoje já não há quem não conheça esta religião e que não tenha ,em algum momento, lido algum texto de alguma entidade. Podemos esquecer muitas coisas nesta vida, mas quando somos alcançados por palavras de sabedoria imediatamente nos alimentamos delas.
A nossa falta de dogmas tem nos tornado muito mais responsáveis pelas mensagens que passamos. É  a liberdade com responsabilidade. Talvez Zélio com todo conhecimento que compartilhou com as entidades tenha chegado, em uma certa altura, à conclusão que somos responsáveis pelo desenvolvimento, também, dos que nos cercam. Possibilitar que crianças tenham acesso ao conhecimento e ao aprendizado, no começo do século passado, era uma idéia não muito comum, mas extremamente necessária.
Creio que como religião brasileira, a Umbanda tem um quê que me alimenta e proporciona que eu alimente outros. As pessoas vão ali em busca de cura num amplo sentido e são, muito suavemente, conduzidas a caminhos mais amplos pelas próprias entidades. Estes caminhos levam inevitavelmente à uma consciência de responsabilidade não só consigo mesmo, mas com próximo e com a realidade do tempo em que vivemos. É a nossa cidadania sendo desenvolvida, seja pela consciência ecológica que obtemos em nossas práticas, seja pelo conhecimento das necessidades básicas das pessoas que nos procuram. E o que fazemos com este conhecimento em nossas vidas fora do Terreiro é de extrema importância.
Hoje há muitos umbandistas ligados à área de direito e política, de comunicação, de saúde e tecnologia, tanto que não se pode mais falar que é uma religião dos menos favorecidos. Isso vejo como sinal claro de que toda a sabedoria que nos é passada, pode sim ser aplicada cada vez mais na vida pública, com proveito de toda uma população, sem preconceitos de religião.
De fato não importa o porquê da pessoa ter procurado a Umbanda, mas sim o que ela fará com o que vier a aprender. Hoje estou aqui para deixar aqui a seguinte mensagem adaptada: observe as pessoas na Umbanda alimentando outras com caridade, amor ao próximo fé e conhecimento e veja como se alimentam a si próprias.



21 comentários:

  1. Essa ideia nos remete ao altruísmo. Alimentar-se do "alimentar alguém". É fantástica essa ideia de esperança, por que quando ajudamos alguém e nos sentimos bem com isso, estamos investindo em nosso próprio bem estar.

    Parabéns, mais uma vez. Sempre te recomendamos pelo nosso twitter.

    Grande beijo!

    @Cuidadores_on

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  2. Preconceito é próprio daqueles que gostam de colecionar rótulos. A verdadeira espiritualidade é livre e rica de experiências que temos o privilégio de "vivenciar" ao longo da vida, independente do nome que damos a ela, no caso, de uma religião.
    Semana passada tive uma experiência linda, que me lembrou uma passagem curta, porém intensa e cheia de admiração e gratidão pela Umbanda. Mensagens que vem de seres desenvolvidos, que nos concedem esse mérito para nos ajudar, como vc diz, nos alimentar.
    E sim, foi isso que ele veio me lembrar, que quando alimentei fui alimentada... e que o que "me alimenta" nessa vida é "alimentar" alguém, fazer alguém crescer.
    Quem dera tivéssemos políticos umbandistas, que entendessem esse processo espiritual da "troca" universal... seriam muito mais prósperos dando ao povo do que tirando do povo!

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  3. "Podemos esquecer muitas coisas nesta vida, mas quando somos alcançados por palavras de sabedoria imediatamente nos alimentamos delas."

    A vida é sempre muito generosa,basta estarmos com a intenção de aprender algo, de encontrar uma resposta para uma pergunta, que ela imediatamente trabalha para que esta resposta chegue até nós, seja através de uma conversa, um livro, uma palestra ou até mesmo uma frase de caminhão. Estamos todos aqui para aprender, encher nossas malas de conhecimento, experiência, afinal de contas sómente elas nos acompanharão da viagem de volta a Pátria Espiritual e quanto mais cheias, melhor, sinal de que aproveitamos o tempo passa nestas bandas.
    O conhecimento é magia pura, é a luz que nos mostra os diversos caminhos que podemos seguir, nos alimentamos dele, alimentamos outros quando o dividimos e voltamos a nos alimentar no processo.

    Aprendi no espiritismo que quanto mais aprendo, masi cresce a minha responsabilidade em por em prática o aprendizado, tanto para melhorar o meu processo evolutivo como contribuir com os irmãos encarnados e desencarnados.

    Você, minha linda amiga, ja está fazendo a sua parte com honras. Bjs.

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  4. "observe pessoas alimentando outras e repare como elas se alimentam a si mesmas".

    Adorei!!
    Seus textos cada vez mais me proporciona uma 'mesa redonda' comigo mesma, e é ótimo como me sinto.
    Obrigada por tamanho bem.
    beijos

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  5. eeeeeeeeeee....ELE sabia.....
    "...nem só de PÃO vive o HOMEM.... olha os lírios ...!!!! " SIMPLES e PER FEI TI NHO o MEU herói !!!! UH! \O/

    vou estudar ..... =D

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  6. Doando amor nos alimentamos de esperança, Orientando, adquirimos conhecimento. No último degrau da sabedoria, aprendemos a utilizar os ouvidos, os olhos e o pensamento.

    No maior de todos os sacrifícios da vida, um grande homem alcançou a vida eterna.

    No sacrifício da caridade, a recompensa só pode ser o prazer do dever cumprido.

    Parabéns pelo texto.

    MarquesK

    Só o Rock Alivia

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  7. Umbanda é uma religião de Matriz africana, com caracteristicas Europeias e Brasileiras, advindas do proprio sincretismo religioso, onde os principais verbos a se conjugar são Amar, Entregar e se Doar.
    O se doar é levar o alimento a quem busca alimentar-se, e saciar a fome de quem se encontra faminto. Uso dessa analogia valorando esse texto lindo de minha amiga Andrea. Pois aqui temmos que o alimento maior é o saber.
    Sou um Menino na Umbanda, mesmo com anos dedicados, pois a cada dia estamos aprendendo.. e nos alimentando.. pois ao semear essa umbanda... nos fartamos de bençãos de amor e caridade..Axé

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  8. Jesus disse "Nem só de pão vive o homem", mas, não disse que sem o pão vivemos, o que ele falou foi, "nem só de pão", mas, nem por isso, o pão perde sua importancia, um bom exemplo, foi que na ultima ceia ele repartiu o pão e dividiu simbolizando seu corpo! Então as oferendas tem sim muita importancia, e é por isso que até hoje se servem hostias nas missas!

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  9. á Umbanda é amor, é doação o tempo todo , é fazer sem olhar a quem .. é saber que esta ali se doando a um próximo que necessita um pouco de paz e de palavras de carinho e apoio ,assim como um dia todos podemos precisar ou precisamos e concerteza fomos ou seremos abençoados pelo amor e carinho dos guias e médiuns ali presente devemos nos mover e mostrar ao mundoque a caridade, coletividade e união torna tudo mais tolerável e um mundo munito melhor! a Umbanda merece respeito .. SALVE UMBANDA , axé

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  10. Fazia tempo que não lia um texto seu e quando volto tenho essa agradável surpresa...

    Estou tendo a grande alegria de demonstrar ao meu irmão de sangue alguns ensinamentos adquiridos em pouco mais de 5 anos na nossa querida Umbanda.

    Como muitos que vão ao terreiro pela primeira vez, muitas são as dúvidas e grande é a fome de conhecimento. Cabe a nós compartilhar desse prato, tornar a Umbanda uma religião respeitada, sem os esteriótipos de coisa do mal etc.

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  11. O único alimento saudavel que eu conheço é o amor...a renuncia do "eu",o esvaziar-se por completo para sempre servir, sem nada esperar em troca."Já nao vivo eu,mas Cristo vive em mim"(PAULO).Glaucio Elias

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  12. Um certo pensador, e não me pergunte qual, porque não lembro, disse que o conhecimento é o alimento do homem. Não sabia até que ponto isso dialogava com a Umbanda, mas me parece que há mais intercessão do que eu esperava. Digo-lhe que me alimento do conhecimento que ajudo a construir no próximo, porquanto aprecie a satisfação de ser reconhecido como mentor. E quer saber: estou adorando este bate-bola. Comento aqui e você lá... Mas já já "armo uma" para você, porque não é sempre que tenho o privilégio de dialogar com uma nobre escritora.

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  13. Somos responsáveis por todos que chegam ate nos, e uma pena que poucos tem essa visão. Acho que nunca se falou tanto e nunca se teve tantas oportunidades de praticar o amor (ágape), infelizmente muitas pessoas estão focando apenas na retórica ou no discurso religioso. Nos livros "O Livreiro de Cabul" e "O Caçador de Pipas" podemos vislumbrar pessoas totalmente ligadas a religião e muito distantes do amor ao próximo, da caridade e do respeito ao semelhante. Podemos dizer: Sao uns tribais ignorantes, somos superiores e bem informados. Mas será que se analisarmos com um certo distanciamento do nosso "umbigo" podemos afirmar que nosso discurso esta afinado com nossas ações? Obrigado pelo texto e pela reflexão.

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  14. Alimentar espiritualmente um noviço em nossa religião é necessário critérios, pois a doutrina deve ser passada ao iniciado de acordo com o seu entendimento e desenvolvimento.
    Para dar o alimento o Zelador de Santo precisa tê-lo na teoria e na pratica em sua vida espiritual.

    RicardodeOgum.

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  15. Como tudo na vida.....a gente tem que ter consciência com o que faz com o conhecimento adquirido!!!

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  16. Cara Andréa,
    Agradeço este alimento tão saboroso e sábio que nos proporcionaste com estas reflexões a partir da Umbanda e para muito além!
    Agradecer todo o alimento que nos nutre é uma forma humilde de nos rendermos à Unidade de Conhecimento, pois só ama quem conhece e ao Todo se parece!
    Grato,
    ABC fraterno (Abraço e Beijo do Cezimbra)
    Junte-se a nós pela Cura de Gaia!
    http://transnet.ning.com

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  17. Perfeito, Andréa!
    A maneira como alimento os outros é:
    ouvindo-os, empatizando com eles, acolhendo-os
    e amando, mas amando muito e indiscriminadamente.
    Liduina.

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  18. Perfeito Andréa!
    O meu aprendizado serve para acolher pessoas
    e amá-las muito e indiscriminadamente.
    Liduina.

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  19. O importante é compartilhar, a comida com o santo, o Axé com os irmãos e irmãs, o conhecimento com todos. Alimentar corpo e alma.

    Tive o privilégio de trabalhar no Terreiro do Pai Maneco, com o Fernando, e na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, com a Da. Zilméa, filha do seo Zélio.

    Tudo que eles compartilharam comigo, compartilho com os companheiros e companheiras de jornada, igual você Andréa, tento ser uma pessoa generosa.

    Não podemos estende a mão a alguém com os punhos cerrados, devemos ser generosos e compartilhar aquilo que podemos que não vai nos fazer falta. Alimentar corpo, alma, cabeça. Dar de comer ao santo para receber Axé, ao próximo para ter paz de espírito, fazer a coisa certa.

    Sejamos todos, umbandistas ou não, generosos.

    Axé!

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  20. Conhecimento ao meu ver foi feito para ser compartilhado, conheço uma pessoa que retém o conhecimento, não é muito fã de compartilhá-lo e tento mostrar que é necessário compartilhar e que faz bem para a alma compartilhar o que se sabe. Conhecimento é como uma energia e precisa ser circulada, precisa ser passada adiante. Conhecimento como a liberdade é muito bom, mas deve-se saber usar, usá-lo para o bem e não para prejudicar os outros.

    E como sempre Andrea, compartilhando seu conhecimento, nos ensinando com suas experiências de vida e com suas sábias palavras. Para finalizar deixo as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas: "Com os que sabem mais a gente aprende, os que sabem menos a gente ensina, mas ninguém a gente vira as costas."

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