quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Os Donos da Espada

Imagem intuitiva do Cab. Akuan feita pelo médium Jimmy do Terreiro do Pai Maneco

Um grande amigo escreve-me sobre o último texto e faz a seguinte colocação: nós dois não somos filhos de Oxóssi, mas não devemos nada a nenhum filho dele. Abençoada seja esta pessoa. Senti o tilintar das espadas e as engrenagens do meu cérebro funcionando a mil. Hoje, graças a este estopim, gostaria de divagar um pouco sobre o tipo de inteligência das energias Orixás de Yansã e Ogum. Minhas divagações têm como base minha observação e vivência, então elas não são um “ultimato” irrevogável, antes acredito que partilhando o que me vem à cabeça tenha condições de ver de outros ângulos estas energias provenientes do Divino, e as formas de manifestar sua potencialidade.
Algumas vezes observei o caboclo Akuan, entidade de Ogum com a qual o pai Fernando trabalha.  Os caboclos de Ogum sempre me pareceram mais solitários e reflexivos com relação à vida. Numa batalha é importante defender sua posição e caminhada, mas Ogum vai além disto. Ogum comanda o elemento ferro, que não está somente nas espadas e nos aparelhos que nos rodeiam. Está e é imprescindível dentro de nós mesmos. A sua falta em nosso organismo nos debilita, esgota nossas forças e nos faz adoecer. É o ferro que dá força ao nosso sangue.
Num campo de batalha como o da gira, já vi seo Akuan vencendo grandes demandas, como também já vi este filho de Ogum indo curar os feridos de outras batalhas. E aqui talvez esteja a grande beleza do guerreiro. Os feridos em demandas pessoais ,naturais à própria vida e ao aprendizado, não podem ser deixados para trás. A energia de Ogum é dinâmica, então não pode criar raízes porque seu caminho é longo. Forjar armas para ter uma compreensão melhor da própria existência requer conhecimento e sabedoria. Ogum tem em si o dom de ensinar.  Todos os Oguns sempre estão de ronda, como nosso próprio sangue, porque têm em sua composição o propósito de trazer elementos para que nós possamos entender o caminho que percorremos e, consequentemente,  nos dá caminhos para nossa própria evolução, tanto física como mental. De todos os Orixás, Ogum representa sob meu ponto de vista claramente a palavra  altruísmo.
Há um estudo nos Estados Unidos que diz  que em  nosso corpo há uma estrutura que foi gerada para que possamos desenvolver o altruísmo- chama-se nervo vago. O psicólogo Dacher Keltner, diretor do Laboratório de Interações Sociais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões por vários ângulos e apresenta resultados maravilhosos: “O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da espinha dorsal. Ele estimula diferentes órgãos (como coração, pulmão, fígado e aparelho digestivo). Quando ativo, produz uma sensação de expansão confortável no tórax, como quando estamos emocionados com a bondade de alguém ... O neurocientista Stephen W. Porges, da Universidade de Illinois em Chicago, há tempos argumenta que essa região cerebral é o “nervo da compaixão”. Acredita-se que esse nervo estimule alguns músculos na cavidade vocal, permitindo a comunicação. Estudos recentes apontam que ele pode estar conectado à rede de receptores para a oxitocina, neurotransmissor relativo à confiança e aos laços maternais. Nossas pesquisas e as de outros cientistas indicam que a ativação dessa região está associada aos sentimentos de cuidado e intuição que humanos de diferentes grupos sociais têm. Pessoas com alta ativação dessa região cerebral são mais propensas a desenvolver compaixão, gratidão, amor e felicidade.”
Vejam, não quero teorizar sobre Orixás. Quero antes de tudo que possamos vê-los sob outros ângulos. A Umbanda nos permite, justamente por não termos dogmas, que sejamos livres pensadores, desde que observemos e vivenciemos esta religião com a certeza de que o que conseguimos captar é uma parte pequena da energia como um todo...
Um vórtice tocando a terra
Foi uma outra amiga que ao vir me contar um sonho hoje me ofereceu uma pista para eu complementar este texto. Disse-me que , em sonho, estava contando aos amigos que havia tido uma aula sobre o vórtice que orienta a energia de Yansã.  Infelizmente não chegou, em sonho, a explicar aos amigos qual era este vórtice. Um vórtice é um movimento espiral ao redor de um centro de rotação. Eles estão em todos os locais da natureza do átomo ao tornado, dos redemoinhos do que meus filhos dizem ser provocados por curupiras e sacis até o resultado de mexer o açúcar que está na xícara de café. Em meu ver Yansã também tem o mesmo aspecto solitário e reflexivo de Ogum, contudo sua missão é mais objetiva. Yansã cumpre a mudança de estado. São as frutas depositadas no leite que depois do vórtice causado pelo liquidificador se transformam em vitamina.
Ela é aquele túnel, que já ouvimos em  dezenas de relatos espíritas e em filmes que leva os desencarnados à luz de um outro plano, que nem sempre é o paraíso sonhado. Assim como foram pequenas frases que causaram o vórtice em minha mente para produzir este texto, assim também ocorre com os raios dos quais também é senhora, em comunhão com Xangô. É o clarão rápido que lhe traz o entendimento e que na hora, há de se ter o conhecimento para tal.
Estes dias assistindo um programa de música na tv à cabo, soube da história da cantora Melody Gardot. Ela estava viajando ,meio sem rumo, com uma amiga. Acabou a gasolina do carro e estavam totalmente sem dinheiro. Entraram, já sem saber o que fazer, em um restaurante para pedir ajuda. Melody se deparou com um piano e perguntou se poderia tocar. O dono do restaurante agradeceu aos céus por estar ela estar ali, pois o músico que tocaria aquela noite não poderia vir. Ela tocou e recebeu cem dólares. Aí foi o vórtice que atingiu este plano na vida dela, contudo se não estivesse preparada de nada serviria.
Outro exemplo vem de um grande médium:  em dezembro de 1913, tem uma visão enquanto viajava para visitar uma parente, em uma cidade próxima a Zurique: toda a Europa coberta por um mar de sangue, com milhares de cadáveres boiando, do norte até o sul. É uma imagem terrível que se repetiu como se fosse um sonho aterrorizante. Ele relatou os detalhes em seu livro de memórias, assinalando a necessidade premente que sentiu de compreender o sentido. De início, chegou a pensar que estivesse sofrendo de uma grave crise psíquica e que a visão talvez dissesse respeito a uma doença mental iminente. Só quando, pouco tempo depois, a Europa mergulhou na Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) com seus incontáveis mortos e o profundo sofrimento para milhões, ele pôde compreender o sentido antecipatório de sua visão. E é neste ponto, onde descobre o que era a visão e o que fazer com ela, que o considero um grande médium. Seu nome é Carl Gustav Jung e chegou à conclusão de que as visões também se referiam a algo interno, uma profunda transformação interior. As mudanças interiores aconteciam paralelamente às dolorosas alterações da estrutura mundial. E isto é pressentido, não só por médiuns/cientistas como Jung, mas por cada um de nós. Entender o porquê se antevê as coisas e relacioná-las a algo interior é entender que tudo nesta vida, como tenho enfatizado, é “casado’ com tudo. É a mudança de pensamento que nos leva a uma nova condição de vida.
Como filha de Yansã vejo,não só em mim, mas em amigas sob a mesma influência Orixá a necessidade de estar sempre preparada e informada. Talvez porque os vórtices em nossas vidas sejam meio constantes. Sempre falo uma frase que é muito corriqueira: o caos antecede a criação da estrela. Neste ponto diverge de Ogum: Yansã não é uma professora, antes uma jornalista: ela passa os fatos e você os interpreta e utiliza da forma que tiver o entendimento para isto. Enquanto Ogum é o sangue em nossas veias ,Yansã é o átomo que lhe confere velocidade, é a transformação evolutiva. Quem muda nossos caminhos, nos passando de um plano para o outro é certamente Yansã. Contudo, Yansã é a energia que cumpre  a Lei Divina, que se assenta nas mãos de Xangô,portanto não é necessário  nem proveitoso ficar pedindo a ela mudanças constantes.
Ogum e Yansã são energias interdependentes, como ocorre com todos os Orixás. Não existe esta coisa de que são opostos. O Divino é perfeito. Basta-nos buscar conhecimento para entende-las e aplica-las.   Ogunhê ! Eparrey!

Sobre a bondade como desenvolvimento genético: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_ciencia_da_bondade.html

7 comentários:

  1. Como podemos perceber, Ciência e Natureza, assim como Religião não podem estar totalmente dissociadas. Somos parte de um grande conjunto chamado Universo e as interações são constantes e ligam todos os seres e fenômenos.

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  2. A porta para a mata é só de entrada. Nunca se sai dela.

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  3. vamos viver no vórtice - com o sangue todo nas veias!
    saravá, hermana! tá genial!
    bjobjo

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  4. Amiga!
    Acredite ou não, estou lendo um livro justamente sobre premonição!!!

    Muito bacana seu texto! Não sabia dessas energias, mas a velocidade de mudanças de Oyá, as sinto dentro de mim!

    Beijocas

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  5. Ótimos post querida!
    Andrea Destefani, quem diria que iria conhecer uma pessoa tão sábia quanto você!
    Admiro muito seu conhecimento, seu caráter!

    É bom conhecer pessoas como você!

    Tenha um bom fim de semana e uma semana repleta de luz!

    Abraços,

    Juliana Fideles.
    @juliana_fideles

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  6. Eu já estive em um vórtice, com o formato de um túnel iluminado por uma luz muito intensa. Foi durante um coma quando adolecente. E olha que o mundo girou na minha mente.

    Assim como os orixás cada um com seu poder e sua missão, tudo no universo é um fragmento e não sobrevive se não estiver em conjunto. Mesmo o vazio se torna poderoso quando acumula energia e devora todo conteúdo a sua volta.

    É como a sombra que não seria nada sem a luz. O bem que seria nulo se não houvesse o mal. Ou mesmo a liberdade que sem as grades seria a própria prisão.

    No meu ponto de vista cada orixá não seria nada se não fizesse parte de uma corrente seja das 7 ou 9 linhas. O segredo sempre esta no conjunto da obra.

    Parabéns pelo texto

    MarquesK

    Só o Rock Alivia

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