domingo, 27 de junho de 2010

Jorge, o Forjador de Almas



Quando era pequena e visitava minha avó uma coisa sempre me intrigava. Ela possuía uma imagem de porcelana bem na entrada de sua loja, numa das janelas. Um dia perguntei e me disse se tratar de São Jorge, o matador de dragões. Foi meu primeiro contato com Ogum,e por mais insignificante que possa parecer , me lembro até hoje desta imagem.

Cultuado e amado no Brasil inteiro, diz se que Ogum é o senhor dos metais, que forja as ferramentas de guerra e de agricultura. Fiquei pensando como explicaria o que é Ogum e as atribuições deste grande general na Umbanda, nesta grande energia divina que rege a humanidade. Fiquei pensando na história do Caboclo Akuan, entidade de Ogum que rege o terreiro que freqüento. Contou certa vez , e isto está registrado no livro Grifos do Passado, do pai Fernando Guimarães, que Akuan era um cacique e teve vários filhos , um deles foi uma menina que nasceu doente. Por uma razão que nem ele sabia explicar, se afeiçoou muito àquela menina . Quando sabia que ninguém estava vendo, ia pro meio da mata e ficava brincando com ela feito um curumim. Foi precoce a morte da menina e fez com que Akuan chorasse muito a sua ausência, porém nunca questionou os deuses, pois sabia que ela seria cuidada. Depois de seu desencarne, reencontrou a filha e hoje ela trabalha com ele em forma de águia...

Enquanto pensava que era este amor paternal de Ogum que me reportaria aqui, me deparo com uma matéria que me comoveu. Ali estavam todos os símbolos de Ogum que eu procurava e aconteceu aqui mesmo em Curitiba. O engenheiro mecânico Adolfo Celso Guidi deixou o cargo de gerente de uma concessionária em 2000, ao descobrir que o filho Vitor Giovani Thomaz Guidi, à época com dez anos, tinha gangliosidose GN1 tipo 2. Nas palavras dele na mídia: "A doença começou a se manifestar quando ele tinha quatro anos. Nenhum médico no Brasil conseguiu fazer o diagnóstico. Larguei tudo e fiquei uma semana em Buenos Aires com minha família, onde diagnosticaram a Gangliosidose. Quando eu retornei para o Brasil, um médico me disse que não tinha o que fazer".
Aqui reproduzo mais uma parte da matéria:"O engenheiro, inconformado com a resposta, começou a estudar a doença na biblioteca da faculdade de medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "A gangliosidose impede a reprodução de neurônios, que degeneram. Por meio de um processo homeopático, que funciona como um antídoto de veneno de cobra, a gente fornece essa enzima e o organismo trabalha", explicou o pai, que encontrou a fórmula de um medicamento para o filho em 2001.

Para alcançar esse resultado, Guidi diz que gastou, na época, cerca de US$ 80 mil dólares (cerca de R$ 149 mil atualmente) e deixou de pagar as prestações de sua casa. "Tudo saiu do meu bolso, não pude mais pagar nada e minha casa foi a leilão", afirmou.

Para encurtar esta história, que estará à disposição nos links que postarei aqui, a justiça, através da Juiza federal Anne Karina Costa, quitou a dívida da casa com o dinheiro do fundo que a Justiça mantém com as penas pecuniárias. Aí estava um exemplo prático do que é Ogum.

Um engenheiro mecânico, aquele que lida com metais, abandona tudo para salvar o filho. Para isto se utiliza de elementos de diversas naturezas: o amor irrestrito de Yemanjá, a cura de Oxóssi, o poder da descoberta de Yansã, a justiça de Xangô e sempre com uma fé inabalável em Oxalá. E sua descoberta , feita numa guerra em prol do amor, ainda salvará outras crianças.

Estes dias, um artista com designação de evangélico pronunciou categoricamente na tv: Valei-me meu São Jorge! Porque no meu entender Ogum é pai amoroso e valente ,que tem um espaço muito grande no coração dos brasileiros. Eu trabalho com Ogum e sei do seu amor irrestrito pela humanidade, de sua presença sempre marcante em seus médiuns e de seus muitos caminhos para auxiliar, pois como já falei uma espada é forjada com muitos elementos, assim como nossa alma também é . A alma é forjada no nosso caminhar nesta vida e os caminhos pertencem a Ogum.

Meu espírito desenvolvedor é de Ogum. Ele se chama Fernando Guimarães e é meu pai de santo. Um Ogum verdaeiro que batalha pra ensinar que Umbanda é simples, mas generosa em conhecimento. Aprendi com ele que Ogum é Ogum, seja ele Naruê, Matinata, Beira Mar.... Ele foi e é um espírito de Ogum desenvolvedor de muitos médiuns e à ele dedico este texto. Saravá Ogum!

Links sobre a história do engenheiro mecânico Adolfo Celso Guidi
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/753594-homem-contrai-dividas-para-estudar-doenca-do-filho-e-justica-evita-despejo-em-curitiba.shtml
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=16916



Link para saber mais sobre o livro Grifos do Passado:

12 comentários:

  1. Amiga, vc é mesmo um espírito iluminado, adoro a forma como vc descreve esses amigos espirituais, que tão incansavelmente trabalham para nos ajudar na nossa caminhada terrena. Nossos guias , ganham nas suas palavras mais luz, carinho, amor, é bonito demais ser testemunha da sua fé.Obrigada.Beijos!!!

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  2. Sou filha Ogum, minha primeira incorporação foi do sr. Matinata. E ele é o único que se comunica comigo de uma forma divina. Quando estou incorporada ele fala comigo "dentro da minha mente". É uma sensação inexplicável. Foi ele que me guiou durante os primeiros passos na Umbanda.
    Não sei colocar em palavras o Amor que sinto por essa energia de Ogum. Pois tudo que disser será pouco diante de minha gratidão!
    Mas uma coisa posso dizer sem receio, Ogum está sempre comigo.
    Foi ele que me ensinou que "quem tem Fé tem tudo". Nada é impossível!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. saravá Ogum!
    saravá nosso pai de santo e a corrente de ferro e de aço do Caboclo Akuan!

    bjobjo

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  5. Ogum me emociona sempre. Posto aqui a mensagem que o Pai Fernando Guimarães me enviou e que não conseguiu postar:


    Andréa:



    Quero cumprimenta-la pelo visível crescimento do teu blog. Gosto do carinho como vc fala da Umbanda e a escolha dos temas tão inteligentemente selecionados e textos escritos com muita qualidade cultural. Este tema de Ogum é o próprio retrato do que estou dizendo, inclusive com o maravilhoso exemplo deste mecânico e da sentença inédita da Juiza que teve a sensibilidade de buscar recursos até então nunca usado. Parabéns! Fernando Guimarães

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  6. Savará Ogum!
    Lindo texto, Andréa!
    ;)

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  7. LIndo Andrea

    Quando vi na TV a reportagem fiquei muito emocionada e feliz. Porque a historia dessa familia é feliz e nos enche de esperanças. A bravura de Ogum desse pai é contagiante, sem falar na humildade do seu ato e ainda mais felicidade do rosto do seu filho. São essas atitudes que me fazem chorar mais chorar de feliz.
    Saravá

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  8. Mesmo eu não tendo uma religiao definida ainda eu peço sempre a proteção de Ogum e Iansã ,não sei porque mas desde que passei a pesquisar um pouco sobre outras religiões esses dois me chamaram mais atenção , acabei que me apegando a eles e sempre peço a proteção de ambos. E tem dado certo !
    bjO
    Parabéns pelo Blog

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  9. Sou filha de Ogum. Sempre fui.
    Bem antes de me descobrir na Umbanda já era apaixonada por São Jorge (conto essa minha história na matéria "Salve Jorge" no meu blog (http://migre.me/SWcq).
    Ogum é isso: Pai!
    Ogum é guerreiro, é quem me ajuda a guerrear, é a oração que me faz chorar, é o ponto que me faz emocionar:
    "Se meu Pai é Ogum , Ogum
    Vencedor de demandas
    Ele vem de Aruanda
    Pra salvar filhos de Umbanda
    Ogum, Ogum, Ogum Iara
    Ogum, Ogum, Ogum Iara
    Salve os campos de batalha
    Salve a Sereia do mar... "

    Ogunhê, meu Pai!!!
    Salve!!!
    Salve suas forças!
    Salve seu amor por mim, meu Pai!!!

    Ogunhê, meu Pai Ogum!!!

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  10. Bela história, de superação, fé e amor. Ogum para a Umbanda, São Jorge para a Católica, Ares na mitologia grega, Marte na romana, Odin na nórdica... é a mesma linha vibratória cósmica original, o mesmo Orixá Guerreiro.

    Sabe, quando comecei a trabalhar com esta vibração sempre via na minha cabeça um ferreiro, trabalhando em uma forja dentro de uma caverna, ele trabalhava dia a dia um pedaço grosso de metal, que com o passar de alguns anos tendo esta visão, o pedaço de metal se tornou o fio de uma espada, polida e afiada.

    Achei por um longo período de tempo, erroneamente, creio, que esta espada era uma arma e que ela servia para me proteger ou mesmo para eu usar. Hoje vejo que tudo era simbólico... significou os períodos duros da minha vida, que foram tomando forma... acredito nisto pois sempre que precisei de arma nesta vida usei a inteligência, ou faltando argumentação os punhos mesmo.

    Hoje quando entro nesta caverna do ferreiro vejo ele descansando numa cadeira, com a espada nas mãos, sobre o colo. Ela está pronta, com empunhadura, encrustações, gravada. Olho fimrmente e quando me aproximo quase a encostar a ponta do nariz nela não vejo uma arma, vejo um espelho, no qual se reflete a imagem do ferreiro, das paredes da caverna, a minha própria e o brilho da Luz do Criador.

    Na forja o fogo já se apagou, mas estão lá, alimentadas as brasas, que podem e devem ser atiçadas caso precisemos fabricar outro instrumento de metal... mas o que me chama mesmo a atenção é a reflexão no metal polido.

    Assim como este metal polido, que mais parece um espelho, devem ser nossas almas, como prega a prece de Cáritas em sua conclusão: '...Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, afim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem.'

    Esta história tem um significado muito forte em minha vida, devido as várias adversidades que enfrentei e venci nesta época em que o ferreiro trabalhava árduamente martelando o metal em brasa, sempre com a coragem e força de Ogum.

    Também pelo fato de os Stresser serem no passado uma família de ferreiros, por vários séculos, em Luxemburgo e na Alemanha... deixei minha imaginação voar agora... Acredito que aquele espírito que eu vejo, o do ferreiro, é do pai desencarnado ainda na Alemanha, de meu ancestral Johann Stresser.

    Johann, nasceu em 1788 naquele longínquo país, e veio da Alemanha para o Paraná no início de 1800, ele também era de Ogum, ou é um Ogum, como Fernando, como Akuan como todos os guerreiros, desbravadores, pioneiros e forjadores que trabalham a matéria bruta, dando-lhe utilidade.

    Saravá sua banda Andréa, valeu pelos momentos de reflexão e ligação espiritual, derivados do seu justo trabalho com as palavras, com o tempo, espaço e em especial com o mundo dos Espíritos. Saravá Ogum!

    Beijo grande e fraterno do teu sempre irmão. Axé!

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  11. Olá minha amiga querida!

    Você fala no ritmo do coração,
    cada palavra é uma lição de amor!

    Obrigada.

    Vera Lucia.

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  12. Olá!

    Que bela associação você fez com a história do engenheiro mecânico Adolfo Celso Guidi. Também fiquei supercomovida com essa história.

    Beijos!

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