sábado, 15 de maio de 2010

Do Cemitério para a Encruzilhada



Sempre gostei de cemitérios. Meus filhos também. Há algo de anárquico em visitá-los. Ler lápides e imaginar a vida daquelas pessoas, quanto viveram e quanto poderiam viver. Causa arrepios em você? Tenho medo de outras coisas, de outras mortes, de outras assombrações.


É uma grande aventura para uma criança ir a um cemitério. Sempre levamos as crianças em programas não estruturados previamente, ou seja, no meio de um passeio qualquer nos deparávamos com cemitério e como pais adolescentes de mais de 40 anos, resolvíamos entrar, e sempre com o devido respeito.


Um cemitério é uma grande biblioteca de romances. Alguns água-com-açúcar, outros épicos que transformaram cidades e nações, mas todos, sejam palavras, linhas ou páginas, inevitavelmente importantes no grande livro da humanidade.


O cemitério é um campo de força da Umbanda. Deveria ser da humanidade, pois ali está o depósito de nossa humildade. Os livros na maioria das vezes se resumem em uma frase, uma idéia. Quanto mais prolixos, menos atingem seu objetivo. Pare para pensar: os grandes iluminados, aqueles que atingiam grande número de pessoas expressavam de que forma seu conhecimento? E de que forma chegaram ao ápice de sua força? Como me disse o lindinho estes dias, a respeito de uma pessoa "chegada" a palavras complicadas e com grandes pretensões populares : "O cara quer ser prolixo, vomitando seu conhecimento incompreensível e ainda quer ser respeitado?" Sem condições.


A Umbanda, que é o meu referencial, é uma religião que nasceu do plano espiritual em socorro das mentes que entendem a missão das entidades. Passar mensagens simples e necessárias. Nada mais. São mensagens do Divino para que você dê prosseguimento ao livro da sua vida, de uma forma revisada. A Umbanda te dá umas virgulas, uns pontos de exclamação e até de interrogação, mas quem estrutura a frase e põem o ponto final é você.E isso só pode acontecer se tudo for muito claro.


Os campos de força da Umbanda são as fontes em que bebem médiuns e entidades, para transformar a Luz Divina em palavras, mas a verdadeira força da Umbanda vem da caridade. Nada se estabelece sem ela, nem a fé,nem tampouco o amor. Às vezes fico aqui pensando que Deus gosta mais dos músicos do que dos médiuns para passar suas mensagens. Eles são mais caridosos. Com exceção do rebolation, não há como não entender uma música e invariavelmente ela passa uma mensagem.


Maquiavel só conseguiu escrever "o Príncipe", porque sofreu um revés na vida, caiu junto com a nobreza deposta pelos Médicis, e foi obrigado a se retirar para o campo. Voltou às origens. Graças ao convívio com aldeões conseguiu entender o mecanismo da República . Durante o dia jogava cartas com eles e conversava muito, apesar de não haver ali o glamour de outrora nem os eventuais puxa-saquismos. À noite se vestia especialmente para ler Tucídides, Cícero, Júlio César, Tácito, Tito Lívio, e tantos outros mais. Estou dizendo que a obra dele permanece porque a fonte de suas inspirações veio pela boca de gente dita "ignorante". Que na encruzilhada da vida, ele foi obrigado a escolher o simples. E aposto que se divertiu um monte, apesar de não ter chegado a ver neste plano a concretização de suas idéias . De alguma forma ele, a história da vida dele, o livro da vida de Maquiavel continua intacto.


A Lilian, uma amiga minha da esfera virtual é uma das pessoas que mais me chama a atenção nos últimos tempos. Ela é biomédica e estes dias ia dar uma aula sobre alfagalactosilceramida. Nem imagino o que seja, nem tão pouco consigo pronunciar. O fato é que, por realmente ser intelectual, narra partidas de futebol e coisas do nosso cotidiano em 140 caracteres no Tweeter como ninguém mais. Ela não sabe que eu sei, mas conto aqui para vocês. Ela possui o tesouro da simplicidade, a facilidade de fazer rir e conhecimento. Será uma pessoa muito importante para as ciências.


Estou escrevendo, assim como você que me lê, ainda o livro da minha vida. Às vezes volto atrás , reviso o que já foi escrito, projeto o que vou escrever, mas na maioria das vezes mudo o texto e o contexto. Espero que tanto eu como você, ao nos depararmos com o Grande Editor, tenhamos uma publicação de sucesso.

7 comentários:

  1. Olá minha querida!!
    Delicia de texto, como sempre!
    Adorei!
    Beijos.

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  2. Andréia,

    Nunca consigo te elogiar de maneira prolixa e elaborada [e talvez isso seja uma vantagem]. Mais um vez, a marca que você deixa em mim é simples: você é uma pessoa que me faz bem. Nunca sei se saio daqui mais inteligente ou informada, mas, com certeza, saio mais sábia e um ser humano um pouquinho melhor. Admiro esse dom e fico feliz por ter cruzado seu caminhho no mundo virtual.
    Obrigada pela homenagem - me emocionei.

    Beijos.
    Lílian Buzzetto.

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  3. ótimo unir cemitério e inteligência. adoro os dois! ;)

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  4. http://www.youtube.com/watch?v=mID3OpJcKhg

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  5. Trespassar um filete de mensagem pra fora da nuvem de idéias e sentimentos da sua alma é como beber um gole em uma taça de vinho: a alegria de fazê-lo não está em saborear o gole, mas de saber que aquele prazer do momento é apenas uma amostra da infinidade que a garrafa ainda armazena.

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  6. Flor, seu texto a cada dia fica melhor. Como vc consegue se superar tanto!?! Quando acho que li algo fantástico, você vem e nos preenche com mais sabedoria, com literatura, com magia, com sentimento e com verdade. Parabéns...sempre! Saudades infinitas e absolutas!!! Orgulho de te ver desabrochar em cada texto...espalhando lindas sementes! Bjão!!

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  7. Ahhh que delícia de texto amiga querida!
    Você é iluminada e sabe dizer tudo em poucas linhas, que no decorrer, tornam-se necessárias e autenticas!
    Adoro você, grande beijo!
    @carlafloresadv

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