terça-feira, 12 de abril de 2011

Das Tragédias aos Milagres

Dia 9 de novembro de 1989. Lá estava eu vendo a queda do muro de Berlim pela tv, emocionadíssima e pensando que aquele filho que eu trazia no ventre viveria em um mundo mais livre. Numa destas ironias da vida hoje meu filho nascido no final de 89 , está em Berlim desfrutando da liberdade proporcionada pelo conhecimento e pela sua dedicação aos estudos. Quem tem um pouco mais de vivência sabe como a vida pode ser uma seqüência de fatos correlacionados, que em algum momento, fazem um sentido maior. Nada é em vão e os ventos sopram na direção em que as mudanças são necessárias.
Minha relação com Deus sempre foi muito , vamos dizer ,calorosa. Já briguei e perguntei a Ele o porque disto ou daquilo.Sempre me respondeu no tempo em que Ele achou que eu entenderia, como responde a cada ser que fala com Ele, sempre no tempo Dele. A Umbanda me ajudou a entender isto, creio que porque me faz pensar muito em cada detalhe.
Algumas pessoas me ligaram no dia da tragédia de Realengo. Estava triste demais para falar. Eu sei o que é a dor de perder alguém que se ama muito e imaginava os pais da crianças. O porquê Deus explicará no tempo Dele, repito, e não no nosso. Mas escutei muita gente revoltada com o Divino.
Elucidar os motivos de um ser obsediado, é correr atrás do vento. Os iguais se atraem e, logicamente, as mentes doentias atraem outras deste e de outros planos. Falar sobre eles não acrescenta, nem tão pouco contribuirá para evitar outras tragédias.
Há muitos dias parece que vejo em minha mente Chico Xavier  falando: " Fora da caridade não há salvação." Esta frase pertence a Allan Kardec e é de fato um pouco prolixa. Você precisa de salvação? Salvar do que e pra quê? E se a salvação é necessária é porque estamos eminentemente em perigo. Que perigo é esse?
Nossa mente é uma bomba em potencial. Nela criamos conceitos e idéias e percebemos outras de fora. Dentro de nossa mente um futuro inteiro é construído ou destruído em instantes.Mas ,o mais perigoso é quando pensamentos pequenininhos e inofensivos a princípio, começam a achar justificativas cada vez mais concretas e sólidas para permanecerem lá todos os dias.
Destes pensamentos o ódio é o pior. Ele é a doença degenerativa do amor.Temos que ser caridosos, a princípio, conosco mesmos. Um dos gestos mais bonitos que eu vi foi a nova pintura da casa dos familiares do atirador, pichada com palavras de ódio, pelos moradores da região e ex alunos, e o motivo dado? "Não podemos dar continuidade ao mal que ele causou". Não podemos dar continuidade aos nossos pensamentos de ódio, tristeza, falta de esperança. Fortalecidos , podemos sim ensinar e acolher ,pelo menos com um grande abraço, a quem nos procura. E isto também é caridade.
Caridade é uma palavra muito grande ,mas pode ser traduzida em atos pequenos. Quantos muros construímos durante esta vida?A ignorância faz com que construamos muros cada vez mais altos entre nós e uma série de possibilidades de felicidade.Os pré-conceitos são alicerces difíceis de serem quebrados. Não somos obrigados a amar a todos, mas somos chamados a respeitar cada um, cada vida que caminha nesta mesma existência que a nossa.
No muro do colégio há infinitas homenagens e pedidos de paz. Todo ser humano que se sensibilizou com a tragédia de uma forma inconsciente está lá representado também. Há tanto a ser feito que deveríamos formar uma corrente, nesta grande gira da vida, na qual cada um refletindo a luz divina e fazendo a sua parte consiga dar um passo a mais em direção à caridade.
Todos os dias acontecem tragédias, como também acontecem milagres. Precisamos dar ênfase às boas notícias, aos esforços individuais e coletivos pelo bem comum.Precisamos criar uma onda inversa, um tsunami do bem.
Hoje vou deixar aqui uma frase da Vovó Catarina, que pediu aos médiuns de corrente da gira da Mãe Rita do TPM,para reflexão aqui e  que eu creio ser bem pertinente no momento : um passo, um ato, um olhar. Se fizermos estes três itens todos dias direcionados à fé, ao amor e a caridade certamente caminharemos com mais cuidado sobre esta terra.Saravá!


21 comentários:

  1. Ninguém nasce amando.
    Ninguém nasce odiando.
    Aprendemos a cultivar ou a destruir tais sentimentos com uma prática diária e ininterrupta.

    ResponderExcluir
  2. O mundo não está acabando, está se transformando, agora, se esta transformação será positiva, depende de cada um de nós.

    ResponderExcluir
  3. Lindo, lindo, lindo! A fé sem ação é morta e essas ações não precisam de grandiosidade, mas de entrega e amor.

    ResponderExcluir
  4. Como sempre - você toca no ponto que eu acho que deve ser tocado. Não entendo muito bem esta incrível necessidade que o ser humano tem de "urubuzar". As vezes tenho a nítida impressão de que as pessoas gostam de tragédia, as pessoas gostam do que dá errado. Mas como você sabiamente ressalta, mesmo nos piores cenários diversas atitudes positivas, iluminadas e que dão esperança surgem... e são muito mais abundantes do que a parte ruim. Mas elas se dissolvem no ar sem a merecida atenção.

    "Falar sobre eles não acrescenta, nem tão pouco contribuirá para evitar outras tragédias."

    Tái. É isso. Gente doida, má - ou qualquer nome que o fregues preferir dar - sempre vai existir. Tragédias vão continuar acontecendo e muitas vezes é impossível se prever, previnir ou evitar.

    Prefiro ficar com a idéia de que - para cada uma das desgraças ou dos desgraçados - há a vasta maioria da população ajudando, se solidarizando, pensando e fazendo o bem.

    ResponderExcluir
  5. Um dia quando voltava do trabalho uma Sra me parou me entregou um bilhetinho com o endereço da sua igreja e me disse uma frase que gravei na memória: "Para cada mal que lhe fizeram, pratique um bem." Eu fiquei pensando por um bom tempo.
    Quando vi os moradores pintando a casa com pedidos de paz, me lembrei da frase de novo...
    Sabe, eu não sei ao certo, mas sinto que dentro dele havia algo bom que talvez estivesse adormecido por conta das agressões que tb sofreu, a perda da mãe e o descaso dos irmãos.
    Sei que não justifica e sei que o estrago que causou em inúmeras famílias foi imenso, mas sinto pena dele, pena pela vida que teve e pela caminhada em busca da paz que ele terá pela frente.
    Que Oxalá conforte os que ficaram e que perderam os seus amados filhos e que um dia acolha esse jovem em seus braços dando fim ao sentimento de rejeiçao que sempre o acompanhou.

    ResponderExcluir
  6. Oi Andrea, achei muito oportuno o tema do seu Blog, duas palavras antagônicas: tragédias e milagres. Sempre que acontece uma fatalidade dessas fico prestando atenção a cobertura da mídia, nao sou especialista nem estudioso do assunto então, tenho liberdade para dizer o que sinto e penso a esse respeito; nao que eu defenda que nao se cubra esse tipo de evento macabro, longe de mim, a imprensa precisa mostrar, mas ficar o tempo todo passando e trazendo o assunto a exaustão para dentro de nossas casas. Pessoas de todos os níveis psicológicos assistem aquilo, como se estivesse no local no momento do acontecimento, quem dara apoio psicológico a eles? Acredito que se dessem maior ênfase a coisas dignas de louvor, dignas de honra, teríamos uma sociedade muito melhor, pois muitas pessoas no Brasil ainda tem como único canal de informação a televisão. Quanto a culpar Deus ou seja lá o que for pelas atrocidades cometidas pelas pessoas e um modo simplista de encerrar a questão. Acredito em Deus, sei que ele pode fazer muito por nos, mas existem coisas que estao em nossa responsabilidade, e essas coisas somos nos que teremos que fazer, Deus nos deu sabedoria, inteligência e a consciência do bem e do mal, precisamos escolher a quem queremos servir. As pessoas estao muito preocupadas em ser o primeiro dos rankings da sociedade, e por isso esquecem dos problemas e da dor do próximo. Nao estou aqui para dar respostas a respeito do que leva uma pessoa a cometer uma barbaridade como essas, isso vai alem da minha compreensão, mas nos que nos denominados pessoas de bem, precisamos reavaliar nossas pequenas atitudes a respeito dos nossos semelhantes.

    ResponderExcluir
  7. Elucidativo e muito próximo das nossas conversas. Um abraço.

    ResponderExcluir
  8. "com conceito de fazer o bem não importando a kem... que aprendi com O Capitão Goitacaz" digo, que primeiro devemos fazer bem a nós mesmos, erradicar pensamentos ruins e destrutivos em nossa mente, para somente após isso estender as mãos ao próximo..." parabéns por mais um belo texto...

    ResponderExcluir
  9. Mudar o modo de sentir, que muda o modo de pensar, que muda o modo de falar, que muda o modo de agir, que muda o modo de sentir.
    Ginástica interna que nos fortalece como humanos construindo nossa humanidade.
    Reflexões necessárias!
    Beijo, querida!
    Elisabete Santana

    ResponderExcluir
  10. Déu Tosta

    Uma postagem maravilhosa, mais uma vez!
    Na verdade concordo em tudo que está escrito,e o que mais me chama a atenção é realmente a atitude das pessoas em "apagar" da história o problema, quando eles pintam o muro de branco, dando lugar à paz ao invés do ódio. É tão simples!Eu sinceramente não consigo entender o que faz de uma pessoa, uma pessoa má. Daquelas que simplesmente fazem o mal pelo mal, sabendo que está fazendo. O rapaz em questão é evidentemente um doente, uma pessoa que sofria de uma patologia psicológica, causada claramente por um trauma. Com certeza já deveria haver em seu organismo algo errado, uma pré-disposição ao esquizofrenismo, e com o bullyng sofrido, com certeza isso se aflorou. Então, existem pessoas más, existem pessoas doentes, e existem pessoas boas. Acho diferente analisar um homem-bomba mulçumano, que APRENDE durante a sua vida terrena que ela não vale de nada, e que ele está aqui para uma missão, que é morrer por Alá, e matar pessoas que estão fora dos planos do deus deles, e analisar um louco, uma pessoa que trama uma vigança por anos, e desfaz de sua própria vida por vergonha. Alguém que deixou de ter sentido para viver, simplesmente porque foi forçado ao isolamento, e isso chama-se depressão. Vi pessoas se suicidarem por causa de depressões, e até uma mãe de um amigo meu, esposa de um conceituado jornalista de Salvador, que simplesmente se jogou da janela do seu prédio afim de morrer... quão tênue era a linha que a impediu que matasse mais alguem? Devemos ter muito cuidado ao julgar os casos... e devemos propor a paz sempre, em combate ao mal.

    ResponderExcluir
  11. Parabéns pelo texto, Andréa. Ele chega a ser atemporal, tamanha a força de amor que há em suas palavras. Essa reflexão nos fez lembrar da Nova York do início dos anos 90, em que cada ato de vandalismo era reprimido com construção, até que a sociedade entendesse que o lugar deles era limpo, organizado e não um lugar cheio de destroços. A maior lição é construir, sem dúvidas. Não há o que perder, se construímos o tempo todo, com amor, com atitudes que valham a pena estar em contato com outras pessoas.

    Parabéns!

    ResponderExcluir
  12. Olá Andréa!
    Mais uma vez um belo texto!
    Infelizmente o homem se acostumou a "matar um leão por dia", o que muitas vezes o fez sair dos caminhos que o Criador preparou. Quando na verdade o melhor seria "plantar um flor por dia", semear o amor, praticar a tolerância, unir e não separar.
    Quanto a nós, irmãos das religiões de matriz africana, que louvamos e cultuamos nossos Orixás, cabe a nós realmente vivermos a "Vida Orixá", que nada mais é que vivermos de acordo com aquilo que pregamos, que teoricamente (infelizmente novamente) seria o amor e a caridade. Isso é viver com o Orixá!
    Se me permite Andréa, quero deixar uma mensagem que me foi passada por um Preto Velho amigo meu que diz o seguinte:
    "A evolução de cada um, está de acordo com a sua capacidade de amar ao próximo e a si mesmo"

    Um grande abraço a vc e a todos os irmãos do blog!
    Muita paz!
    Luz!

    ResponderExcluir
  13. Déia
    É preciso conhecimento,sabedoria,prudência e perseverança para encarar todo tipo de acontecimento,principalmente quando se trata de violência, raiva,odio,desamor.
    É preciso continuar, crer num Deus de amor e na maxima que Ele sabe o momento certo para nos dar as respostas e não nós.

    ResponderExcluir
  14. Sabe...eu fiquei de luto por um dia.Um primo faleceu na mesma data.Passou pois não sou feita pra tristeza e percebi que a diferença se faz nestas horas.Não adianta levar palavras sem ações, carinho sem amor, abraço sem afeto...tem que ser muito mais que isto!Queria colocar todos no colo, trazer os japoneses para o Brasil, mas não posso.Posso levar esperança e amor aos que comigo convivem, e orar muito para que Deus me dê saúde para continuar minhas "missões"...

    ResponderExcluir
  15. Oi Andréa,
    É sempre com muito prazer que leio seus textos, elaborados com amor na luz da fraternidade.
    Seu texto DAS TRAGÉDIAS AOS MILAGRES, não poderia ser diferente da maneira amorosa e fraterna dos outros, tão bem escritos.
    Não podemos fugir, nem ignorar que as notícias publicadas pela imprensa dão mais ênfase às tragédias (infelizmente vendem mais), gerando assim uma maior sintonia com as forças do mau.
    Se a imprensa escrevesse sobre o amor, caridade, perdão e boa ação estariam falidas. Pois o homem possui a tendência de se interessar pelo mal, a doença, a calamidade e tudo que é oposto ao bem. E entendo que quanto mais falo, ouço ou leio sobre o mau, ele acaba se hospedando em minha vida. E é disso que os telejornais, novelas, jornais, etc., estão recheando as nossas vidas.
    Quando nossos irmão começarem, em qualquer aspecto da vida, dar ênfase ao bem, talvez o campo vibratório dos nossos irmão mude para a direção do amor, da fraternidade, da fé e da caridade.
    Fico pensando e até mesmo questionando Oxalá sobre o motivo de tantas tragédias ocorrendo em nosso planeta, não só em nosso país. E fico refletindo se não é um alerta para que tenhamos mais amor, menos preconceito, menos intolerância, mais caridade e mais exemplo de fraternidade e fé.
    Sem dúvida a fé e a caridade são essenciais para a evolução do ser humano, mas a fé e a caridade praticadas pelo coração, sem o intuito de aparecer na mídia, aos nossos amigos ou para mostrar que somos caridosos.
    Caridade começa dentro de cada um, de mostrar ao irmão que a vida é um misto de tristeza, alegria, felicidade, raiva, compreensão, bondade, revolta e perdão. Mas é preciso que cada um possua o amor e a caridade, além é claro, do desejo e da coragem de espalhar sempre o lado do bem, a prática salutar da fraternidade e o exemplo positivo do amor, por que são deles, e com eles, que vamos elevar o mundo a uma sintonia melhor.
    Quando estivermos preparados para o entendimento das coisas de Deus, tenhamos as respostas aos nossos questionamentos ou...Talvez Oxalá permita tantas TRAGÉDIAS para que os MILAGRES comecem a acontecer na humanidade, tão impregnada de débitos do passado, que necessitam de redenção, neste planeta, para sua elevação espiritual.
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  16. Visão perfeita, precisamos realmente sentir amor ao próximo, para que nossas crianças aprendam que esse sentimento é muito importante para ter vida saudável. Ame-se e ame ao próximo que tudo ira melhorar ! Temos que parar de ter e conseguir SER...

    ResponderExcluir
  17. A caridade é muito mais que solidariedade, compaixão, enternecimento, filantropia, altruísmo ou mesmo fraternidade. É amor, respeito pelos outros, é entrega como valor de vida em sociedade. Não é um disfarce para a hipocrisia por vezes reinante nos dias de hoje. É uma virtude e um principio. É uma categoria moral. A caridade crista é muito diferente da mera partilha do que se tem a mais. Não é uma dispensa do supérfluo, nem uma acto de estigmatização daquele que não a tem. Caridade é amar sem contrapartida. É plenitude de desinteresse pessoal. A caridade é ao mesmo tempo a inteligência do coração e o coração da inteligência. Amar o próximo...

    Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1764988-que-%C3%A9-caridade/#ixzz1JQBdtlc5

    ResponderExcluir
  18. Muito propícia sua elucidação sobre o função da religião, ontem minha filha disse que a professora dela falou: "quem não dá as coisas para os outros, fica sem luz no coração!" fiquei indignada! minha filha não precisa dar as coisas pra ter luz no coração! Pois há relações muito mais complexas na atitude da doação! Há pessoas que não podem receber caridade, pois estão viciadas nisso! Aprendi, à duras penas, que até a caridade deve ter limite! Nossa isso é tema pra outro post! beijos Andréa! parabéns pelo post!

    ResponderExcluir
  19. Ola, Andrea!

    Muito interessante teu ponto de vista.
    Me senti muito bem por aqui...
    Deixo o convite para vir me visitar.
    Desde ja, te sigo com alegria!

    Um abraco,

    Gislene.

    (desculpe, meu teclado nao mais acentua as palavras)

    ResponderExcluir
  20. Triste fato este ocorrido em Realengo, realmente penso no futuro do meu futuro filho que esta a caminho, me pergunto hoje em 2011 já esta assim, como será o futuro do Gabriel, e realmente vejo que quanto mais violência gera a violência e me preocupo, quanto ao sentimento de ódio dessas famílias, se tornou muito forte a tal ponto de não suportarem como o futuro será sem o seu filho ou sua filha que perderam a vida lá mesmo com a morte do assassino a raiva permanecera por muito tempo ou eternamente, o que temos a fazer e lutar e rezar para o futuro melhor, belo texto Andréa

    ResponderExcluir
  21. Querida!!! Admiro suas reflexões, de uma enorme lucidez. Precisamos sim dar ênfase ao bem e falar de coisas boas. Isso é fundamental! Deixo aqui um convite: tenho um projeto no Dalla Blog que se chama Meditação Ilustrada, onde convido amigos para compartilharem alguma informação ou exercício de meditação. Caso se sinta inspirada em participar, será uma honra!!!!
    bjossssssss

    ResponderExcluir