Uma das coisas que acho impressionantes por aqui são os cães e as crianças. Algumas vezes, pego uma carona no onibus escolar e umas das cenas mais bonitas que já vi foi no percurso de volta. Há um ponto onde descem várias crianças, num pequeno aglomerado de casas. Nesta esquina, você pode avistar de longe vários cães sentados . Quando o onibus chega e as passageiros se dispersam rumo às suas casas, cada cão segue a "sua" criança .
Dificilmente há cães em coleiras por aqui.Muito menos com relógios. Uma vez o ônibus se atrasou, por problemas na estrada, e os cães ficaram muito agitados. Por aqui todas as crianças sabem os nomes dos cães que circulam livremente, mas tem seus donos. O pessoal da cidade, infelizmente, numa época de férias ou de feriado prolongado, não sabendo com quem deixar seus cachorros por vezes vem soltá-los por aqui. A maldade não escolhe nível de evolução.
Já que estou tratando de assuntos delicados, vou me estender em mais um. Cheguei a conclusão que somos hoje como os cães que esperam na esquina, mas já nos esquecemos do objeto de nossa espera. O Brasil ainda começa depois do carnaval, mas porquê? E outra, mais dura, eu queria saber o porquê dos umbandistas, alguns, ainda temerem a quaresma.
A quaresma é um período adaptado pela Igreja Católica para que o povo da antiguidade esquecesse dos ritos ditos pagãos. A real quaresma era um periodo pagão de 14 séculos antes de Cristo, um ritual de purificação que ocorria antes de se fazer as oferendas às divindades da natureza ,para que houvesse a ressurreição da terra no início da primavera e assim, uma colheita farta. Hoje a data da Páscoa é definida da seguinte forma: é comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera no Hemisfério Norte, e do outono no Hemisfério Sul. Esta lua cheia é hipotética, se você se der ao trabalho de ir conferir. A igreja, para obter consistência na data da Páscoa, decidiu, no Conselho de Nicea em 325 d.C., definir a Páscoa através de uma Lua imaginária conhecida como a “lua eclesiástica”.
Alguns umbandistas acham que neste período pessoas de má índole praticam ainda mais maldades. Pois eu digo a vocês que não há período para se fazer o mal e se vocês querem ficar alertas, o façam durante o ano todo. Adaptando a frase seria: Girai e vigiai!
Um cara genial , que se tivesse nascido por estes lados seria um grande umbandista, era o escritor Jean de La Fontaine (8 de Julho de 1621 - 13 de Abril de 1695, Paris). Foi um poeta e fabulista francês que estudou Teologia e Direito e que acabou por assumir o trabalho paterno como inspetor de águas e florestas. Ele falava o seguinte: "A excessiva atenção que se presta ao perigo faz que muitas vezes nele se caia." Ora, se você pensa que nesta época as coisas estão"pesadas", seu poderoso cérebro dará um jeito de que sua fé não seja em vão, então as coisas podem ficar realmente "pesadas".
Os rituais são indispensáveis em qualquer religião e até no nossso dia-a-dia. Somos seres ritualísticos, mas não podemos esquecer nossos propósitos. Você deve ter todo um ritual antes de sair para trabalhar e , durante ele, todo o seu processo produtivo vai se desenhando em seu cérebro. O que não podemos esquecer nunca é a finalidade do ritual.
Somos todos humanos falíveis. Todo umbandista tem um defeito: aquela pontinha de orgulho, quando realiza a ponte entre o espiritual e o material de uma forma tão boa que auxilia pessoas a encontrarem a saída de seus labirintos pessoais. Nenhum de nós vai falar que há uma época mais propícia para se fazer o bem, fonte de nosso prazer pessoal: ele deve ser realizado todos os dias.Por que então o mal teria um período só para ele? Seria muito fácil de combater.
Umbanda exige raciocínio, porque é uma religião livre de dogmas. Liberdade requer responsabilidade sempre. Já devo ter falado milhares de vezes neste blog, mas sempre é bom repetir: Pai Maneco sempre fala que a Umbanda se aprende no Terreiro e se pratica na vida. É através do equilibrio das forças da Natureza que praticamos nossa fé em Deus.
La Fontaine falava que se quisermos tocar o coração dos homens devemos sempre contar histórias que envolvam animais ou Deuses e que isso despertaria, suave e docemente, a consciência deles. Então eu digo a vocês que cada cão que espera sua criança aqui perto, não está incomodado em saber que época do ano é, o seu objetivo é cuidar sempre do que ama. Por outro lado gostaria também de falar , que quando resolverem cuidar de um cão lembrem desta história e de quanto sentimento seu animal nutre por você, antes de pensar em jogá-lo fora de forma irracional.
As fotos postadas aqui hoje são uma homenagem à simplicidade da Umbanda. Foram captadas pelo fotógrafo Marc Ferrez no final do século XIX e representam uma criança indígena de uma tribo do Mato Grosso de Sul e três mulheres quitandeiras e quituteiras (em homenagem também ao dia da mulher), logo após a abolição da escravatura no Brasil.
Muito bom!Foto muito reveladora, tanto da fragilidade humana, como da necessidade do amor entre as pessoas!
ResponderExcluiremocionate, lindo adoreiiiiiiiiiiii sem comentarios to :O
ResponderExcluirVá entender certas tradições, que pulam de uma religião, crença ou seita, para outra, sem o menor sentido e perpetuam-se injustificavelmente.
ResponderExcluir"A quaresma é um período adaptado pela Igreja Católica para que o povo da antiguidade esquecesse dos ritos ditos pagãos" ou
A igreja, para obter consistência na data da Páscoa, decidiu, no Conselho de Nicea em 325 d.C., definir a Páscoa através de uma Lua imaginária conhecida como a “lua eclesiástica”.
Meu maior desejo é que o homem (governos e igrejas) percam o medo da realidade, libertem as mentes e contem a verdadeira história ao povo, reescrevendo todos os livros e extirpando todas as mentiras convenientes.
As religiões radicais em seus dogmas não sobrevivem. O que a Igreja Católica sempre fez com certa sabedoria e vistas grossas foi permitir o sincretismo.
ResponderExcluirAlgumas notas breves:
ResponderExcluir1. Uma das maiores transformações que a Humanidade, especialmente a "ocidental", sofreu, foi a relacionada com o esvaziamento dos rituais e cerimônias, processo iniciado com a Revolução Industrial e em marcha até hoje.
2. Muito, muito feliz sua observação sobre a importância das estórias para os rumos que tomamos, como indivíduos ou coletivos. É consolador ver que há gente quanto poder real pode haver numa narrativa.
O texto é bacana, mas discordo deles em alguns pontos!
ResponderExcluirMas não tira suas verdades...
Beijocas
Carla
Realmente as pessoa querem er um animal de estimação, porém não quer as responsabilidades por eles, triste.
ResponderExcluirA questão do Brasil começar a funcionar depois do carnaval é muito estranho, pois o carnaval não é feriado federal, nem estadual muito menos municipal e quem contesta isso. Até os "crentes" que detestam ocarnaval, curtem o feriado de CARNAVAL.
Quanto a força da mente em fazer o que temos mais medo é fato, e a pessoas ainda imputam isso ao sobrenatural.
gde abraço gostei do seu texto.
Acho justo lembrar dos cães abandonados e da falta de amor de alguns seres humanos.
ResponderExcluirAdorei o texto.
Sensacional! Todos somos muito mais dogmáticos do que supomos... o problema é engoli-los sem sequer questionar!!!
ResponderExcluirAndréa, Você transforma assuntos complexos pra mim, em textos Deliciosos, Simples.Seus textos sempre me tocam de uma forma positiva, e me ajudam a compreender a grandeza de nossa querida Umbanda.
ResponderExcluirEm certas ocasiões nossa própria luz quase se apaga e é reacendida pela faísca de alguma outra pessoa. Cada um de nós tem motivo para pensar com muita gratidão nos que acenderam a chama dentro de nós ~Albert Schweitzer
ResponderExcluir