Férias. Aqueles que têm filhos em idade escolar sabem o que significa. E aqueles cujos filhos estão na pré-adolescência ou na adolescência, neste período, estão todos no meu caderninho de orações. Tenham calma que esta fase passa e vocês sobrevivem, como diria uma amiga minha, eu acho. Aliás esta colocação: "eu acho" foi proibida pela Presidenta de nosso país.O Brasil é um país de adolescentes de várias idades, portanto creio que cada vez mais iremos escutar o dito "eu acho..."
A Umbanda é a única religião que conheço que tem férias. E são merecidas.O desgaste do corpo ,da mente e do espírito é inevitável.Mas ,mais do que repor energias, este período é propício para , ao se distanciar, rever alguns pontos. Você já parou para pensar qual é o ponto comum a todas as linhas?
Pai Fernando sempre fala que a linha dos Ciganos é uma linha que atende exclusivamente a família. Eu creio que eles são grandes protetores familiares, pois a estrutura e a conservação da cultura cigana se dá pela família. Conhecimento passado de geração a geração. Você não vê os idosos ciganos em asilos, muito menos crianças longe dos pais.A base de respeito por cada membro da composição familiar é algo digno de nossa admiração.
Os ciganos chegaram ao Brasil em 1574 e a primeira família a se estabelecer aqui, conforme constam registros, é a do cigano João Torres. Um neto de ciganos, anos mais tarde, construiu uma cidade referência em nossas vidas: Brasília. Juscelino Kubitschek , ao meu ver, deveria ter divulgado o amor dos ciganos pela família, tendo em vista que os brasileiros o amavam tanto. Creio que hoje a incidência de drogas seria muito menor.
O fato é que se os ciganos estavam aqui no início de nossa colonização, certamente dividiram sua cultura com povos também menosprezados pelo preconceito como os índios e os negros. Não consigo ver a Umbanda como religião de afrodescendentes. Umbanda é religião brasileira, feita por espíritos que iniciaram nossa colonização e que marcaram nossa cultura. Ainda vai levar um tempo para as pessoas deixarem de usar este termo.
Existem muitas linhas na Umbanda: a dos caboclos, dos baianos, dos ciganos, dos boiadeiros...Mas o que os liga? Em um primeiro momento poderíamos pensar que é justamente o preconceito do mundo dito civilizado que os uniu em uma religião. Só que é muito mais do que isto. A necessidade de exercer a liberdade plena, o respeito pela vida e a conseqüente alegria de viver estes grupos.
A beleza de olhar para um céu estrelado sem necessidade de julgar o mérito cada estrela é a tônica comum a estes grupos. Assim, cada médium que adota a Umbanda como religião se sente protegido, por estar em meio a espíritos que congregam a mesma liberdade de expressão. Não temos dogmas, não temos uma lista de pecados mortais, antes nos guiamos por pequenas palavras as quais englobam a responsabilidade de um verdadeiro umbandista: fé,amor e caridade. E estas palavras têm uma força descomunal, assim como a natureza que nos rege, quando aprendemos a ter coragem, humildade e sabedoria frente às diferenças que nos unem.
Talvez a maior magia que exista na Umbanda seja o convívio de diferentes culturas com o intuito de mostrar que a vida é nosso bem maior, que deve ser preservada e compartilhada da melhor forma possível. Enquanto escrevo este texto, meu amigo @poetavadio me pergunta no twitter para que serve a mediunidade. Aproveito para responder que a mediunidade na Umbanda serve para demonstrarmos que, mesmo com as diferenças culturais entre as linhas que trabalhamos,mesmo com a diferença de rituais entre os terreiros, nós médiuns umbandistas trabalhamos para demonstrarmos que é possível construir um país livre baseados no amor ao próximo, na valorização da família e no respeito pela individualidade. A mediunidade na Umbanda é um instrumento poderoso não só na comunicação verbal, mas principalmente na comunhão de várias culturas diferentes.Na umbanda o idoso, a criança e o mais simples dos mortais têm em nós o canal de transmissão de todo seu conhecimento.Deste entendimento talvez venha a grande riqueza do povo brasileiro e a capacidade de crescermos cada vez mais. Desculpe Presidenta, eu acho. Saravá!
A cada dia aprendo mais, vc é impar em expressar-se desta forma, significativamente pura !
ResponderExcluirAprendo cada dia mais com vc, amiga Andrea. Muitos dos mitos que nos são apregoados estão sendo tirados aqui, com vc. Confesso que não gosto de entrar no mérito religioso, já que sou agnóstica com muita simpatia ao catolicismo, mas respeito todas, sempre. Beijos
ResponderExcluirSalve a Umbanda, Salve todas as Linhas, Salve a força dos filhos de fé que se expressam dessa forma lúcida, competente e amorosa.
ResponderExcluirGratidão, minha querida, por este trabalho maravilhoso e necessário. Assino embaixo.
grande bjo
Como sempre, admirável texto!!! Leio todos! Bjoss
ResponderExcluirEu nao sou da umbanda... Mas tbm to de ferias!
ResponderExcluirLindo post como sempreee!
Smack
@vampireska
Somos plurais. Somos plurais em tudo.
ResponderExcluirInfelizmente, isso não implica que respeitemos diferenças. Quantas diferenças cegas ignoramos em nós mesmos?
ótimo texto como sempre, belo pensamento, agora vou ver como é ter um filho!! bjocas.
ResponderExcluirLindo post, Andrea! Transmite muito carinho e sensatez o seu escrito.
ResponderExcluirBeijos mil!
Boa tarde querida Andrea!
ResponderExcluirMe identifico com muitas coisas do seus posts, mas confesso que ando meio 'desorientada religiosamente!'
Com tantas coisas que andam acontecendo, pelo Brasil e pelo mundo, ando meio sem fé.
Bem, sem muitas palavras hoje, tenha uma ótima quinta-feira!
Abraços, querida!
Juliana Fideles.
@juliana_fideles
Valei-me Pai Antonio! Andréia, estou curtindo seu blog. Fui na minha infância. Cambonei minha mãe numa sessão e tinha 18 anos. Foi uma única vez...
ResponderExcluirUm grande abraço!