quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sinais


Os meninos começaram aquela fase característica da pré-adolescência. Não há comida que chegue. E aqui a ordem, partindo deles, é nada de comida gordurosa nem que faça mal. Volte e meia, sem dó, me lembram da minha mãe que faleceu por excesso de gordura no sangue...É uma nova geração. Lembro-me dos tempos de redação de jornal envolta numa nuvem de fumaça de cigarro e o barulho incessante e quase hipnótico das máquinas de escrever.Já não é mais assim também, a preservação do corpo e o bem estar é a tônica do novo milênio.
São os sinais dos novos tempos. Preservando a saúde dos mais sensíveis, até no terreiro painho fez com que a defumação ficasse lá do lado de fora, sem prejuízo para o ritual. Cachimbos, cigarro de palha e charutos só no toco e com consciência ao atender gente doente. A Umbanda cresce também na consciência de seus adeptos.
O meu lindinho sempre falou que fazer comida é um ato religioso. Precisa de um ritual. Um belo dia me deparo com uma resposta a esta colocação e que transcrevo de um texto do Pai Fernando de fevereiro do ano passado: “ O Didi, um médium do nosso terreiro mudou-se para a Bahia e instalou seu domicilio em uma praia daquela terra abençoada. Foi falar com o Pai Maneco confessando sua tristeza por ter que deixar o terreiro e não ter mais a possibilidade de conversar com ele. O paizão recomendou: “todo mês, durante a lua crescente, você faça um jantar para mim, fique concentrado que eu vou dele participar.” Encerrou recomendando o cardápio. Hoje o Didi já reúne mais de trinta pessoas no jantar, todos de branco, cantam pontos, falam e conversam sobre a Umbanda e muitos doentes, convidados pelo anfitrião e provavelmente indicados pela entidade homenageada receberam o beneficio da cura e da saúde mental. Hoje são umbandistas devotos. Não precisaram de terreiro para isso. Já está ficando tradicional o encontro no jantar do Pai Maneco onde a única magia que se pratica é a do amor. O interessante dessas reuniões é que a comida não é oferecida à entidade em forma de amalá ou criação de força. Ao contrario, os espíritos são convidados e a dividem com os encarnados.”
Umbanda é mesa posta. Assim como deveriam ser todas as religiões que pregam fé, amor e caridade. O ato de alimentar ao outro e a si mesmo é a prática do milagre. E o ato de alimentar não se faz só pela comida. Eu me alimento de palavras ,de sensações , de emoções e de observação. Observação é a palavra mais “gostosa” para mim. Tipo quindim mesmo. Porque sempre espero por sinais que indiquem o caminho, desde os mais concretos até os mais leves, isso faz parte de mim, desde pequena. O lindinho fala que é bobeira minha, mas desde criança quando vejo borboletas verdes, e só vi três vezes nesta vida, acontecem coisas boas...
Partindo para os sinais mais concretos, minha observação sobre a Umbanda sempre tem respaldo na vida cotidiana, pois senão não teria sentido claro. Simplificar nos torna mais humildes e propensos a praticar a verdadeira caridade. Palavras que se tornem atos fundamentados e com resultados claros no amor ao próximo reluzem, no meu entender, como asas verdes de borboletas raras. Umbanda pés no chão. É a praticada no Terreiro do Pai Maneco, porque de salto alto não percorremos os caminhos abertos de Ogum... Precisamos cada vez mais ter discernimento sobre a responsabilidade que temos sobre nossas vidas. Não podemos entupir nossas artérias da alma com palavras gordurosas e que não possamos dividir com o próximo. Temos que refletir sobre o que nos alimenta.
Hoje deixo com vocês uma poesia de Khalil Gibran, grande escritor libanês, que traduz em suas palavras o que sinto em praticar a vida com pés no chão, sem fardos desnecessários para se carregar, respeitando uns aos outros. É quase uma poesia Umbandista...

O Profeta

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.
Khalil Gibran

Peço que não deixem de ler a opinião do Pai Fernando Guimarães, do mês de agosto, que me inspirou a escrever este texto:

http://bit.ly/aY2qUP

13 comentários:

  1. tem dessas coisas, né?
    eu confio em pequenas borboletas brancas. elas vêm me consolar sempre, desde criança.

    bjo

    PS: e tem que ser pé no chão mesmo, gata, senão não é Umbanda. sai voando no primeiro vento forte e vira pirocóptero.;)

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  2. E eu nas borboletas amarelas, que me trazem bons presságios desde meu aniversário de 8 anos. Que coisa linda!!!

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  3. "Sinais" nao sei se voce percebeu, mas quando me mandou o recado avisando que tinha postado um novo texto eu tinha acabado de postar que comi uma feijoada enorme. La na casa da minha mae sempre fomos adeptos de refeicoes nem um pouco saudaveis, a gente comia de tudo sem peso na consciencia. Quando morei um tempo longe da casa dos meus pais ate que tentei dar uma melhorada nos habitos alimenticios. Agora novamente moro com eles e vejo a luta dos dois para controlar o mal colesterol, pois quando eram mais jovens nunca se preocuparam com isso. Velhos tempos, velhos habitos. Eu estou tentando me cuidar um pouco mais, confesso que nao e facil, sempre fui fascinado por sabores, aromas e texturas, prazeres de uma boa mesa, ja melhorei bastante. Valeu pelos sinais. Parabens pelo texto.

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  4. Repassando o que escrevi no twitter, com erros de gramática e meio bagunçado, mas segue meu comentário sobre esse lindo texto!! Axé!!



    Gostaria de observar algumas coisas do texto da @AndreaDestefani, Umbanda é uma religião brasileira q faz oferendas, velas e etc

    Mas é muito importante deixar claro a necessidade de adaptação ao novo mundo, uma religião q "vive" das energias da natureza

    tem que saber preserva-la, sempre fui de acordo q oferenda com comida será sempre melhor "entregue" p/ quem "pode" comer (parte material)

    E no texto ela faz observações muito inteligentes sobre essa questão, uma religião que presa pela caridade, ajuda ao próximo

    é mais do q certo preserva a natureza, a saude humana e "dividir" suas oferendas com os necessitados de comida e axé!

    Fico muito feliz em saber que existe praticantes dessa linda religião que tem a mente tão aberta p/ "mudanças".

    Que Deus / Oxalá sempre te abençõe com esse dom lindo de saber escrever tão simples e perfeito @AndreaDestefani um grande abraço!

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  5. Que a vida nos seja leve e possamos cumprir nossa missão de caridade e amor, sabendo sempre compartilhar com nosso próximo a energia que nos alimenta e mantém. Vc é minha borboleta verde mais linda, querida Andréa!! ;*

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  6. Ai... como sempre lindo! E com borboletas então!... Parabéns! E esse poema do Khalil Gibran também... ficou perfeito!

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  7. Olá, tudo bem!
    que belo texto, você teve uma ótima inspiração.

    abraço.

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  8. Lo leí íntegro gracias al traductor de google. Qué maravillosa es la tecnología y estos tiempos modernos. Con todo, me encantaría saber más del portugues y leerles, comentarles en su bella lengua. Por ahora....sólo castellano, mi lengua materna y única.¡ Qué Vergüenza ! En fin, hermoso artículo de Andréa Destefani, periodista y columnista, que en forma genial y mágica nos transporta a un tema de candente actualidad como es hacer vivia la palabra y la prédica. La prédica de todos nosotros y no llearnos de esa grasa que mata el espíritu y la sociedad. Y parte magistralmente haciendo el paralelo de los actuales jóvenes, que de alguna manera ya no queiren esa grasa física que tanto daña al cuerpo y que en esa conjunción de ideas, nos invita a dejar la grasa de la palabra y transformarla en verdadera acción. Felicitaciones y por supuesto que me interesa ller al Reverendo Padre Fernando Guimarães, que sugiere esta admirable mujer....Desde Chile, mis cordiales y atentos saludos. Fernando Rodríguez Guzmán

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  9. "E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro"

    Gibran resumia toneladas de espiritualidade em uma estrofe :)

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  10. FRANCISQUINHAaaaaaaaaaaaaaaaa....
    BRINCAR COM AS PANELINHAS ....é PRECISO......!!! tanto como com as LETRINHAS...... UH! AMÉM!!!



    OBRIGADÍiiiiiiiissma !!!

    obrigadíssima !!!!


    ops....ja ia esquecendo....

    presentinho...

    http://www.youtube.com/watch?v=qHaY2YTYa5Y&feature=PlayList&p=750FC546BB1CD5A6&playnext=1&index=2

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  11. Ah, como não mencionar que sinal, mesmo, só pode ser este post? Saiba que, há alguns meses, venho tendo problemas com o meu peso. Nada grave, mas o repentino aumento, que parece se elevar cada vez mais, fez com que minha mãe me advertisse todos os dias. Hoje, mesmo, comentei no almoço com o pessoal do trabalho que me sinto bem com meu peso, mas tenho me chateado bastante com o incômodo que isso causa em minha mãe e que eu não sei explicar. Daí, há algumas semanas, uma amiga evangélica comentou que está "fazendo jejum com Deus". Pensei que, para o meu próprio bem e sem esse compromisso estrito, posso controlar minha alimentação e tudo o que eu fizer em excesso na vida "fazendo um trato" com Deus. Isso tem me deixado bem melhor. O autocontrole deve ser o maior desafio do homem. Depois de ler seu post, entendi o sinal que me chegou sorrateiro. A partir desse instante, encararei refeições - e atitudes, de modo geral - como um ritual. Certa vez uma pessoa que amo quis acender um incenso para um ato profano. Eu a adverti, dizendo que não se pode encarar o aroma de um incenso - que para mim serve como conexão comigo e com os céus - como profano. Suas palavras preenchem vazios da gente. Desejo que borboletas esverdeadas pairem por seu caminho todos os dias. Abraços carinhosos!

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  12. Amiga querida, adorei a analogia da gordura nas artérias com o verdadeiro "entupimento" que causamos no nosso espírito com tantos pensamentos e vibrações negativas.Acho que vivemos mesmo um tempo de alertas, de prestarmos atenção ao que ingerimos, porque afinal de contas nosso corpo é o templo que nos foi dado para estar aqui e aprender com esta encarnação. Da mesma maneira também devemos vigiar o que devolvemos ao mundo em forma de palavras e pensamentos e que podem envenenar o nosso espírito e o ambiente a nossa volta. Essa é uma verdadeira lição de humildade e respeito. Obrigada por este "sinal".Beijos de luz!!

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