quinta-feira, 26 de junho de 2014

Eram Duas Ventarolas.....


Tenho uma irmã que tinha verdadeiro pavor do mar. Gritava horrores. Para podermos ficar na praia,só levando ela de costas até a areia. O porquê disto nunca soube, mas funcionava. Ficava contrariada ,mas ficava. Em compensação, se fosse a um cemitério ,não saía de lá sem muito choro: amava andar entre as catacumbas, ver lápides, admirar a paisagem soturna. Tem gente que gosta de mato, de cheiro de árvore, tem gente que ama uma cachoeira, há os que amam pedreiras e viagens por estradas bem longas. Todo mundo, independente de religião, tem um lugar para recarregar suas energias, se reestruturar, mexer com sua composição molecular.
É muito comum entre umbandistas saber sobre os Orixás, as características de cada filho e usar até como uma brincadeira saudável, coisa bem comum entre irmãos. O problema é quando isto passa a ser rotulação, acabando por criar uma certa dificuldade em entrar em contato com a energia que não é "simpática". Muito embora sejamos parte de uma única energia Orixá, precisamos durante a vida de composições com outras energias.
Nosso equilíbrio se faz de formas diferentes ,em diferentes fases da vida mediúnica. Filhas de Yansã precisam às vezes de Oxossi, às vezes de Ogum, às vezes precisa mesmo mimetizar a energia de Oxum e agir como tal. Somos filhos do Divino e como tais podemos parecer um desenho diferente neste grande caleidoscópio que é a existência.
Comecei falando do mar. Tem muita gente ,por incrível que pareça, que não gosta de praia e muitos outros não se atrevem a entrar no grande mar. Yemanjá é um Orixá misterioso. Oxum é a grande rainha das bruxas, Yansã rege todos os mortos, mas quem é Yemanjá? A Rainha do Mar? É muito pouco...
Pelas escrituras, Deus ,antes da criação do mundo, pairava sobre as águas onde a sabedoria soprava constantemente.Primeiro Deus criou a luz, no segundo dia: "E disse Deus faça-se o firmamento e separa umas aguas das outras, e fez a separação entre as águas que estavam sob o firmamento, daquelas que estavam por cima do firmamento, e chamou o firmamento de Céu." As águas do mar são a representação das águas que estão acima do Céu, onde está o Criador.
Yemanjá é a energia que rege nossa Criação, a possibilidade de transmutação das energias muito maior que o próprio fogo, porque simplesmente além da mudança ela é a energia que cria também.  Se há algo que precise ser mudado em sua vida, se algo novo tem que surgir é pelas mãos de Yemanjá que ocorrerá. Se Exu é a energia mais próxima do homem, e o ser humano busca Exu nos momentos mais difíceis, a quem ele recorreria para obter força suficiente para recriação do que está aparentemente perdido? Somente em Yemanjá. Falando em termos de energia, Yemanjá é tão importante nos trabalhos de Exu que há uma proteção dos ventos de Yansã para que não se misturem. Há uma ordem no Universo, que nós, às vezes limitados nas rotulações, não conseguimos perceber.
Nossos olhos nos enganam, nossos conceitos nos embotam. Tem muita gente que não gosta dos filhos de Yemanjá, mas nunca pararam para pensar e sentir o que eles sentem. Há um grande peso nestes filhos que carregam esta energia: a necessidade de recriar um mundo inteiro, da forma como pensam ser o correto. Apesar de ser das águas salgadas, as mesmas que saem do suor do trabalhador e das lágrimas, eles precisam saber trabalhar com todas energias para um bom resultado. Aí se parecem muito com os filhos de Yansã, que também devem, saber lidar com as demais energias dos Orixás. A energia de Oxum atravessa a energia de Oxossi, se junta a ela, e desemboca em Yemanjá para se transmutar. Oxóssi se integra a Oxum, Ogum e até Xangô, única energia Orixá que tem uma função única.
Yemanjá e Yansã não são chamadas só para limpeza nos terreiros. Yansã pode trazer potenciais que temos e que perdemos com o tempo, enquanto Yemanjá pode criar em nós um grande potencial de mudança, ela é sem dúvida a única energia capaz de quebrar paradigmas. 
Falando em paradigmas que devem ser quebrados, creio que o mais importante para os Umbandistas de fé é o de limitar as energias Orixás aos erros humanos, pois acabam por limitar a visão do potencial que há em cada energia Divina. Há muito mais entre o céu e a terra.......Salve Yemanjá! Salve Yansã! Odoyá! Eparrey!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mironga de Congá - A Revelação

O amor não oferece explicação. Frase de Léo Buscaglia, grande professor do Amor. Falecido em 12 de junho de 1998, falava do que é fácil falar, mas de uma dificuldade imensa de praticar. Poderia muito bem falar aqui de banhos para vários fins, entregas e entidades de Umbanda. Poderia ,mas me atrevo a falar de elementos mais complicados e ,porque não dizer, ignorados por muitos.Existem três elementos mágicos que os umbandistas não podem deixar de ter em seu "kit macumbeiro" que afastam quiumbas, vencem demandas, abrem caminho e fecham o corpo pra qualquer tipo de mal: fé, caridade e amor.
Andréa, Andréa, você deve estar caducando - pode até pensar você meu leitor. Hoje estou decidida pretenciosamente a dar algumas chaves, quem sabe você não as toma pra si?
Fé. É imprescindível. Como você pode dar o que não tem? Não, não falo da dúvida do começo, quando não sabemos se estamos mesmo incorporados, porque esta é necessária para evoluirmos. Falo de fé na vida, fé na fé de quem está ali cuidando de você no terreiro, fé no potencial da religião. Até a pedra angular da sua fé se formar leva um tempo. Porque ela passa necessariamente pela forja de Ogum, soprada pelos ventos de Yansã. É sério! Veja, dificilmente se encontra um médium que permaneceu num mesmo terreiro. Primeiro porque o desenvolvimento da mediunidade busca os afins, busca também a evolução. Segundo, o que tem sido bem comum infelizmente, a fé de alguns dirigentes tem se mostrado frágil demais. Alguns médiuns chegam em terreiros literalmente se arrastando - tipo eu- por terem perdido a fé numa esquina de melindres causada por dirigentes que já deveriam ter largados as guias há algum tempo. Não, não estou dizendo que os pais e mães de santo não sejam imunes a erros, mas tem que pensar antes de falar ou pelo menos entender o quão frágil são as pontes que constroem entre o médium e a espiritualidade.Zeladores que falam que o médium incorporado tem que controlar tudo que a entidade fala enquanto ele próprio coloca palavras na boca dos espíritos que dirigem a casa é de uma hipocrisia tão grande que não há fé que resista. 
Não se engane aquele que acha que pode fazer o que quiser na frente de um congá. A fé é um bem precioso, arma capaz de curar, de salvar e de iluminar um mundo inteiro. Não se rouba fé de ninguém, mas pode-se sim ajudar a nascer e crescer, ou pior, aniquilá-la. Cuide de sua fé como se fosse um estoque infindável de velas que irá acender em várias almas. Um médium sem fé é uma arma perigosa para ele mesmo.
Caridade. É a ação de quem tem fé. Fé em si mesmo primeiro, fé na melhoria do próximo. Não se doa nada sem o intuito de evolução de quem está doando e de quem está recebendo. É muito complicado, embora seja um ato mecânico e até social às vezes. O médium umbandista é o intermediário entre a espiritualidade e a pessoa que está sendo atendida. Quem está doando e quem está recebendo? No meu entendimento, quem recebe é o médium que tem a oportunidade através da fé, de auxiliar e aprender com o que está sendo dito. Quem é caridoso é também corajoso e paciencioso. Tem coragem de enfrentar seu próprio desenvolvimento para melhor servir e paciência para entender o que é necessário no tempo certo. Saber o nome de sua entidade não vai te fazer conhecedor da magia que é o perfeito entrosamento de quem você é e a energia que está recebendo.
Amor. O amor,como disse antes ,não oferece explicação. Mas tem exemplos. Frequentei o mesmo Terreiro da mãe Lilian Dalastra há alguns anos. Nunca troquei uma palavra com ela naquele lugar. Nas minhas memórias ,só lembro de uma gira na praia, ela recebendo Yemanjá. Uma incorporação que não me saiu da cabeça até hoje. Reconheci ali uma energia, sei lá. Ia falar com ela ,mas achei que não deveria. Quando soube que ela estava abrindo um terreiro, perguntei a uma pessoa se era legal. A pessoa me disse: não vá lá Andréa ,pois será uma gira só para a família dela. E não é que o cabra tava certo? Só não me disse que a família dela era tão grande,e que, a cada dia, ia aumentar mais.
Vou contar um segredo de exu para vocês. Nenhum Exu ,nem Pomba Gira, atua sem o amor de Yemanjá. Ela é a mãe deles todos. E sendo Exu a vibração mais próxima a nós, teríamos que ter a mesma base deles. Esta vida é uma Calunga Grande ,meus amigos, e o tempo nos mostra que nossas vivências vem em ondas. O sul do país, em especial Curitiba, vinha vivenciando uma Umbanda Social, onde médiuns frequentavam como se frequenta um clube: sem envolvimento. Quantas vezes falei aqui que é essencial varrer o terreiro? Várias. A mãe Lillian conseguiu mais do que isto. Ela conseguiu de seus filhos comprometimento. E comprometimento é uma das ações de quem experimenta amor verdadeiro.
Ainda choro ao ver as fotos dos filhos desta corrente pregando o chão, tábua por tábua. Isto é amor. Não tem explicação. Eu vi gente curada neste terreiro. Gente que acompanhei. Eu mesma senti esta cura. O amor é mais poderoso do que fundanga gente! Pai Fernando falava que cavalo alisado é cavalo estragado, o que eu rebatia falando que cabresto curto faz o cavalo dar coice. A mãe Lilian provou que "cavalo" amado- embora não dê rima- é "cavalo" fortalecido.
Agora sou obrigada a colocar um feixe de cana de açúcar nas costas desta mãe de santo, embora saiba que
ela já sente este peso. A mãe Lilian não é infalível, ela sabe disto, e está sempre atenta. Porque meus amigos quebrar paradigmas não é fácil. Em breve outros terreiros terão que aprender que sem amor não se sobrevive. Mãe Lilian nunca deixe de ser amor e, te respondendo a uma mensagem que colocou no grupo estes dias, vou te dizer que cada um dos seus filhos se esforçará sempre para serem importantes na sua vida, embora cada um saiba que não chegará aos pés da importância que você tem na vida de cada um.
Umbandistas amem-se uns aos outros e a si mesmos. As entidades de sua banda serão mais fortes se vocês fortalecerem em vocês mesmos a Caridade, a Fé e o Amor. Que Yemanjá cubra a todos com seu manto poderoso! Porque eu, eu vou é correndo comer o pão da vovó! Saravá!



Se você quiser conhecer o Terreiro da Vovó Benta ele fica na Rua José Zgoda,205 - Bairro Alto- Curitiba Paraná. Giras às quintas as 19:30h e sábados às 17h.




domingo, 11 de maio de 2014

Você Não Me Engana......

Foto da Dani- Terreiro Vovó Benta
   Um senhor com um pouco mais de 7 décadas me parou na rua estes dias. Disse que era pra eu parar de
fumar, porque ele havia parado há mais de 30 anos e foi bom. Perguntou se eu estava achando ruim dele me aconselhar, o que neguei veemente: conselhos de gente que tem mais experiência são uma dádiva! Falou também que um lugar legal para rezar é atrás da porta da cozinha, pois ninguém atrapalha. Minha porta da cozinha é de vai e vem, já pensei com meus botões que ia ser um desastre.... Depois de um dedo de prosa ele me convidou pra tomar um café quando pudesse, pois os filhos não davam muita "bola" pra ele. Dias mais tarde soube que ele havia morrido, num cruzamento perigoso, no momento em que ia, rito diário matinal, levar flores para sua mulher no cemitério ,falecida há alguns anos.
Ser médium não é fácil não.Necessita estudo, atenção e dedicação.Além de estar sempre consciente de que nada sabemos. Temos que agir sempre com fé e amor, seguros que mãos mais precisas nos conduz. Médium, tenha sempre em mente que seus atos, algumas vezes, não são direcionados a uma só pessoa. Quando passamos mensagens de Aruanda, quando transmitimos o amor que de lá vem, não precisamos saber a quem. Fiquei comovida com meu amiguinho Arthur e fiz um texto "Passarinhos de Aruanda" que versa sobre vida e morte para uma criança de três anos, como quem me acompanha sabe.  A avó do Arthur, que comentou no texto, faleceu 4 meses depois, mas foi com a certeza que Arthur já sabia o que era o desencarne.
Não, não estou falando que ser médium é saber lidar com morte, antes falo que precisamos saber lidar com o Amor Maior, a vida que não acaba. Isto não é fácil. Médium umbandista pode decorar ponto riscado e cantado, pode saber nomes de entidades e designação e competência de cada Orixá, mas nunca, em tempo algum, conseguirá medir e pesar as almas das entidades que sustentam nossa fé e de onde vem o Amor que têm em nos auxiliar.
As entidades de Umbanda vem, no amor de Oxalá, nos auxiliam e quem sabe realmente quem são? Ninguém ! Porque para quem ajuda, com verdadeira caridade, simplesmente não importa. Para eles pelo menos não. Mas nós? Quem somos nós?
Médium é a pessoa que serve de ponte entre o lado de lá e o de cá. Só. A intenção do desenvolvimento é que ninguém se dê conta de que há pontes. O mediunidade não é importante? É sim,na medida em que nos permitimos aprender com ela. Levei anos para entender o por quê de eu ter esta "ligação" com o além. Não cheguei a uma idéia conclusiva, mas uma parte eu sei que é o entendimento da caridade.
Amor e caridade tinham que ser matérias que estudássemos com afinco. Às vezes a gente pensa uma coisa e as Entidades nos mostram outra. Somos todos crianças na Umbanda. Temos o grande prazer de nos surpreender sempre! Tenho apreendido conhecimentos na minha alma que fazem com que eu veja cores mais intensas e aí que vem o lado bom de ser médium: sentir a plenitude do Bem Maior em vida.
Não sou perfeita e posso dizer também que sou bem "reclamona". O Divino tem uma paciência ímpar comigo. Por que o Senhor fez isto-ou-por que não fez aquilo? Aí o tempo me mostra a verdade.Creio que se a maioria dos umbandistas acreditassem no Tempo as coisas seriam diferentes. O Tempo é o olhar do preto e da preta velha sobre nossas dores, dilemas, tristezas e basta um gole de café deles , um pedaço de pão, um cheiro de arruda para tudo mudar. Eu sei, eu sinto.
Neste dia 13 de maio gostaria que você que leu este texto faça uma coisa para trazer alegria ao seu lar. Pai Maneco me dizia que as pretas cozinheiras traziam alegria com seus doces. Faça um doce em sua casa e deixe a alegria do Tempo preencher todas as lacunas de sua vida: das saudades, das tristezas, da correria do dia-a-dia. Seja feliz! Saravá todos os pretos e pretas velhas! Saravá você!

sábado, 22 de março de 2014

Recado de Aruanda

Há alguns anos atrás, conheci um Pai de Santo extremamente zeloso com seus filhos de corrente e com
todos que vinham procurá-lo. Em caso de doença, além de tudo que era feito no terreiro, fazia suas entregas aos Orixás e , num período de 24 horas, a cada 3 horas , orava pedindo ao Divino piedade àquela pessoa que sofria.Acho a sua devoção uma coisa muito bonita, embora nem todos os da religião disponham de tempo para tal dedicação.
Embora simples, a Umbanda tem sempre algo a ensinar a seus seguidores de boa fé, enquanto permanecem na religião.Aprendi nestes anos que o respeito às Entidades e aos Orixás sempre nos rendem bons frutos e uma sensação de leveza, proteção e amor.Estes dias eu olhava para a mata virgem que há aqui perto de casa e fiquei imaginando como um dirigente pode se isentar das funções primárias e crer que não haverá nenhum retorno da energia  que rege a egrégora de Umbanda.
Vou ser mais específica. Li em um grupo de umbandistas que , em São Paulo, há Terreiros onde hinos evangélicos estão sendo adaptados para Umbanda. Beirando quase ao absurdo do"Foi na cruz que perdi meu Oxalá..." Nossos pontos cantados são maravilhosos e todos os dias há médiuns compondo e sendo inspirados, qual a utilidade de plagiar outras religiões?
Na exata medida que a Umbanda avança no tempo sobre esta nossa terra, em que esperamos uma real evolução ,o que se tem feito? Pais e Mães de Santo se utilizando da boa fé dos adeptos incutindo medo e se utilizando de rituais de outras religiões para obter maior aceitação. Não estranharia se viessem me falar que alguns dirigentes estão distribuindo hóstias em suas giras, porque tenho visto de tudo. O grande problema é que os que fazem estas coisas obtusas ainda alegam que estão fazendo nossa religião evoluir. É triste a insensatez desta gente.
Soube de um zelador que se vangloriava por estar "ficando" com três médiuns de sua corrente, e uma não sabia da outra.O mesmo, um tempo depois, começou a induzir seus filhos de corrente a acreditar que estavam sofrendo com uma terrível demanda, de uma forma muito sutil dizendo que todos estavam tendo sonhos terríveis e que ele era a salvação com seu ritual evoluído.
Evolução meus caros é a sabedoria centenária dos pretos e pretas velhas, é o grito do caboclo que quebra miasmas e suas ervas que desmancham mazelas, evolução é sem dúvida a sinceridade e alegria dos erês. Pais e mães de santo têm no mínimo a obrigação moral de zelar por sua gira, passar seus conhecimentos, entender os anseios dos médiuns que o fazem um dirigente. A Umbanda não precisa de gente que não gosta de gente, que despreza os princípios básicos de amor ao próximo, fé e caridade.
Fiz este texto para pedir à você que respeita as Entidades que te guiam, que seja firme em seus propósitos do bem. Apesar de tudo que se vê e escuta, há muita ,mas muita gente ainda disposta a ser umbandista de verdade. Que Yansã, Ogum e Xangô protejam a todos que agem dentro da Lei.
No meio disto tudo, visualizo um raio de Sol. Alguns curimbeiros aqui de Curitiba, de vários terreiros, formou um grupo com a finalidade de difundir os cantos de nossas Entidades e Orixás, distribuindo o Amor Divino que ecoa em nossos atabaques. TAMBORES DO PARANÁ veio iluminado pelos Orixás para, além de divulgar nossa cultura, provar que é possível o respeito entre as Casas Santas e que juntos realmente refletimos a Luz Divina.

Confira um pouco do trabalho do Tambores do Paraná em:


Para maiores informações acessem:

ou no facebook

quinta-feira, 6 de março de 2014

Focando na Fé

Aprender é algo que me fascina, me alimenta e mata minha sede constante. Sobre Umbanda
então, nem se fala. Ok, sou apaixonada pelo tema mesmo! Há muito o que se aprender, embora seja simples sua concepção. O que agride meu aprendizado, como tenho visto que acontece a muitos também, é a banalização cometida por Umbandistas. Não sei exatamente onde isto tudo começou, porque , no começo, havia bem mais Umbandistas dispostos a manter a fé, apesar de todos os percalços que eram muito maiores do que enfrentamos hoje.
O que a Umbanda enfrenta hoje é um dragão que vive nas sombras de seus adeptos. Ele tem um nome e sobrenome: praticar o politicamente correto. Acreditar no Cristo é uma opção válida, praticar o cristianismo dentro dos rituais católicos é para católicos. Umbanda não é católica, embora possa ser considerada cristã. Vejo , sinceramente, Umbandistas adotando rituais católicos talvez com medo de assumir completamente a religião que professam com medo de aceitação. Será, penso eu, que tudo que nossos antepassados sofreram na religião, que abriram seus terreiros clandestinamente, enfrentaram polícia e todo preconceito possível em amor às entidades foi em vão? 
Eu não sou católica, nem evangélica ,nem budista. Eu sou Umbandista. Gosto da manipulação das ervas, do fogo, da água, da energia que nos cerca. Gosto também de evolução, mas evoluir não é adaptar ao que todo mundo crê ser politicamente correto e aceito. Se minha mãe estivesse viva diria o que digo aos meus filhos: você não é todo mundo.
Religião não é algo racional ela trabalha com fé. Para se manter a fé usamos de rituais, em qualquer religião. Cremos no invisível, nos conectamos à Consciência Superior e Ela, por sua vez, se comunica conosco por sinais que só nós conseguimos decifrar. Sonhamos com Caboclos, Pretos e Pretas, Ciganos, Exus e Pombas Giras, em nosso decodificador de mensagens astrais não há espaço para elementos de outras fés. 
Reza a lenda que um famoso escritor conseguiu sucesso por acender uma vela em cada religião, pedir a benção e proteção a cada religioso importante de cada fé diferente. Não sei dizer se isto é o mais correto - até porque a história pessoal dele ainda não acabou- mas no meu caminho não serve.
Estes dias uma pessoa nos pediu para dar uma carona até uma "benzedeira" evangélica. Tudo o que aquela mulher falava ,me lembrava as falsas cartomantes que aproveitam o que você fala para "adivinhar o futuro". Falei para a pessoa manter o foco em sua fé e não nos aproveitadores da religião. Quanto mais firme nos propósitos, menos erros se comete. 
Tem uma frase que gosto muito: "Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para a coisa em que você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas idéias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente."  Foi dita pelo Steve Jobs, um cara que se atreveu a ser determinado num mundo tão cheio de opções. Na religião é bem isto: temos muitas opções de ritual, muitas mesmo. Pra quê agregar outros rituais que não fazem parte de nossa história?
Somos seres ritualísticos e não há como ser diferente. Umbandista se conecta com o Superior através de cheiros, sons,cores, movimentos. A Umbanda é simples  e esta simplicidade da manipulação dos elementos me parece que é pouco para alguns, porisso a necessidade de "incrementar" com coisas que não nos pertencem. E cito de novo o Steve Jobs, que teia sido um grande Umbandista se vivesse por aqui: "Este tem sido um de meus mantras - foco e simplicidade. O simples pode ser mais difícil do que o complexo: é preciso trabalhar duro para limpar seus pensamentos de forma a torná-los simples. Mas no final vale a pena, porque, quando chegamos lá, podemos mover montanhas."
O problema é que não temos tempo. Poucos pais e mães de santo sentam com a corrente para compartilhar conhecimentos sobre ervas e elementos, entidades e Orixás. É mais fácil mandar um filho de corrente para o psicólogo do que sentar e olhar olho no olho, e perceber o que realmente aquele ser precisa.
Não Umbandistas, não estamos na quaresma. Quem está na quaresma são os católicos! O grande perigo disto tudo é perdermos nossa identidade e foco. Podem me chamar de tradicionalista, mas como diria mamãe: eu não sou todo mundo. Politicamente correto é ter identidade. Quanto mais firme estivermos em nossa concepção ritualística, mais firmes estaremos em nossa fé. Focados em nossa fé, refletiremos a Luz Divina onde os ventos de Yansã nos levar. Pise neste caminho de Ogum com respeito! Saravá a nossa fé!


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Orixá Regente de 2014

Fiquei um tempo sem girar por aqui. Tinha coisas a dizer, mas preferi deixar as palavras lá em Aruanda, repousando enquanto eu observava. É sempre bom fazer isto: na dúvida, observe. Faça na vida como se estivesse num destes jantares com diversos talheres: observe os outros comendo e só depois - se não tiver prática nem conhecimento - faça como os outros. É o melhor jeito de ser aceito.Depois de um tempo de prática com os talheres, seja feliz: arregace as mangas e coma pedaços de frango com a mão.Parece incoerente ,mas não é.
Estes dias li postagens de médiuns falando que o fumo e o álcool deviam ser abolidos da Umbanda. Médiuns que nunca trabalharam com estes elementos, pois estão em desenvolvimento. Também acho que a hóstia deveria se abolida e os adeptos do candomblé não deveriam fazer seus sacrifícios para os Orixás, MAS - bem assim em maiúscula, eu não tenho entendimento suficiente para dar tais "pitacos".
Eu sei da Umbanda, pouco ainda, mas já me arrisco a arregaçar as mangas e comer sem talheres. É justo um pai de santo pedir que haja menos consumo de álcool, até por problemas no pós gira, quando alguns médiuns tem que dirigir.
Sou adepta a mudanças. Mudança é condição sine qua non para evolução. Estamos atravessando um ano que, como muitos dizem, é regido pela energia de Xangô/Yansã. Ação/Reação dentro da lei para evolução. Ano passado regido por Omoluh, não foi fácil. Idéias antigas tinham que desaparecer para haver espaço para o novo. Então eu digo a vocês, Xangô vem com as leis e Yansã faz com que elas tenham êxito. Sem lei, não há como reger toda uma evolução de comportamentos.
Na Umbanda a Lei regida por Xangô não é a escrita em palavras, normatizada por nosso entendimento humano, nem tão pouco a execução de Yansã é descritível. O raio e o trovão ocorrem ao mesmo tempo,muito embora, por problemas que a física explica, são compreendidos em tempos diferentes. Raios e trovões são "compreendidos" em qualquer língua, em qualquer lugar deste planeta. Da mesma forma, com o tempo , você começa a entender a atuação destes Orixás.
Para entender Orixá é necessário absorver com a alma a natureza. Para entender uma gira, é necessário sentir com a alma os movimentos feitos pelas entidades. Leva um tempo,mas não é impossível.  É necessário observar,e aqui volto no jantar com muitos talheres. É lógico que o estudo é importante, mas a observação com a alma é instrumento edificador da fé.
Queria muito, durante este tempo que me ausentei, falar da Umbanda e sua essência, do que é necessário e do que não é. O que a gente quer de coração, vem nos ventos deste universo enorme de bençãos dos Orixás.Reza a lenda que Yansã, muito curiosa, queria saber o que havia embaixo das palhas de Omoluh. Soprou seus ventos e descobriu um moço lindo, Obaluayê.
Sopraram os bons ventos em minha vida e hoje conheci um umbandista lá de Minas, o Matheus Gonçalves, filho de Obaluayê, Orixá que aqui no sul não é cultuado na Umbanda. Ele tem um blog onde fala sobre Umbanda, fala com carinho das entidades que trabalham junto com ele, fala do amor à religião. Fiz este texto hoje em homenagem a ele, como grande aprendizado que nos traz com a sua fé e com um pedido claro para que escreva cada vez mais, pois todos nós precisamos da visão que ele tem da nossa religião.
O Matheus é deficiente visual e por isto mesmo só ele é capaz de ver quem realmente somos , trazendo a cura através de Obaluayê de nossas mazelas mais profundas: aquelas causadas por nossos egos. Que Xangô e Yansã te protejam e abençoem em todos os seus caminhos Matheus!

Para acessar o blog do Matheus:

http://www.falando-de-umbanda.blogspot.com.br/ 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Passarinhos em Aruanda

Arthur, meu querido, tenho notícias suas desde que você estava na barriga da sua mãe e ficava pensando quando poderia te dar algo que realmente fosse importante. Agora que você está chegando bem pertinho dos três anos, cheio de dúvidas sobre o que é a morte resolvi deixar de presente esta cartinha.
Sabe querido as pessoas grandes, mas bem grandes mesmo não se perguntam sobre isto nem mesmo quando encontram passarinhos mortos na rua. Vou te dizer que elas estão às vezes tão ocupadas em correr, falar no celular e buzinar que não param mesmo, nem ao ver qualquer bichinho morto. Meu querido amiguinho,te digo que ao ver este tipo de coisa eu penso: tem mais um passarinho cantando lá nas árvores de Aruanda.
Agora até pareço ver você falando: como o passarinho pode estar lá e aqui ao mesmo tempo? Arthur eu vou te contar um segredo que todo mundo sabe, mas as vezes esquece. Eu, você , as cobras e passarinhos,cavalos e cachorrinhos temos uma espécie de luz dentro da gente que se chama energia. Essa energia a gente não enxerga, mas dá para sentir. Aquele calorzinho que sai do corpo sabe? Mesmo que você tenha muito frio tem este calor que você pode sentir. Quando as pessoas ou bichos morrem não tem mais este calor e não se esquentam nem com o cobertor mais grosso do mundo e sabe por quê? Porque a energia já foi morar num outro lugar, que nós da Umbanda chamamos de Aruanda, só deixou o corpo aqui porque não consegue entrar lá deste jeito.
Nesse lugar Arthur, tem todos os bichos que você imaginar, gente grande e pequena e até plantas e árvores-porque até elas tem energia. Esta energia de vida querido, que você pode testar com suas mãozinhas, tem muita gente que chama de espírito, sabe por quê? Porque o espírito é exatamente como somos, porque o corpo é só uma casa dele.
O passarinho que foi para Aruanda não estava cantando ,não é? Então, eu sei porque o cantar dele, a música dele estava no espírito, entendeu? Nas pessoas é a mesma coisa: elas deixam o corpo e vão para Aruanda quando for o tempo certo.Cada um tem um tempo de ficar aqui e para cada um é um tempo diferente Arthur. Sabe o que é mais legal querido? A gente não sabe quando vai em espírito para Aruanda, por isto podemos ficar bem tranquilos e descobrir mais coisas legais sobre a vida.
Eu sei que em algum momento você vai perguntar sobre o calor da cobra,mas as cobras e lagartos Arthur são tão espertos que nem parecem que tem calor, energia, mas tem querido,porisso é legal vê-los só no zoológico e quando não for lá e perto de gente grande, a gente nem chega perto. Também sei que em algum momento, porque você é muito esperto, vai  perguntar se as pessoas que gostavam do passarinho não vão sentir saudade dele. Vão sim Arthur, mas lá de Aruanda o passarinho pode mandar beijos que as pessoas sentem no coração, e quando forem para Aruanda vão se encontrar de novo. Arthur todos os espíritos de tudo que é vivo um dia tem que voltar, então não há como separar por muito tempo as pessoas, bichos e plantas que gostam muito, entendeu?
Agora eu tenho uma pergunta para você: vai ter brigadeiro em seu aniversário?
Beijos de todos os passarinhos de Aruanda para você!