quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Natureza Chora


Algumas pessoas se deslumbram com pequenos poderes, pequenas vitórias. Pelo simples fato de gerenciarem em sua comunidade seis ou sete pessoas ,já acham que tem poderes absolutos sobre o mar e sobre a terra. Assim é quando entra um caseiro aqui. Geralmente eles crêem que sabem tudo sobre a terra e a natureza. Os que mais se gabavam de sua condição de amantes do verde foram os que menos se adaptaram por aqui. Foram mordidos por aranhas, ou o nosso cavalo, o Índio, não gostou deles ou aconteceu algo parecido, uma reação da própria natureza contra eles. Na verdade o que falamos aqui é que a terra não os aceitou. E isto de fato ocorre, quem mora próximo a matas sabe como é. Já se você demonstra respeito e humildade com relação à vida que nela contém, é brindado com as mais diversas manifestações.

Como manipulamos energia da natureza em prol do próximo, muitos umbandistas têm esta consciência também. É com os pés no chão que sentimos a terra pulsar em vida e plenitude e é com os pés descalços, ou seja, com humildade e respeito que devemos trilhar por seus caminhos. De salto alto não podemos percorrer um caminho muito longo pela floresta, nem atravessar rios, nem sentir as ondas do mar. Tenho uma coisa sempre em mente, que peço aos meus guias no começo de cada gira: por favor me deixem apta a passar as mensagens de uma forma que eu chegue ao coração das pessoas.Sinceramente eu digo a vocês que por melhor que eu possa passar a mensagem, se o coração do meu próximo não estiver aberto de nada adiantará, como também se minha vontade de realmente ser um instrumento de um plano superior não estiver bem fundamentada.
Tenho seguido todos estes anos os ensinamentos do Pai Fernando Guimarães porque eles se fundamentam justamente em ter os pés no chão.  Esta semana ,por exemplo, seu comentário no site foi sobre a necessidade de estudarmos as tribos indígenas de nosso país, em vez de outras religiões, coisa que médiuns do terreiro têm feito. Entender as tribos que habitavam nosso país é também prestar homenagem  aos caboclos de Umbanda, que através de seus médiuns curam, consolam e consolidam a fé no Criador.
O principal motivo que me fez criar este blog é a esperança de criar mais e mais laços entre pessoas que buscam o bem comum, porque sei que sozinha nada posso. Hoje trago minha indignação e tristeza com que vi a foto que postei do Cacique Raoni chorando ao saber que a Usina Belo Monte realmente será implantada. Foi decretada a sentença de morte dos povos do Xingu.Naquela região há cerca de oito grupos étnicos. Os que mais têm se movimentado são os kayapó. Mas basicamente todos os povos que estão na calha principal do rio Xingu serão, de alguma forma, impactados. Além dos kayapó, há os arara, arareute, apidereula, juruna e maracanã.

Seiscentas mil pessoas assinaram um protesto contra tal barbárie. Muitos que eu conheço foram agredidos por serem contra e tiveram ameaçadas suas vidas, como a minha amiga Telma Monteiro. O choro de um índio é o som de uma árvore caindo e suas lágrimas um rio numa enxurrada. Tenho pena de nós brasileiros quando não escutamos estes sons da natureza. Tenho pena de umbandistas que não colocam os pés no chão. Yansã chora com o índio...


Para ler o comentário do Pai Fernando

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Qual é sua Natureza?

Eu preservo a minha natureza. E ela é, sem resquício de dúvida, questionadora. Falo disto não para me enaltecer, antes para explicar a você a minha indignação.  Na casa da minha infância, por exemplo,  havia muitas árvores, que fechavam praticamente a entrada.  Em virtude disto muitos ,mas muitos pássaros se abrigavam lá. Nosso vizinho reclamava constantemente do barulho que estes pequenos seres em bando produziam ao começo e ao final do dia. Lembro-me perfeitamente de meus pensamentos a respeito: como pode uma pessoa ser assim? Amava ver aqueles pássaros chegando em bandos, na algazarra de quem volta pra casa.
Hoje, morando num sítio que é brindado com a visita diária de tucanos, aratacas, pica-paus, gaviões entre tantos outros tenho um vizinho que mandou construir a casa com paredes duplas para não ouvir barulhos.É essa estranha natureza humana de alguns curitibanos.
Em constante evolução, as pessoas mudam seus pensamentos e suas atitudes conforme seu entendimento. Pai Fernando sempre fala que filhas de Yansã têm o maior orgulho de falar que são brabas e isso é burrice. Concordo plenamente. Ter orgulho de uma coisa que só faz sofrer não é legal, então tento domar sempre este meu lado e evoluir. Minha natureza, a centelha divina que me rege, não me permite brincar de 'siga o chefe" , antes  me faz ponderar sobre a verdade dos fatos e procurar sempre segui-las.
Um destes dias um amigo lá no terreiro me veio com uma afirmativa: creio que para nossa evolução, em cada reencarnação, somos filhos de um orixá. Prontamente, afirmei: não me vejo em nenhuma vida sendo outra coisa que não seja ser filha de Yansã querido, simplesmente porque é a parte Divina que me rege, e esta é imutável. Já ouvi gente falando que evoluímos até chegar no ponto que possamos ser filhos de Oxalá. Besteiras e mais besteiras. Esquecemos, por vezes, que estamos todos no mesmo barco e se cada um remar num sentido, não saímos do lugar. Fazemos parte do Divino e cada parte Dele compõe o todo. Você faria um transplante e colocaria pés no lugar de suas mãos? Não teria utilidade não é? Cada ser tem uma função neste mundo.
Falando sobre a natureza das coisas e engatando uma marcha em direção da primavera, aproveito para deixar aqui um questionamento pessoal. Curitiba gasta fortunas para divulgar que somos uma cidade de primeiro mundo, principalmente no quesito  proteção ambiental. Acho bonito. Temos uma infindável quantia de parques ,cada um com sua característica própria. Só nos falta um pouco mais de sol para aproveitarmos com mais frequência, mas tudo bem.  Porém a nossa política de preservação ambiental é meio confusa. Alguém pode me responder porquê, em todos os parques desta cidade, quando temos sol e calor, são permitidos carros com som altíssimo e jovens fazendo algazarra depois de ingerir álcool, sujando tudo por onde passam? São coisas que não entendo.
As pessoas que vão aos parques têm direito ao som dos pássaros ,ao cheiro das árvores e a recarregar a centelha Divina que têm em seu interior.Mas isto não ocorre só em parques.  Eu e meus filhos saímos no último domingo e na volta esperávamos um táxi no centro de Colombo. O centro desta cidade tem poucas quadras e você a percorre inteira em poucos minutos. De repente param três carros, com jovens altamente alcoolizados ,com som alto ,e  começam a subir e dançar em cima de máquinas potencialmente, nesta altura, suicidas. Meus filhos assustadíssimos, perguntam: por que eles fazem isso ? Porque a primavera deles já não tem sentido.
O que nos falta para reconhecer a vida? O que falta ao poder público para notar que muitos jovens estão perdendo a habilidade de ouvir a natureza e partindo em bandos para os umbrais das drogas, álcool e violência? Grito eu aqui como um quero-quero defendendo sua ninhada, mas espero sinceramente que vocês em seus espaços virtuais multipliquem a idéia de uma primavera com paz!  

A mandala acima foi feita pelo Marcelo Dalla 

Sobre os parques de Curitiba e a vergonhosa poluição sonora:

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Demanda Mental

Os fatos narrados a seguir são reais, presenciados por esta escriba e podem chocar os incautos. Inicia-se o ritual da Umbanda em minha gira. Saudamos os orixás e, uma das 150 médiuns ao se levantar logo vai ao chão de novo. Era Mariazinha de Oxum, cujo nome é fictício aqui, mas na realidade está ciente do que eu vou descrever a seguir.Todos em seus lugares , ao lado de Mariazinha e bem assustados. Meu Deus Mariazinha foi pega por um obsessor! Dizia um , enquanto outro complementava: é, hoje a gira será pesada! Com as mãos estendidas no chão Mariazinha se contorce um pouco para esquerda e ali, os temerosos médiuns falam: é demanda! Será? É sim! Mas coitada, Mariazinha é tão boa gente ,sempre solícita! Não, não é contra ela é contra o pai de santo! Meu Divino Oxalá, ele também não merece isso!Logo,logo mais médiuns vão cair e sabe do que mais? Eu creio que é contra o Terreiro! Enquanto isto acontecia, sobre o olhar dos comentaristas espirituais, os demais da corrente estavam voltados para o congá, na parte  do ritual que pede a proteção dos anjos da guarda.
Maravilhosa natureza humana! Mariazinha de Oxum rapidamente se levantou, arrumou os cabelos, ajeitou a saia e cochichando falou aos colegas: perdi minha unha postiça do pé- coisa que eu, Andréa jamais pensei que existisse-, se acharem me devolvam!
Assim como o medo a imaginação é um sistema de defesa do ser humano, porém, também como o medo sem controle, a imaginação sem fim é causa de muita dor de cabeça. Nos sistemas lineares, como por exemplo quando você coloca arroz para cozinhar, quando você sabe o estado atual é possível dizer exatamente qual será o próximo estado, no caso arroz cozido. Mas em sistemas não-lineares, é muito difícil prever o que irá acontecer no momento seguinte, mesmo conhecendo o presente – justamente porque ele não é linear.
Certa vez uma menina veio desesperada pedir para "desfazer" seu pedido anterior - que era o de engravidar. A vida tinha tomado rumo diferente daquele imaginado, então neste momento não seria mais plausível uma gravidez tranquila. Exu, conhecedor dos caminhos tortuosos da mente humana, explica que detentores que somos do livre arbítrio, podemos sim deixar de querer algo, num momento em que a vida pede outras atitudes. Faz parte de nosso desenvolvimento espiritual.
Nossa mente é um cavalo selvagem. Passamos a vida tentando domesticá-la, mas quando menos esperamos nos seguramos em sua crina e lá vamos nós correndo sem rumo, até encontrarmos galhos que nos façam cair da montaria. Cavalo quando come milho demais "esquenta" o sangue e fica mais ativo. Cuidado com o que você vem alimentando seu cérebro.
Tenho uma amiga que trabalhou no Consulado do Brasil na Alemanha. Pessoa de alto nível intelectual. Quando fazia palestras se cercava de livros e os devorava, em busca de mais elementos que abrilhantassem suas apresentações. Nunca ficava satisfeita com seus resultados. Um dia mudou de tática, porque já contava com muito conhecimento.Resolveu que para chegar a um bom resultado tinha que acalmar seus pensamentos.  Retomou seu conhecimento em crochê. Passava duas a três horas concentrada na linha e na agulha, tirava o foco da palestra e ao final, com a mente vazia, conseguia planejar melhor o que iria falar sobre as estruturas econômicas da Europa.
"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela." Já dizia Albert Einstein, mas quem consegue ficar em silêncio sem pensar em nada?
Então aconselho que em momentos em que você está muito preocupado com coisas que realmente não pode resolver /entender se distraia com outras coisas.
E há um brilhante psiquiatra brasileiro chamado Daniel Martins de Barros que fala o seguinte sobre nossa mente: "O cérebro é um sistema complexo, já que nossos 100 bilhões de neurônios geram 100 trilhões de sinapses, estima-se. São muitas variáveis independentes (os neurônios), mas conectadas (as sinapses), produzindo um sistema não-linear que influencia a si mesmo de diversas maneiras. A mente, ou a consciência, pode então ser entendida como o resultado que emerge desse sistema. Ela pode, sim, ter uma causa física, mas ao se configurar como um sistema caótico, torna-se imprevisível e aparentemente aleatória, onde modificações imperceptíveis num momento podem levar a transformações radicas em outro. Tudo isso confere a ela sua característica essencial de imaterialidade."
Veja que na Umbanda ocorre o mesmo: uma pensamento errado, quase imperceptível, pode influenciar todo um grupo, gerando um momento caótico transformando o que era pra ser um culto tranquilo, em que você receberia um axé maravilhoso, em uma fonte de problemas. Se seu vizinho de corrente, no seu entender está passando mal, chame um responsável pela organização da gira e não tire conclusões erradas. Filhas de Oxum evitem as unhas postiças.

Aconselho uma leitura mais direcionada a esta situação, escrita por quem entende melhor do que eu:

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Guerra Espiritual

Em meados da década de 70, quando estava na casa da minha avó, os sábados pela manhã tinham um ritual muito sério. Acordávamos bem cedo e íamos para a feira. Eram muitas viagens a pé trazendo as compras para casa e voltando para feira buscar mais.No final íamos com meu avô para a Praça da França brincar e , se fosse época de pinhões ele os sapecava ali mesmo e comíamos, sempre ouvindo uma história extraordinária. As lembranças do passado, além de nos conscientizar de quem somos, de onde viemos, mexem com nossas emoções e fortalecem nossa energia vital.
Tudo é energia e tudo gera energia neste mundo, fato inegável.  Há explosões de energia no nascimento de uma nova estrela, na união de um espermatozoide com um óvulo, no romper de uma semente.Há energia no romper da aurora e na hora do lusco-fusco, quando o sol se põe. Há energia no choro de emoção pela perda irreparável e na chegada de um filho ao mundo.Há energia nas mudanças de estação que sofrem um determinado lugar, como a explosão de vida que advém da primavera, como também as individuais como a saída da infância para a adolescência.
Numa das páginas de Umbanda a qual faço parte, hoje  o Alexandre Fsc perguntava se era lícito ou não dar presentes para entidades. Na Umbanda Pés no Chão que pratico isto não existe e creio mesmo que entidades nenhuma precise deste tipo de coisas. Mas a questão que, pelas respostas que li dentre outras situações que ando percebendo, é muito maior.
Vou contar novamente um sonho que tive quando entrei na Umbanda. Estava no meio do terreiro ,com uma imagem imensa de Oxum  e a mãe pequena Tânia fazia a entrega de um amalá para este orixá. Oxum puxava então aquela energia e a devolvia para a mãe pequena Tânia que então foi para a assistência tirar as pessoas do escuro. Oxum saiu de dentro da imagem , me abraçou e me disse: Andréa, é assim que funciona a Umbanda. Na época não entendi tão claramente, mas, mais e mais vejo o quanto é necessário cumprirmos a nossa parte.
Exercendo o livre arbítrio temos muitas escolhas nesta vida e muitos aprendizados também, o que nos faz crescer e nos aprimorarmos cada vez mais. Quem escolhe a Umbanda como religião deve ,em primeiro lugar saber como são manipuladas as energias para o bem comum. Trabalhamos nas giras em comunhão com entidades para o bem e para o consolo dos necessitados. Para que tudo ocorra da melhor maneira possível é preciso preparo, dedicação e concentração e isto também é exercício de liberdade. 
Como me ensinou em primeiro lugar Oxum, temos que nos fortalecer para conseguirmos cumprir o que nos propomos. Os amalá são fontes de energias, são campos de força que usamos para os mais diversos fins. Não fazê-los ou não entender exatamente para que servem, acaba por podar nossa livre manifestação e prejudicar o bom andamento de nosso intento para com o próximo. Um amalá não é um presente para uma entidade nem para um orixá, é uma forma de construir um campo de força, de agregar energia para um determinado fim. Sinceramente? Sei que não é barato frequentar Umbanda, mas mesmo sem muito dinheiro é possível fazer um amalá mais simples. Creio que ,infelizmente, alguns filhos não o fazem por questões que vão desde a preguiça até a total falta de entendimento e vontade de aprender. Vou citar uma frase do Pai Fernando Guimarães, que, muito embora tenha sido escrita quando versava sobre outro assunto, cabe bem aqui: "Terreiro não é clube social onde cada um faz o que quer. A paixão pela Umbanda tem que ser abrandada pela vontade de se encontrar com a alta espiritualidade." Os amalás também fazem parte do nosso encontro com a alta espiritualidade e não devem jamais ser esquecidos.

A maior guerra espiritual é a que travamos com nossos próprios egos. Conhecimento também é energia e exercício de liberdade. Perguntem sempre aos responsáveis pela gira que frequentam, porque podem ser diferentes na realização de um lugar para outro, e quem não frequenta nenhuma gira ,mas curte a Umbanda e gostaria de saber como se faz um amalá indico o seguinte link:


domingo, 4 de setembro de 2011

Umbanda on Line

Tirei a semana para observar as pessoas, como são e para onde se movem seus pensamentos. Não com o intuito de julgar,mas apenas observar uma paisagem. Alguns estacionam seus pensamentos em propósitos nobres, outros se contentam com os pequenos poderes, das pequenas elites. O mais engraçado é que os que depositam seus pensamentos em nobres atitudes, não estão nem aí para , como se dizia antigamente, "a hora do Brasil". São os revolucionários e vou dizer que gosto muito deles.
Hierarquias e elites sempre dominaram o mundo. Vez por outra, surgem os insurrectos, as pessoas que não aceitam a submissão a valores pré-estabelecidos. Na década de 20 aconteceu uma onda de mudanças mundiais neste sentido. Foi a era das inovações tecnológicas, da eletricidade, da modernização das fábricas, do rádio e do início do cinema falado, que criaram, principalmente nos Estados Unidos, um clima de prosperidade sem precedentes , constituindo um dos pilares do chamado "american way of life" (o estilo de vida americano).
Algumas décadas depois, vem os hippies. Talvez eu tivesse me tornado uma ,quem sabe, só que creio que não seria o suficiente. Paz e amor são bons objetivos, mas tem que ser um pouco mais práticos no meu entendimento. Pensando em todas estas coisas, vi ,quase sem querer, um documentário sobre a internet. Qualificam-a como um prosseguimento deste movimento hippie dos anos sessenta. 
Nivelamento da população, sem hierarquias e sem elites, um lar para a mente, um espaço só dela. Na internet você não precisa ser ninguém ,para ser alguém. Milhares podem te seguir pelo que você pensa, mesmo que o que você pense seja fútil ou extremamente inovador. Você não precisa de diplomas nem de uma carinha bonita. Pode ser que daqui há algum tempo haja algum tipo de hierarquia, mas por enquanto o que voga é este nivelamento. Eu pessoalmente, consigo ver uma aspecto diferente. São grupos afins que navegam pelo ciber espaço , assim como os grupos espirituais se movem em outros planos: por afinidades.
Por princípio a Umbanda no meu ver tem muito mais de processo revolucionário do que uma religião. Surgiu em 1908, quando o médium Zélio de Morais incorporado com o caboclo das Sete Encruzilhadas, falou a todos numa sessão espírita, depois de terem recusado a presença de alguns espíritos de pretos-velhos e índios: " Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados. O vidente retrucou: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse: "cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".
E assim, no passar destes anos todos de Umbanda seus adeptos têm vivenciado uma luta constante das entidades que passam mensagens de igualdade, amor e fraternidade, independente da linha em que trabalhem e da roupagem com que se mostrem nos mais diversos terreiros. Todos os grupos espirituais têm lideranças para conduzir e auxiliar, assim como deveria ser neste nosso plano material. Contudo ,aqui estamos bem acostumados com hierarquias enérgicas e com gosto pelo poder e pelas elites. Bobagens que com o tempo, dentro da Umbanda se dispersam, pela própria vontade das entidades e de seus ensinamentos.
Quando no início da minha caminhada, vieram perguntar para o caboclo que eu recebia qual era seu nome ele disse: sou UM caboclo de Ogum Beira Mar. Achei estranho ,mas depois aprendi que eles são muitos e que seus nomes não são o elemento primordial desta religião libertária: o foco principal é a liberdade. Liberdade de amar, de entender, de vivenciar. Nomes nos prendem a valores terrenos e é nesta terra que devem ser valorizados.
Dentre as muitas coisas que já vivenciei na Umbanda, uma em especial vou citar para o resto da vida como sendo motivo principal para continuar nesta religião de inssurrectos. E nem estava dentro de uma gira. Conversava eu com um querido amigo lá no terreiro, quando chega o Pai Fernando. Depois de explicar detalhadamente um sonho com um caboclo ao pai de santo e esperando um veredito justo, Pai Fernando do alto dos seus cinquenta anos na espiritualidade pergunta: me diga , sabendo de tudo isto, o que vai te ajudar na hora que chegar uma pessoa para você e perguntar: estou com câncer , o que é que eu faço? 
Pés no chão significa muito mais do que todo conhecimento esotérico que se possa ter. Porque com os pés descalços no chão você trilha um caminho muito maior, do que o trilhado pela mente em devaneios. Não que o sonho deste meu amigo não seja importante, pois ele é, mas só para o conhecimento pessoal dele. Umbanda é partilha, então o conhecimento que adquirirmos deve ser algo que possamos usar em benefício do próximo também ,não só do nosso. As lideranças da Umbanda têm que entender que é partilhando que se cresce, sendo objetivo, simples e diretos que não perdemos o caminho traçado pelo Ogum ,lá em nosso início.
Exemplificando um pouco de tudo que falei hoje, vou citar uma notícia que saiu no blog da minha querida Telma Monteiro. A foto acima é de Marimop Surui Paiter. Você pode não conhecer ,mas ele foi muito importante em sua tribo: "A Nação Surui Paiter fica órfã de um grande homem, uma pessoa que carregava consigo um balaio de conhecimento sobre suas tradições, respeito à natureza e adaptação às bruscas mudanças em sua cultura impostas pelo contato compulsório com o mundo ocidental eurocêntrico.Marimop Surui Paiter viveu no planeta Terra por mais de oitenta anos, não se sabe ao certo em que ano nasceu, isto não parecia importante para ele. Tempo suficiente para apreender as formas, ritos e sons de uma sociedade onde o bem estar coletivo era prioridade."
Através da internet temos acesso ao mundo desconhecido, como o do Marimop , um guerreiro importante no seu local de nascimento. As idéias de Marimop sobre o bem estar coletivo se assemelham as idéias que devemos ter enquanto libertários: devemos viver numa sociedade onde o bem estar coletivo seja prioridade. No caso da Umbanda Pés no Chão sempre haverá lugar e voz para quem compactuar com os ideais das entidades desde sua fundação:  
falar aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.

Para ler mais no blog da Telma Monteiro: