sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Umbanda do Futuro

Uma das mais importantes notícias da semana foi muito pouco divulgada: o governo americano destinará três bilhões de dólares ao estudo das sinapses  que ocorrem em nosso cérebro, mapeando o que ocorre a cada memória que temos, a cada informação que recebemos. Dentro de dez anos poderemos desvendar um pouco do quem somos, além de ter condições de ter uma infinidade de possibilidades de cura. Enquanto isto não acontece,gostaria de levá-los a uma tempestade mental, digna de uma filha de Yansã.
Lendo "O Dogma de Cristo" de Erich Fromm, publicado em 1930 as minhas sinapses quase entraram em colapso. Não é um livro que discute o aspecto espiritual, mas faz uma análise psicossocial do fenômeno e não há como não traçar um paralelo com a Umbanda. Nos primeiros cem anos do cristianismo, a religião era praticada pelos membros de classe mais baixa, de forma quase secreta, pois a perseguição que sofriam era muito grande. A comunidade era unificada apenas pelo laço comum da fé,esperança e amor, o que os dava uma liberdade de ação, pela despreocupação com instituições e fórmulas. Naquela irmandade cristã primitiva era comum a assistência econômica e o apoio mútuos, que foi essencial para o desenvolvimento da religião.Como se sentiam peregrinos e estranhos na terra, não havia necessidade de instituições permanentes.Não é o posto que faz a pessoa, mas a pessoa que prestigia o posto.E eles não precisavam disto.
A princípio o cristianismo foi uma atitude revolucionária, contra a pressão e opressão dos governantes, e do próprio judaísmo que era dividido em castas e elitizado. A partir do seu segundo século o cristianismo começou com o apoio de pessoas de pessoas mais intelectualizadas e com mais poder econômico. Aos poucos os governantes começaram a ver no cristianismo também uma excelente ferramenta de controle da população que acreditava que só por bons atos se chegaria ao paraíso espiritual. Assim começou a formação de uma hierarquia centralizada, começaram a formular questões de ordem e ingresso, fazendo que muito se perdesse ao longo de todos estes séculos da idéia original.
A idéia original da Umbanda é que o acesso ao mundo espiritual e do mundo espiritual para nós pode ser feito de maneira simples e direta. Uma religião de consolo, de luta e de cura. Uma religião em que os desvalidos, o que estão à margem da sociedade não ficariam sem uma palavra, uma mão forte que os elevasse. Nasceu justamente no seio do espiritismo que apregoava um nível intelectual mais alto para se ter acesso aos seres de luz. 
Nos primeiros 100 anos da Umbanda, fomos perseguidos, ameaçados, presos. Nos unimos em fé, caridade e esperança e ultrapassamos o primeiro século a salvo. Mas o que será de nós nos próximos cem anos? Preocupa-me de sobremaneira a possibilidade de acreditarmos que precisamos de uma hierarquia unificada, que por consequência será ditatorial. Hierarquia dentro de um terreiro é essencial, até por uma questão de segurança e organização, mas com limites no entendimento de seu poder. Não podemos nunca esquecer que a maioria das entidades que nos protegem foram escravos de alguma forma, para que hoje nos passem noções de liberdade real. A verdadeira beleza da Umbanda está na multiplicidade de rituais e a possibilidade que nos dá de servi-la onde ela nos chamar. E se há este "chamamento" é porque através do nosso potencial, poderemos agir de uma forma mais consistente na fé, caridade e amor ao próximo. Somos todos iguais e podemos ser livres se tivermos a consciência das limitações que temos ,assim como as têm também nossos pais e mães de santo, para podermos continuar vivenciando uma religião com alegria e vida longa. Saravá!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Flores da Umbanda



Há uns anos atrás, li um texto no qual Chico Xavier falava que, para melhorar a energia de um lar ,bastava plantar rosas no jardim. Comecei então a plantá-las, na casa de meus pais. Aqui no sítio bem que tentei, mas o cavalo as tratou como iguarias culinárias. Na Umbanda o uso das flores é muito importante, sendo que seu uso iniciou com a própria religião.
Todo evento da criação da Umbanda, pelo médium Zélio de Morais em 1908, começou com ele levantando,no meio de uma sessão espírita, falando: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.
Desde o início da humanidade, as flores foram associadas com o Sol, por se voltarem para ele,e , assim como ele dissiparem a escuridão, simbolizando a energia vital, o final do inverno e a vitória sobre a morte. O Lírio de Oxum por exemplo, segundo a mitologia antiga, teria nascido do leite de Hera, que gotejava na Terra no mesmo tempo em que era criada a Via Láctea. Outra lenda diz que o perfume dos lírios espanta serpentes e por parecer com um cetro aparecem em muitos brasões de famílias da Europa antiga.
Fitzgerald-1859-Morte adornada de rosas
De todas as flores talvez a que mais tenha poder em nosso espírito seja a rosa. Na antiguidade, esta flor remonta o mito de Adônis , o amado de Afrodite, de cujo sangue teriam brotado as primeiras rosas, assim se tornaram símbolo do renascimento e do amor que sobrevive a morte.No século 1a.C. os romanos faziam uma Festa das Rosas em homenagem a seus mortos, e até hoje na Itália o domingo de Pentecostes é considerada a "Páscoa das Rosas".Em contraposição no culto a Dionísio, deus do Vinho, era comum as pessoas se coroarem de rosas,pois acreditavam que abrandava o calor da bebida e impedia que alcoolizados contassem seus segredos, por este motivo ela se tornou também símbolo da reserva e da discrição. Assim esta flor começou a ser desenhada em cima dos confessionários - "sub-rosa", ou seja, sob o signo do silêncio e da discrição. Na iconografia eclesiástica tornaram-na a "Rainha das Flores" simbolo da rainha celeste,Maria.
"Da rosa sai o mel que alimenta abelhas" primeiro símbolo Rosa Cruz
Enquanto as rosas vermelhas representam desde os primórdios o amor terreno, as brancas são relatadas em sagas e lendas como a flor que simboliza a morte. Os alquimistas viam nas rosas brancas e vermelhas o sistema dualístico com elementos dos dois princípios originários: o enxofre e o mercúrio. A rosa vermelha também é considerada nas tradições antigas, um símbolo de honra nas guerras para os oficiais do exército-em especial os romanos- pois Marte (deus da guerra) teria nascido de uma rosa. 
Uma gira de umbanda tem o formato de uma flor, onde o veio principal de energia - o caule- vem do congá. São muitas as flores de Umbanda, as que representam a sabedoria, a discrição como os pretos e as pretas velhas, a vitalidade e a batalha diária pela vida como os caboclos, a alegria das cores da existência como as flores das crianças, ciganas e boiadeiras, e dos necessários resgates como os das pomba-giras.Na minha opinião ainda de aprendiz, talvez a mais importante flor que exista na Umbanda seja a que floresça no coração do médium,que deva ser sempre cuidada com verdade, amor, caridade e consciência de que nosso invólucro é provisório, porque é dela que virá o perfume que envolverá outros em seu caminhar. Saravá!