
Nada e nenhum evento existem por si só. Uma pedra abriga, no lugar em que repousa, uma vida imensa e necessária para alimentar outras vidas. A própria morte é necessária para que desperte a vida em alguém, assim como a vida abriga em si a possibilidade de repouso eterno para algo. Assim que viemos a este mundo ,embora não pareça a princípio, nos envolvemos numa rede de expectativas e ansiedade com tudo que nos relacionamos,porque fomos alimentados automaticamente dentro do ventre e estivemos acolhidos em águas quentes- tudo perfeito. Então ao encontrar uma pessoa que diga que não cria expectativas com relação a nada, primeiro ela pode ter o dom de fantasiar sobre a realidade e segundo não se deu conta que realmente tem expectativa com relação a si própria: de não criar expectativas em sua relação com o mundo.
Há uma rede muito grande na simplicidade da Umbanda que torna necessária a observação. Quando se aceita a possibilidade de ser médium, aceita-se também, mesmo que sutilmente, a possibilidade de que seja uma missão assumida antes da reencarnação, e muito provavelmente não se encontre um médium que não pense assim. Não digo que isto é correto, apenas observo isto. Este contrato velado com o Divino, a mediunidade, tem em sua escrita cláusulas que se esperam ser éticas e imutáveis : uma certa regalia na vida por auxiliar o próximo, nem que seja a completa e total proteção do Divino a intempéries próprias da existência.
Como em um namoro, acreditamos no amor recíproco com nossas entidades. A devoção e a lealdade são obviamente recíprocas. Se restringirmos em 180 graus nossa visão, perderemos a noção completa do que é a mediunidade e o relacionamento com os seres espirituais. Quem está a mais tempo na religião sabe o quanto é comum encontrar indivíduos que, apesar de estarem há décadas professando a mesma fé, desistem de tudo por fatalidades. Não avisar que perderemos entes queridos é considerado falta grave no relacionamento com as entidades, na restrita visão humana, e assim, alguns desistem no meio do caminho sentindo-se traídos.
Como seres humanos nossa visão é parca. Entendemos sim que a morte é, para o mundo espiritual, uma passagem de plano apenas, até que aconteça conosco. Portanto até que se entenda, e se passe adiante, que mediunidade é uma forma para se desenvolver o espírito, no sentido de fazê-lo treinar a visão interna, ninguém terá a segurança de entender a relação do umbandista com as entidades. Todo umbandista que incorpora ou se comunica com as entidades conforme suas habilidades pessoais, está , no mínimo, ligado a quatro tipos de espíritos: o Caboclo, o Preto, a Criança e o Exu. Quatro visões diferentes do mundo para que o médium conheça e estruture sua própria verdade sobre seu espírito. Auxiliar ao próximo, nada mais é do que a possibilidade de ter mais um ponto de reconhecimento desta verdade e nunca uma forma de barganha com o Divino.
Nosso senso de justiça é restrito, pois temos como advogado principal nosso próprio ego, quer aceitemos ou não. É ele quem dita à nossa mente as retribuições devidas a cada ato nosso sobre esta terra. Entretanto, um médium não deve ser um ser resignado, antes tivesse a capacidade de se reconhecer como um pesquisador cujos resultados podem não ser obtidos em uma só vida.
Tudo tem um propósito, até o movimento das nuvens no céu e da lava no interior da terra, quem dirá que não há nos passos de um ser que se diz filho de Deus, provido de uma alma imortal. Só se pode entender o passado no futuro e ele, o futuro, está sempre um passo adiante da nossa idéia no presente. Portanto a única certeza sobre os fatos que pode mudar é a do passado, nunca a do presente, nem tão pouco a do futuro. Ao nascer, o bebê, em seu desespero do nascimento, deve imaginar que outras “desgraças” podem ocorrer além do ar que queima - lhe os pulmões, e daquela sensação de sua pele sendo “lixada”- ao ser enxuto após o primeiro banho, jamais pensaria que o ar é necessário para viver neste mundo e enxugar seu corpo é condição para que não morra de frio. Para um bebê a primeira mamada é o maior milagre do mundo, depois do tenebroso início e alguns anos mais tarde nem lembra este evento.
Somos lagartas em busca da transformação plena, enquanto caminhamos pelo mundo, seja lá a idade que tenhamos.Enquanto vivos, neste plano, estamos nos transformando. Portanto creio que o melhor meio é buscarmos sempre a nossa própria verdade e não a que é imposta pelo outro. A descoberta da paisagem no meio do caminho e nossa visão sobre ela é que fazem a viagem se tornar inesquecível. Axé a todos!
Nota: Gostaria que vissem, na coluna ao lado, a nota que coloquei sobre a venda do meu ebook. Grata!
Nota: Gostaria que vissem, na coluna ao lado, a nota que coloquei sobre a venda do meu ebook. Grata!